SAÚDE “O ‘sedentarismo mental’ e a falta de estímulos intelectuais são inimigos silenciosos da saúde do cérebro” By Revista Spot | Setembro 30, 2024 Setembro 30, 2024 Share Tweet Share Pin Email O nosso estilo de vida exerce uma influência profunda na saúde do nosso cérebro. Margarida Rodrigues, neurologista e coordenadora do CNS Braga, destaca que compreender como os hábitos diários impactam a nossa neurologia pode revolucionar a forma como prevenimos e tratamos doenças neurodegenerativas. Com uma abordagem focada na intervenção precoce e na adoção de um estilo de vida equilibrado, podemos não apenas mitigar os riscos, mas também promover um envelhecimento saudável e ativo. A chave para o futuro da saúde neurológica pode estar nas nossas escolhas diárias, desde a alimentação até à atividade física e ao bem-estar mental. É altura de repensar as nossas rotinas e investir em hábitos que sustentem a nossa saúde cerebral ao longo da vida. O que tem maior impacto na predisposição para doenças neurológicas: a genética ou o estilo de vida? Embora a investigação tenha avançado consideravelmente, ainda estamos a desbravar o papel de numerosos genes que podem estar implicados em doenças como o Alzheimer e o Parkinson. Acredita-se que a genética tenha um impacto limitado na maioria dos casos, com estimativas a apontarem que a contribuição genética para muitas doenças neurodegenerativas seja inferior a 10%. Por outro lado, o impacto ambiental tende a ser mais pronunciado. Fatores como estilo de vida, alimentação, atividade física e saúde mental são determinantes para a saúde neurológica. Embora a genética tenha um papel a desempenhar, existe uma parte da saúde neurológica que provém de fatores modificáveis relacionados com estilo de vida. As escolhas que fazemos em termos de alimentação, atividade física e bem-estar mental podem alterar significativamente a nossa saúde neurológica e qualidade de vida. De que forma um estilo de vida sedentário pode afetar a saúde do cérebro a longo prazo? Quando falamos sobre a saúde do cérebro, é importante destacar que a atividade física regular está associada a benefícios como a melhoria da memória e a promoção da neuroplasticidade. A prática regular de exercício físico estimula a circulação sanguínea, o que favorece a oxigenação do cérebro e o transporte de nutrientes essenciais. Além disso, o exercício desencadeia a libertação de substâncias químicas benéficas, como as endorfinas, que ajudam a melhorar o humor e a reduzir a ansiedade. Estes fatores contribuem para uma melhor saúde mental, mas também para a manutenção das funções cognitivas ao longo do tempo. Pessoas sedentárias tendem a apresentar um envelhecimento cerebral mais acelerado e uma maior probabilidade de experiências de fragilidade e falta de vitalidade. Além disso, a inatividade física pode influenciar negativamente outros aspetos da saúde, como o controlo do peso, o que, por sua vez, pode agravar fatores de risco como a hipertensão e a diabetes, condições que têm uma forte correlação com o declínio cognitivo. A alimentação pode influenciar diretamente a saúde neurológica? A alimentação tem um papel fundamental na saúde neurológica e pode influenciar diretamente o risco de desenvolver várias doenças. Uma dieta inadequada, rica em açúcares, gorduras saturadas e sódio, é um fator de risco significativo para condições neurológicas. Por exemplo, o consumo excessivo de sal pode levar à hipertensão arterial, que, por sua vez, está associada a um aumento do risco de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e outras doenças cardiovasculares. Além da hipertensão, a má alimentação pode resultar em níveis elevados de colesterol, um fator de risco importante para AVCs e doenças cardíacas. O colesterol LDL (o ‘mau’ colesterol) pode acumular-se nas artérias, levando a obstruções que afetam o fluxo sanguíneo cerebral. Assim, a escolha de alimentos saudáveis não só ajuda a manter o colesterol em níveis adequados, mas também promove a saúde do cérebro. Os ómega-3 são essenciais para a função cerebral e têm propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir o risco de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. O sono influencia a nossa saúde cerebral? Sim, o sono exerce uma influência profunda na nossa saúde cerebral, sendo essencial para o funcionamento adequado do cérebro. Uma boa qualidade de sono é fundamental não só para a saúde mental, mas também para a saúde física e cognitiva. A privação crónica de sono pode ter consequências significativas, aumentando os níveis de ansiedade e stress, além de comprometer a nossa capacidade de atenção e concentração. Quando não dormimos o suficiente, as funções cognitivas começam a ser afetadas. A memória, por exemplo, torna-se menos eficiente, dificultando a retenção e a recuperação de informações. Isso ocorre porque o sono desempenha um papel fundamental na consolidação da memória, um processo que ocorre durante o sono profundo. Durante essa fase, o cérebro revisita e organiza as experiências e informações do dia, transformando-as em memórias de longo prazo. Quais são os efeitos da dependência tecnológica, especialmente o uso excessivo de redes sociais na função cerebral? Um dos principais efeitos da exposição prolongada a ecrãs e ao consumo excessivo de conteúdo digital é a diminuição da atenção e da capacidade de concentração. A nossa mente tende a ser constantemente bombardeada por notificações e estímulos visuais, o que pode levar a uma forma de ‘sobrecarga sensorial’. Isso dificulta a concentração em tarefas importantes e afeta a qualidade da nossa atenção, tornando-a mais superficial. De que forma o avanço em tratamentos de doenças neurológicas pode mudar a nossa abordagem para prevenir, diagnosticar e tratar condições relacionadas com o envelhecimento cerebral, como demências? Hoje, é cada vez mais evidente que a intervenção precoce e a adoção de um estilo de vida saudável desde a infância são fundamentais para proteger a saúde cerebral ao longo da vida. A educação desempenha um papel crucial na prevenção do Alzheimer. Quanto mais anos uma pessoa dedica ao estudo e à aprendizagem de novas competências, maior é a proteção que obtém contra o desenvolvimento de demências. Isso reforça a importância de promover um ambiente educacional enriquecedor desde os primeiros anos de vida. Incentivar a curiosidade e a aprendizagem contínua não só estimula o cérebro, mas também contribui para um envelhecimento mais saudável. Na fase adulta, especialmente em torno dos 50 anos, várias intervenções podem ajudar a mitigar os riscos associados a doenças neurológicas. A prática regular de exercício físico é uma das mais eficazes, já que se associa a uma melhor saúde cardiovascular e ao fortalecimento das conexões neuronais. Além disso, é vital controlar condições como a hipertensão, que, se não tratada, podem aumentar o risco de AVC e demências. A moderação no consumo de álcool e a adoção de uma dieta equilibrada, rica em nutrientes e baixa em açúcares e gorduras saturadas, são igualmente importantes. Curiosamente, a perda de audição, frequentemente negligenciada, também se revela um fator de risco significativo para o desenvolvimento de demências. A sua deteção e tratamento adequados podem ter um impacto positivo na preservação da saúde cognitiva. A saúde mental não deve ser ignorada, uma vez que a depressão e o isolamento social são riscos consideráveis, especialmente na terceira idade. O isolamento pode levar a um agravamento da saúde cerebral, tornando essencial a promoção de interações sociais e a criação de redes de apoio. Atividades em grupo, hobbies e o fortalecimento dos laços comunitários podem não apenas melhorar a qualidade de vida, mas também atuar como um fator protetor contra a demência. Outros fatores ambientais, como a poluição e a diabetes, também têm sido associados ao aumento do risco de demências. Compreender e abordar esses fatores de risco modificáveis é vital, pois representam cerca de metade do risco total para o desenvolvimento de tais condições. A medicina personalizada pode transformar o tratamento das doenças neurológicas, levando em conta as caraterísticas genéticas e individuais dos pacientes? Sem dúvida. A abordagem personalizada e multidisciplinar do CNS Braga reforça a ideia de que cada paciente é único e cada forma de demência apresenta as suas especificidades. É importante reconhecer que o nosso verdadeiro objetivo é ouvir os doentes. Não podemos tratar todos os pacientes da mesma maneira, uma vez que as preocupações e queixas de cada um variam amplamente. Se nos limitarmos a tratar os pacientes como meros números ou a seguir um protocolo padrão baseado nos sintomas, corremos o risco de falhar na abordagem terapêutica. Assim, é essencial dedicarmos tempo às consultas, permitindo que os doentes expressem as suas preocupações de forma tranquila. Dessa maneira, conseguimos identificar o que realmente os incomoda. Além disso, é importante considerar o papel dos cuidadores, que muitas vezes são familiares dos doentes. Uma família informada é uma aliada no processo de tratamento, pois sabe o que esperar e como apoiar o seu ente querido. Esta dinâmica familiar fortalece o suporte emocional e prático que o doente necessita, tornando a abordagem mais eficaz. Outro aspeto interessante é a criação de um verdadeiro espírito de comunidade entre os profissionais de saúde e os pacientes. Muitos dos nossos doentes frequentam fisioterapia, terapia da fala e treino cognitivo, o que promove um intercâmbio contínuo de informações. Frequentemente, os terapeutas, que acompanham os doentes semanalmente, trazem à consulta observações valiosas. Essas interações enriquecem o tratamento, pois permitem que ajustemos a medicação ou outras abordagens com base no que foi observado fora da consulta. Quais são os novos desenvolvimentos no tratamento de doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson? Nos últimos anos, temos assistido a avanços significativos no tratamento de doenças neurológicas, como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla, que trazem novas esperanças e perspetivas para os doentes e suas famílias. Uma das áreas em que se têm registado progressos notáveis é o diagnóstico, permitindo um diagnóstico precoce e mais assertivo. A par desta evolução, a doença de Parkinson também beneficia de avanços na deteção precoce, utilizando tecnologias que avaliam a função motora e outros sinais subtis que podem preceder o diagnóstico clínico. Quanto aos tratamentos, a aprovação recente de novos medicamentos para a doença de Alzheimer nos Estados Unidos e no Reino Unido marca um passo importante. Embora estes tratamentos ainda tenham uma eficácia modesta, representam um princípio encorajador e abrem caminho para abordagens terapêuticas mais eficazes no futuro. A personalização do tratamento é uma tendência crescente, permitindo que médicos adaptem as terapias às necessidades específicas de cada paciente, melhorando assim a qualidade de vida. Além disso, a abordagem multidisciplinar no tratamento das doenças neurológicas, que envolve neurologistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e nutricionistas, tem-se revelado fundamental. Essa colaboração permite não só tratar os sintomas, mas também abordar as necessidades emocionais e sociais dos pacientes, promovendo um cuidado mais integrado, à semelhança daquilo que fazemos no CNS Braga. Quais os primeiros sinais a observar para identificar precocemente doenças degenerativas? A doença de Alzheimer afeta principalmente a cognição, com um foco marcante na memória. Nos estágios iniciais, as queixas mais comuns incluem o esquecimento frequente de compromissos, eventos recentes ou informações que antes eram facilmente recordadas. Muitas vezes, o próprio doente é o primeiro a notar que está a esquecer-se mais do que o habitual, ou então é a família que começa a observar que o ente querido tem dificuldades em manter a conversa ou em recordar nomes e rostos. Além da perda de memória, outras formas de demência podem afetar diferentes áreas da cognição. Por exemplo, alguns doentes podem ter dificuldades em nomear objetos ou em realizar tarefas que envolvem raciocínio lógico, como operar um computador ou um telemóvel. Esses sinais iniciais são fundamentais para um diagnóstico mais precoce, o que pode facilitar o acesso a tratamentos que retardam a progressão da doença. A doença de Parkinson, por sua vez, é caraterizada por alterações no movimento. Os sinais mais comuns incluem a lentidão de movimentos, conhecida como bradicinesia. Muitas vezes, familiares podem confundir essa lentidão com o envelhecimento normal, mas é essencial notar que, ao contrário do que se pode pensar, essa lentidão pode ser um sinal de alerta. Os doentes podem começar a arrastar os pés ao andar, a ter dificuldade em realizar tarefas minuciosas ou a perceber uma diminuição na expressão facial, conhecida como hipomimia. Outro sinal que frequentemente chama a atenção é o tremor, que geralmente se manifesta em repouso e não interfere necessariamente nas atividades diárias, mas é visível para os que estão ao redor. Esse tremor é muitas vezes o motivo pelo qual os doentes procuram ajuda médica mais rapidamente, pois a sua visibilidade provoca preocupação. Além do tratamento farmacológico, que abordagens não medicamentosas podem ajudar a melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças degenerativas? A educação da comunidade e dos familiares é fundamental para reduzir o estigma associado a estas condições, promovendo empatia e compreensão. Informar não só beneficia os pacientes, mas também as suas famílias, ao criar um ambiente mais acolhedor e solidário. A terapia ocupacional desempenha um papel crucial, permitindo que os pacientes mantenham a independência e a atividade. Atividades como caminhada, natação ou yoga ajudam a melhorar a mobilidade, a força e o equilíbrio, além de estarem associadas à redução da ansiedade e da depressão, que muitas vezes afetam pessoas com doenças degenerativas. Terapias de reabilitação, como a fisioterapia e a terapia da fala, são igualmente essenciais. A fisioterapia pode melhorar a coordenação e a mobilidade, enquanto a terapia da fala foca em manter as capacidades de comunicação e a nutrição é igualmente essencial. Programas de estimulação cognitiva também podem ajudar a retardar a progressão da doença, com atividades que desafiem o cérebro, como jogos de memória e leitura, mantendo a mente ativa e promovendo a plasticidade cerebral. O apoio psicológico é também fundamental para lidar com as emoções que surgem com o diagnóstico de uma doença degenerativa. Que tendências antecipa para o futuro no tratamento das doenças neurológicas? Uma das inovações mais promissoras é o uso crescente de dispositivos eletrónicos. Estes dispositivos têm mostrado grande potencial para ajudar na compensação de movimentos alterados em condições como o Parkinson ou doenças vasculares cerebrais. Além disso, há ferramentas projetadas para facilitar a comunicação em pessoas que enfrentam dificuldades de fala, o que representa um avanço significativo na qualidade de vida desses pacientes. As apps estão a ganhar um destaque notável no suporte a pacientes neurológicos. Atualmente, existem apps que ajudam a gerir a medicação, monitorizar a frequência e a intensidade das dores de cabeça e registar crises epiléticas. No futuro, espera-se que os médicos possam integrar os dados recolhidos por essas aplicações diretamente nas suas consultas. Imagine um cenário em que um paciente chega ao consultório com um histórico digital que inclui gráficos detalhados sobre os seus sintomas ao longo do tempo. Isso permitirá uma avaliação mais precisa do estado do paciente e facilitará a tomada de decisões informadas sobre o tratamento. Quando consultar um Neurologista? A verdade é que não precisamos de esperar que algo esteja claramente errado para procurar ajuda. A consulta pode ser uma iniciativa preventiva, algo que se torna ainda mais relevante na atualidade. No CNS, por exemplo, oferecemos uma consulta de prevenção de demências, destinada a quem tem preocupações nesta área e deseja saber que alterações no estilo de vida podem ser implementadas para prevenir estas doenças. Afinal, as demências são condições que suscitam muita apreensão e é fundamental tentarmos a sua prevenção. As queixas que podem levar a uma consulta de neurologia são bastante variadas. Desde alterações do sono, dores de cabeça, perdas de memória até desmaios, cada sintoma pode ser um sinal importante. Alterações na força muscular, na sensibilidade, movimentos anormais como tremores, ou até crises epiléticas, são outros sinais que não devem ser ignorados. Todos estes são indicadores que podem motivar uma avaliação neurológica. No CNS em Braga, oferecemos uma abordagem diferenciada. Uma das caraterísticas que nos distingue é o nosso foco em ter especialistas dedicados a cada área da neurologia. Temos profissionais responsáveis por demências, distúrbios do sono, neuropediatria e esclerose múltipla, assegurando que cada paciente seja atendido por quem realmente compreende as nuances do seu problema. Além disso, a nossa equipa é multidisciplinar. Contamos com terapeutas, psicólogos e nutricionistas que colaboram para o tratamento dos problemas neurológicos, proporcionando uma assistência integral e eficaz. Este trabalho em equipa é facilitado pelo fato de estarmos todos no mesmo espaço, permitindo uma comunicação fluida e um acompanhamento mais próximo dos nossos pacientes. Acreditamos que este modelo de assistência, onde o paciente encontra tudo o que precisa no mesmo local, é o futuro da medicina. Facilita não apenas o tratamento, mas também a confiança do paciente, que sabe que está a ser acompanhado por uma equipa que se comunica e que conhece a sua história clínica. Morada: Avenida 31 de Janeiro, 4710-452 Braga Contacto: 253 401 600 (chamada para a rede fixa nacional) Facebook: CNS – Campus Neurológico Instagram: @cnscampus www.cnscampus.com “A tecnologia que encurta distâncias é a mesma que ‘desliga’ pessoas que estão lado a lado” Chama-se Lá em Casa e é o paraíso dos amantes de pão artesanal
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