Psicologia A promoção de uma boa saúde mental ao longo da vida é fundamental para um envelhecimento saudável By Revista Spot | Setembro 28, 2023 Setembro 28, 2023 Share Tweet Share Pin Email São cada vez mais prevalentes os casos de Depressão e Ansiedade na Terceira Idade. De acordo com Oscar Ribeiro, Psicólogo, Professor Universitário e Coordenador da Coleção ‘Cadernos de Gerontologia’ do Psiquilibrios, mais do que o medo da morte, os idosos destacam o medo de se tornarem dependentes, ou de padecerem de uma doença incapacitante que comprometa o seu bem-estar pessoal e familiar. Vera Ramalho, Psicóloga Clínica e Diretora do Psiquilibrios, aponta para a importância da prevenção e da promoção de hábitos que promovam uma boa saúde mental ao longo da vida. “A psicogerontologia tem como objetivo a compreensão dos mecanismos psicológicos do envelhecimento.” – Oscar Ribeiro, Psicólogo, Professor Universitário, Coordenador da Coleção ‘Cadernos de Gerontologia’ do Psiquilibrios São comuns os casos de depressão e ansiedade na terceira idade? Sim, os casos de depressão e ansiedade, clínica e subclínica, são comuns na população mais velha. Importa, porém, referir que muitos idosos têm uma perturbação emocional dita ‘diagnosticável’, mas muitos outros têm problemas de saúde mental ‘subliminares’ que não cumprem os critérios de diagnóstico das perturbações mentais, mas que também estão em sofrimento, podendo beneficiar de intervenção psicológica. Reconhecer um quadro clínico de depressão geriátrica, por exemplo, implica estar atento a algumas especificidades (em que, por exemplo, nem sempre as queixas de um estado depressivo são as centrais e o reportório discursivo, sobretudo nos muito idosos, pode comprometer a expressão das queixas emocionais); o mesmo é extensível às fontes de ansiedade que nos mais velhos tendem a ser bem diferentes daquelas referenciadas pela população adulta e que podem não ser reconhecidas como incapacitantes pelos profissionais ou familiares. A sua minimização, ou mesmo desconsideração, pode, inclusive, induzir mais sofrimento emocional. Questões emocionais, insegurança, sentimentos de solidão, desvalorização, vazio, medo da morte, são sentimentos comuns nesta fase da vida? Alguns são comuns, sim, mas nem todos. O equilíbrio emocional das pessoas mais velhas tende a assentar em três aspetos centrais com frequência correlativos. São eles a (in)dependência, a autonomia, e a aceitação dos traços de velhice. O primeiro reporta à necessidade que cada um de nós tem, ou não, de apoio de terceiros e/ou de dispositivos para executar tarefas do quotidiano, necessidade essa que tende a ser progressivamente maior à medida que avançamos na idade; o segundo refere-se à capacidade de tomar decisões, de gerir a vida de acordo com os valores, princípios e vontades individuais, incluindo gerir as circunstâncias de eventual dependência por motivos de compromisso funcional e de saúde (por exemplo, de quem receber apoio, quando e como); e o terceiro, que se autoexplica, reporta à integração no sentido de identidade de cada um das características inerentes ao facto de se ser velho, designadamente à cadência de funcionamento que um corpo amadurecido determina. Esta aceitação, desejável e muitas vezes dificilmente harmoniosa, é que muitas vezes colide com a celebração e incentivo idadista do ‘espirito jovem’ que pode ser emocionalmente contraproducente sobretudo se demasiado assíncrono com o envelhecimento do corpo e determinar comportamentos e metas irrealistas ou dificilmente alcançáveis. Em relação ao medo da morte, importa referir que não se trata de um medo particularmente comum – a consciência da finitude é algo que se observa com frequência. Mais do que o medo da morte, destaca-se o medo de se tornar dependente, de cair, de padecer de uma doença incapacitante que comprometa o bem-estar pessoal e, muitas vezes, o bem-estar (emocional, organizativo e económico) da família mais próxima. A solidão não desejada, tida por muitos profissionais da saúde mental como a ‘doença do século XXI’ daria toda uma resposta e reflexão autónoma no campo do envelhecimento, dada a sua centralidade em muitos processos depressivos. Qual o papel do psicólogo no envelhecimento? O papel dos psicólogos na área do envelhecimento, apesar de não resultar sobejamente atrativo para estes profissionais, afigura-se de suma importância dado o atual panorama demográfico e de saúde mental associado. A psicogerontologia, reconhecida como especialidade avançada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), tem como objetivo a compreensão dos mecanismos psicológicos do envelhecimento e inclui o desenvolvimento de competências de relacionamento e acompanhamento global da pessoa mais velha e seus cuidadores. A intervenção dos psicólogos nestes domínios incorpora muitas áreas que ultrapassam a avaliação psicológica e o acompanhamento psicoterapêutico em contexto clínico; ela inclui também o desenvolvimento e/ou participação em ações de promoção de envelhecimento ativo e saudável, de adaptação global aos desafios que se colocam nas fases mais avançadas, de prevenção do isolamento e da exclusão social, apenas para nomear algumas. Que estratégias são criadas em contexto de consulta? As estratégias de intervenção dependerão, como se compreende desde logo, da natureza do problema em causa e que é o objeto da procura de ajuda. E aí a diversidade é igual, ou mesmo superior, àquela observada na população adulta. Na realidade, o grupo dos mais velhos vislumbra-se como o mais heterogéneo de todos e com um acervo de recursos proporcional aos anos de vida e experiências acumuladas. Em resposta à questão, e reportando-me ilustrativamente às perturbações emocionais, destacaria a criação de estratégias inerentes à gestão otimizada dos recursos de resiliência (adaptação positiva às condições adversas através de recursos pessoais, em articulação com os sociofamiliares e comunitários, e atendendo ao estado de saúde física) e de regulação desenvolvimental. Estas, naturalmente, adaptadas ao quadro clínico apresentado. A intervenção junto dos familiares, designadamente filhos em meia-idade e mesmo já idosos, também pode ser necessária. À medida que a esperança de vida tem aumentado cada vez mais pessoas são diagnosticadas com demência. A avaliação psicológica precoce permite identificar sinais de deterioração cognitiva e iniciar estimulação cognitiva? Um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de demência (perturbação neurocognitiva) é, de facto, a idade. Os contributos da avaliação psicológica, e da avaliação neuropsicológica em particular, para o estabelecimento dos diagnósticos são hoje reconhecidos como muito importantes, sendo a identificação precoce de sinais de deterioração cognitiva patológica naturalmente vantajosa para que a estimulação cognitiva profissional possa ocorrer, assim como o apoio aos familiares para ajudem à sua implementação em ações do quotidiano. A existência de um registo de avaliação neuropsicológica de base, em caso de suspeita de défice cognitivo, pode, inclusive, ajudar o estabelecimento do diagnóstico mais tarde ao permitir a monitorização do perfil cognitivo. É importante que os seniores tenham redes de apoio e acesso a recursos que possam ajudá-los a manter seu bem-estar mental e emocional à medida que envelhecem, de modo a terem um envelhecimento ativo? Sim, claro. As redes de apoio social, o sentido de pertença e de manutenção de relevância num determinado contexto familiar e de vizinhança, por exemplo, são muito importantes. Os vários recursos (sociais, de serviços de saúde, económicos) que sejam capazes de promover um envelhecimento na comunidade são, de resto, um dos maiores reptos do envelhecimento ativo e saudável e objeto de investimento por parte de vários agentes políticos em matéria social e de saúde. É da sua responsabilidade precisamente a promoção de condições que sejam capazes de operacionalizar, em ações concretas, respostas às necessidades de todos nós à medida que envelhecemos tendo como referência os pilares fundamentais do envelhecimento ativo: a saúde, a segurança, a participação e a aprendizagem ao longo da vida. Mas a responsabilidade individual de cada um de nós, mais ou menos velhos, também deve ser convocada. E ela inclui, entre outros aspetos, comportamentos (sobretudo preventivos) de saúde e atitudes proativas de envolvimento social. Num cômputo mais amplo, esta dupla responsabilidade, pública e individual, deve ser inserida no reconhecimento de que o envelhecimento da população, e o envelhecimento dos mais velhos (80+) em particular, é uma conquista civilizacional extraordinária que, tendo sido proporcionada pelos avanços da medicina e dos cuidados sociais, traz consigo a responsabilidade coletiva da sua gestão. “A importância de cuidar da saúde mental ao longo da vida” – Vera Ramalho, Psicóloga Clínica e Diretora do Psiquilibrios Por que razão é essencial este olhar atento sobre as nossas emoções? As emoções são estados psicológicos complexos que envolvem três componentes: uma experiência subjetiva, uma resposta fisiológica e uma resposta comportamental. São uma espécie de guia para percebermos como uma situação está a ser vivenciada por nós, mas também nos trazem significados e ligações com outras pessoas. São as emoções que nos fazem seres sensíveis e, cada uma exerce, de forma diferente, uma grande influência nas nossas vidas. Todas as emoções (positivas ou negativas) são importantes e devem ser vividas porque cada uma tem a sua função. Por exemplo, mesmo as emoções negativas, como a tristeza e a raiva ajudam-nos, dado que a primeira permite o pensamento reflexivo, a reformulação de pensamentos e até as mudanças de comportamentos, e a raiva permite a proteção e defesa. Assim, a compreensão das emoções pode ajudar uma pessoa a intuir o que está a sentir num determinado momento e de que forma deve agir. Além disso, o conhecimento e a capacidade de lidar com as emoções vai contribuir para que possamos atender às nossas necessidades. Quando procurar a ajuda de um profissional? Uma boa saúde mental representa um fator de proteção e de resiliência para o indivíduo, que contribui para um funcionamento adequado na sua vida pessoal, familiar, social e laboral. Uma pessoa deve procurar ajuda de um profissional especializado, quando tem dificuldade em compreender e lidar com situações de vida difíceis ou repentinas e precisa de orientação para se reorganizar; evita estar com outras pessoas; sente um desgaste emocional e um desequilíbrio entre as exigências das tarefas do dia-a-dia, do trabalho e/ou parentais e a capacidade física e psicológica para as desempenhar; sente irritabilidade aumentada, exaustão, alteração no sono e no apetite, menor produtividade que se mantém no tempo. “85 a 90% das pessoas que morrem por suicídio têm uma doença mental. É o principal fator de risco”. Quais os principais sinais de que algo não vai bem? Existe uma relação entre o suicídio e algumas perturbações mentais como, por exemplo, a depressão e as perturbações relacionadas com o consumo de álcool. Além disso, uma tentativa anterior de suicídio também constitui um fator de risco, tal como a experiência de perda de alguém significativo, a solidão e a ausência de apoio social, os problemas financeiros, a dor crónica e a doença grave e incapacitante, a violência, uma menor capacidade de lidar com adversidades, o abuso e as emergências humanitárias. As pessoas devem estar atentas a sinais que a pessoa dá e que merecem atenção, sobretudo, quando frequentes e intensos, tais como: a desesperança, o pessimismo, as mudanças dos hábitos alimentares ou do sono, o abuso de álcool ou drogas, a expressão de sentimentos ou pensamentos relacionados com suicídio, a ameaça e a procura de formas de o fazer, o isolamento, a distribuição de bens pessoais, as variações de humor extremas e súbitas, a perda do interesse pela própria aparência, sensação de inutilidade, a perda do interesse pelas atividades habituais, entre outros. Este tipo de quadros devem ser levados a sério e não serem interpretados como uma mera chamada de atenção. Perguntar diretamente sobre pensamentos de morte e se tem um plano suicida não incentiva nem precipita o comportamento suicidário, pelo contrário, estas perguntas tendem a aliviar a tensão emocional e podem ajudar a pessoa a falar abertamente sobre os seus pensamentos e a sentir-se compreendida. O encaminhamento para a ajuda especializada é fundamental. Mostre interesse, seja empático e ajude a pessoa a procurar um profissional de saúde mental ou, numa situação mais grave, telefone para o 112 ou acompanhe a pessoa ao hospital. Os problemas tendem a agravar-se com o tempo? Sem dúvida que quanto mais cedo for feito um diagnóstico, melhor. Alguns fatores contribuem para a perpetração da ideia de que quem procura ajuda de um psicólogo é fraco relacionam-se com a tendência cultural a esconder e não falar sobre as emoções, que acarreta em muitas pessoas o acumular de coisas não resolvidas e a crença de que os sentimentos negativos vão passar com o tempo, mas problema é que muitos não passam e até podem agravar-se. Quais as grandes consequências de não existir um acompanhamento atempado? A pior é o agravamento dos sintomas, mas há ainda a fragilidade que pode aumentar, no sentido de a pessoa sentir que não é capaz ou que é menos competente que os outros. Se por exemplo, algum problema de vida interferir no nosso funcionamento de forma significativa e exigir mais recursos do que aqueles que temos, podemos sentir ansiedade ou depressão. Se não agirmos para reduzir estes sintomas, podemos não conseguir viver a nossa vida com satisfação e isto impacta em todas as áreas em que nos movemos (família, amigos, trabalho, lazer, etc.) 5 bons hábitos para promover uma saúde mental? Manter uma rede social de suporte é fundamental: o suporte social é apontado na literatura científica como protetor em situações de vulnerabilidade e uma peça fundamental em momentos de fragilidade psicológica. O entendimento do casal na gestão diária da família com rotinas, organização de um plano flexível e consistente, incluindo a divisão de tarefas e de momentos de lazer pode fazer a diferença. Uma atitude de aceitação de que algumas coisas podem não correr tão bem e que pode ser preciso um reajuste ajudará a manter alguma tranquilidade. Tente validar e aceitar o que sente sem recorrer ao chavão do ‘pensamento positivo’ que pode ter um efeito de falso alívio, dado que reduz a necessária tolerância ao desconforto e as emoções ficam lá na mesma. Pratique o autocuidado procurando encontrar momentos só para si. O que é preciso acontecer para mudar a sua atitude para consigo e passar a cuidar mais de si? Quando nos concentramos naquilo que nos traz felicidade sentimo-nos melhor e melhoramos a nossa saúde mental. Pense por um minuto no que lhe traz alegria e bem-estar. Consegue transformar a sua resposta numa atividade exequível? Morada: Av.Alfredo Barros, 20 Fraião, Braga Contacto: 964 145 134 Facebook: Psiquilibrios Instagram: @psiquilibrios Site: psiquilibrios.pt Problemas de visão podem afetar rendimento escolar Estilista Carla Silva abre novo atelier em Braga com conceito bespoke
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