SAÚDE/Saúde Infantil “O sono do bebé não depende de ‘treinos’ nem de fórmulas, é um processo natural e único para cada família” By Revista Spot | Fevereiro 5, 2025 Fevereiro 7, 2025 Share Tweet Share Pin Email O sono infantil é um tema que desperta muitas dúvidas e inseguranças nos pais, especialmente nos de primeira viagem. A sociedade impõe, muitas vezes, padrões rígidos e fórmulas mágicas, criando um ambiente de pressão e frustração. Contudo, o sono é um processo natural que não se resume a um conjunto de regras universais e cada bebé tem o seu próprio ritmo e necessidades. O percurso de Bruna Ferreira, mãe, enfermeira, consultora de sono infantil e fundadora do BabyFlow, reflete precisamente esta necessidade de criar abordagens individualizadas que valorizam a escuta e compreensão do bebé. O seu foco está em munir os pais das ferramentas necessárias para entenderem o processo de sono, respeitando o vínculo com o bebé, garantindo o bem-estar de toda a família. “O sono do bebé não depende de treinos nem fórmulas, mas de empatia e apoio.”, reforça. Bruna, como surgiu a ideia de criar o BabyFlow? A ideia surgiu muito pela minha própria experiência de mãe. O meu bebé nasceu com uma condição congénita chamada laringomalacia e isso afetou bastante a amamentação, porque ele engasgava-se muito durante a noite, o que me deixou completamente exausta e com medo de que algo corresse mal. O sono, na minha cabeça, era uma coisa simples, eles dormem, comem e pronto. Mas a realidade foi outra: o cansaço era imenso, as noites sem dormir, o meu vínculo com o meu filho estava a ser prejudicado, e eu não conseguia entender o que estava a acontecer. A culpa foi uma constante. Eu achava que estava a fazer tudo errado, que o meu filho seria o único a não seguir aquelas tabelas de sono que a maioria dos pais tenta seguir. Foi nessa altura que comecei a procurar informações e percebi que estava a entrar num mar de dados contraditórios e confusos. Mas, de alguma forma, comecei a sentir que o sono não se tratava apenas de comportamentos a mudar, mas de entender o que estava por trás disso, ouvir o bebé, compreender as suas necessidades, e dar-lhe mais previsibilidade e segurança. Foi então que percebi que a minha experiência poderia ser útil para outras famílias, porque eu estava a encontrar respostas que estavam a funcionar para mim, e sabia que precisava de algo mais individualizado, e não apenas o que era oferecido em cursos e formações genéricas. Foi então que decidi estudar profundamente sobre consultoria de sono infantil e encontrei um curso que estava em linha com aquilo que eu acreditava: que o sono não é uma fórmula mágica, mas um processo natural e individual para cada família. Por isso, criar o BabyFlow foi um passo natural. Era a maneira de ajudar outras mães a não se sentirem tão sozinhas, a não sentirem essa culpa e frustração, e a voltarem a confiar nos seus instintos. Queria, acima de tudo, dar-lhes as ferramentas para que pudessem compreender e respeitar os ritmos do sono dos seus filhos, e não apenas aplicar um método qualquer, sem considerar a dinâmica familiar. Quais são os maiores mitos relacionados com o sono dos bebés? Existem vários mitos que acabam por gerar muitas expectativas erradas nos pais. Um dos maiores mitos é a ideia de que os bebés têm que dormir 12 horas seguidas por noite. Na realidade, é muito raro que isso aconteça, pois o sono dos bebés vai amadurecendo ao longo do tempo e pode variar entre 9 e 11 horas, dependendo da idade. Para além disso, como o estômago do bebé ainda é pequenino, esperar que ele consiga ficar 12 horas sem comer é algo pouco realista. Por exemplo, até aos 2 anos, muitos bebés ainda acordam durante a noite para se alimentar. Outro mito muito comum é o de que, a partir dos 6 meses, os bebés começam a dormir a noite toda. Na verdade, os despertares noturnos são naturais até aos 2 ou 3 anos, e muitos bebés ainda acordam nesse período. A ideia de que, com a introdução dos sólidos, o bebé vai começar a dormir a noite toda é também um mito. E, por último, há o estigma em torno de adormecer ao colo ou na mama, que muitas pessoas consideram prejudicial. Mas a realidade é que não há problema nenhum nisso, desde que o bebé se sinta seguro e a mãe também. O importante é percebermos que o sono infantil é multifacetado e que não existe um único método ou abordagem que funcione para todos. Cada bebé é único e merece um cuidado individualizado. Há diferenças nas abordagens ao sono dependendo da idade do bebé? Sim, as abordagens ao sono de um bebé variam significativamente conforme a sua idade, já que as necessidades e os estímulos aos quais ele está exposto vão mudando à medida que cresce. Nos primeiros meses, um recém-nascido tem uma capacidade notável de adormecer em qualquer lugar, seja no meio de um café movimentado ou em casa, desde que se sinta confortável e alimentado. Nessa fase, ele ainda está a adaptar-se ao mundo e, por isso, pode dormir com facilidade em ambientes barulhentos e com muita luz. Isto acontece porque, na prática, ele não tem ainda uma visão muito desenvolvida nem a capacidade de perceber que está fora do aconchego materno. O bebé, nesta altura, absorve todos os estímulos ao seu redor, e muitas vezes, no final do dia, sente um pico de cansaço emocional, conhecido como “hora da bruxa”, um momento em que o excesso de estímulos acumulados ao longo do dia provoca choro e inquietação. Aos 3 e 4 meses, o bebé começa a “acordar para o mundo”. A sua visão melhora, ele passa a perceber melhor o ambiente à sua volta, e tudo se torna mais intenso e estimulante. A partir desta fase, começam a ser necessárias condições mais específicas para o sono, como ambientes mais calmos e escuros. Esta transição, muitas vezes, pode ser difícil para os pais, pois implica que o bebé precise de um espaço mais controlado para descansar e o ritual de sono começa a ser uma ferramenta essencial para ajudá-lo a sentir-se seguro e confortável. Quando o bebé atinge cerca de 6 meses, a criação de rituais de sono, tanto durante o dia como à noite, torna-se crucial. O bebé precisa de previsibilidade, pois isso proporciona-lhe segurança e estabilidade. Neste período, o ambiente de sono deve ser cuidadosamente controlado, desde a temperatura até à quantidade de luz e ruído. Estas mudanças, embora graduais, são fundamentais para o desenvolvimento do bebé e para o bem-estar dos pais, que começam a perceber que uma rotina bem estruturada traz mais qualidade de vida para todos. Afinal quantas horas de sono deve dormir um bebé? É importante destacar que não existe uma tabela rígida que se aplique a todos. Embora se saiba que os bebés precisam de muitas horas de sono, o comportamento da criança é o melhor indicador para avaliar se ela está a descansar o suficiente. A média de sono noturno para os bebés costuma estar entre 9 a 11 horas, mas o importante não é a quantidade de horas, mas como o bebé se sente ao acordar. Se, mesmo depois de um sono mais curto, ele acorda bem-disposto, alimenta-se normalmente e mantém-se ativo durante o dia, o sono está a ser adequado. Cada bebé tem o seu próprio cronotipo, ou seja, o seu ritmo natural de sono. Enquanto a maioria dos adultos tem um cronotipo mais tardio, no caso dos bebés, o cronotipo é tipicamente mais matutino, ou seja, eles tendem a acordar mais cedo e a precisar de dormir mais cedo. Por isso, é importante não forçar o bebé a seguir um horário que não corresponda às suas necessidades naturais, pois isso pode resultar em comportamentos difíceis e noites de sono menos reparadoras. Existe uma relação entre o processo de amamentação e os hábitos de sono? A relação entre a amamentação e os hábitos de sono do bebé é muito mais complexa do que muitas vezes se pensa, e pode ser vista como uma verdadeira simbiose. O leite materno contém componentes que são fundamentais para o desenvolvimento do bebé, incluindo a melatonina e o triptofano, substâncias que promovem o relaxamento e preparam o bebé para o sono. Durante o dia, a composição do leite vai mudando, e, ao anoitecer, a melatonina presente no leite materno aumenta, ajudando a regular o ritmo circadiano do bebé. Até os 4 meses, o bebé ainda não tem a capacidade de produzir melatonina de forma própria, por isso, a amamentação à noite não só alimenta, como também transmite essa dose natural de melatonina, promovendo o descanso. Essa interação é um exemplo de como o corpo da mãe se adapta para cuidar do bebé, criando um ambiente propício ao sono, além da nutrição. Este vínculo vai além do simples ato de alimentar, pois a mama também representa conforto, segurança e proximidade para o bebé. Logo após o nascimento, o bebé ainda não tem noção clara de que saiu do útero, e a amamentação oferece um refúgio que o reconecta com o ambiente seguro e familiar que conhecia. O cheiro, o calor e o som da mãe são essenciais para o bebé se sentir protegido, e isso contribui para o seu bem-estar emocional e físico. Esse conforto é o que realmente facilita o sono do bebé, não sendo apenas a alimentação que o desperta, mas a sensação de segurança que a mãe transmite. No fundo, o bebé adormece porque se sente seguro, e a mama tem um papel importante neste processo. Os despertares noturnos, que são naturais nos primeiros meses, podem ser geridos para evitar exaustão parental? É importante que os pais entendam que esses momentos não são apenas um reflexo de fome, mas uma necessidade fisiológica do bebé. O cérebro do bebé, ainda em desenvolvimento, desperta como uma forma de proteção. Ele ainda não tem a capacidade de regular a respiração e os batimentos cardíacos de forma autónoma, por isso o despertar durante a noite é uma forma natural e protetora de chamar a atenção do adulto. Infelizmente, a sociedade moderna criou um cenário em que os pais muitas vezes não têm o apoio necessário para lidar com isso, o que leva à pressão para que o bebé comece a dormir a noite inteira o mais rápido possível. Contudo, essa pressão pode ignorar as necessidades fisiológicas do bebé e colocar os pais em situações de exaustão. Aqui, a chave é encontrar equilíbrio: entender que os despertares são naturais e fazem parte do processo de desenvolvimento e segurança do bebé, e ao mesmo tempo, procurar formas de gerir essa dinâmica com o apoio da rede familiar ou, quando necessário, procurar ajuda profissional para que os pais possam descansar sem comprometer a saúde do bebé. Como equilibrar a necessidade de responder ao choro do bebé durante a noite com a criação de hábitos saudáveis de sono? A gestão do sono dos bebés e a necessidade de responder ao seu choro durante a noite é um tema que toca na ansiedade e na exaustão dos pais, especialmente nos primeiros meses de vida, quando os pais se veem imersos num ciclo de desgaste físico e emocional. A amamentação, por exemplo, exige uma quantidade enorme de energia da mãe, o que a deixa exausta e mais vulnerável. Este desgaste, somado à necessidade constante de atender o bebé, acaba por criar um ciclo de cansaço profundo, em que os pais, muitas vezes, não conseguem ver saída. A chave para equilibrar o cuidado com o bebé e o descanso dos pais está em criar uma rede de apoio. Ter ajuda em casa, seja com as tarefas domésticas ou mesmo com o bebé, pode aliviar a carga da mãe e permitir que ela tenha momentos de descanso recuperadores. A presença do pai, por exemplo, é fundamental não só para dividir as tarefas, mas também para garantir que ambos os pais possam descansar e recarregar energias, o que é essencial para lidar com as demandas emocionais e físicas da parentalidade. Algumas estratégias, como permitir que a mãe descanse noutro espaço enquanto o pai cuida do bebé, podem ser eficazes. Isso ajuda a mãe a alcançar um sono mais profundo, sem estar constantemente alerta ao som do bebé. Ao respeitar os ritmos circadianos, com luzes suaves à noite e exposição à luz durante o dia, é possível ajudar o cérebro da mãe e do bebé a ajustarem-se ao ciclo natural de sono e vigília, promovendo melhores noites de descanso. A higiene do sono pode melhorar a qualidade do descanso dos bebés? A higiene do sono pode ser iniciada desde os primeiros dias de vida do bebé. A criação de um ambiente tranquilo, com luzes suaves e poucos estímulos no final do dia, prepara o bebé para uma boa noite de sono. Ritualizar a hora de dormir também é crucial: banhos relaxantes, massagens suaves e a escolha de uma música calma podem ajudar o bebé a associar essas atividades ao momento de descanso. Com o tempo, esses rituais tornam-se uma âncora emocional que facilita a transição para o sono, promovendo não apenas o descanso do bebé, mas também uma maior tranquilidade para os pais. A base para uma boa gestão do sono e a criação de hábitos saudáveis para o bebé começa com o cuidado dos pais, com a importância de dar a si mesmos o espaço para descansar e procurar apoio. Só assim se consegue quebrar o ciclo de exaustão e proporcionar a todos uma melhor qualidade de vida. O que é que os pais devem evitar ao tentar estabelecer uma rotina de sono? Estabelecer uma rotina de sono para os bebés pode ser um desafio, e é natural que, na tentativa de criar hábitos saudáveis, algumas práticas comuns acabem por não trazer o efeito desejado. Um dos aspetos mais importantes a ter em conta é que os bebés, nos primeiros meses, ainda não têm um ritmo circadiano bem definido. Ou seja, não distinguem entre dia e noite e tendem a dormir em múltiplas sestas ao longo de 24 horas. Por isso, tentar impor um horário rígido muito cedo pode gerar frustração tanto para os pais como para o bebé. Em vez disso, é útil observar os sinais naturais de sono e permitir que a adaptação aconteça de forma progressiva e respeitosa. O ambiente também desempenha um papel essencial. Muitas vezes, sem se aperceberem, os pais podem expor os bebés a uma estimulação excessiva durante o dia ou nas horas que antecedem o sono – seja através da televisão, de luzes intensas ou da agitação normal da casa. Criar um ambiente mais calmo, com luz suave e menos estímulos auditivos, pode facilitar a transição para o descanso e ajudar o bebé a adormecer mais facilmente. Outro ponto importante é o momento de conexão ao final do dia. Depois de um dia repleto de estímulos, os bebés e as crianças pequenas precisam de um período de interação tranquila com os pais antes de dormir. Muitas vezes, a correria das tarefas domésticas pode fazer com que esse momento seja adiado, levando a um aumento da resistência ao sono. Reservar alguns minutos para estar presente, sem distrações, pode fazer toda a diferença na forma como a criança se sente e na facilidade com que adormece. Relativamente à cama partilhada, esta pode ser uma escolha natural para muitas famílias, desde que seja feita com segurança. Há detalhes que podem passar despercebidos, como o uso de ninhos na cama dos pais, que nem sempre garantem a proteção necessária. Informar-se sobre as melhores práticas pode ajudar a tornar essa opção mais segura para todos. Por fim, manter uma certa consistência na rotina do sono, mesmo aos fins-de-semana, pode ser benéfico para o bebé. Embora seja tentador permitir horários mais flexíveis, variações grandes podem dificultar a regulação do sono e tornar as noites seguintes mais desafiantes. Pequenos ajustes podem ser feitos sem comprometer o equilíbrio necessário para um descanso de qualidade. Acima de tudo, cada bebé é único, e encontrar a melhor abordagem para a rotina do sono é um processo que se constrói com tempo, paciência e, sobretudo, muito carinho. Como podemos distinguir entre um bebé que tem dificuldades comportamentais no sono e um bebé que pode estar a sofrer de problemas de saúde que afetam o sono? Distinguir entre dificuldades comportamentais e problemas de saúde pode ser desafiador. No entanto, estima-se que cerca de 50% das crianças tenham problemas de sono em algum momento, mas apenas uma pequena percentagem (cerca de 4%) tem problemas clínicos relacionados com o sono. A insónia comportamental é uma das causas mais comuns, caraterizando-se por dificuldades em adormecer ou em manter o sono. Se as dificuldades no sono são frequentes e consistentes, é importante considerar a mudança de hábitos, pois esses padrões de sono podem persistir até à vida adulta, caso não sejam corrigidos desde cedo. A abordagem é sempre comportamental e cognitiva, focando-se na criação de hábitos mais saudáveis para promover um sono restaurador. O que recomenda aos pais que enfrentam regressões de sono em fases específicas do desenvolvimento do bebé? É fundamental que os pais compreendam que estas mudanças no sono, que prefiro chamar de “transições” em vez de “regressões”, são processos naturais e indicam um desenvolvimento saudável. O sono do bebé não é estático; ele evolui à medida que o sistema nervoso amadurece. Aos quatro meses, por exemplo, ocorre uma mudança significativa na arquitetura do sono, esta adaptação aumenta a sensibilidade a estímulos ambientais. Isto pode fazer com que um bebé que dormia bem passe a acordar mais vezes durante a noite. O primeiro passo é mudar a perspetiva sobre estas fases. Em vez de as encarar como retrocessos, os pais devem vê-las como sinais de crescimento e maturação. Muitas vezes, após um período de sono fragmentado, o bebé adquire padrões mais consolidados e passa a dormir melhor. Assim, o mindset dos pais faz toda a diferença: em vez de entrarem num estado de frustração e ansiedade, podem tentar manter a calma e perceber que é uma fase passageira. Outro ponto determinante é a regulação emocional. Os bebés ainda não têm a capacidade de se autorregular, pelo que dependem dos pais para se sentirem seguros. Se os pais reagem ao choro com impaciência ou stress, o bebé interpreta isso como um sinal de perigo, o que pode aumentar a dificuldade em adormecer. Pelo contrário, se os pais transmitem tranquilidade, o bebé sente-se seguro e tende a acalmar-se mais rapidamente. Manter rotinas consistentes também é essencial. Se um bebé já tinha adquirido hábitos de sono mais independentes, mas nesta fase precisa de mais proximidade, é perfeitamente aceitável acolhê-lo. No entanto, assim que a fase de maior instabilidade passar, é importante retomar gradualmente as rotinas anteriores. A previsibilidade dá segurança ao bebé e ajuda-o a voltar a um padrão de sono mais regular. Outro ponto importante é que o descanso dos pais não deve ser negligenciado. A privação de sono impacta o humor, a paciência e até a capacidade de tomar decisões. Descanso não significa apenas dormir mais horas, mas também encontrar momentos para relaxar, praticar atividades que proporcionem prazer e até mesmo passar tempo ao ar livre, que ajuda na regulação do ciclo circadiano. Por fim, é importante desmistificar o conceito de “treino do sono”. O sono não é algo que se ensina ou treina, porque é uma função biológica, tal como a respiração ou a digestão. Abordagens comportamentais podem ter o seu lugar, mas não devem ser aplicadas sem olhar para as necessidades reais do bebé. Em vez de focar apenas na extinção de despertares noturnos, é mais eficaz compreender as causas por trás dessas mudanças e responder de forma adaptada. Com paciência, conhecimento e uma abordagem respeitosa, o sono do bebé acaba por se equilibrar naturalmente. A autonomia do sono desenvolve-se no seu próprio ritmo. Quais são os planos para o futuro do BabyFlow? Neste momento, o meu foco principal está na consultoria individual, ajudando os pais a compreenderem melhor o sono e a regulação emocional dos bebés. No entanto, o meu grande objetivo é expandir essa atuação para a área da educação parental, começando já durante a gravidez. Acredito que preparar os pais desde a gestação para aquilo que é fisiológico—seja no sono, na amamentação ou na forma como lidam com as necessidades emocionais dos seus bebés—faz toda a diferença. A informação certa, dada no momento certo, permite que os pais confiem mais na sua intuição e se protejam do excesso de ruído e desinformação que muitas vezes gera insegurança. Quero criar um espaço onde possam aprender estratégias práticas de regulação emocional, não só para os seus bebés, mas para eles próprios enquanto cuidadores. Além disso, vejo um enorme valor na criação de ciclos de pais, algo que é muito comum noutros países, como no Reino Unido, onde vivi e trabalhei durante vários anos. Esses encontros permitem que os pais partilhem experiências, compreendam que os desafios que enfrentam não são únicos e encontrem apoio mútuo. Muitas mães chegam às consultas convencidas de que estão a falhar ou de que há algo de errado com o seu bebé, quando, na verdade, estão apenas a passar por situações comuns a muitas famílias. O simples facto de ouvirem que não estão sozinhas já traz um enorme alívio. Outro dos meus objetivos é a formação de profissionais de saúde e educação, pois muitas das orientações que ainda hoje são passadas às famílias baseiam-se em mitos desatualizados, especialmente no que diz respeito ao sono infantil. Expressões como “tem de aprender a adormecer sozinho” ou “deixa chorar que passa” ainda são muito frequentes, quando sabemos que a ciência já demonstrou que a base para um desenvolvimento emocional saudável é exatamente o contrário. A ideia é capacitar não só médicos e enfermeiros, mas também educadores de infância e profissionais de creches, garantindo que as crianças recebem um cuidado mais respeitador e alinhado com o seu desenvolvimento. Para terminar, que mensagem gostaria de deixar a todas as mães e pais? A principal mensagem que eu gostaria de deixar é que não esperem pelo limite do cansaço para pedir ajuda. Muitas vezes, os pais chegam até mim já completamente exaustos, num estado de desespero, convencidos de que falharam ou de que não há solução. Mas não precisa, nem deve ser assim. A privação de sono é frequentemente vista como uma espécie de “fardo inevitável” da maternidade e da paternidade, mas a verdade é que o impacto dela vai muito além do cansaço. Afeta a saúde mental, a capacidade de tomar decisões, a relação com o bebé e até o próprio vínculo afetivo. O problema é que, socialmente, normalizamos a ideia da mãe (ou do pai) exausta, como se o sofrimento fosse um requisito da parentalidade. Mas não é. Ser mãe ou pai não significa estar constantemente esgotado. Quando se chega ao ponto de exaustão extrema, qualquer mudança se torna mais difícil. O processo de ajustar o sono do bebé, por exemplo, exige paciência, consistência e resiliência – algo que é quase impossível quando os pais já estão num estado de total desgaste. Por isso, sempre que recebo uma família em grande exaustão, o meu primeiro passo não é apenas olhar para o sono do bebé, mas também tentar encontrar formas de garantir descanso para os pais. Sem isso, tudo o resto se torna muito mais complicado. Outra questão importante é libertar-se da culpa de pedir ajuda. Muitas mães sentem um peso enorme por deixarem o bebé com outra pessoa, mesmo que seja por pouco tempo para poderem descansar um pouco. Mas é fundamental lembrar que uma mãe descansada é uma mãe mais disponível emocionalmente. O mesmo vale para os pais. O autocuidado não é egoísmo – é uma necessidade. Além disso, investir em informação de qualidade e em acompanhamento especializado pode fazer toda a diferença. Mas é essencial que esse acompanhamento esteja alinhado com os valores da família e com o estilo de parentalidade que os pais querem seguir. Cada família é única, e não existe um método único que funcione para todos. Por isso, antes de investirem num acompanhamento, recomendo sempre que conheçam o profissional, que compreendam a abordagem dele e avaliem se faz sentido para a vossa realidade. Por fim, a razão de ser do BabyFlow está exatamente neste conceito de respeitar o processo natural do bebé e da família. O sono não é um mecanismo que precisa de ser “treinado” – é um processo fisiológico que, quando compreendido e respeitado, torna-se mais fluido. Seguir o BabyFlow significa confiar no ritmo do bebé, encontrar equilíbrio e perceber que a parentalidade não precisa de ser um caminho solitário e exaustivo. Peçam ajuda antes do esgotamento, confiem na vossa intuição e, acima de tudo, lembrem-se: ser pais é um desafio, mas não tem de ser um sofrimento. Instagram: @bruna.babyflow “A saúde oral da criança começa na grávida” “Ao unir fisioterapia pélvica e treino adaptado criamos as bases para uma gravidez mais tranquila e um pós-parto mais ativo e saudável”
FISIOTERAPIA / MEDICINA INTEGRATIVA / NUTRIÇÃO / Osteopatia / Psicologia / SAÚDE DA MULHER / Saúde Infantil “A saúde do futuro não se limita a tratar doenças: antecipa, previne e transforma vidas” A saúde do futuro não se limita a tratar doenças — antecipa, previne e transforma vidas. A abordagem interdisciplinar já…
Bebés / Pré - Natal / SAÚDE DA MULHER / Saúde Infantil A comunidade inovadora de Joana Vilas Boas que revoluciona a vida a centenas de mulheres em diferentes fases da maternidade Imagine uma comunidade de treino dedicada totalmente à mulher. Desde a preconceção à recuperação pós-parto, com programas de exercício físico…
Bebés / Saúde Infantil “Parentalidade não é sinónimo de privação de sono” A ideia de que a privação de sono é uma etapa obrigatória da parentalidade precisa de ser revista. Segundo Marta…