Psicologia “Para os jovens de hoje, falar sobre emoções e vulnerabilidades é um sinal de força e não de fraqueza” By Revista Spot | Outubro 30, 2024 Outubro 31, 2024 Share Tweet Share Pin Email Hoje, com a crescente valorização do autocuidado e o impacto das redes sociais, a saúde mental tornou-se um dos temas mais discutidos e relevantes da atualidade. As gerações mais jovens abordam este assunto com uma abertura sem precedentes, incentivando a conversa sobre emoções e a procura de apoio, promovendo um ambiente de aceitação e empatia que está a influenciar também as gerações mais velhas. Hugo Morgado, psicólogo clínico, destaca que essa transformação não só reforça a importância do bem-estar psicológico, mas também aproxima diferentes idades numa missão comum de normalizar o diálogo e combater estigmas. No entanto, apesar de a tecnologia se ter transformado num importante veículo de informações valiosas, requer literacia crítica para distinguir entre conteúdos educativos e o ruído digital. Considera que a forma como diferentes gerações compreendem e abordam a saúde mental tem evoluído? Historicamente, as gerações anteriores abordavam a saúde mental de forma limitada, focando principalmente nas manifestações físicas como sinais de mal-estar. Faltavam referências e competências para lidar com questões emocionais, e a compreensão de saúde mental era muito restrita. Hoje, observamos uma transformação marcante: as gerações mais jovens integram a saúde mental como um componente central do bem-estar, estando mais dispostas a falar sobre emoções, autocuidado e a reconhecer quando precisam de apoio. Essa postura mais consciente tem, inclusive, incentivado diálogos mais abertos com gerações anteriores, promovendo uma aceitação mais ampla da importância da saúde mental. “…as gerações mais jovens integram a saúde mental como um componente central do bem-estar, estando mais dispostas a falar sobre emoções, autocuidado e a reconhecer quando precisam de apoio.” As redes sociais e a tecnologia vieram influenciar a literacia em saúde mental? As redes sociais, como o Instagram e o TikTok, desempenham um papel duplo na literacia em saúde mental. Por um lado, democratizam o acesso a informações sobre o tema, tornando-o mais acessível; por outro, facilitam a disseminação de desinformação e podem incentivar comparações nocivas e vício digital. A literacia digital tornou-se essencial para que os jovens naveguem com segurança nesse espaço. Estudos mostram que a exposição a conteúdos de saúde mental pode educar, mas também distorcer perceções, tornando fundamental a capacidade de validar fontes. Escolas e famílias têm, portanto, um papel crucial na promoção de uma literacia digital que caminhe em conjunto com a literacia em saúde mental. As iniciativas de educação em saúde mental devem começar nas escolas? Ainda há um longo caminho a percorrer para que as competências socioemocionais sejam integradas plenamente nos currículos escolares. Embora muitas escolas ainda não contemplem esse tema, as iniciativas existentes apresentam resultados animadores. Em instituições que adotam práticas de saúde mental, os alunos aprendem a gerir melhor o stress e a resolver conflitos com mais autonomia. Por exemplo, escolas que introduzem mindfulness, espaços de diálogo sobre emoções ou disciplinas dedicadas ao bem-estar mental têm visto melhorias significativas na resiliência emocional e no desenvolvimento social dos alunos. As gerações mais velhas ainda enfrentam desafios em relação à saúde mental? As gerações mais velhas enfrentam desafios específicos ao lidar com a saúde mental. A resistência em reconhecer problemas psicológicos está muitas vezes ligada a estigmas antigos e à falta de informação e sensibilidade sobre o tema. Muitos buscam apoio psicológico apenas em situações extremas, quando a prevenção poderia ter sido fundamental. Para superar esses desafios, é essencial adotar estratégias que respeitem as vivências dessas gerações, promovendo, ao mesmo tempo, uma aceitação mais ampla. Campanhas de sensibilização e a presença de figuras públicas podem ajudar a abrir portas para um diálogo mais aberto. Como tem evoluído a mudança destes estigmas? A perceção sobre a saúde mental tem mudado, mas alguns estigmas ainda persistem. No entanto, a crescente visibilidade de figuras mediáticas, como o humorista António Raminhos, que falam abertamente sobre as suas experiências, desempenha um papel fundamental na normalização do tema. Essas partilhas incentivam as pessoas a verem a procura de ajuda como algo natural e desprovido de vergonha ou receio. Além disso, essas histórias pessoais alimentam movimentos nas redes sociais que ajudam a quebrar estigmas, especialmente entre os mais jovens. Que fatores levam as pessoas a procurar ajuda? Atualmente, os principais motivos que levam as pessoas a procurarem apoio profissional em saúde mental incluem a maior visibilidade do tema, mudanças sociais e económicas intensas e a crescente aceitação de que a saúde mental é tão importante quanto a física. Essa transformação cultural está a reforçar a ideia de que o bem-estar psicológico é fundamental para uma vida equilibrada e de qualidade, motivando muitas pessoas a procurarem ajuda profissional. “…o bem-estar psicológico é fundamental para uma vida equilibrada e de qualidade, motivando muitas pessoas a procurarem ajuda profissional.” Houve, de facto, um aumento na procura de terapia? A procura por terapia tem crescido consideravelmente, impulsionada pela consciencialização sobre saúde mental, redução de estigmas e maior acesso aos serviços. O burnout profissional é um exemplo dessa procura, mas há também uma mudança cultural em curso: a terapia é cada vez mais vista como uma ferramenta para o crescimento pessoal, além de um recurso para crises. Essa visão transformadora posiciona a terapia como um investimento contínuo no autoconhecimento e no desenvolvimento individual. As mudanças nas condições de vida impactam a frequência com que as pessoas procuram apoio psicológico? Mudanças nas condições de vida, como pressões económicas, instabilidade no mercado de trabalho, intensificação da vida urbana e necessidade de adaptação às novas dinâmicas sociais, têm contribuído para um aumento na procura por apoio psicológico. O ritmo acelerado da vida moderna, aliado à pressão por conciliar vida pessoal e profissional, vem gerando um impacto direto na saúde mental. Estudos indicam que a adaptação a essas novas realidades, incluindo as crescentes exigências de produtividade e flexibilidade, tem levado mais pessoas a procurar estratégias para a gestão emocional. A teleterapia e a terapia online trouxeram uma nova realidade? A teleterapia ganhou destaque durante a pandemia e muitos continuam a preferir esse formato pela conveniência. No entanto, a falta de um ambiente terapêutico facilitador pode representar um desafio na criação de uma relação terapêutica empática. Psicólogos estão a explorar estratégias para otimizar os benefícios da terapia online e manter a qualidade da relação terapêutica, mesmo sem o contacto presencial. Que mensagem podemos transmitir a quem ainda hesita em procurar apoio psicológico por receio do estigma? Se está a hesitar em procurar ajuda, lembre-se: cuidar da saúde mental é um ato de autocuidado essencial. Assim como procuramos ajuda médica para dores físicas, a nossa mente também precisa de atenção e cuidado. Embora o primeiro passo possa ser difícil, ele é também o mais transformador. Hoje, procurar apoio psicológico é visto como um sinal de autoconsciência e força. Promover um ambiente acolhedor e compreensivo começa com a normalização do diálogo sobre saúde mental. “Casos clínicos mostram que a desinformação e o receio de procurar ajuda levam a diagnósticos tardios e tratamentos mais complexos, prolongando o sofrimento e prejudicando a qualidade de vida das pessoas.” Quais são as consequências da falta de literacia em saúde mental no trabalho clínico? A falta de literacia em saúde mental pode agravar problemas psicológicos que poderiam ser tratados precocemente. Casos clínicos mostram que a desinformação e o receio de procurar ajuda levam a diagnósticos tardios e tratamentos mais complexos, prolongando o sofrimento e prejudicando a qualidade de vida das pessoas. “A falta de capacidades para reconhecer e expressar emoções dificulta conversas necessárias e pode levar a reações impulsivas, prejudicando o relacionamento e causando sentimentos de solidão e desconexão.” E como é que isto afeta as relações interpessoais e profissionais? A ausência de literacia em saúde mental afeta significativamente as relações interpessoais e profissionais. Pessoas com experiência em doença mental podem ter dificuldades de comunicação e gestão de conflitos interpessoais, e frequentemente apresentam tendência ao isolamento, afastando-se de familiares, amigos e colegas de trabalho. A falta de capacidades para reconhecer e expressar emoções dificulta conversas necessárias e pode levar a reações impulsivas, prejudicando o relacionamento e causando sentimentos de solidão e desconexão. Esta falta de literacia em saúde mental pode também dificultar a procura e o uso adequado dos serviços de saúde? A falta de literacia em saúde mental cria barreiras sérias para quem necessita de apoio, como desinformação e medo do julgamento, afastando as pessoas dos serviços de saúde mental. Mesmo quando recorrem a esses serviços, a falta de entendimento sobre o processo terapêutico pode comprometer a adesão ao tratamento, levando à frustração e, muitas vezes, ao abandono precoce. Este paradigma pode desencadear efeitos negativos na sociedade e nas comunidades? A carência de literacia em saúde mental afeta profundamente a coesão social. Problemas psicológicos não tratados aumentam a prevalência de abuso de substâncias e reduzem a produtividade. Comunidades com baixa literacia enfrentam desafios acrescidos na gestão de problemas coletivos, como violência e exclusão social, comprometendo o bem-estar e a saúde pública. Que estratégias podem aumentar a literacia em saúde mental na população em geral? Para aumentar a literacia em saúde mental é crucial investir em campanhas de sensibilização e programas educacionais que incentivem o diálogo aberto. Integrar competências socioemocionais desde cedo nos currículos escolares e encorajar figuras públicas a partilhar as suas experiências são estratégias eficazes para normalizar o cuidado com a saúde mental e combater o estigma, promovendo uma cultura mais inclusiva e informada. Morada: Rua da Fábrica, nº 233, S. Victor, 4715-027 Braga Contacto: 253 339 190 | 916 617 944 Facebook: Hugo Morgado Instagram: @psicologohugomorgado Temperos da Gracinda celebra 25 anos de histórias e de amor pela sua cidade “A saúde do cabelo começa de dentro para fora”
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