Saúde Infantil “Problemas motores não detetados no bebé podem levar a atrasos em marcos importantes, como rolar, gatinhar ou andar” By Revista Spot | Março 10, 2025 Março 16, 2025 Share Tweet Share Pin Email O desenvolvimento motor de um bebé é uma das etapas mais importantes para o seu crescimento saudável. No entanto, problemas motores não detetados a tempo podem resultar em atrasos no alcance de marcos essenciais, como rolar, gatinhar e andar. A fisioterapia e a osteopatia pediátrica desempenham um papel fundamental na avaliação precoce e na correção de condições que possam afetar esse desenvolvimento. Ao combinar estas duas abordagens, é possível tratar não só os sintomas, mas também as causas subjacentes, promovendo uma recuperação mais rápida e duradoura. Neste contexto, conversámos com Paula Gomes, fisioterapeuta e osteopata, sobre a importância da intervenção precoce e a forma como estas terapias podem fazer a diferença na vida das crianças. Como é que a Fisioterapia e a Osteopatia se cruzaram no seu percurso profissional? Desde criança que sentia uma vocação para a área da saúde e do desporto, o que me levou a licenciar-me em Fisioterapia, em 2011. No entanto, após um ano de trabalho, percebi que o modelo mais convencional da fisioterapia não me satisfazia plenamente. Foi então que decidi aprofundar os meus conhecimentos e iniciei os estudos em Osteopatia, concluindo a licenciatura em 2019. Nesse mesmo ano, após oito anos a trabalhar por conta de outrem, dei um novo passo na minha carreira e fundei a Fisiosteopatia Paula Gomes, na minha terra natal, Barcelos. Durante o meu percurso académico, tive contacto com a osteopatia pediátrica, mas foi a experiência da maternidade que despertou em mim um interesse ainda maior por esta área. Com esse propósito, em 2023, conclui uma Pós-graduação em Pediatria pela Escola de Osteopatia de Madrid, com um total de 114 horas de formação. Mais recentemente, aprofundei ainda mais os meus conhecimentos através da formação em Avaliação Pediátrica para Fisioterapeutas e Osteopatas, de 88 horas, com a fisioterapeuta e osteopata espanhola Olga Llorente, uma referência na osteopatia pediátrica. Como define a abordagem da clínica na integração entre fisioterapia e osteopatia? É uma abordagem diferenciada, completa, inovadora, em que duas especialidades trabalham em conjunto. Combinando fisioterapia e osteopatia, além de tratarmos a sintomatologia, tratamos a causa dela. Tratamos o paciente de forma mais global. Assim há uma melhoria da dor mais acentuada, da tensão muscular, da postura, da flexibilidade, da mobilidade e uma prevenção de lesões futuras, resultando numa reabilitação mais rápida, eficaz e duradoura. Em que casos específicos é que estas terapias fazem a diferença? Tanto a fisioterapia pediátrica como a osteopatia pediátrica desempenham um papel fundamental na promoção da saúde infantil. Para além de tratarem condições específicas, ajudam na avaliação precoce de problemas que, quando corrigidos atempadamente, contribuem para um desenvolvimento motor e físico saudável do bebé ou criança, prevenindo complicações futuras. A osteopatia pediátrica, em particular, pode fazer uma grande diferença em diversas situações que afetam o bem-estar e o desenvolvimento dos bebés. É especialmente benéfica no alívio de cólicas, obstipação, refluxo gastroesofágico, distúrbios do sono e irritabilidade. Além disso, é frequentemente utilizada para avaliar e tratar deformidades cranianas, como plagiocefalias e braquicefalias, bem como torcicolos. Se não forem corrigidos precocemente, estes problemas podem ter impacto no desenvolvimento motor, levando a atrasos na aquisição de marcos importantes, como rolar, gatinhar ou andar. Isto acontece porque os bebés tendem a desenvolver um lado preferencial, o que pode resultar em alterações posturais e, em casos mais severos, até em assimetrias craniofaciais. A longo prazo, estas alterações podem ainda predispor a problemas na articulação temporomandibular (ATM). Outro aspeto relevante é a influência destas condições na amamentação. As deformidades cranianas e os torcicolos podem dificultar a pega correta, levando a uma preferência por uma mama em detrimento da outra. Esta assimetria pode resultar numa sucção demasiado fraca ou demasiado forte, o que, além de causar desconforto e dor no mamilo da mãe, pode comprometer o ganho de peso do bebé. A plagiocefalia posicional e o torcicolo congénito são cada vez mais comuns devido às recomendações de posicionamento seguro do bebé durante o sono. Como é feita a abordagem terapêutica nestes casos? Discordo um pouco dessa afirmação. De facto, as recomendações para um posicionamento seguro do bebé durante o sono têm levado a um aumento das braquicefalias (cabeça achatada na parte posterior de forma simétrica). No entanto, a plagiocefalia, que se carateriza por um achatamento assimétrico, tende a estar associada a casos de torcicolo. No caso do torcicolo congénito, que está presente desde o nascimento, o posicionamento seguro do bebé não é a causa, mas a manutenção prolongada dessa posição pode dificultar a recuperação. Para evitar braquicefalias ou plagiocefalias posicionais, recomendo dar bastante colo ao bebé, reduzindo o tempo passado na mesma posição. É importante evitar que o bebé permaneça sempre deitado, seja no berço ou na babycoque. À medida que cresce, por volta das seis a oito semanas de vida, é fundamental colocá-lo várias vezes ao dia de barriga para baixo no chão (tummy time), de forma gradual e respeitando a sua tolerância. Esta prática ajuda a aliviar a pressão na cabeça e a fortalecer a musculatura cervical e do tronco, promovendo um desenvolvimento motor adequado. Que sinais de alerta podem indicar que um bebé ou criança pode beneficiar de acompanhamento fisioterapêutico? O desenvolvimento motor de um bebé ou criança segue diferentes etapas, mas é importante lembrar que cada criança tem o seu próprio ritmo. No entanto, existem marcos esperados para cada fase. Entre os zero e os seis meses, é expectável que o bebé consiga apoiar-se nos braços quando está de barriga para baixo e que consiga segurar a cabeça. A partir dos seis meses, deve começar a rolar, sentar-se sem apoio, apoiar-se nos braços e gatinhar. Por volta dos 12 meses, é esperado que já consiga dar os primeiros passos. Se estas etapas não forem atingidas dentro do tempo esperado, pode ser aconselhável procurar acompanhamento fisioterapêutico. Além disso, se até aos seis meses o bebé apresentar assimetrias posturais, como uma preferência por um lado – ou seja, se mantiver sempre a cabeça ou o corpo virados para o mesmo lado –, é importante que seja avaliado. Se não for tratado precocemente, este tipo de assimetria pode levar a atrasos no desenvolvimento motor. Por fim, em casos mais complexos, como suspeitas de condições neurológicas, nos quais o bebé apresenta alterações no tónus muscular (rigidez ou flacidez excessiva), o acompanhamento fisioterapêutico torna-se essencial. Muitas vezes, estas situações já são identificadas e encaminhadas pelos pediatras para uma avaliação mais especializada. A prematuridade pode trazer desafios neuromotores e respiratórios? De facto, quando um bebé nasce antes do tempo, o seu sistema nervoso e respiratório ainda não estão totalmente desenvolvidos, o que pode levar a dificuldades no seu crescimento e adaptação. A fisioterapia pediátrica desempenha um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento destes bebés. A nível motor, ajuda a estimular o desenvolvimento neuromotor, auxiliando o bebé a atingir os marcos motores adequados dentro das etapas esperadas, prevenindo eventuais dificuldades futuras. Já a nível respiratório, a fisioterapia contribui para a melhoria da capacidade pulmonar e para a redução do risco de complicações pulmonares, promovendo uma melhor adaptação do sistema respiratório. É importante lembrar que cada bebé prematuro tem o seu próprio ritmo de desenvolvimento. No entanto, com um acompanhamento adequado, muitos conseguem alcançar um desenvolvimento próximo ao esperado para a idade, tornando-se crianças saudáveis e ativas. No caso de crianças com alterações posturais, como escoliose ou pés planos, qual é o papel da fisioterapia e da osteopatia na correção ou controlo destas condições? No caso de crianças com alterações posturais, como escoliose ou pés planos, o primeiro passo na fisioterapia e na osteopatia é sempre uma avaliação detalhada. Os pés desempenham um papel fundamental na postura, pois são captadores posturais. Quando avaliamos uma criança entre os sete e os oito anos e identificamos pés planos, é provável que exista também uma alteração postural associada. Nestes casos, é recomendável uma avaliação por um podologista especializado. Importa referir que, até aos sete anos, os pés planos são fisiológicos, pois o arco plantar ainda está em desenvolvimento. Para um correto desenvolvimento, é aconselhável que os bebés gatinhem e andem descalços sempre que possível. Além disso, os primeiros sapatos devem ser do tipo “barefoot”, ou seja, com sola fina e flexível, sem salto e com uma caixa larga para permitir o movimento natural dos dedos. No que diz respeito à escoliose, quanto mais cedo for diagnosticada e acompanhada, melhor será o prognóstico. A fisioterapia e a osteopatia, quando combinadas, podem ter um impacto muito positivo. Técnicas de mobilização e manipulação vertebral ajudam a aliviar restrições articulares e tensões musculares, enquanto a abordagem sobre o diafragma e exercícios específicos de alongamento e fortalecimento contribuem para a estabilização da coluna. Entre as atividades recomendadas para a correção postural, destaco a escalada, que fortalece a musculatura de forma global e promove um alinhamento mais equilibrado do corpo. Qual o papel da fisioterapia e da osteopatia no acompanhamento de crianças com condições como paralisia cerebral ou síndromes genéticas? Nos casos de paralisia cerebral ou síndromes genéticas, recomenda-se, sobretudo, o acompanhamento destas crianças por fisioterapeutas. Geralmente, estas condições estão associadas a alterações do tónus muscular, que pode ser excessivamente rígido ou, pelo contrário, demasiado flácido. Estas alterações têm um impacto significativo no desenvolvimento neuromotor, pelo que uma intervenção precoce é essencial. A fisioterapia desempenha um papel fundamental na estimulação ou regulação do tónus muscular, promovendo padrões motores adequados que são essenciais para o controlo postural, coordenação e equilíbrio. Além disso, contribui para a prevenção de deformidades e compensações posturais que podem surgir ao longo do crescimento. Outro aspeto relevante prende-se com as complicações respiratórias frequentemente associadas a estas patologias. A fisioterapia respiratória pode ser determinante na melhoria da função pulmonar, ajudando na mobilização de secreções e na otimização da capacidade respiratória da criança. De que forma a fisioterapia e a osteopatia podem apoiar a mãe durante a gravidez e no pós-parto? Durante a gravidez, as principais queixas que levam as mulheres a procurar fisioterapia ou osteopatia são as dores lombares, ciáticas e a sobrecarga na pélvis. Para aliviar esses sintomas, são utilizadas técnicas terapêuticas que ajudam a reduzir a tensão na zona lombar e no diafragma. Sempre que o tempo de gestação o permita, pode-se recorrer a técnicas manipulativas que corrigem desalinhamentos pélvicos, muitas vezes responsáveis por essas dores, e promovem a mobilidade da pélvis, facilitando o encaixe do bebé e contribuindo para um parto mais fluído. No pós-parto, as mães experienciam frequentemente dores no pescoço e ombros devido à amamentação, bem como dores lombares e ciáticas, causadas pelos desalinhamentos pélvicos e vertebrais resultantes do parto. A fisioterapia e a osteopatia recorrem a técnicas manipulativas e musculares que procuram aliviar essas queixas. Além disso, tanto a fisioterapia como a osteopatia podem ser fundamentais no tratamento de dores e aderências relacionadas com a cicatriz de cesariana ou episiotomia, utilizando abordagens que facilitam a recuperação. Em ambas as fases, a fisioterapia também intervém com exercícios para fortalecer o core, o pavimento pélvico e a musculatura abdominal, elementos essenciais para prevenir incontinência urinária, prolapsos e diástase abdominal, melhorando a qualidade de vida da mulher durante e após a gravidez. Que conselhos daria aos pais para promoverem o desenvolvimento motor saudável dos seus filhos? Para promover o desenvolvimento motor saudável dos filhos, é fundamental incentivar o movimento livre e permitir que as crianças explorem o seu corpo. Desde os primeiros meses de vida, é importante colocar o bebé de barriga para baixo (tummy time), ajudando-o a fortalecer a cabeça, os braços e o tronco. Deve-se evitar o uso excessivo de cadeirinhas e carrinhos, permitindo que a criança tenha liberdade para explorar o ambiente e o seu corpo. Brincar no chão é essencial para o desenvolvimento motor, estimulando atividades como rolar, sentar, gatinhar e, por último, andar. Quando começa a andar, é importante deixá-la andar descalça, sempre que possível, para que tenha um maior contacto com o chão e desenvolva a força dos pés e tornozelos, de forma a favorecer o desenvolvimento natural do arco plantar. Além disso, ao escolher o primeiro calçado, é cada vez mais recomendado optar por calçado “barefoot”, que respeita a anatomia natural do pé e promove o desenvolvimento adequado. Finalmente, incentivar brincadeiras que envolvam correr, saltar, subir e descer, como a escalada, para melhorar a coordenação motora, o equilíbrio e a postura. Há ainda alguma ideia errada sobre fisioterapia e osteopatia pediátrica que gostasse de desmistificar? A fisioterapia e a osteopatia pediátrica oferecem benefícios distintos, sendo que, em alguns casos, podem ser complementares. Recomendo sempre aos pais que procurem profissionais qualificados e éticos, para assegurar um atendimento seguro e eficaz para o bebé ou criança. Sempre que possível, a colaboração com o pediatra ou outro profissional de saúde é fundamental, pois permite uma abordagem integrada, garantindo que as terapias utilizadas sejam eficazes e seguras. Morada: Rua D. José Domenech, Bloco 4, N105H, 4750-100 Barcelos Contacto: 969 435 999 (chamada para a rede móvel nacional) Facebook: Fisiosteopatia Paula Gomes Instagram: @fisiosteopatia_paulagomes Site: fisiosteopatiapaulagomes.pt “O melhor momento para cuidar da nossa pele é antes que ela precise de rejuvenescimento” “O coaching nutricional vai além da simples contagem de calorias, promovendo uma verdadeira transformação na nossa relação com a comida”
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