SAÚDE “Quem realiza um exame não pode ser mero executor, deve ter a responsabilidade de o interpretar e de alertar ou encaminhar o paciente” By Revista Spot | Outubro 4, 2023 Outubro 5, 2023 Share Tweet Share Pin Email É na análise imediata de um exame que o Cardiopneumologista tem um papel fundamental na deteção de situações de caráter de urgência para uma rápida orientação do doente. Noélia Vilas Boas, Cardiopneumologista há cerca de 20 anos e responsável pelo projeto Cardiomaisperto, revela os principais desafios de uma área fundamental no ecossistema da Saúde. Em que áreas intervém atualmente a Cardiopneumologia? O Cardiopneumologista é o profissional de saúde que se enquadra em equipas multidisciplinares no planeamento, realização e interpretação de diversos exames de diagnóstico. Participa de forma ativa em estratégias terapêuticas no âmbito da Cardiologia, Pneumologia, Sistema Vascular e Cirurgia Cardíaca. O Cardiopneumologista desenvolve as suas atividades na avaliação funcional e fisiopatológica do coração, pulmões e vasos. Em suma, é o profissional de saúde que planeia e realiza exames de diagnóstico e atos terapêuticos nos sistemas cardiovascular e respiratório. Na área da Cardiologia realizamos exames como Eletrocardiograma, Registo de ECG dinâmico de 24h (Holter), Prova de Esforço, Ecocardiograma Transtorácico, Monitorização da Pressão Arterial (MAPA) e Follow up de Pacemakers, entre outros. Na Pneumologia atuamos em Provas de Função Respiratória, Difusão Arterial, Provas de Provocação Inalatória, Gasometria Arterial e Estudo do Sono. Que missão assume um Cardiopneumologista num exame de diagnóstico? O Cardiopneumologista tem uma formação base de quatro anos, uma licenciatura realizada numa Escola de Saúde. Para além da execução, o Cardiopneumologista tem a missão de explicar ao doente o tipo de exame que vai ser realizado e deverá atuar de acordo com o pré-diagnóstico, ou seja, a análise imediata do exame. É na análise imediata deste que o Cardiopneumologista tem um papel fundamental na deteção de situações de carácter de urgência para uma rápida orientação do doente. Qual a importância de um bom exame de diagnóstico? É fundamental. Num problema cardíaco, por exemplo, todos os segundos contam, podemos estar a realizar um exame enquanto o paciente está a ter um enfarte do miocárdio, por exemplo. É nesses momentos que temos o dever de atuar de imediato e de encaminhar devidamente o paciente. Por outro lado, esta comunicação com o doente é também essencial na triagem de patologias que podem carecer de novos exames de diagnóstico ou na recolha de dados fundamentais para a interpretação do exame. Que passos devem ser tidos em conta? Sempre que estou a realizar um exame, procuro perceber, em primeiro lugar, o motivo pelo qual o paciente está a realizá-lo, os seus fatores de risco, que tipo de medicação faz. Perante todos esses dados e mediante o resultado, atuo em conformidade. Imagine um exame com Fibrilhação Auricular. A Fibrilhação Auricular é um fator de risco para o AVC e, portanto, é crucial conhecer o histórico e a realidade do paciente. Por outro lado, num exame podem ser rastreadas ou até encaminhadas diferentes sintomáticas/patologias e por isso a atenção é redobrada. Não podemos ter o diagnóstico em mão e não fazer nada, a nossa missão é encaminhar devidamente o paciente e no timing certo. Nesta área, o tempo é fundamental. Quando detetámos determinadas patologias, temos de fazer com que o paciente tome decisões, nomeadamente consultar um médico especialista, ou o seu médico de família, ou, em casos mais extremos, procurar as urgências hospitalares mais próximas. De que case studies se recorda ao longo de todos estes anos de atividade? Quem realiza um exame não pode ser mero executor, deve ter a responsabilidade de o interpretar e de alertar ou encaminhar o doente. É fundamental. O Cardiopneumologista tem de ter este caráter: executar, perceber, juntar os fatores e ajudar o paciente a tomar decisões. Até porque há situações que não exigem intervenção imediata, mas podemos aconselhar a pessoa a ir ao médico assim que possível para complementar com outros exames a informação primária. Já me aconteceu estar a colocar um holter – um exame de 24 horas – e, como é esperado, perguntar o porquê deste exame e qual o historial. Ao tirar o registador, fiz o download e detetei uma pausa de sete segundos. No momento seguinte, esse paciente, encaminhado por mim, estava no hospital a colocar um pacemaker. Lembro-me de detetar uma vez, na realização de um Ecocardiograma, um trombo no ventrículo esquerdo a migrar pela aorta, assim como também me recordo de estar a realizar uma Espirometria a um paciente e, de acordo com os sintomas que ele me narrou, decidi realizar um Ecocardiograma em que detetei uma depressão severa da função do coração, encaminhando-o, de imediato, para o hospital. O senhor ficou internado três semanas e, mais tarde, encontrei-o no hospital são e salvo. Não se trata de alarmar os pacientes, mas de distinguir o que precisa de atuação daquilo que pode esperar e seguir o curso normal. A comunicação e o trabalho em rede são essenciais em prol de um bom diagnóstico? Completamente. A nossa profissão não é autónoma. Estamos sempre ligados a um Cardiologista ou a um Pneumologista e eles a nós. Assim como um trabalho humanizado? Sim. Quando estamos a realizar um exame temos um ser humano à nossa frente. Há um nome, um contexto, uma história e a comunicação é essencial. Temos de perceber o motivo e a finalidade do exame, analisando os fatores de risco. Com isto tudo, ao olharmos para o traçado de um ECG, por exemplo, podemos explicar melhor à pessoa aquilo que ela tem e encaminhar devidamente. Por vezes, o público é tão heterogéneo que é fundamental adaptar a mensagem, explicar-lhe detalhadamente todos os passos e apaziguar a pessoa num momento que pode ser de grande ansiedade para ela. Como é que um médico vê um Cardiopneumonologista? Quero acreditar que a realidade está a mudar e que o médico já vê o Cardiopneumologista como um elemento essencial neste trabalho em rede. A profissão em si não é autônoma e não posso fazer nada contra isso, mas, em muitas situações, só falta o ponto final, porque fazemos, interpretamos e relatamos. Só não podemos entregar o exame ao paciente, porque tem de passar pela validação médica. Mas tudo isto está a mudar, muito em parte pela nova geração de médicos que interage e aprende com o Cardiopneumologista desde o internato. Quando e como se tornou Cardiopneumologista? Já tenho cerca de 20 anos de experiência na área. Terminei o curso em 2004, corri o país de Norte a Sul e contactei com diferentes realidades, tanto em Hospitais Públicos, como no Privado. Especializei-me mais em Ecocardiografia pela paixão que tenho nessa área. Trabalhei, aprendi e nunca abandonei a formação, por acreditar que a aprendizagem nesta área é contínua. Foi da súmula de todas estas vivências e conhecimento que nasceu o projeto Cardio Mais Perto, com o intuito de tornar mais acessível a prestação de serviços na área da Cardiologia e Pneumologia, fazendo-a chegar às periferias dos grandes centros urbanos, através da deslocação da equipa e aparelhos de alta tecnologia totalmente móveis, a cada clínica, consultório, lar e domicílio. Falamos de exames como Eletrocardiogramas, Ecocardiogramas, Holter, Mapa, Espirometrias e Estudo Cardiorrespiratório do sono e de uma equipa, composta por Cardiopneumologistas, Cardiologistas e Pneumologistas experientes, que pretendem, acima de tudo, dar resposta adaptada às necessidades de cada instituição. O que é que mais a fascina no trabalho com o paciente? O contacto com as pessoas. As pessoas que nos procuram são normalmente pessoas da periferia que têm dificuldade em deslocar-se a grandes centros urbanos. Fascina-me esta capacidade de nos adaptarmos à pessoa que temos diante de nós, de simplificarmos a mensagem para que ela entenda cada processo, de a informarmos para que, de futuro, se muna dessa literacia. O nosso trabalho é também de sensibilização e consciencialização. Temos de demonstrar às pessoas que os exames de diagnóstico são importantes. É, sem dúvida, esta proximidade com o paciente que mais me fascina na profissão e na essência da Cardiomaisperto. No seu entender, o que é que define um bom Cardiopneumologista? Um Cardiopneumologista não é um mero executor e tem como missão promover a saúde do paciente, seja através do despiste de situações, identificação de patologias durante a realização do exame, seja através da consciencialização. Acima de tudo, temos de perceber o histórico do paciente, fazer as perguntas fundamentais no exame, perceber a doença de base e aconselhar. Este não é um ciclo fechado em que se faz o exame e se vai embora. A postura do profissional tem de ser uma postura de dedicação e de preocupação. Caso contrário, seria apenas uma máquina. A missão da Cardiomaisperto será sempre continuar a trazer valor acrescentado a uma área essencial à Saúde como esta? Sem dúvida. O que mais lutamos é por mostrar aos clientes e pacientes o melhor profissionalismo através do acompanhamento e da explicação. Deixa-nos tristes a falta de uma autonomia total. Talvez um dia haja esse reconhecimento e dignificação. Quando se vai tomar uma vacina, sabe-se que é o enfermeiro que dá a vacina. Quando a pessoa vai fazer um ECG não faz ideia que tipo de profissional está a realizar o exame. No próprio contexto hospitalar, nem se sabe por vezes que um técnico pode fazer Ecocardiogramas, quando essa é a nossa formação de base. Somos fundamentais para a Cardiologia e para a Pneumologia e por isso, sim, a missão da Cardiomaisperto será sempre continuar a trazer valor acrescentado a uma área essencial à Saúde como esta. Contacto: 963 135 882 Facebook: Cardio Maisperto- Serviços de Cardiologia, Lda Instagram: @cardiomaisperto www.cardiomaisperto.pt Idade+: A importância dos cuidados humanizados na terceira idade O envelhecimento de uma ‘nova geração de idosos’ e as oportunidades da Economia de Prata
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