“Há uma força feminina a redefinir o setor imobiliário”

Trocou a advocacia pelo setor imobiliário e a vontade de mudar paradigmas no setor levou-a a apostar numa nova pós-graduação em Direito Imobiliário. Susana Barroso escreveu uma história de sucesso no feminino e continua a inspirar outras mulheres a seguirem-lhe o exemplo. Patrícia Ribeiro, licenciada em Educação e Recursos Humanos, é o rosto mais recente da equipa. Juntas, prometem ser esse agente de mudança num setor onde o elemento mais importante continuam a ser as pessoas e as suas histórias de vida.

Como é trabalhar numa equipa no feminino?

Susana: Trabalhar numa equipa no feminino tem sido uma experiência incrivelmente enriquecedora. Além da notável resiliência e versatilidade das mulheres, tenho percebido uma sinergia única que se desenvolve quando diferentes mentes femininas se unem para alcançar objetivos comuns. A Patrícia Ribeiro veio trazer um input muito importante na área do Marketing e dos Recursos Humanos e este trabalho de equipa tem sido muito gratificante. O ano passado foi bastante exigente. Consegui alcançar o segundo lugar em termos de desempenho, na Zome Braga e a nível nacional também alcancei a mesma posição. Foi um ano excelente, porém, ficou claro que a equipa precisava de crescer. A Patrícia tem sido uma mais-valia e estou confiante de que, juntas, conseguiremos enfrentar os desafios futuros com sucesso.

Há uma capacidade empática inata das mulheres que faz a diferença no setor imobiliário?

Susana: Esta sensibilidade e simpatia que as mulheres trazem para a área são fundamentais, uma vez que o negócio imobiliário não se limita apenas às transações de imóveis, mas envolve, sobretudo, lidar com pessoas.

Patrícia: Ao avaliarmos o valor de uma propriedade, por exemplo, é crucial compreendermos as motivações subjacentes à venda ou compra. Neste contexto, considerar o lado humano é essencial para o sucesso das transações imobiliárias. A sensibilidade e empatia que as mulheres trazem para essas interações facilitam o estabelecimento de uma ligação genuína e potenciam a compreensão das reais necessidades do cliente.

Quais são as tendências emergentes no setor imobiliário?

Patrícia: O digital tornou-se uma ‘janela aberta’ de oportunidades para o setor imobiliário. A presença online é essencial em praticamente todos os setores de atividade e o mercado imobiliário não é exceção. A transformação digital revolucionou a forma como as pessoas procuram, vendem e arrendam casa. O engagement com o consumidor desempenha um papel importante na construção de uma comunidade em torno da marca. Ao criar conteúdo interessante e relevante, histórias de sucesso de clientes e artigos informativos sobre o mercado imobiliário, conseguimos atrair seguidores e criar um espaço onde as pessoas possam esclarecer as suas dúvidas e entrar em contacto direto connosco. São incríveis as ligações que se criam com o digital.

Susana: Acho que a par da clara digitalização do setor, outra tendência importante é a crescente procura por mais informação e especialização por parte dos clientes. Hoje em dia, os compradores e vendedores estão mais bem informados do que nunca, graças ao fácil acesso à informação disponível online. Isso significa que os profissionais do setor imobiliário precisam de estar constantemente atualizados e de aperfeiçoar as suas competências, de forma a dar resposta às expectativas e necessidades cada vez mais exigentes dos clientes. Aqueles que não conseguem acompanhar esse ritmo acabam por ficar para trás num mercado altamente competitivo.

A especialização é, por isso, cada vez mais importante?

Susana: Sim, a especialização está a tornar-se cada vez mais crucial no setor imobiliário. A complexidade das questões legais e regulatórias que permeiam as transações imobiliárias exige um profundo conhecimento das leis e regulamentos em constante evolução. Como profissionais do setor, é fundamental estarmos atualizadas e capacitadas para lidar com essas nuances legais, proporcionando segurança e confiança aos nossos clientes.

Foi por esse mesmo motivo que fiz uma pós-graduação em Direito Imobiliário. O Direito Imobiliário é essencial para garantir a segurança jurídica e a proteção dos direitos relacionados à propriedade e transações imobiliárias. Regula contratos, protege os direitos dos inquilinos, estabelece normas para o desenvolvimento urbano e oferece meios para resolver conflitos de forma justa. É fundamental para o funcionamento adequado do mercado imobiliário e para promover um ambiente seguro e equitativo para todas as partes envolvidas.

A área de Recursos Humanos traz outro input fundamental?

Patrícia: A contribuição da área de Recursos Humanos é indiscutivelmente fundamental no setor imobiliário, pois está intrinsecamente ligada à construção de relacionamentos sólidos e à compreensão das necessidades das pessoas envolvidas nas transações. Embora o conhecimento técnico seja importante, são a empatia e a capacidade de estabelecer ligações autênticas que impulsionam os negócios e permitem construir uma reputação de confiança e integridade.

Quais são os maiores desafios desta área?

Susana: Os maiores desafios nesta área são multifacetados e refletem tanto questões práticas como pressões sociais que afetam particularmente as mulheres. Um dos desafios mais prementes é a exigência crescente de disponibilidade. Neste contexto, as mulheres enfrentam um duplo desafio, equilibrando múltiplos papéis, como profissionais, mães, esposas e cuidadoras de outras responsabilidades familiares. Esta necessidade constante de disponibilidade pode ser particularmente desafiante para as empresárias do setor. Lidar com reuniões que se estendem para lá do horário ‘convencional’ e ter compromissos que preenchem a agenda durante o fim-de-se-semana é uma realidade bastante comum.

Patrícia: Além dos desafios práticos, as mulheres enfrentam frequentemente uma pressão adicional da sociedade para conciliarem todas as esferas das suas vidas de forma impecável. Existe um estigma persistente que critica mulheres que se dedicam muito ao trabalho, acusando-as de negligenciarem as suas famílias, enquanto aquelas que priorizam a família são muitas vezes vistas como menos comprometidas com as suas carreiras. Esta pressão constante pode levar a uma autoavaliação incessante e a um questionamento constante.

O produto imobiliário mudou? As pessoas começam a ter outras aspirações?

Susana: Sim, definitivamente o perfil do produto imobiliário procurado tem evoluído ao longo do tempo. Uma das mudanças mais significativas é a preferência crescente por apartamentos modernos e renovados, onde não seja necessário realizar obras. Esta tendência reflete uma procura por conveniência e praticidade por parte dos compradores. Propriedades mais antigas, mesmo que bem construídas, muitas vezes não são tão valorizadas como propriedades mais recentes que oferecem soluções imediatas, sem a necessidade de investir tempo e recursos em remodelações.

Patrícia: Essa preferência por soluções chave-na-mão é amplificada pela era digital, onde o consumo de conteúdo é rápido e visual. Nas redes sociais e plataformas online, conteúdos visuais de imóveis atuais e atraentes têm uma maior aceitação. As imagens e vídeos de imóveis devem transmitir essa tendência e por isso o Home Staging é tão importante.

Susana: Outra mudança importante é a diversificação dos perfis familiares. As famílias monoparentais estão em crescimento, o que influencia diretamente as preferências e necessidades habitacionais das pessoas.

Objetivos para o futuro?

Patrícia: Tenho muitos objetivos para o futuro, especialmente porque estou a entrar numa área totalmente nova para mim. Estou comprometida em dar o meu melhor. A Susana tem sido uma mentora incrível.

Susana: No último ano, foquei-me muito no meu crescimento profissional, mas este ano, o meu objetivo passa por consolidar a equipa. Sinto que as nossas habilidades se complementam muito bem. Ambas partilhamos uma visão humanizada do setor imobiliário.

O lar é o lugar onde nascem histórias, onde as famílias se reúnem e os sonhos são realizados. O bem-estar e a qualidade de vida dos nossos clientes deve ser uma prioridade. E isso vai muito além de simplesmente encontrar o imóvel certo, também envolve fornecer informações e recursos úteis sobre o bairro, escolas locais, comodidades próximas e outras questões que impactam diretamente a vida quotidiana das pessoas. Ao agregar valor dessa forma, demonstramos um compromisso genuíno com o sucesso e a felicidade das ‘nossas pessoas’. É disso que se trata: colocar sempre as pessoas em primeiro lugar.

É preciso mais mulheres em cargos de liderança?

Susana: Sim, é crucial promover a presença de mais mulheres em cargos de liderança. As mulheres trazem uma perspetiva única e valiosa para a tomada de decisões, especialmente em níveis de liderança, devido à sua capacidade natural de empatia e compreensão das dificuldades que outras mulheres enfrentam.

Além de promover a presença de mulheres em cargos de liderança, é importante combater os preconceitos e estereótipos negativos que as mulheres enfrentam quando alcançam essas posições. Promover a presença de mais mulheres em cargos de liderança não é apenas uma questão de equidade, mas também uma forma de garantir uma representação mais diversificada e inclusiva em todos os níveis da sociedade. Esta realidade é desafiante, mas torna-nos ainda mais determinadas a desafiar os estereótipos de género e a alcançar o reconhecimento pelo nosso mérito profissional, lutando por uma igualdade de oportunidades e reconhecimento baseado no desempenho e competência, não no género.

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