Bebés/Pré - Natal/SAÚDE DA MULHER/Saúde Infantil A comunidade inovadora de Joana Vilas Boas que revoluciona a vida a centenas de mulheres em diferentes fases da maternidade By Revista Spot | Março 11, 2025 Março 12, 2025 Share Tweet Share Pin Email Imagine uma comunidade de treino dedicada totalmente à mulher. Desde a preconceção à recuperação pós-parto, com programas de exercício físico adaptado tendo em conta as mais recentes atualizações científicas. Agora imagine uma rede interdisciplinar de profissionais da esfera da saúde materno-infantil, desde a nutrição, psicologia, fisioterapia pélvica, amamentação, pediatria, entre outras, reunidos para trazer a estas mulheres o apoio e a clareza necessários nesta fase da vida. “Aqui, cada mãe encontra confiança para viver esta fase de forma plena, sabendo que está a ser acompanhada por quem compreende as suas necessidades únicas, com conhecimento sólido e atualizado.”, partilha Joana Vilas Boas, fisiologista e mentora do projeto. Antes de mais, quem é a Joana Vilas Boas? Sempre fui uma pessoa muito ligada à família, e acredito que isso reflete diretamente na forma como hoje me relaciono com as pessoas no meu trabalho. Desde cedo, percebi que o desporto era uma paixão, qual clichê. Na escola, sempre participei ativamente em atividades desportivas, o que influenciou até mesmo a minha escolha de instituição de ensino. Foi nesse ambiente que tive contacto com professores que me marcaram profundamente e consolidaram a minha vontade de seguir um caminho ligado à área do desporto. Curiosamente, quando era criança, imaginava-me a ser pediatra, porque sempre tive uma grande afinidade com bebés. No entanto, à medida que fui amadurecendo, percebi que preferia trabalhar na promoção da saúde, em vez de lidar diretamente com a doença. Foi aí que o desporto surgiu como a escolha mais natural. A minha paixão pelo conhecimento levou-me a uma licenciatura e dois mestrados consecutivos. Tinha tanta sede de aprender que, se não fossem os meus professores a aconselharem-me a entrar no mercado de trabalho antes de seguir para um doutoramento, provavelmente teria continuado a estudar sem pausa. Segui o conselho deles e aceitei um desafio inesperado: ingressar nas fileiras da Força Aérea Portuguesa. Sem qualquer histórico militar na família, encarei esta experiência como uma oportunidade para testar os meus limites. Trabalhei na preparação física militar e na formação de novos recrutas e alunos, tendo comandado centenas de militares, um período extremamente enriquecedor que me trouxe um desenvolvimento pessoal e profissional significativo. No entanto, percebi rapidamente que aquela não viria a ser a minha carreira definitiva. A transição para a maternidade trouxe outra viragem na minha vida. Durante a minha gravidez, comecei a questionar a forma como o exercício físico era abordado nesta fase. Em 2020, havia pouca informação de qualidade disponível e quase nenhuma formação especializada. Foi então que decidi aprofundar os meus conhecimentos e investir na área do exercício físico perinatal. Com um bebé pequeno em casa, iniciei o meu projeto de treinos online, conciliando a maternidade com a minha carreira. Hoje, olhando para trás, vejo que esse percurso foi fundamental para compreender as reais necessidades das mulheres nessa fase e oferecer um acompanhamento verdadeiramente ajustado aos seus desafios. O que a inspirou a criar esta rede de apoio à mulher na sua jornada de maternidade? A gravidez é um período de mudanças intensas e, muitas vezes, de excesso de informação – e desinformação. Ao longo da minha experiência, percebi que as mulheres se sentem perdidas, sem saber em quem confiar ou que orientações seguir. Durante a minha gravidez, fui em busca de profissionais qualificados e atualizados, e encontrei fisioterapeutas pélvicos e outros especialistas que realmente faziam a diferença. Isso fez-me questionar: por que razão tantas grávidas ainda recebem informações desatualizadas ou generalistas, sem qualquer individualização? Infelizmente, existem ainda profissionais que seguem práticas de há décadas, sem considerar os avanços na ciência e na abordagem da gravidez e do pós-parto. O mesmo acontece em cursos de preparação para o parto, onde, muitas vezes, o conteúdo não acompanha a evolução do conhecimento. Dessa necessidade nasceu este projeto, que procura, através do exercício físico, conectar mulheres com profissionais qualificados e atualizados. A ideia é oferecer um suporte multidisciplinar, onde a informação seja clara, acessível e, acima de tudo, correta. Mais do que treinar o corpo, este projeto pretende empoderar as mulheres, dando-lhes ferramentas para viverem a gravidez e o pós-parto de forma informada e confiante. Além de poderem partilhar a jornada com outras mulheres na mesma fase da vida, o que tem um valor incalculável. De que forma a sua experiência no desporto e no ensino influencia o seu acompanhamento de mulheres na gravidez e no pós-parto? Acredito que a minha experiência no desporto e no ensino me deu uma capacidade muito apurada de compreender o outro – e isso é essencial quando se trabalha com mulheres num momento tão frágil. A gravidez e a maternidade mudam-nos completamente. Diz-se que quando nasce um bebé, nasce também uma mãe, e essa é uma verdade incontestável. A partir desse momento, nada volta a ser como antes. Trabalhar com grávidas e mulheres em pós-parto exige sensibilidade, empatia e um olhar atento às suas necessidades. Muitas vezes, o que parece ser um obstáculo num treino não tem apenas origem física, mas vem de todo um contexto que podemos não estar a par. O facto de ter trabalhado com tantas pessoas diferentes ao longo da minha carreira permitiu-me desenvolver uma escuta ativa e um sentido de adaptação muito forte. Sei que cada mulher tem a sua própria história, os seus desafios e as suas limitações, e é fundamental respeitar isso no acompanhamento. Para mim, o exercício na gravidez e no pós-parto vai muito além de uma questão estética. É uma recuperação física, sim, mas também um suporte fundamental para o bem-estar, a autoestima e a saúde mental. E é isso que procuro trabalhar diariamente. Na sua opinião, quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam durante a gravidez e no pós-parto sem uma rede de suporte sólida? O maior desafio é a solidão. Muitas mulheres encontram-se sozinhas, mesmo quando rodeadas de pessoas, entregues às dúvidas, e acabam por recorrer ao “Doutor Google” para procurar respostas. O problema é que, sem um filtro adequado, acabam com informações contraditórias ou alarmistas, o que aumenta ainda mais a ansiedade. É natural ter dúvidas – todas as mães as têm. Mas quando há uma rede, seja presencial ou digital, com profissionais competentes e outras mães alinhadas a partilhar experiências, a insegurança diminui. A nossa comunidade online, por exemplo, funciona como um verdadeiro suporte emocional e informativo. Quando uma mãe chega com uma dúvida ou preocupação, há sempre alguém para dizer: “Também passei por isso, é normal” ou “Talvez seja melhor consultares um profissional.” Esse suporte dá segurança, ajuda a filtrar a informação e evita que a mulher se sinta sozinha num momento tão sensível. Mesmo quando há um parceiro presente, a experiência da gravidez e do pós-parto é muito particular para a mulher. Os acompanhantes podem e devem apoiar, esse apoio faz toda a diferença, mas não sentem fisicamente as mudanças nem as oscilações emocionais da mesma forma. Ter uma rede de apoio permite validar sentimentos, trocar experiências e sentir-se compreendida, o que faz toda a diferença na vivência da maternidade. De que forma a sua comunidade se diferencia das comunidades de outros programas destinados a grávidas e recém-mamãs? O que diferencia a nossa comunidade é a abordagem integrada, atualizada e humanizada. O nosso objetivo não é apenas fornecer informação, mas oferecer um acompanhamento real e contínuo, garantindo que cada mulher recebe mais do que está à espera. Estou constantemente a atualizar, a estudar e a procurar trazer profissionais qualificados para garantir que o que transmitimos é fundamentado. Infelizmente, no mundo digital, há muita desinformação, e muitas pessoas fazem um curso rápido e já se auto intitulam especialistas. Acredito que quem não se senta para aprender não se pode levantar para ensinar. Além disso, trabalhamos de forma interdisciplinar, o exercício na gravidez e no pós-parto não é uma experiência isolada – envolve várias áreas da saúde. Por exemplo, sem o acompanhamento de um fisioterapeuta pélvico, estaríamos apenas a aplicar recomendações gerais, sem considerar as características individuais de cada mulher. Da mesma forma, o contacto com médicos obstetras permite-nos ajustar o acompanhamento, porque cada gravidez é única. Outro fator diferenciador do meu trabalho é a flexibilidade. A maioria dos programas impõe alguns fatores limitativos… ou um horário rígido, ou a falta de possibilidade de remarcação, a perda dos treinos a que se falte, etc. Principalmente no treino pós-parto é essencial que o treino não se posicione como mais um fator de stress ou logística acrescida para a mulher. Se por alguma razão não deu mesmo para vir ao treino, remarcamos. Se é preciso acolher ou amamentar o bebé a meio do treino, priorizamos o bem estar do bebé. O treino é que se adapta… não pedimos ao bebé que se adapte. Alguns ginásios nem permitem a presença dos bebés. Eu faço questão de os incluir. Afinal “onde não há espaço para o meu bebé, não há espaço para mim”. Quais são os principais benefícios da atividade física para as mulheres grávidas e no período pós-parto? O exercício físico na gravidez traz benefícios tanto para a mãe quanto para o bebé. Um dos maiores mitos que ainda persiste é a ideia de que a atividade física pode ser prejudicial ao bebé – quando, na verdade, é precisamente o contrário. O exercício contribui para uma gravidez mais saudável, reduzindo o risco de complicações como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia. Além disso, cerca de 75% das grávidas sofrem de dores lombares devido às alterações posturais e ao aumento de peso. No entanto, uma rotina de treino adequada reduz drasticamente essas probabilidades e melhora a qualidade de vida. Muitas mulheres encaram a gravidez como um período de “sobrevivência”, mas deveria ser um momento de bem-estar. Outro benefício essencial é a conexão com o próprio corpo e o aumento da consciência corporal, que tem grande impacto no momento do parto. Muitas mulheres sentem que a gravidez é um processo fora do seu controlo, mas o exercício permite-lhes recuperar essa sensação de domínio sobre as transformações que estão a acontecer. No pós-parto, o treino é fundamental para a recuperação, ajudando na reabilitação da musculatura do core, na melhoria da postura e na redução do risco de depressão pós-parto. Muitas mães sentem-se presas à ideia de que precisam das “condições perfeitas” para retomar o exercício – mas a verdade é que essas condições nunca chegam. O importante é começar, mesmo que seja com 30 minutos de treino adaptado. O objetivo não é um corpo “perfeito”, mas sim um corpo funcional e uma maternidade mais equilibrada, com mais energia e menos desconfortos. Existem mitos ou receios frequentes em relação ao exercício durante a gravidez? Sim, um dos mitos mais persistentes é a ideia de que a mulher não deve praticar exercício físico no primeiro trimestre, por medo de aumentar o risco de aborto espontâneo. Muitas grávidas ainda receiam que o esforço físico possa provocar complicações, quando, na verdade, a ciência já demonstrou há anos que essa relação não existe. O aborto espontâneo na fase inicial da gravidez está maioritariamente associado a fatores genéticos, hormonais ou anomalias cromossómicas, não a atividades físicas. O embrião, nesse estágio, ainda está num processo celular muito delicado, e não há qualquer evidência de que movimentos como saltos, corrida ou treino cardiovascular possam provocar uma interrupção da gravidez. Outro mito comum é o medo de que determinados exercícios, como agachamentos, possam causar parto prematuro ou prejudicar o bebé. A realidade é que o bebé está extremamente protegido dentro do útero, envolvido pelo líquido amniótico e pela musculatura uterina – um dos músculos mais fortes do corpo humano. Assim, o impacto externo é mínimo para ele, mas pode ser significativo para a mãe, caso o treino não seja adequado. Portanto, o verdadeiro risco do exercício inadequado não é para o bebé, mas para a própria mulher. Treinos mal orientados podem sobrecarregar o pavimento pélvico, aumentar o risco de diástase abdominal patológica, incontinência urinária e outras disfunções que podem afetar não só a gravidez, mas também o pós-parto. A chave não é evitar o exercício, mas sim praticá-lo de forma correta, com a devida orientação profissional. Outro mito recorrente é o de que o exercício pode “induzir” o parto antes do tempo. Muitas mulheres são aconselhadas a reduzir a atividade física perto das 35-36 semanas, quando, na verdade, manter-se ativa pode facilitar a mobilidade do bebé para a melhor posição para o parto. No entanto, não há qualquer evidência de que caminhar excessivamente ou praticar atividade física vá acelerar o início do trabalho de parto. Estudos recentes parecem apontar que o parto pode ser despoletado por uma hormona segregada pelos pulmões do bebé quando atinge a maturidade necessária – ou seja, é o próprio bebé quem “decide” quando está pronto para nascer. Em resumo, o exercício físico na gravidez não só é seguro, como também altamente recomendado, desde que seja adaptado às necessidades individuais da grávida. Manter-se ativa traz benefícios para a saúde cardiovascular, ajuda no controlo do peso, reduz o risco de diabetes gestacional e contribui para um trabalho de parto mais eficiente. De que forma os programas “Exercitar para Gerar”, “Gravidez Ativa” e “Maternar Ativo” se adaptam a diferentes perfis de mulheres? Os programas foram cuidadosamente estruturados para abranger todas as fases do período perinatal, desde a pré-conceção até ao pós-parto, adaptando-se às necessidades individuais de cada mulher ao longo deste percurso. O Exercitar para Gerar é um programa inovador em Portugal, focado na preparação do corpo para a gravidez, seja de forma natural ou por meio de tratamentos de fertilidade, como a Fertilização In Vitro (FIV). O seu principal objetivo é otimizar a saúde metabólica, hormonal e física, aumentando as hipóteses de uma gravidez saudável. Como a fertilidade é influenciada por múltiplos fatores, incluindo alimentação, stress, qualidade do sono e equilíbrio hormonal, o programa conta com uma abordagem multidisciplinar, envolvendo especialistas em medicina tradicional chinesa, psicologia, educação menstrual, nutrição e saúde pélvica para um acompanhamento profundamente completo. Já o Gravidez Ativa é direcionado para grávidas saudáveis e oferece treinos adaptados a cada trimestre, respeitando as mudanças fisiológicas da gravidez. O foco está na manutenção da funcionalidade, no fortalecimento do core e na prevenção de desconfortos frequentes, como dores lombares e edema. Reconhecendo que cada gravidez é única, o programa permite adaptações específicas para mulheres com contra indicações como colo curto ou diabetes gestacional, garantindo que possam continuar a treinar de forma segura e adequada às suas necessidades, num contexto de treino personalizado, um para um. Por fim, o Maternar Ativo centra-se no período pós-parto, auxiliando as mulheres na recuperação da força, estabilidade e mobilidade, com especial atenção à reabilitação do pavimento pélvico e da musculatura abdominal. Embora muitas mães sintam pressão para recuperar rapidamente a sua forma física, este programa prioriza a funcionalidade sobre a estética, promovendo a reeducação do corpo e prevenindo problemas como incontinência urinária, diástase abdominal persistente e dor lombar. Cada um destes programas foi desenvolvido para proporcionar uma experiência segura e eficaz, respeitando o tempo e as necessidades de cada mulher. Além do treino físico, o espaço criado promove o apoio emocional e a partilha de experiências, garantindo um acompanhamento baseado na melhor evidência científica disponível. Que impacto tem esta abordagem integrada na vida das mulheres? O nosso projeto baseia-se numa abordagem holística e personalizada, que respeita as necessidades individuais de cada mulher ao longo da maternidade. Não impomos um modelo rígido de acompanhamento, mas oferecemos uma rede de especialistas para que cada mulher possa recorrer ao suporte necessário no momento certo. Muitas vezes, sou eu quem faz a ponte entre as grávidas e os profissionais, ao observar sinais que podem beneficiar de acompanhamento especializado. No entanto, cada mulher tem total liberdade para decidir se deseja ou não recorrer a essa rede. A gravidez e o pós-parto são períodos de grande transformação, e ter acesso a profissionais qualificados em diferentes áreas permite prevenir e mitigar desafios comuns, garantindo mais bem-estar físico e emocional. No pós-parto, essa rede de apoio torna-se ainda mais ampla, incluindo especialistas para os cuidados do bebé, como osteopatas e fisioterapeutas respiratórios. Além disso, a comunidade desempenha um papel essencial: as mães que já passaram por essa fase – a quem chamamos “mães crescidas” – ajudam as mães mais recentes a identificar necessidades e a antecipar soluções. Esta partilha de experiências e conhecimento é um dos pilares do nosso projeto. Outro diferencial é a disponibilidade contínua dos profissionais, especialmente da nutricionista Mariana José e da psicóloga Bárbara Fonseca, que estão acessíveis para as mães através do WhatsApp, todos os dias. O grupo de pós-parto funciona 24 horas por dia, permitindo que, em momentos de dúvida ou angústia, as mães possam contar com o apoio imediato de outras mulheres que partilham a mesma realidade. Esse suporte constante é fundamental para a segurança emocional das mães, ajudando a reduzir a ansiedade e a solidão que tantas vezes acompanham o puerpério. Há alguma história ou testemunho de uma mulher que tenha passado pelo projeto e que a tenha marcado particularmente? Sim, há várias histórias que me tocaram profundamente, mas uma em especial ensinou-me muito sobre a resiliência das mulheres e a importância do apoio emocional na maternidade. Aconteceu com uma aluna minha que estava grávida de gémeos e vivia essa fase com grande felicidade. No entanto, um dos bebés não conseguiu sobreviver e, às 21 semanas, foi identificada uma grave alteração congénita no coração da bebé que continuava a desenvolver-se. Diante dessa realidade difícil, ela teve de tomar a dolorosa decisão de interromper a gravidez,já com uma gravidez avançada e a ter de passar por um verdadeiro parto para pôr termo à situação. Foi um processo muito sensível para mim enquanto profissional enquanto mulher. Percebi a importância de aprofundar o meu conhecimento sobre o luto gestacional e sobre como proporcionar suporte adequado a mulheres que passam por perdas desta magnitude. O mais impressionante foi a força da minha aluna. Apesar da dor, ela manteve-se firme, continuou o seu percurso de recuperação e, algum tempo depois, voltou a engravidar. Hoje tem uma bebé saudável e as duas estão muito bem e felizes. A primeira bebé a receber o meu nome na comunidade, o que faz dela, por todas as razões, uma Joaninha muito especial. Esta experiência reforçou a necessidade de falarmos mais sobre o luto gestacional. É um tema muitas vezes silenciado, mas que afeta cerca de 30% das mulheres. Muitas sofrem em silêncio, acham que são as únicas a passar por isso, quando, na realidade, é um fenómeno muito mais comum do que se pensa. Independentemente da idade gestacional, a perda de um bebé traz uma dor real e profunda, que exige acolhimento, validação emocional e um acompanhamento adequado. É por isso que insisto na necessidade de profissionais que trabalham com grávidas – sejam treinadores, doulas, psicólogos ou médicos – estarem preparados para lidar com estas situações de forma sensível e empática. De que forma a maternidade pode impactar a saúde mental das mulheres e como é que o seu projeto as ajuda a manter o bem-estar emocional? A maternidade é um período de enormes transformações, tanto físicas como emocionais. O impacto na saúde mental é significativo, e mesmo mulheres que nunca tiveram dificuldades emocionais podem experienciar desafios durante a gravidez e o pós-parto. A ansiedade, por exemplo, está presente em praticamente 100% das grávidas, manifestando-se de formas diferentes. Algumas sentem apenas uma leve inquietação, enquanto outras podem desenvolver quadros mais intensos, que exigem atenção especializada. Além disso, a sociedade muitas vezes desvaloriza o sofrimento emocional das mulheres nessa fase, com frases como “isso é normal, vai passar”, o que pode atrasar o reconhecimento de problemas como depressão perinatal. No nosso projeto, a saúde mental é uma prioridade. Desde o início, procurei incluir apoio psicológico na estrutura da comunidade. Trabalhamos com a Dr.ª Teresa Reis, uma referência em Portugal na psiquiatria perinatal, e com a psicóloga clínica perinatal Bárbara Fonseca, que faz um acompanhamento mais próximo e prático. Realizamos encontros mensais com a Bárbara, nos quais abordamos temas específicos da gravidez e do pós-parto, sempre com espaço para partilha de estratégias práticas de gestão emocional. São círculos de partilha, onde as mulheres expressam as suas dificuldades e recebem apoio e orientação. A sensibilização para a saúde mental é fundamental. Tem planos para expandir a rede de apoio ou explorar novos formatos de acompanhamento? Muitas pessoas pedem um espaço físico, mas, neste momento, não sinto que seja o próximo passo. O formato online tem-se revelado extremamente eficaz, tanto para mim como para as mulheres que acompanho. Treinar a partir de casa é uma solução muito prática, sobretudo para grávidas e mães com bebés pequenos, pois elimina as dificuldades logísticas associadas a deslocações. Ainda existe algum ceticismo relativamente ao treino online, e algumas mulheres perguntam-me diretamente: “Será que vais conseguir corrigir a minha postura à distância?” A resposta é sim! Consigo acompanhar cada detalhe do movimento, dar feedback em tempo real e garantir que o treino é seguro e eficaz. E se, por acaso, não estiver perfeito à primeira, insisto até que esteja! Para o futuro, além da continuidade do acompanhamento online, estou a investir na área da formação. Este ano lançámos a Academia Gerar, um projeto focado na capacitação de profissionais do exercício que querem especializar-se no acompanhamento de mulheres nesta fase da vida. O objetivo é preencher uma lacuna que eu própria senti quando me formei — oferecer um curso que realmente entregue o conhecimento essencial para quem deseja trabalhar nesta área com qualidade e responsabilidade. Além disso, quero desenvolver soluções mais acessíveis para grávidas que, por razões financeiras, não conseguem aderir ao programa completo de acompanhamento. Tudo o que é especializado tem um custo elevado, porque envolve um grande investimento de tempo, estudo numa senda de atualização constante. No entanto, sei que existe uma grande parte da população que não tem essa possibilidade. Por isso, estou a trabalhar na criação de um programa de treinos gravados, que permita um acesso mais democrático à informação e ao exercício. Claro que um programa gravado nunca substituirá um acompanhamento personalizado, mas poderá ser um excelente recurso para mulheres saudáveis e com acompanhamento médico adequado. O meu objetivo é encontrar formas de apoiar o maior número possível de mulheres, respeitando sempre a segurança de cada uma. Como imagina o futuro deste projeto e que legado gostaria de deixar para as mulheres que passam por ele? Acredito que o legado já está a ser construído todos os dias. Existe uma frase que me marca muito: “Uma mulher nunca se esquece de quem cuidou dela nesta fase da vida.” E eu sinto isso a cada mensagem, a cada partilha. Sei bem como as palavras e as orientações de certos profissionais ficaram gravadas na minha memória durante a minha gravidez, e quero que as mulheres que passam pelo meu programa sintam o mesmo. O que mais me emociona é ouvir: “Este foi o melhor investimento que fiz na minha gravidez.” Muitas chegam à minha plataforma à procura de exercício físico, mas acabam por encontrar um verdadeiro suporte para essa fase tão transformadora. Descobrem conhecimento, autoconfiança e um espaço seguro para viverem a maternidade com mais leveza. Se há um legado que quero deixar, é este: que, ao recordarem esta fase da vida, se lembrem que fizeram uma escolha certa para si mesmas. Que sintam que o caminho que trilharam as fortaleceu e preparou para a jornada da maternidade. Que mensagem gostaria de deixar às mulheres que estão a viver a maternidade e que talvez ainda não tenham encontrado a sua rede de apoio? Não desistam de procurar! Nenhuma mulher deveria viver a maternidade em solidão ou sem o suporte certo. Se ainda não encontraram a vossa rede de apoio, saibam que ela existe — e pode estar mais perto do que imaginam. Além disso, quero deixar um conselho importante: não tenham medo de mudar de profissional caso sintam que não estão no lugar certo. Seja um médico, um fisioterapeuta, um psicólogo ou um treinador, é essencial que sintam empatia, segurança e identificação com quem vos acompanha. Muitas vezes, as mulheres mantêm-se ligadas a um profissional com quem não se sentem totalmente confortáveis, por receio de parecerem ingratas ou desleais. Mas a verdade é que a gravidez e o pós-parto são momentos demasiado importantes para perderem tempo com um acompanhamento que não faz sentido para vocês. O profissional certo existe. A comunidade certa também. Procurem até encontrarem um espaço onde se sintam verdadeiramente acolhidas e respeitadas. A maternidade não precisa de ser vivida sozinha. Instagram: @joanavilasboas Site: joanavilasboas.pt Whatsapp: +351 918 273 326 “A utilização prolongada de contracetivos hormonais pode comprometer a saúde intestinal” “Parentalidade não é sinónimo de privação de sono”
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