“Como professora e empresária transmito aos meus alunos a importância de descobrirem o seu propósito de vida”

Professora há quase 26 anos, empreendedora e mãe de três filhos, Sameiro Carvalho defende que é fundamental que educadores e orientadores ajudem os alunos a explorarem e desenvolverem os seus propósitos de vida, algo essencial para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. “A educação do século XXI capacita os alunos a serem aprendizes autónomos, capazes de se adaptarem a um mundo em constante mudança, algo que lhes ensino enquanto docente, mas sobretudo enquanto empresária”, garante.

Em que momento da sua vida se apaixonou pelo Ensino?

A paixão pelo Ensino esteve sempre presente. Lembro-me de me pedirem para escrever composições sobre a profissão que queria seguir quando crescesse e eu escrevia sempre professora e bailarina. 

Durante o meu Ensino Secundário fiz uns trabalhos em part-time numa empresa da Indústria Têxtil nas férias de verão e comecei a desenvolver uma paixão por esta área, em particular pela Engenharia Têxtil. 

Só que tudo isto coincidiu com uma fase em que a Indústria Têxtil em Portugal estava de rastos e, portanto, na altura tomei uma decisão consciente que era optar pelo Ensino que sempre foi uma das minhas áreas de eleição. Na altura senti-me indecisa entre a Matemática e a Físico-Química, até porque antes de acabar o curso, já tinha começado a dar explicações nestas duas áreas, mas acabei por seguir a Físico-Química.

Fiquei de imediato colocada e tornei-me efetiva no ano a seguir. Portanto foi um percurso nesse aspeto muito tranquilo. Mas lembro-me de, ainda durante a universidade, manifestar sempre a vontade de vir a ter a minha própria empresa.

A veia de empreendedora esteve sempre presente?

O meu pai era empresário e acredito ter herdado essa mesma paixão. Crescer a viver de perto o negócio do meu pai moldou o meu percurso.

Desde muito cedo, comecei a participar ativamente nas atividades empresariais da família. Recordo-me de, ainda muito nova, ajudar na gestão de clientes, lidar com a vertente burocrática. Posteriormente, no Ensino Secundário, trabalhei na área do controlo de qualidade dos produtos. E todas essas experiências foram altamente enriquecedoras e permitiram-me desenvolver competências de gestão.

Assim, não foi surpresa quando, após concluir o meu curso em 1998, decidi abrir o meu próprio negócio. Em 2001, concretizei esse sonho, dando vida ao meu próprio projeto. Acredito que o meu percurso enquanto empreendedora foi impulsionado não apenas pela influência familiar, mas também pelas experiências profissionais que acumulei ao longo do meu percurso académico e profissional.

Ainda se recorda dos primeiros passos?

A motivação para criar o CEAP surgiu da minha vontade de estabelecer um objetivo pessoal. Enquanto muitas pessoas seguem o caminho tradicional de terminar os estudos, garantir um emprego seguro e trabalhar na área em que se formaram, eu sempre aspirei a algo mais. Queria deixar um legado duradouro e o CEAP tornou-se a materialização desse desejo.

Inicialmente, não embarquei nesta jornada sozinha. Tive uma sócia que me acompanhou durante cerca de dez anos. No entanto, à medida que desejava expandir e crescer, percebi que tínhamos visões e fases de vida diferentes. Propus, então, a dissolução da sociedade, algo que envolveu um processo de negociação complexo. Foi uma fase desafiante da minha vida, especialmente com dois filhos pequenos e mudanças na minha rotina, a trabalhar numa escola mais longe da minha zona geográfica.

Apesar dos receios naturais, decidi assumir o projeto sozinha, recomeçando praticamente do zero. Queria que o CEAP refletisse a minha identidade e visão, tomando decisões que acreditava serem as melhores. 

Reergui o projeto, entrei em contacto com pais e alunos e assumi um compromisso renovado. Percebi que era fundamental realizar uma reestruturação completa, mas tive pessoas incríveis que me ajudaram a crescer, que acreditaram em mim e no meu potencial e que me ajudaram a dar ao projeto o rumo certo.

Ser empresária é um percurso de desafios constantes?

Eu trazia comigo uma longa experiência enquanto professora, conhecia a fundo o modo de funcionamento das escolas e, portanto, foi um caminho muito natural, mas de muita persistência, resiliência, bem como de tomadas de decisão importantes. Ser empresária é viver numa montanha russa constante, ao ritmo da volatilidade do mercado e com a dificuldade acrescida de gerir equipas.

Recordo-me de um livro na área da gestão intitulado “Parar, Pensar e Agir”, que reflete precisamente o que vivi. Em muitas ocasiões, tomei decisões acertadas, mas também enfrentei desafios resultantes de escolhas menos acertadas. A verdade é que nem sempre acertamos na análise ou avaliação das situações. No entanto, é fundamental aprender com os erros, garantindo que no futuro não cometamos os mesmos equívocos.

O CEAP é feito dessa evolução contínua?

Completamente. Alguns anos após a inauguração do CEAP, decidi dar um novo passo e abrir um segundo centro, uma decisão que se revelou igualmente desafiante. Lembro-me vividamente de um episódio peculiar relacionado com essa etapa.

Encontrava-me na reta final da minha terceira gravidez quando o proprietário do espaço que sempre idealizei para o novo centro entrou em contato, questionando se estava ainda interessada no local. Marcamos uma visita para o dia seguinte, mas, nesse mesmo dia, comecei a entrar em trabalho de parto. Mesmo assim, antes de seguir para a maternidade, ainda dei explicações aos meus alunos e segui tranquilamente, no final, para dar à luz a minha filha. Foi uma situação que ilustra bem a determinação e a multitarefa que é ser empresária.

Ser empresária requer uma tremenda força de vontade e resiliência. É fundamental ter um objetivo claro e uma paixão genuína pelo que se faz. Envolve anos de investimento, inúmeras horas de pesquisa, estudo, formação e investigação. 

Que ideais quis transpor para o seu projeto?

Os ideais que quis transpor para o meu projeto sempre se centraram na diferenciação e no desenvolvimento integral dos meus alunos. Procuramos desenvolver a motivação e o propósito dos estudantes. Ensinamo-los a descobrirem o seu propósito e a definirem objetivos claros. Acredito firmemente que, sem um objetivo definido e um foco claro, é difícil alcançar o sucesso. É por isso que incentivamos os alunos a estabelecerem metas tangíveis, capacitando-os com competências importantes, como ambição, responsabilidade e gestão do tempo.

Para além do currículo académico, o meu objetivo é preparar os alunos para um mercado de trabalho que valoriza cada vez mais as soft skills. Ensinamos-lhes a importância de atividades extracurriculares, como participar em intercâmbios como o projeto Erasmus, praticar um desporto coletivo ou participar em iniciativas de responsabilidade social. Promovemos a autonomia, a iniciativa, a proatividade, a entreajuda e a socialização, pois compreendemos que estas competências são tão importantes como as competências científicas nos dias de hoje. O nosso foco está em desenvolver seres humanos completos, preparados para enfrentar os desafios do mundo real com confiança e determinação.

As sinergias foram e são fundamentais?

As sinergias desempenharam e continuam a desempenhar um papel fundamental no CEAP. Desde o início, este projeto foi construído com a colaboração e contribuição de muitas pessoas. Ainda hoje, mantenho um diálogo aberto e troco ideias com colegas que também têm os seus centros de estudos.

A coisa que mais me orgulha é ouvir alguém dizer-me com carinho “Foi no CEAP que eu cresci como explicadora, como professora, como pessoa.” Sentir que o meu projeto foi e é uma influência positiva para muitas pessoas é o que mais me gratifica. 

O que é que ainda gostaria de fazer com o CEAP?

Ainda há muita coisa que gostaria de realizar com o CEAP. Uma área na qual tenho interesse em apostar é nas explicações online. Embora já o façamos, gostaria de expandir e aprofundar esta vertente, que tem mostrado excelentes resultados. No entanto, enfrento diversos desafios, especialmente em relação à escassez tempo, dado que tenho filhos em diferentes fases da vida, o que requer uma gestão complexa.

Apesar destes desafios, continuo a estabelecer objetivos ambiciosos para o CEAP, que é um projeto em constante evolução e alinhado com os meus princípios fundamentais. Acredito que o professor deve ser um aprendiz constante e é este valor que procuro transmitir a todas as pessoas que trabalham comigo e aos meus alunos. Devemos desafiar-nos a fazer mais e melhor, cultivando um espírito crítico e questionador, especialmente perante os desafios da Educação do Século XXI, que está em constante transformação, com a ascensão da Inteligência Artificial e com novos paradigmas educacionais.

E o que é que continua a apaixoná-la na sua profissão?

Formar pessoas. Passados 26 anos ainda tenho alunos, hoje adultos, que se cruzam comigo na rua e que me chamam com um sorriso. Sinto que a missão está cumprida sempre que ouço “A professora Sameiro foi a professora que mais me marcou na vida”. Ser professor é ter uma influência enorme no destino dos nossos alunos. Cada aluno tem uma identidade própria, uma personalidade única que merece ser valorizada e é isso que me move, encontrar o potencial de cada um e dar-lhe as ferramentas certas para se encontrar enquanto pessoa e profissional.

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