Psicologia “A história familiar molda o presente, mas não determina o futuro” By Revista Spot | Abril 27, 2024 Abril 30, 2024 Share Tweet Share Pin Email Através do seu próprio percurso pessoal e a partir do estudo de diversas correntes e teorias da Psicologia, Ana Cristina Silva destaca o poder transformador do autoconhecimento e da compreensão das relações humanas. Segundo a psicóloga clínica, na interseção entre a pessoa e o seu contexto, surge a oportunidade de transformação e cura, guiada pela compreensão profunda das dinâmicas que nos moldam e nos sustentam. Licenciou-se em Psicologia, com Mestrado em Clínica e Saúde aos 37 anos. Por que razão ‘escolheu’ a Psicologia? Desenvolvi, desde cedo, a ‘escuta ativa’, uma capacidade que considero um dom. Aprendi a ouvir verdadeiramente ‘o outro’ de forma empática. Além disso, tive de lidar eu própria, desde os meus cinco anos, com a doença da minha mãe, que sofria de perturbação bipolar. Essa condição trouxe desafios únicos à nossa família. Com uma irmã quatro anos mais nova e perante a ausência do meu pai, que saiu de casa quando eu tinha dez anos, fui forçada a encontrar formas de enfrentar toda esta realidade complexa. Foi nesse contexto que a Psicologia entrou na minha vida. Posso dizer que não fui eu que a encontrei, mas sim ela que me encontrou e ajudou. A Psicologia tornou-se na minha grande aliada, fornecendo-me uma ‘mala de ferramentas’ que ainda hoje carrego comigo. A Psicologia não só me ajudou a enfrentar os desafios pessoais, mas também me capacitou a oferecer suporte e compreensão aos que estão ao meu redor. Pelo caminho encontrei um método que me completou: as Constelações Familiares de Bert Hellinger. Neste mesmo método, Bert Hellinger inspirou-se em Jacob Moreno com o Psicodrama, Virginia Satir, Carl Jung, Sigmund Freud, entre outros. Todos estes mestres foram estudados por mim na universidade, em Psicologia, o que facilitou e integrou o meu trabalho. É no amor que tudo começa? Muitos dos conflitos e desafios que enfrentamos têm as suas raízes no amor, ou na falta dele. Nas grandes guerras e conflitos mundiais, por exemplo, a motivação é, muitas vezes, a proteção de algo amado – seja a religião, a nação ou o povo. No entanto, paradoxalmente, é esse mesmo amor que pode levar as famílias a afastarem-se umas das outras, criando desavenças e distanciamento emocional. Esse padrão de conflito pode estender-se por várias gerações, sem que as pessoas estejam conscientes disso. A dinâmica familiar, influenciada por lealdades inconscientes e padrões de comportamento arraigados, pode levar a ruturas e desconexões que persistem ao longo do tempo. Embora o amor seja uma força poderosa e essencial nas nossas vidas, também pode ser mal compreendido e distorcido, levando a consequências inesperadas e, por vezes, dolorosas. É através da compreensão dessas dinâmicas e do trabalho terapêutico, como a Abordagem PsicoSistémica, que podemos começar a desfazer os nós que impedem o fluxo saudável do amor dentro das nossas relações familiares e sociais. De que forma as experiências passadas e as crenças pessoais moldam os nossos padrões de relacionamento? Estamos envolvidos desde tenra idade numa teia de influências familiares, sociais e culturais que moldam a nossa perceção do mundo e das relações. Durante os primeiros anos de vida, conforme destacado por Piaget e outros teóricos do desenvolvimento, a criança absorve não apenas conhecimento cognitivo, mas também valores, normas e expectativas sociais. Estes elementos constituem a sua consciência pessoal e coletiva, sendo influenciados pela família, pela comunidade e pela cultura em que está inserida. Bert Hellinger, por sua vez, sublinha a importância da consciência espiritual, que vai para além do conhecimento adquirido e se relaciona com as dinâmicas inconscientes e transgeracionais. Esta consciência espiritual é alimentada pelas experiências emocionais profundas, pelas relações familiares e pelos eventos significativos ao longo da vida. À medida que crescemos e interagimos com o mundo, essas experiências e crenças moldam os nossos padrões de relacionamento. Por exemplo, se fomos ensinados a desconfiar dos outros, isso pode influenciar a forma como nos aproximamos das pessoas e como confiamos nelas. Se fomos expostos a modelos de relacionamento disfuncionais na infância, é provável que reproduzamos esses padrões na idade adulta, a menos que sejamos capazes de reconhecê-los e trabalhar para mudá-los. Assim, compreender as influências do passado e das crenças pessoais é essencial para identificar e transformar padrões de relacionamento negativos. Ao reconhecermos a origem desses padrões e ao desenvolvermos uma maior consciência sobre nós mesmos e sobre as nossas relações, podemos cultivar relacionamentos mais saudáveis e significativos. Cada novo começo traz consigo uma oportunidade única de ‘reescrever’ a nossa história e moldar o nosso futuro? O passado exerce uma influência significativa sobre o presente, mas isso não significa que estejamos fadados a repetir os mesmos padrões e erros. Em vez de simplesmente apagar ou ignorar o passado, é essencial integrá-lo de forma consciente e responsável no presente. Através da reflexão sobre as experiências passadas, tanto as positivas, como as menos favoráveis, ganhamos sabedoria e discernimento que podem orientar as nossas ações no presente. Ao vivermos plenamente no momento presente, podemos reconhecer o poder que temos para tomar decisões conscientes e construtivas. Em vez de nos preocuparmos demasiado com o futuro ou ficarmos presos aos arrependimentos do passado, concentramo-nos no aqui e agora, onde realmente temos o poder de agir e de criar mudanças significativas. Como descobriu as Constelações Familiares de Bert Hellinger e o que a atraiu para este método em particular? Descobri as Constelações Familiares de Bert Hellinger durante a universidade. Estudei, investiguei, participei em diversos cursos e formações com perspetivas e formadores completamente distintos e, com o tempo, decidi trazer este conhecimento para Braga, onde construí o meu próprio espaço, criando a minha própria abordagem. À medida que mais pessoas começaram a procurar esta terapia, percebi a importância de liderar o processo com cuidado e responsabilidade, pois lidar com as dinâmicas familiares requer sensibilidade e compreensão. Desenvolver a minha própria Abordagem PsicoSistémica foi um processo natural, moldado pela minha formação, experiências pessoais e influências, interligando-a com teorias como o Psicodrama, a Psicanálise e a Psicologia Junguiana. Assim como Bert Hellinger estudou Freud, Jung e Gestalt, eu também me inspirei numa variedade de autores e teorias. Cada sessão é única e personalizada tendo em conta as necessidades concretas de cada pessoa. Que questões ou problemas poderão ser abordados no Método PsicoSistémico? O Método PsicoSistémico permite investigar várias dinâmicas familiares e individuais, procurando compreender e resolver conflitos subjacentes. Através desta prática é possível mergulhar em campos da vida como relacionamentos familiares, divórcio e separação, saúde física e emocional, padrões repetitivos, traumas, bem como bloqueios pessoais e profissionais. De que forma ajuda quem a procura a tomar consciência das dinâmicas familiares inconscientes que podem estar a afetar as suas vidas? Uma das formas de o fazer é através do genograma, uma técnica que permite mapear as relações familiares ao longo das gerações. Durante as sessões de trabalho com o genograma, os participantes têm a oportunidade de explorar as suas próprias árvores genealógicas e de analisar as tendências familiares que podem estar a afetar as suas vidas de forma inconsciente. Essa reflexão pode levar a pessoa a descobrir insights profundos sobre o funcionamento familiar e sobre si própria. Além disso, ao investigar a história da família, muitas vezes surgem histórias surpreendentes e reveladoras, que podem lançar luz sobre questões não resolvidas ou bloqueios emocionais. Por exemplo, algumas pessoas descobrem segredos de família ou eventos traumáticos que nunca foram discutidos abertamente, mas que deixaram uma marca profunda nas gerações seguintes. Ao promover essa tomada de consciência, a Abordagem PsicoSistémica oferece às pessoas a oportunidade de se compreenderem melhor a si mesmas e às suas relações familiares, e de trabalharem na resolução de conflitos, na cura de traumas passados e na construção de relacionamentos mais saudáveis e gratificantes. A formação tornou-se outra componente fundamental do seu trabalho? Estamos atualmente na 13ª edição do Curso de Desenvolvimento PsicoSistémico. Esta formação é uma jornada intensiva de nove meses, durante os quais os alunos têm a oportunidade de mergulhar profundamente nas técnicas e conceitos da Abordagem PsicoSistémica. No final da formação, que inclui uma vertente prática e teórica, os alunos relatam uma transformação pessoal significativa. O Desenvolvimento PsicoSistémico é um caminho para o desenvolvimento pessoal ao longo da vida? É importante destacar que o Desenvolvimento PsicoSistémico não se limita a resolver questões imediatas. Na verdade, é um processo contínuo que permite às pessoas explorarem camadas mais profundas do seu ser, enfrentarem desafios internos e desenvolverem uma maior consciência sobre si mesmas e sobre o seu lugar no sistema familiar e na sociedade em geral. Assim, cada sessão, cada experiência, cada momento de reflexão é uma oportunidade para um crescimento mais profundo e uma transformação pessoal significativa. Continuamos a receber de braços abertos aqueles que procuram este caminho de autodescoberta e desenvolvimento ao longo da vida. Até onde gostava de ‘levar’ o seu projeto? Aos 52 anos continuo com o mesmo mindset de sempre: ser melhor a cada dia. Uma das grandes bênçãos que a vida me deu foi ter as minhas filhas a trabalhar comigo. Tenho quatro filhos, e duas delas, a Catarina e a Sofia, estão aqui comigo. A ideia de imaginar este projeto sem elas é simplesmente impensável. Elas são uma parte fundamental do meu trabalho. É verdadeiramente gratificante poder partilhar este percurso com elas. Aprendemos continuamente sobre a vida e sobre nós mesmas. Trabalhar aqui na clínica proporciona-nos a oportunidade de aprender a empatizar, a lidar com a dor dos outros e, sobretudo, a compreender que a dor também pode ser um caminho para a cura. Nunca baixamos os braços, mesmo quando os desafios são grandes. Nunca dizemos a alguém que não há solução, porque acreditamos que, com vontade e dedicação, tudo é possível. É fascinante sentir que ‘empoderamos’ pessoas. Neste percurso de desenvolvimento pessoal, é essencial compreender que nós, como facilitadores ou terapeutas, desempenhamos um papel crucial ao empoderar e guiar as pessoas em direção à sua cura e crescimento. No entanto, é importante destacar que a verdadeira transformação vem de dentro. Nós podemos fornecer ferramentas, apoio e orientação, mas é a própria pessoa que detém a resposta. Ao despertarmos a consciência e incentivarmos a reflexão sobre os desafios e as soluções, capacitamos as pessoas a assumirem o controlo das suas vidas e a explorarem o seu potencial. Cada passo dado rumo à superação é uma escolha pessoal e é através desse processo de autodescoberta e autodeterminação que a verdadeira cura floresce. Morada: Rua Óscar Dias Pereira, no 29 4710-081 Gualtar – Braga Contacto: +351 910 076 822 (chamada para a rede móvel nacional) Facebook: Ana Cristina Silva Instagram: @clinica.acs.braga “Hoje o hairstyling tornou-se uma experiência” “Cada fase da vida de uma mulher revela uma nova dimensão da sua beleza”
Psicologia “O luto é vivido de forma única por cada pessoa: não há um tempo certo, nem uma dor igual à outra” Vivemos numa era em que se fala cada vez mais de saúde mental. No entanto, temas como o trauma, o…
ÉS DE BRAGA / Psicologia “E se tratássemos a saúde mental com a mesma urgência com que tratamos a saúde física? Faltam pontes entre psicólogos, médicos, psiquiatras, terapeutas e a comunidade” Durante anos, em diversos contextos clínicos em Portugal e no estrangeiro, Luísa Leal viveu de perto a fragmentação no atendimento…
Psicologia “Recomeçar é um ato de coragem. Como nos dizia Freud, só mudamos quando permanecer como estamos se torna uma dor insuportável” Há momentos em que tudo à nossa volta parece igual, mas algo dentro de nós já mudou. Sentimos que já…