CRIANÇAS/Psicologia “Permitir que crianças e adolescentes tenham acesso não supervisionado às redes sociais pode ser equiparado a negligência parental” By Revista Spot | Junho 5, 2024 Junho 5, 2024 Share Tweet Share Pin Email O dilema dos pais de hoje oscila entre duas realidades distintas: os perigos do mundo físico e do mundo digital. Enquanto as gerações anteriores cresceram nas ruas, explorando o mundo real com a sua imaginação e curiosidade, os tempos mudaram. Agora, os ecrãs e os dispositivos conectados são o novo playground, onde as crianças desbravam territórios virtuais com a mesma sede de aventura. No entanto, o impacto negativo do uso excessivo de tecnologias por crianças e adolescentes tem gerado preocupações entre pais, educadores e especialistas em saúde. Beatriz Moura, psicóloga da Infância e da Adolescência na mim – Clínica do Desenvolvimento garante que “o acesso precoce e não supervisionado ao tempo de ecrã, e em especial às redes sociais, por parte de crianças e adolescentes pode ser equiparado a negligência parental.” Quais são os principais riscos associados ao uso excessivo de dispositivos eletrónicos por crianças? Os riscos são múltiplos e merecem uma análise cuidadosa. É essencial não demonizar as tecnologias, mas compreender os seus efeitos, especialmente quando se trata do desenvolvimento infantil e adolescente. Um dos principais riscos está relacionado com a substituição de atividades essenciais para o crescimento saudável. O uso excessivo de dispositivos eletrónicos pode levar à negligência de competências sociais, físicas e cognitivas que são fundamentais para o desenvolvimento infantil. Além disso, a exposição constante a ecrãs pode causar problemas visuais, auditivos e posturais. Do ponto de vista psicológico, o impacto pode ser ainda mais profundo. As redes sociais e outras plataformas digitais criam um ambiente de comparação constante, onde crianças e adolescentes se veem pressionados a alcançar padrões irreais de beleza e sucesso. Essa pressão pode resultar em baixa autoestima, ansiedade e até depressão. Estudos demonstram que o uso excessivo de redes sociais está correlacionado com o aumento de sintomas depressivos e comportamentos de automutilação entre adolescentes. O cyberbullying é uma preocupação crescente com o avanço da tecnologia. A facilidade de acesso às redes sociais e a capacidade de comunicar anonimamente podem transformar a vida digital num terreno fértil para comportamentos agressivos. Crianças e adolescentes tornam-se, muitas vezes, vítimas de assédio e intimidação online, vulneráveis a predadores online, fraudes e outros riscos cibernéticos. É verdade que a tecnologia cria dependência? Sim. Um dos impactos mais preocupantes está relacionado com a ativação excessiva dos circuitos de dopamina no cérebro das crianças. A dopamina é um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa e a sua libertação em excesso pode levar à dependência. Essa dependência pode resultar em dificuldades de regulação emocional, manifestando-se em irritabilidade, desafio, agitação e até mesmo ansiedade e stress quando a criança é privada do uso dos dispositivos. O corte abrupto da estimulação dopaminérgica, quando os pais interrompem o uso dos dispositivos, pode desencadear a libertação de cortisol, a hormona do stress. Este ciclo de estímulo e privação pode desregular o sistema nervoso das crianças, levando a comportamentos agitados, irritabilidade e dificuldades de autorregulação. É especialmente preocupante considerando que crianças e adolescentes já lidam com emoções e frustrações inerentes à fase de desenvolvimento. É essencial reconhecer estes impactos para promover o uso saudável das tecnologias. Devemos garantir que os dispositivos eletrónicos complementem, e não substituam, as experiências físicas, sociais e cognitivas essenciais ao desenvolvimento infantil. “Devemos garantir que os dispositivos eletrónicos complementem, e não substituam, as experiências físicas, sociais e cognitivas essenciais ao desenvolvimento infantil.” Existem idades ou fases do desenvolvimento infantil em que os riscos do tempo de ecrã são maiores? Em idades precoces do desenvolvimento infantil, os riscos associados ao tempo de exposição a ecrãs são particularmente preocupantes. Segundo as orientações da Sociedade Americana de Pediatria e da Sociedade do Canadá de Pediatria, crianças até aos dois anos não devem ser expostas a nenhum tipo de ecrã, e dos dois aos cinco anos, o tempo diário não deve exceder uma hora, com pausas adequadas. Estas diretrizes baseiam-se na compreensão de que nessas fases iniciais, o desenvolvimento da linguagem, padrões de sono, função executiva e outras capacidades cognitivas estão em pleno curso. A exposição excessiva a ecrãs pode comprometer esses processos fundamentais. Esta dependência tecnológica pode comprometer a criatividade? Crianças e adolescentes, quando imersos em frente a um ecrã, tendem a focar-se apenas no concreto, perdendo a oportunidade de exercitar a imaginação e a criatividade, competências essenciais para o desenvolvimento integral. Por exemplo, enquanto leem uma história, as crianças podem visualizar cenários, personagens e eventos de forma única, estimulando a imaginação e a compreensão narrativa. No entanto, a exposição excessiva a dispositivos eletrónicos pode limitar essas experiências, prejudicando o desenvolvimento dessas competências cruciais. A falta de tempo dedicado à criatividade, imaginação e resolução de problemas pode ter repercussões negativas nas competências sociais e na capacidade de adaptação na vida adulta, incluindo no ambiente de trabalho. Portanto, é essencial proteger essas janelas de oportunidade durante as fases críticas do desenvolvimento infantil, de forma a promover um crescimento saudável e equilibrado. O que é que os impactos negativos da tecnologia lhe revelam em consultório? Os impactos negativos da tecnologia revelam-se de várias formas em consultório. Muitas vezes, crianças com perfis que poderiam ser diagnosticados como Perturbações de Hiperatividade com Défice de Atenção, na verdade, não o são. São crianças que foram expostas desde muito cedo às novas tecnologias. Essa exposição precoce às tecnologias, como jogos eletrónicos, pode levar a uma ativação excessiva do cérebro, afetando a atenção e a capacidade de espera, não causando necessariamente hiperestimulação, como muitos acreditam erroneamente. Além disso, a influência dos dispositivos eletrónicos no padrão de sono é significativa, devido à luz emitida pelos ecrãs, que inibe a produção de melatonina, o neurotransmissor necessário para induzir o sono. A falta de desenvolvimento de competências sociais também é uma preocupação, pois a socialização através da tecnologia pode não oferecer as mesmas oportunidades de interação cara a cara, essenciais para aprender a lidar com as emoções e desenvolver competências interpessoais. A exposição a conteúdos inadequados e não regulamentados pode afetar a compreensão que os adolescentes têm de si mesmos e do mundo ao seu redor. Isso pode levar a confusão e desregulação emocional, especialmente quando não há entidades que supervisionem ou regulamentem o que é publicado online. Além disso, a procura constante por validação externa nas redes sociais pode contribuir para o desenvolvimento de perturbações psicológicas, como a Perturbação Borderline, especialmente durante a adolescência, quando as figuras de referência são mais influentes do que os pais. O uso de redes sociais tem um impacto diferente em comparação com outros tipos de tempo de ecrã, como jogos ou vídeos? O uso das redes sociais implica riscos distintos em comparação com outras formas de entretenimento digital. Este aumento de riscos é preocupante, especialmente devido à crescente presença das crianças nas redes sociais, muitas vezes sem plena consciência dos perigos associados. Este fenómeno reflete um problema de analfabetismo tecnológico, tanto por parte das crianças como dos adultos. As redes sociais proporcionam um acesso ilimitado a uma vasta gama de conteúdos e interações, que muitas vezes as crianças e adolescentes não têm maturidade para compreender ou processar. Isso pode levar à formação de conceitos distorcidos sobre temas como relacionamentos e sexualidade. É alarmante constatar que crianças a partir dos seis anos já estão expostas à pornografia, o que pode moldar de forma inadequada as suas perceções sobre sexualidade e intimidade. Os pais negligenciam, muitas vezes, a monitorização das atividades online dos seus filhos, desconhecendo o que eles estão a pesquisar ou a ver. A falta de supervisão cria um ambiente propício para a exploração inadequada e até mesmo para a exposição a predadores sexuais. Além disso, as redes sociais projetam frequentemente uma narrativa de vidas perfeitas, levando os jovens a esconder as suas próprias vulnerabilidades e dificuldades emocionais, contribuindo para uma cultura de positividade tóxica. O acesso precoce e não supervisionado às redes sociais pode ser equiparado à negligência por parte dos pais, que muitas vezes não reconhecem o perigo inerente a essa prática. Enquanto na rua há, pelo menos, a presença de outras pessoas que poderiam intervir em situações de perigo, no mundo digital, as crianças e adolescentes ficam desamparados, expostos a riscos sem a devida orientação ou supervisão. “A dificuldade dos pais em gerir o tempo de ecrã dos filhos está também relacionada com a sua própria incapacidade de estabelecer uma relação consciente e equilibrada com as novas tecnologias.” Por que é que muitos pais têm dificuldade em controlar o tempo de ecrã dos filhos? A dificuldade dos pais em gerir o tempo de ecrã dos filhos está também relacionada com a sua própria incapacidade de estabelecer uma relação consciente e equilibrada com as novas tecnologias. Muitos adultos não conseguem posicionar-se de forma crítica e consciente relativamente ao seu uso de dispositivos digitais, o que torna mais difícil aplicar essas competências na educação dos filhos. A facilidade de acesso a uma variedade de conteúdos e a interação social através das redes sociais cria uma ilusão de que esses ganhos são sempre positivos, dificultando a reflexão sobre os efeitos e riscos associados ao uso excessivo das novas tecnologias. Outro fator importante é a utilização dos ecrãs como um recurso para gerir a impaciência ou o aborrecimento das crianças. Em situações como almoços, jantares ou outras atividades onde as crianças podem sentir-se entediadas, os dispositivos eletrónicos são frequentemente usados como uma solução rápida para mantê-las ocupadas. Esta prática reforça a ideia de que todo o tempo deve ser preenchido com alguma atividade, contribuindo para uma aversão ao tédio tanto em adultos como em crianças. Vivemos numa sociedade onde a produtividade e a ocupação constante são valorizadas. Há ainda a questão da pressão social. A ubiquidade dos dispositivos digitais na vida quotidiana faz com que seja difícil para os pais estabelecerem limites claros e consistentes. Para enfrentar esses desafios, é crucial que os pais desenvolvam uma consciência crítica sobre o uso das novas tecnologias, tanto para si próprios como para os seus filhos. Estabelecer rotinas e limites claros, promover atividades físicas e ao ar livre e incentivar momentos de desconexão digital são passos importantes. Além disso, é fundamental que os pais dediquem tempo para conversar com os filhos sobre os riscos e benefícios do uso dos ecrãs, promovendo uma relação saudável e equilibrada com a tecnologia. Que estratégias eficazes podem os pais adotar para regular o tempo de ecrã das crianças? Regular o tempo de ecrã das crianças é um desafio complexo que exige estratégias específicas, ajustadas às necessidades de cada família e criança. Em primeiro lugar, é essencial estabelecer um conjunto claro de regras e limites antes de introduzir as novas tecnologias. Este ‘contrato’ deve ser explicado detalhadamente às crianças, incluindo o objetivo do uso dos dispositivos, os limites de tempo, os tipos de conteúdos permitidos e as condições de uso. As regras devem ser ajustadas à idade e às necessidades da criança, com limites mais restritos e supervisão constante para as mais novas, e uma maior autonomia, mas ainda com regras claras, para os adolescentes. Envolver as crianças na criação das regras pode aumentar a sua compreensão e aceitação. É importante explicar a importância da saúde, segurança e proteção, e afirmar que os pais estão lá para proteger e guiar, mesmo que isso cause frustração inicial. A monitorização ativa do uso de dispositivos pelas crianças é crucial, verificando regularmente o que estão a ver e a fazer online. Ferramentas de controlo parental podem ser úteis para limitar o acesso a conteúdos inapropriados e estabelecer limites de tempo. Os pais devem dar o exemplo com o seu próprio uso de tecnologias, demonstrando um uso equilibrado e consciente dos dispositivos, o que pode incentivar as crianças a adotarem comportamentos semelhantes. Planear atividades em família que não envolvam ecrãs pode fortalecer os laços familiares e proporcionar diversão sem a necessidade de tecnologia. Ensinar as crianças sobre o uso seguro e responsável da internet é fundamental, incluindo a importância de manter informações pessoais seguras, lidar com desconhecidos e evitar contactos perigosos e avaliar criticamente as informações encontradas online. Muitos pais cedem ao uso excessivo de ecrãs devido à pressão social e ao desejo de evitar que os filhos se sintam excluídos. É importante que os pais compreendam que estabelecer limites não é prejudicial, mas sim uma forma de proteger e orientar os filhos. Manter a comunicação aberta com outros pais pode ajudar a criar um ambiente de apoio mútuo e a alinhar práticas. Como é que os pais podem equilibrar o uso da tecnologia para fins educativos e recreativos? É essencial reconhecer os benefícios da tecnologia na aprendizagem e ao mesmo tempo estar ciente dos riscos associados ao seu uso inadequado. A tecnologia, quando utilizada de forma apropriada, pode enriquecer a educação das crianças, oferecendo-lhes acesso a uma vasta gama de recursos e ferramentas educativas. No entanto, o problema surge com a utilização precoce e sem regras, que pode levar a consequências negativas. A introdução da tecnologia deve ser feita com limites claros e monitorização adequada para evitar a exposição a perigos. A incorporação de dispositivos tecnológicos pode tornar a aprendizagem mais dinâmica e envolvente. Por exemplo, plataformas educativas, jogos interativos e aplicações de aprendizagem podem ajudar a consolidar conhecimentos de forma mais atrativa e personalizada. No entanto, é importante que estas ferramentas sejam usadas como complementos, e não como substitutos das métodos pedagógicos convencionais, que continuam a ser fundamentais para o desenvolvimento das capacidades de reflexão, crítica, comunicação e interação social. A neurociência tem demonstrado que as crianças aprendem melhor através de uma combinação de métodos, que incluem tanto atividades práticas e colaborativas como o uso de tecnologias digitais. Portanto, é importante manter o equilíbrio, assegurando que os alunos têm oportunidades para realizar trabalhos de grupo, debater, comunicar e interagir de forma presencial, ao mesmo tempo que utilizam as tecnologias para melhorar a apresentação e a qualidade dos seus trabalhos. Começam também a surgir movimentos e iniciativas para restringir o uso de telemóveis pessoais nas escolas, promovendo um ambiente onde a interação direta e a comunicação pessoal são prioritárias. Estes momentos devem ser dedicados à socialização, à brincadeira e à interação, essenciais para o desenvolvimento emocional e social das crianças e adolescentes. “Muitas vezes, as crianças e adolescentes não possuem a maturidade necessária para interpretar corretamente o que veem e leem online.” Existem sinais de alerta a que os pais devam estar atentos? Existem vários sinais de alerta a que os pais devem estar atentos para identificar problemas no uso da tecnologia pelos filhos. Um dos sinais mais comuns é a alteração no padrão de sono. Se a criança ou adolescente começa a ter dificuldades para adormecer, a dormir menos horas do que o necessário ou a ter um sono interrompido, isso pode indicar um uso excessivo de dispositivos eletrónicos, especialmente antes de dormir. Outro sinal de alerta é o evitamento de atividades que anteriormente gostavam de fazer. Por exemplo, se uma criança que adorava brincar ao ar livre, praticar desporto ou participar em atividades extracurriculares começa a recusar essas oportunidades para ficar em casa, isso pode ser um indicativo de que prefere passar o tempo em frente ao ecrã. O isolamento no quarto, especialmente se passa muitas horas seguidas sozinho com dispositivos eletrónicos, é outro comportamento preocupante. Alterações de comportamento, como a emergência de quadros de ansiedade ou sintomas depressivos sem uma causa aparente, também devem ser monitorizadas. Estes sintomas podem ser consequência de um uso excessivo ou inadequado da tecnologia, onde a criança ou adolescente está exposto a conteúdos para os quais não tem maturidade suficiente para processar. Isso pode gerar medos e crenças erradas que impactam negativamente o seu funcionamento diário, incluindo a capacidade de concentração e aprendizagem na sala de aula. Os pais devem estar particularmente atentos ao conteúdo que os filhos consomem online. Muitas vezes, as crianças e adolescentes não possuem a maturidade necessária para interpretar corretamente o que veem e leem online, o que pode levar a mal-entendidos e conceções erradas sobre vários assuntos. A partir do momento em que uma criança tem acesso livre a esses conteúdos, já é um sinal de alerta e os pais devem intervir para garantir que o uso da tecnologia seja seguro e apropriado. A monitorização ativa por parte dos pais é fundamental. Isso inclui verificar regularmente o histórico de pesquisas, os conteúdos visualizados e as interações nas redes sociais. Estabelecer limites claros e consistentes sobre o tempo de ecrã e os tipos de conteúdos permitidos é essencial para garantir um uso equilibrado da tecnologia. Braga Rua António Cândido Pinto, nº57, 4715-400 Fraião 253 615 239 (Chamada para a rede fixa nacional) 912 283 666 (Chamada para a rede móvel nacional) Guimarães Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, nº83, 4810-008 Costa 253 781 125 (Chamada para a rede fixa nacional) 914 724 484 (Chamada para a rede móvel nacional) Facebook: Mim Clínica Do Desenvolvimento Instagram: @mim.clinica www.clinicamim.pt “A taxa de sucesso dos tratamentos de Procriação Medicamente Assistida está diretamente relacionada com a idade da mulher” “A saúde da mãe durante a gravidez é o alicerce que sustenta o bem-estar do bebé”
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