“Vivemos num mundo ansiogénico e obesogénico”

‘Todos os anos aparece uma dieta da moda, mas o MES é para a vida’. Esta é uma das frases que marca o início do livro de Rodrigo Ayoub recentemente apresentado em Braga. É formado em Medicina Molecular, palestrante internacional e professor do maior curso de modulação hormonal em Portugal. Muda diariamente a vida de milhares de pacientes e o mindset de centenas de médicos que já seguem o seu método. O MES – Método de Emagrecimento Saudável ensina-nos a ouvir o nosso corpo e a regressar à simplicidade das nossas origens: a alimentação natural, o jejum, a gestão do stress, o respeito pelos ciclos do sono, a atividade física e a saúde intestinal são alguns dos conceitos de um livro que promete mudar a forma como encaramos as nossas rotinas.

O MES é um regresso às nossas origens?

Sem dúvida. O princípio do livro e do método é exatamente esse: reconectar-nos com as nossas raízes. O ser humano é uma máquina altamente eficiente em termos de saúde, mas infelizmente, vivemos num mundo que desregula todos os nossos sistemas. Vivemos em stress permanente e rodeados de comida que parece alimento mas não é. Isto desregula perigosamente as nossas hormonas, contribui para o aumento de peso e surgimento de outras doenças. Por isso, tento ensinar às pessoas, de uma forma muito prática e fundamentada na Medicina, como podem regular as suas hormonas e otimizar as vias metabólicas do corpo e de forma natural, conquistando uma saúde plena. Não se trata de recorrer a medicamentos, suplementos mágicos ou dietas milagrosas. É simplesmente sobre resgatar comportamentos ancestrais que permitem que o nosso corpo funcione da melhor forma possível. 

A qualidade do sono, o exercício físico, a alimentação e a regulação hormonal são temas fundamentais nas suas consultas?

Sim. Abordo esses temas de uma forma muito didática, dividindo-os em pilares que devemos corrigir. Temos o pilar da alimentação, onde procuramos resgatar uma alimentação natural, o mais integral e Plant-Based possível, que reflete, essencialmente, a dieta à qual o nosso corpo esteve exposto durante a maior parte da nossa existência. 

Outro pilar essencial é o do sono. Hoje em dia, não respeitamos o nosso ciclo circadiano; transformamos o dia em noite e a noite em dia, eliminando as fronteiras naturais que sempre existiram. As pessoas vão para a cama com um ecrã de telemóvel à sua frente às 23h00, quando, na verdade, o ser humano sempre adormeceu muito mais cedo. O sono é crucial para equilibrar o nosso corpo.

“A modulação hormonal equilibra os grandes maestros do nosso corpo.”

Temos o pilar da modulação do stress. Vivemos num mundo ‘ansiogénico’, com níveis elevados de stress e ansiedade. Precisamos de aprender a viver neste mundo, protegendo-nos do excesso de stress que temos na nossa vida. O stress desregula algumas hormonas essenciais para a nossa saúde e, principalmente, para o emagrecimento. É fundamental consciencializar-nos para nos protegermos da melhor forma possível, evitando coisas desnecessárias. Isso pode ser alcançado através de ações simples, como filtrar a informação que consumimos e deixar de seguir notícias que nos causam ansiedade, optando, por exemplo, por caminhadas na natureza.

A atividade física é outro pilar fundamental. Hoje em dia, vivemos num mundo muito mais sedentário, repleto de comodidades. As pessoas já nem vivem sem o automóvel, usam escadas rolantes, recorrem cada vez mais ao controlo remoto e, simplesmente, não se mexem. Se olharmos para a nossa ancestralidade, o ser humano tinha de se mover para tudo, para procurar alimento e fugir de predadores. Evitar o sedentarismo através de hábitos de vida simples é crucial. Estes, no fundo, são apenas alguns dos pilares; há também o pilar da saúde intestinal, o pilar da desintoxicação do corpo, entre muitos outros.

É verdade que o intestino é o nosso ‘segundo cérebro’?

Durante muito tempo, o intestino foi um órgão subvalorizado, mas hoje sabemos que é um dos órgãos mais importantes do nosso corpo, sendo completamente vital para o nosso bem-estar geral. O intestino desempenha papéis cruciais não só na digestão e absorção de nutrientes, mas também na regulação do sistema imunitário, na produção de neurotransmissores e na comunicação com o sistema nervoso central, o que levou muitos a chamá-lo de ‘segundo cérebro’.

Quando se trata do processo de emagrecimento, o papel do intestino é igualmente significativo. Um intestino otimizado é fundamental para um emagrecimento saudável. Isso porque um intestino saudável contribui para a absorção adequada de nutrientes, regula os níveis hormonais e metabólicos e promove a eliminação eficaz de resíduos e toxinas do corpo. Assim, não é exagero dizer que não existe um processo de emagrecimento verdadeiramente saudável sem que o intestino esteja a funcionar de forma otimizada.

O que é isto da modulação hormonal de que tanto se fala hoje em dia?

A modulação hormonal procura equilibrar as nossas hormonas, que desempenham papéis fundamentais no funcionamento do nosso organismo. As hormonas são como os grandes maestros do nosso corpo, responsáveis por regular o metabolismo, controlar o apetite e promover um sono de qualidade, entre outras funções vitais.

Mas como podemos equilibrar as nossas hormonas? A chave está em adotar hábitos de vida saudáveis. Isso inclui uma alimentação adequada, prática regular de exercício físico, gestão do stress e qualidade de sono. Somente depois de priorizarmos esses pilares do estilo de vida é que podemos considerar a utilização de suplementos ou a intervenção médica para a reposição hormonal, como é o caso de mulheres na menopausa, por exemplo. É importante lembrar que o primeiro passo sempre deve sempre focar-se num estilo de vida saudável.

“A comida processada desliga os nossos instintos naturais.”

É fundamental ouvir o paciente de forma integral?

Completamente. Nas minhas consultas, dedico, no mínimo, uma hora a ouvir e compreender o paciente. Cerca de 80% do tempo é dedicado a esta fase de conhecimento. Cada paciente é único. Enquanto a Medicina convencional muitas vezes recorre a protocolos, fórmulas e medicamentos universais, a realidade é que todas as pessoas são diferentes, com contextos de vida totalmente distintos. Não existem dois pacientes iguais e a minha abordagem respeita exatamente essa premissa. É importante conhecer o paciente ao máximo para poder personalizar o tratamento. A escuta ativa desempenha um papel fundamental neste processo. Para podermos ajudar alguém, precisamos de compreender os seus problemas e estes problemas são únicos e completamente diferentes de pessoa para pessoa.

Que feedback tem recebido do seu livro?

O livro representou um enorme desafio para mim. Nunca antes tinha escrito um livro e nem sequer estava consciente da minha capacidade para tal. No entanto, como alguém que aceita sempre desafios, embarquei nesta jornada. O impacto tem sido muito maior do que eu imaginava. Após cerca de dois meses desde o lançamento, o livro já vai para a sua 4ª edição, permaneceu entre os primeiros lugares nas prateleiras da FNAC durante bastante tempo e tem sido um sucesso notável. As pessoas têm-me dado um feedback incrível.

O maior desafio que enfrentei foi conseguir escrever um livro que as pessoas realmente apreciassem ler. Como médico, estou habituado a uma linguagem técnica, mas compreendi que ninguém quereria ler sobre nomes de enzimas ou bactérias intestinais. A minha função enquanto médico foi transformar esse conhecimento técnico numa mensagem fácil de entender e, sobretudo, exequível. Se uma abordagem não é possível de implementar no quotidiano, como acontece com as dietas da moda, que são seguidas por um curto período de tempo e depois abandonadas, então não é eficaz. Portanto, este livro transmite uma mensagem prática, realizável e até agradável. A maioria das pessoas sente um bem-estar e prazer ao adotar os hábitos sugeridos pelo MES, o que as faz não quererem regressar aos seus antigos hábitos. Recebo frequentemente mensagens de agradecimento de pessoas que partilham a forma como o livro as transformou. Nunca ouvi ninguém dizer: “Atingi o meu peso desejado, posso voltar aos meus hábitos antigos?”

“Vivemos em stress permanente e rodeados de comida que parece alimento mas não é…”

É fundamental então tornar o novo hábito algo tão prazeroso que nos faz não querer voltar aos ‘erros antigos’?

É essencial que os novos hábitos se tornem tão gratificantes que não sintamos vontade de regressar aos antigos. Com o tempo, essa mudança torna-se quase automática e simples de manter. Um exemplo concreto é o caso da minha mãe, que teve a oportunidade de partilhar o seu testemunho durante a apresentação do meu livro. A minha mãe nunca fez jejum e desde o momento em que comecei a mostrar-lhe a importância do jejum, ela, com quase 80 anos, passou a fazer uma única refeição por dia e nunca se sentiu tão bem, a nível de peso, saúde, vitalidade.

Em que momento se apaixona pela Medicina e, em concreto, pela Medicina Ortomolecular?

Eu acho que foi quando nasci (risos). Cresci a ouvir os relatos dos pacientes do meu pai, que era um médico visionário à frente do seu tempo. Ele já abordava todos os pilares importantes para a saúde muito antes de se tornarem populares. As histórias de transformação na vida dos pacientes ao longo da carreira do meu pai inspiraram-me profundamente e despertaram uma enorme admiração por ele, enquanto pessoa e profissional ‘fora da caixa’.

“O jejum é o antídoto num mundo cheio de comida”

O meu pai tinha uma visão para além da Medicina convencional, ele encarava a saúde de forma integrada e abrangente. Por isso, costumo dizer que nasci já com essa vontade e admiração por uma abordagem diferente da Medicina. Só precisei de unir um pouco de missão de vida e dom pessoal para seguir o meu próprio caminho. Não consigo precisar o momento exato em que decidi ser médico, foi algo sempre muito natural e intrínseco em mim.

A Medicina da Longevidade preconiza que vamos viver mais anos. É fundamental que os vivamos com qualidade?

Uma das áreas mais estudadas na Medicina atualmente é a Longevidade Saudável. Ao longo dos anos, conseguimos aumentar significativamente a nossa esperança média de vida. Se no século passado era comum viver até aos 50 anos, hoje é possível alcançar quase os 100 anos. No entanto, a qualidade de vida nem sempre acompanhou este aumento na longevidade. Muitas pessoas, aos 60 anos, já enfrentam doenças ou problemas de saúde que afetam a sua qualidade de vida.

O desafio atual é viver até aos 100 anos com qualidade de vida. Temos hoje todo o conhecimento necessário para alcançar não apenas mais anos de vida, mas anos de vida com qualidade.

Eu costumo dizer que o Método de Emagrecimento Saudável (MES) poderia ser também considerado um método de envelhecimento saudável. Afinal, tudo se resume aos bons hábitos que cultivamos ao longo da vida. Os principais pilares da Longevidade Saudável são os mesmos do Emagrecimento Saudável. Quem sabe se o meu próximo livro não abordará não só os pilares para atingir o peso desejado, mas também os pilares para alcançar os anos de vida desejados, vivendo mais e de forma saudável.