ESPECIAL MULHER/SAÚDE “A modulação hormonal procura otimizar a saúde através de mudanças no estilo de vida, a reposição aborda carências identificadas” By Revista Spot | Maio 10, 2024 Maio 12, 2024 Share Tweet Share Pin Email O mindset da Saúde está a mudar, com uma abordagem cada vez mais centrada no paciente que reconhece a importância de fatores como estilo de vida, alimentação, qualidade do sono e saúde mental na promoção da saúde como um todo. Corrigir desequilíbrios no corpo antes que estes se manifestem como doenças foi o caminho que levou Ana Vilaça a unir Medicina Interna e Medicina Funcional e Integrativa, fortalecendo a ideia de que a prevenção é o melhor ‘medicamento’ e incentivando os pacientes a assumirem um papel ativo na sua própria saúde e bem-estar. Na sua página de Instagram ouvimos falar diariamente de saúde hormonal, intestino saudável, inflammaging, entre muitos outros conceitos importantes que procuram promover a literacia em prol de uma maior qualidade de vida em todas as idades. Em que momento se apaixonou pela Medicina e, em concreto, pela especialidade de Medicina Interna? Recordo-me de expressar o desejo de ser médica desde muito nova, uma vontade que não derivou de influências externas, uma vez que os meus pais não têm qualquer ligação à área da Saúde. Penso que a Medicina sempre foi uma vocação intrínseca, uma paixão enraizada desde que me lembro. Para mim, a verdadeira beleza da Medicina reside na sua integração, na compreensão de que todos os órgãos e sistemas estão interligados e se influenciam mutuamente e por isso segui, de forma muito natural, a especialidade de Medicina Interna. O que é que a levou a fazer uma Pós-graduação em Medicina Funcional e Integrativa? A minha decisão de realizar uma Pós-graduação em Medicina Funcional e Integrativa teve origem numa experiência pessoal. Enfrentei um problema de saúde que a Medicina convencional resolveu numa ótica centrada no ‘medicamento’. Assim, perante a falta de respostas adequadas e em linha com a solução que eu pretendia, decidi investir em conhecimento e desenvolvimento de competências nesta área. Na altura, já era especialista em Medicina Interna e essa formação só reforçou a minha perceção de que, embora a Medicina convencional seja eficaz em muitas situações, pode não abordar de forma ideal a prevenção e o tratamento de certas condições. Muitas vezes, os pacientes que chegam à consulta de Medicina Interna já apresentam uma carga significativa de patologias estabelecidas e, por isso, no fundo, só reforcei a necessidade de expandir as minhas ferramentas para intervir de forma mais preventiva e integrada. Qual foi o grande gatilho da mudança? No contexto hospitalar percebi que estava a ficar cada vez mais distante do ideal da Medicina, em que a relação médico-doente é central e onde o tempo é dedicado a compreender verdadeiramente as necessidades e preocupações de cada paciente. Sentia-me limitada pelo curto tempo disponível em consultas, pela burocracia administrativa e pela falta de espaço para uma abordagem mais completa e personalizada. A realização da Pós-graduação em Medicina Funcional e Integrativa foi um desafio, conciliando-a com o meu trabalho como internista no hospital. No entanto, percebi que era necessário mudar a minha prática clínica para me sentir verdadeiramente realizada e capaz de oferecer o melhor aos meus pacientes. Acredito que a Medicina Funcional e Integrativa não deve ser vista como uma especialidade separada, mas sim como um complemento essencial a todas as áreas da Medicina. Mais do que a patologia, importa o paciente como um todo? Na prática da Medicina Integrativa é estabelecida uma parceria colaborativa entre médico e paciente, onde ambos têm responsabilidades definidas no tratamento. Esta abordagem destaca a importância da sinergia entre os pilares do tratamento, que incluem não apenas a terapêutica médica, mas também a nutrição, o exercício físico, a gestão do sono e do stress, a modulação hormonal e a suplementação. Ao contrário da abordagem tradicional, onde muitas vezes se procura apenas tratar os sintomas, a Medicina Integrativa concentra-se na identificação e tratamento das causas subjacentes das condições de saúde. Dessa forma, procura-se não apenas aliviar os sintomas imediatos, mas promover uma saúde duradoura e prevenir recorrências futuras. Que aspetos do doente são abordados numa primeira consulta? Na prática da Medicina integrativa, é comum abordarmos uma gama abrangente de fatores que influenciam a saúde do paciente. Sono, hábitos alimentares, trabalho, o contexto de vida, investigação detalhada da história clínica, análise de exames laboratoriais e consideração de fatores genéticos e ambientais são temas recorrentes em consulta. Embora a lista de mudanças possa parecer extensa, é importante sublinhar que não esperamos que o paciente as implemente imediatamente todas após a primeira consulta. Mas é muito comum, por exemplo, ouvir relatos de pacientes que, após a consulta, se sentiram motivados a incorporar a atividade física na sua rotina diária. Esta motivação surge, muitas vezes, do entendimento dos pilares da saúde que discutimos e a forma como eles estão interligados para promover o bem-estar geral. Um sono de qualidade é essencial para eliminar radicais livres, reparar tecidos e sintetizar proteínas? O corpo humano funciona como uma máquina complexa e eficiente. Cada componente desempenha um papel vital e quando todos os pilares estão em harmonia, o funcionamento é ótimo. No entanto, quando um desses pilares falha, a máquina começa a funcionar de forma inadequada. Um exemplo disso são as reações enzimáticas que ocorrem no nosso corpo, que libertam substâncias reativas de oxigénio, contribuindo para o stress oxidativo. É fundamental termos uma capacidade antioxidante adequada para equilibrar essas substâncias e proteger as nossas células. O sono é crucial para esse equilíbrio, pois durante esse período ocorrem muitos processos de reparação e regeneração. Se não priorizarmos o sono de qualidade e se adotarmos hábitos prejudiciais, como uma má alimentação ou exposição constante a disruptores endócrinos, isso pode afetar negativamente a nossa capacidade antioxidante e aumentar o stress oxidativo. Fala muitas vezes da importância da respiração consciente… Por que razão é tão importante ‘aprendermos a respirar’? É interessante notar que todos nascemos com uma aptidão natural para respirar de forma completa e profunda. No entanto, ao longo da vida, muitos de nós perdem essa capacidade, adotando padrões respiratórios curtos e superficiais. Esta mudança para uma respiração torácica pode afetar negativamente a nossa saúde, pois utilizamos apenas uma fração da nossa capacidade respiratória total. A respiração consciente envolve trazer atenção deliberada para o processo respiratório. Esta prática não só nos permite expandir a capacidade dos nossos pulmões, mas também é uma ferramenta eficaz para gerir o stress. O Yôga e o Mindfulness são práticas que adoto diariamente e que têm uma relação intrínseca com a respiração consciente. Ao trazer atenção plena para a respiração, aprendemos a cultivar a consciência do momento presente, reduzindo a reatividade ao stress e promovendo a clareza mental. Mesmo apenas alguns minutos de respiração consciente podem fazer uma diferença significativa no nosso estado emocional e mental. Ao focarmos a nossa atenção na respiração, desligamos temporariamente os pensamentos intrusivos e reduzimos a ruminação mental. É fundamental identificar e tratar as disfunções no funcionamento do corpo, muitas vezes antes mesmo de manifestarem sintomas claros de uma doença? O objetivo principal é sempre a prevenção e é lamentável que a formação médica muitas vezes se concentre mais no tratamento de doenças do que na promoção da saúde. Se adotássemos uma abordagem mais preventiva, pouparíamos recursos e viveríamos com mais saúde e qualidade de vida. Na minha consulta, o foco é tratar da saúde, não apenas da doença. Mesmo quando os pacientes já têm uma condição estabelecida, o meu objetivo é minimizar o avanço da doença e maximizar a qualidade de vida. Todos nós estamos a envelhecer, está nas mãos de cada um de nós adotar um estilo de vida que promova o envelhecimento saudável e a longevidade com qualidade de vida. É verdade que o intestino é o nosso segundo cérebro? A microbiota intestinal é responsável por uma série de funções essenciais, incluindo a produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina. Surpreendentemente, cerca de 90% da serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar e ao humor, é produzida no intestino. Além disso, a microbiota intestinal desempenha um papel crucial na síntese de vitaminas e na regulação do sistema imunológico. Quando o intestino está desequilibrado ou inflamado, as suas funções podem ser comprometidas, afetando não apenas a digestão, mas muitos outros sistemas do nosso corpo. É fundamental reconhecer que o intestino vai além da sua função digestiva. Ele possui milhões de células nervosas, formando um sistema nervoso próprio conhecido como sistema nervoso entérico. Este sistema está intimamente ligado ao sistema nervoso central e tem uma missão essencial na comunicação entre o intestino e o cérebro. Os pré e probióticos são fundamentais para a nossa saúde intestinal? Os pré e probióticos desempenham um papel fundamental na promoção da saúde intestinal e no equilíbrio da microbiota, para que sejam desempenhadas as suas funções. A importância desses elementos é evidente na relação entre o que consumimos e a saúde do nosso intestino. Como disse Hipócrates, o pai da Medicina moderna, ‘Que o teu alimento seja o teu medicamento’, o que significa que a alimentação desempenha um papel central na nossa saúde. Os probióticos ajudam a manter um ambiente intestinal saudável, produzindo ácidos gordos de cadeia curta, que fortalecem a barreira intestinal e impedem a permeabilidade excessiva. Isso significa que um intestino saudável pode selecionar e absorver os nutrientes essenciais dos alimentos, enquanto impede a absorção de substâncias prejudiciais. Ao garantir uma flora intestinal equilibrada e saudável, os pré e probióticos contribuem para a saúde digestiva, a absorção adequada de nutrientes e até mesmo para o fortalecimento do sistema imunológico. Em que consiste a modulação hormonal? A modulação hormonal é um conjunto de técnicas e estratégias utilizadas para otimizar o funcionamento das hormonas no organismo. Para que as hormonas funcionem adequadamente, é necessário que o organismo esteja em equilíbrio e que os diversos pilares de saúde estejam bem estabelecidos. Estes pilares incluem uma alimentação adequada e equilibrada, prática regular de exercício físico, gestão eficaz do stress, sono de qualidade e outros hábitos saudáveis. Assim, a modulação hormonal procura promover esse equilíbrio hormonal através de uma abordagem integrada. É importante entender que a modulação hormonal precede a reposição hormonal. Antes de considerar a reposição hormonal, é essencial garantir que os pilares da saúde estejam bem estabelecidos e que o organismo esteja em condições ideais para responder à terapia hormonal, quando necessário. A modulação com reposição de hormonas bioidênticas, sempre que os pacientes se beneficiem, é algo muito presenta na minha prática diária. Que suplementos deveríamos privilegiar, seja qual for a fase da vida? É importante destacar que a escolha de suplementos deve ser feita de forma criteriosa e orientada por um profissional de Saúde qualificado. Ao considerar os suplementos a serem priorizados em qualquer fase da vida, é essencial entender as necessidades individuais de cada pessoa. As análises clínicas são fundamentais para identificar deficiências nutricionais específicas e orientar a suplementação de forma personalizada. Dito isto, se eu tivesse de destacar três suplementos que geralmente são importantes para a maioria das pessoas, independentemente da fase da vida, escolheria a vitamina D, o magnésio e o selénio. A vitamina D desempenha um papel fundamental na saúde óssea, imunidade e regulação hormonal. No entanto, as doses devem ser ajustadas individualmente com base nos níveis sanguíneos dessa vitamina. O magnésio é essencial para mais de 300 reações enzimáticas no organismo e muitas pessoas têm deficiência deste mineral devido ao estilo de vida moderno e à alimentação que praticam. O selénio é importante para a função da tiroide e tem propriedades antioxidantes, ajudando a proteger as células contra danos. A manipulação é uma das opções disponíveis para a prescrição de suplementos. Uma das principais vantagens é a capacidade de personalizar a terapêutica de acordo com as necessidades específicas de cada pessoa. Ao contrário dos suplementos padronizados disponíveis nas farmácias, onde as dosagens são pré-determinadas, na manipulação é possível ajustar a dose exata, a duração do tratamento e até mesmo a forma de administração, conforme as necessidades do paciente. O cortisol, conhecido como a hormona do stress, pode ter um impacto significativo no ganho de peso? Quando comemos, o nosso corpo aumenta a produção de glicose, o que desencadeia a libertação de insulina para processar o excesso de glicose. O cortisol, que está intimamente ligado à insulina, também é aumentado em resposta à ingestão de alimentos. Portanto, cada vez que comemos, estamos não só a aumentar os níveis de insulina, mas também de cortisol. Esse ciclo pode levar a uma tríade de hiperglicemia, hiperinsulinismo e hipercortisolismo. Além disso, o stress crónico pode levar a um aumento prolongado dos níveis de cortisol, o que pode contribuir para o ganho de peso e para a dificuldade em perdê-lo. O cortisol excessivo pode levar ao armazenamento de gordura abdominal, aumentar o apetite por alimentos ricos em açúcar e gordura e desregular o metabolismo, tornando mais difícil para o corpo queimar calorias de forma eficiente. Portanto, o stress crónico pode levar a uma alimentação emocional e a escolhas alimentares menos saudáveis, exacerbando ainda mais o ciclo do cortisol e contribuindo para o aumento de peso. É também pós-graduada em Medicina Estética e Anti-aging. Há uma correlação entre todas estas áreas quando falamos, por exemplo, de processos como o ‘inflammaging’? A manifestação dos sinais visíveis de envelhecimento, como flacidez da pele, rugas e outros, são reflexos do que está a acontecer dentro do nosso organismo, portanto eu sigo sempre uma lógica de abordar o envelhecimento de ‘dentro para fora’. A inflamação crónica é um desses fatores internos que contribuem para o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de doenças. A influência dos hábitos de vida, como a alimentação, o exercício físico e a qualidade do sono, na modulação dos processos inflamatórios é fundamental. Além disso, as análises podem fornecer noções valiosas sobre os níveis de inflamação no corpo e ajudar a prever o desenvolvimento de certas doenças. É importante destacar que, apesar da influência da genética, a epigenética desempenha um papel significativo na expressão dos genes relacionados com a saúde e com o envelhecimento. Cerca de 75% da nossa saúde é influenciada por fatores epigenéticos, que podem ser modificados através de escolhas de estilo de vida saudável. A abordagem da Medicina funcional procura reduzir essa inflamação crónica, promovendo o equilíbrio do corpo e retardando os efeitos do envelhecimento. A Medicina Estética, por sua vez, potencializa os efeitos da abordagem funcional ao promover procedimentos estéticos que atuam em conjunto com hábitos saudáveis e cuidados internos. Morada: Av. D. João II, 404 Piso 4 – Sala 43 Pólo de Negócios Braga – Clínica SmileCare & AV Clinic Contacto: 938 664 255 (chamada para a rede móvel nacional) Instagram: @dra.anavilaca “Quando a última luz se apaga ela ainda está lá, com a mesma energia da manhã. É desse amor que a Dona Petisca é feita” “Das doenças autoimunes ao equilíbrio hormonal, a Osteopatia oferece um cuidado abrangente em todas as idades”
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