Psicologia A Psicologia Analítica como jornada de autoconhecimento By Revista Spot | Outubro 27, 2023 Outubro 28, 2023 Share Tweet Share Pin Email A Psicologia Analítica desempenha um papel fundamental na promoção da literacia emocional, abordando o desenvolvimento pessoal de forma holística e integrativa. Numa entrevista sobre a essência da Psicologia Analítica, João Carlos Major, psicólogo clínico, Diretor da Academia Internacional de Psicologia Analítica e cofundador do Instituto Clínico Carl Jung, destaca o compromisso em oferecer uma abordagem humanista e cientificamente fundamentada no caminho para o autoconhecimento e compreensão das emoções. Quando é que se encontrou com a Psicologia? Iniciei o meu percurso académico com uma licenciatura em Teologia. Essa experiência proporcionou-me uma compreensão profunda do valor da Psicologia, uma vez que percebi que falar sobre um Deus Transcendente é compreender o ser humano que procura essa experiência divina. Foi assim que me formei em Psicologia. A combinação desses dois campos foi enriquecedora, uma vez que a Teologia me proporcionou um conjunto de habilidades e conhecimentos, como Latim, Grego, Hebraico, História da Filosofia e Antropologia, que não eram abordados na minha formação em Psicologia. Além disso, tenho a honra de ter sido um dos fundadores do curso de Psicologia na Universidade Católica, uma experiência que considero extremamente enriquecedora e significativa. Desde o início da minha jornada, a Psicologia tem sido uma companheira constante, somando agora duas décadas de prática clínica e outras duas décadas de docência. Que marcos retém ao longo destas duas décadas? O momento mais impactante no meu percurso foi quando o Diretor da minha Faculdade, o Professor Alfredo Dinis, me convidou para ajudar na organização de um programa avançado em Psicologias Psicodinâmicas. Todos nós estudávamos Freud, figura emblemática na psicologia. No entanto, nesse contexto, percebi que o meu colega não estava apenas interessado em explorar Freud, mas também desejava abordar a obra de Carl Jung. Jung, inicialmente colaborador de Freud, divergiu posteriormente nas suas abordagens. À medida que mergulhei mais profundamente na psicologia de Jung, comecei a perceber como ele integrava conceitos de Medicina, Psiquiatria, Mitologia e Filosofia de uma forma profundamente harmoniosa. Esse momento foi uma revelação sobre a possibilidade de unir as diversas áreas que eu apreciava. A partir desse ponto, fundei a Academia Internacional de Psicologia Analítica e iniciei a divulgação da obra de Jung em Portugal, um esforço pioneiro para apresentar o ‘Jung científico’ no país. “Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro, desperta”… A Psicologia Analítica é uma autodescoberta? Jung é notável por abordar questões que têm um profundo impacto na nossa essência. A Psicologia Analítica não se limita a ser um campo de estudo; é uma jornada de autodescoberta, um processo de ‘individuação’. Como dizia William James, um dos pioneiros da Psicologia, nascemos como um turbilhão de impulsos em conflito. Um recém-nascido, em questão de minutos, experimenta uma ampla gama de emoções, de chorar a rir, demonstrando toda a complexidade da experiência humana. A maturidade adulta, em essência, envolve a integração e harmonização desse turbilhão de emoções em conflito numa narrativa coerente de nós mesmos. Isso é o que Jung descreve como o processo de individuação. O processo de individuação, uma teoria central da Psicologia Analítica desenvolvida por Carl Jung, representa uma jornada de desenvolvimento pessoal e crescimento psicológico. O seu objetivo é alcançar uma consciência mais profunda e uma integração mais completa do ‘eu’. Essa jornada é uma busca pela autorrealização e pela descoberta do nosso verdadeiro eu. Na nossa sociedade contemporânea, lamentavelmente, muitas vezes perdemos de vista essa sabedoria tradicional. Além disso, enfrentamos o desafio adicional de que as religiões tradicionais, que costumavam ser uma âncora de sentido, parecem estar em declínio. De um ponto de vista fenomenológico, podemos observar que, antigamente, o centro da vida comunitária era frequentemente uma praça ou uma igreja. Hoje, esse papel foi em grande parte assumido por centros comerciais, que se tornaram nas novas catedrais da nossa era. A ideia de que a satisfação e o sentido estão ligados à aquisição de produtos ou bens materiais é prevalente. No entanto, a verdadeira realização não está fora de nós, mas dentro. Neste contexto, Jung torna-se uma figura essencial, lembrando-nos da importância de embarcar numa jornada interna para encontrar um sentido autêntico na vida. A Psicologia Analítica pode ajudar-nos a compreender e a lidar com a falta de sentido? Sem dúvida. Na prática, muitas vezes caímos na armadilha de acreditar que a nossa infelicidade é única e que a vida carece de sentido absoluto. No entanto, partilhamos uma natureza humana comum, repleta de desafios e emoções. Quando conseguimos compreender melhor essa natureza partilhada, acordamos para a realidade e desvendamos o caminho a seguir. Esse caminho não é apenas uma jornada individual, mas também uma busca pela essência da nossa espécie. A ausência de rituais e práticas tradicionais é uma caraterística marcante da sociedade contemporânea. À medida que as religiões tradicionais perdem influência e relevância, as ideologias assumem um papel de destaque. Nesse contexto, a abordagem de Carl Jung torna-se particularmente atrativa. Ela oferece uma ponte entre a atual sede de espiritualidade e a ciência empírica. A Academia Internacional de Psicologia Analítica procura integrar essas perspetivas de forma coesa, apoiando-se em fundamentos científicos contemporâneos. Explora a interligação entre os conceitos de arquétipos e códigos neuronais, que sugerem que as nossas experiências humanas têm raízes profundas no nosso sistema nervoso. Essas estruturas influenciam não apenas a nossa compreensão do mundo, mas também a forma como reagimos a ele. A teoria dos arquétipos de Jung proporciona uma lente valiosa para explorar essas influências universais, enquanto a teoria dos códigos orgânicos de Marcello Barbieri oferece uma base biológica para esses conceitos. Ambos desempenham um papel essencial na Psicologia, auxiliando na compreensão da psique humana, nos processos de individuação e na busca por significado na vida. Isso é percetível na sua prática clínica diária? Com certeza. Atualmente, noto um aumento no número de pacientes que procuram a clínica não apenas para expressar um problema específico, mas principalmente para embarcar numa jornada de autodescoberta. No ambiente clínico, enfatizamos a importância da colaboração em equipa, onde diversos profissionais, desde psicólogos, psiquiatras, fisioterapeutas e nutricionistas, trabalham em conjunto para fornecer uma abordagem integral ao paciente. Essa abordagem integrada reconhece que a saúde mental não está isolada do bem-estar físico e emocional. É através dessa colaboração que podemos criar uma rede de suporte eficaz, abordando as várias dimensões da saúde do paciente de forma complementar. Além disso, a missão essencial da Academia Internacional de Psicologia Analítica é apresentar uma proposta de sentido e significado que seja fundamentada tanto numa perspetiva humanista quanto numa base científica sólida. Essa abordagem visa não apenas aliviar o sofrimento psicológico, mas também fornecer orientação para uma vida mais significativa e plena. A pedra angular da literacia emocional é a Academia Internacional de Psicologia Analítica? Sem dúvida. Jung sentia uma lacuna importante na educação, que era a falta de escolas voltadas para adultos, onde pudessem aprender a lidar com as suas emoções e compreender a complexidade das suas vidas interiores. Enquanto fundador da Academia Internacional de Psicologia Analítica em 2013, o meu objetivo central foi abordar essa necessidade e dar vida ao conceito que Jung almejava: uma escola para adultos. A nossa academia oferece uma variedade de cursos, desde o Curso Fundamental, destinado ao público em geral, até cursos de Especialidade projetados para profissionais da área de saúde, como psicólogos, psiquiatras e enfermeiros especialistas em saúde mental. Além disso, oferecemos a flexibilidade de ensino presencial e remoto, o que possibilita que alunos de todo o mundo participem nos nossos programas. Recentemente, organizámos o Congresso de Code Biology na Universidade do Minho, proporcionando uma oportunidade valiosa de reunir mentes interessadas em unir a Psicologia Analítica com as mais recentes descobertas da ciência e pesquisa contemporânea. Todas essas iniciativas contribuem para criar uma dinâmica inspiradora, mostrando como a Psicologia Analítica anda de mãos dadas com a ciência e mostra-se relevante nas discussões contemporâneas sobre a mente, a psicologia e a busca por significado na vida. Vivemos na era do ‘desamor’? Freud afirmava que o amor tinha o poder de curar. Isto inicia-se desde o nascimento, quando o ser humano, ainda criança, busca a atenção e o cuidado dos adultos. Quando esta ligação essencial não é estabelecida, a criança pode sentir-se frustrada e desamparada. Esta experiência fica profundamente enraizada na nossa psique e pode levar a um sofrimento insuperável ao longo da vida. A Psicologia Analítica propõe-se a reintroduzir a pessoa na sua própria jornada, realizando uma viagem de autodescoberta que remonta às origens das suas experiências e emoções. É importante destacar que, embora existam diversas teorias psicológicas válidas, a Psicologia Junguiana tem um espaço distinto e valioso. Jung dividia a vida em duas fases significativas. A primeira, que ele chamava de ‘até ao meio dia’ da vida, é uma fase de conquistas e ambições pessoais, onde procuramos o nosso lugar ao sol. No entanto, quando chegamos ao ‘meio dia’, quando conquistamos o que desejamos, pode ocorrer um questionamento profundo sobre o sentido da vida. A segunda metade da vida é, então, guiada pela busca desse significado. Para Jung, é nessa fase que frequentemente encontramos um novo caminho e uma compreensão mais profunda da nossa jornada pessoal. A jornada de autodescoberta e exploração das emoções pode ser um antídoto eficaz contra a ausência de sentido e a própria depressão? É importante reconhecer que a depressão é um grande problema na sociedade contemporânea. As pessoas que sofrem de depressão sentem-se muitas vezes desorientadas, isoladas e incapazes de encontrar sentido nas suas vidas. É como se o ego delas estivesse constantemente confrontado com um muro, sem vislumbrar um futuro. No entanto, quando alguém começa a explorar o seu mundo interior, descobrindo as emoções não vivenciadas e explorando a sombra, que é a parte da psique que ainda não foi iluminada pela consciência, um novo sentido começa a emergir. Às vezes, as descobertas na sombra revelam as partes mais preciosas e autênticas de nós mesmos. Ao introduzir-se no mundo dos afetos, a pessoa percebe que há um vasto território emocional a ser explorado, o que traz uma profunda renovação e um encanto à vida. Portanto, a jornada de autodescoberta e exploração das emoções pode ser um antídoto eficaz contra o isolamento e a depressão, numa redescoberta da vida encantadora. À luz da Psicologia Analítica, o entendimento dos sonhos ajuda no processo de autodescoberta? O entendimento dos sonhos, à luz da Psicologia Analítica, desempenha um papel crucial no processo de autodescoberta. É importante destacar que os sonhos não são simples aleatoriedades do cérebro adormecido, mas sim mensagens profundas do nosso inconsciente. Quando exploramos os conteúdos dos sonhos, estamos, na verdade, a investigar o funcionamento de circuitos emocionais no cérebro. Durante o sonho, a atividade do pré-frontal, a região cerebral responsável pelo pensamento lógico e racional, diminui, enquanto os mecanismos emocionais entram em ação de forma proeminente. Muitas vezes, os sonhos são enigmáticos e distanciam-se do pensamento lógico e racional, pois representam um mundo emocional que pode estar oculto da nossa consciência quotidiana. Ao compreender os sonhos, os pacientes têm a oportunidade de ligar consciente e inconsciente, unindo a razão com a emoção, frequentemente dissociadas na sociedade atual. Portanto, a exploração dos sonhos é uma ferramenta valiosa que ajuda a revelar aspetos profundos da psique e a promover uma compreensão mais holística. O psicólogo é um espelho dessas emoções? O papel do psicólogo é atuar como um espelho das emoções dos pacientes, desempenhando o papel de guia e curador enquanto partilha a sua própria humanidade. Nós, psicólogos, não somos gurus, mas sim guias que também têm enfrentado as suas próprias feridas e desafios. A nossa missão é auxiliar os pacientes a descobrirem a luz dentro de si mesmos, usando as nossas experiências e vulnerabilidades como parte integrante do processo terapêutico. Frequentemente, a primeira consulta pode ser uma apresentação superficial, mas à medida que a pessoa se abre e revela as suas fragilidades, a verdadeira jornada de autodescoberta começa. O psicólogo desempenha um papel fundamental como guia humano nesse processo, e a compreensão das nossas próprias feridas e desafios pessoais é essencial para sermos um guia eficaz na jornada de autoconhecimento e transformação do paciente. Morada: R. da Quinta da Armada n.º 68 R/Ch, 4710-440 Braga Contacto: 253 175 458 ou 934 161 022 Facebook: International Academy of Analytical Psychology www.academiajung.com www.icj.pt As principais dúvidas e mitos relacionados com a Depilação a Laser Ideias únicas para escolher móveis para casa
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