Cirurgia “A missão da Cirurgia Vascular e da Flebologia Estética é devolver a liberdade de caminhar sem dor, de usar uma saia sem receio e de viver sem esconder o corpo” By Revista Spot | Novembro 4, 2025 Novembro 6, 2025 Share Tweet Share Pin Email As pernas pesam, o inchaço instala-se, a dor silenciosa dos dias longos é tida como “normal”. Mas não é. Durante décadas, varizes, derrames e suor excessivo foram aceites como parte inevitável da vida. Hoje, essa visão está a mudar. A nova Cirurgia Vascular olha o corpo de forma integrada, unindo ciência, tecnologia e sensibilidade. Cirurgiã Vascular, Filipa Jácome vê em cada paciente uma história de vida e acredita que cuidar da saúde é também devolver liberdade: a de caminhar sem dor, a de usar uma saia sem receio, a de viver sem esconder o corpo. Numa era em que o avanço tecnológico redefine a medicina, a especialista destaca o valor dos procedimentos minimamente invasivos, capazes de tratar com precisão, sem dor nem internamento. Entre a flebologia estética, o lipedema e a hiperidrose, fala-se hoje de saúde vascular com uma visão mais ampla, que vai além da estética. “O verdadeiro propósito da Cirurgia Vascular é este: devolver qualidade de vida, a confiança no espelho e a liberdade de viver sem dor”, resume a cirurgiã. O que é que a levou a escolher a Cirurgia Vascular e a interessar-se pela flebologia? Desde cedo no meu percurso académico tive um interesse especial pelas áreas cirúrgicas, em especial a Cirurgia Vascular, com o seu vasto espetro de patologias e técnicas cirúrgicas. Tive a oportunidade de realizar a minha formação especializada nesta área, aprender e evoluir ao lado de colegas que se tornaram mentores, e me permitiram desenvolver competências em várias áreas da Cirurgia Vascular, nomeadamente na flebologia. A flebologia tem evoluído de uma forma notável e apresenta vertentes funcionais e estéticas indissociáveis. Hoje, dispomos de técnicas minimamente invasivas que nos permitem tratar de forma eficaz uma doença tão complexa e frequente como a doença venosa crónica, alcançando simultaneamente excelentes resultados clínicos e estéticos. A combinação de diferentes técnicas ajustadas a cada caso é um desafio constante, mas também extremamente motivador. E, no final, ver a melhoria da qualidade de vida e a satisfação dos pacientes é, sem dúvida, a maior recompensa e o que me inspira a continuar a evoluir e a aperfeiçoar competências nesta área. Durante décadas a cirurgia de varizes foi associada à necessidade de internamento e a um pós-operatório com limitações. Houve uma grande evolução nos últimos anos? De facto, durante muito tempo a cirurgia de varizes era um procedimento mais invasivo, que implicava a realização de múltiplas incisões (“cortes”) e suturas, internamento e ainda um período de recuperação bastante prolongado, marcado por dor, desconforto e com limitações nas atividades diárias. Atualmente, graças aos avanços tecnológicos e à evolução das técnicas minimamente invasivas, esta realidade mudou completamente. Os tratamentos são realizados através de pequenas incisões, sem suturas, com mais segurança, sem necessidade de internamento e retomando praticamente de forma imediata as atividades do dia a dia. A introdução de métodos como a ablação térmica endovenosa (por laser ou radiofrequência), a escleroterapia com espuma e a injeção de cola de cianoacrilato transformaram a abordagem da doença venosa, tornando-a mais segura e menos invasiva. Mais recentemente, o CLACS (crio-laser e crio-escleroterapia) trouxe também importantes avanços no tratamento de varizes e derrames, com excelentes resultados estéticos. No entanto, é importante salientar a importância da abordagem inicial do paciente que deve ser sempre personalizada – a avaliação clínica e realização de Ecodoppler venoso são essenciais para entender a doença e planear o tratamento adequando a cada caso. Tratar varizes e derrames é, antes de tudo, uma questão de saúde, mas tem também uma componente estética. A integração entre Cirurgia Vascular e Estética Médica revela-se fundamental? A flebologia estética é uma das áreas mais desafiantes da Cirurgia Vascular, na qual a obtenção de bons resultados funcionais no tratamento da doença venosa é a pedra basilar, mas indissociável da estética e bem-estar. Apesar das varizes e derrames serem referidos muitas vezes apenas como uma questão estética, é importante salientar que estas são manifestações clínicas de uma doença crónica, que cursa tipicamente com dor, edema e sensação de pernas cansadas e que vai progredindo ao longo do tempo se não for tratada. Atualmente, a flebologia estética combina procedimentos minimamente invasivos que tratam a doença venosa de forma global, sendo primariamente tratadas as varizes mais profundas (por vezes nem são visíveis a olho nu) e posteriormente os derrames, mais superficiais e esteticamente incómodos, como dizemos muitas vezes “tratar de dentro para fora”. O resultado é mais do que ter pernas saudáveis: é maior autoestima e liberdade. Muitas vezes há pacientes que já não usavam saias há vários anos e passam a usar, o que é sempre uma grande felicidade para as pacientes e muito gratificante para o Cirurgião Vascular que as acompanha. “Varizes e derrames são manifestações de uma doença crónica que progride se não for tratada” A confiança e empatia são essenciais na relação médico-paciente, sobretudo em áreas tão sensíveis como a flebologia e o lipedema? A relação de confiança é a base de qualquer tratamento, sobretudo em áreas como a flebologia ou o lipedema, nas quais os impactos físicos e emocionais da doença estão intimamente relacionados. Procuro sempre que os pacientes se sintam ouvidos, compreendidos e envolvidos no seu tratamento. Explico cada passo com transparência, clarifico as opções terapêuticas e o que podem esperar realisticamente dos resultados. Acredito que a empatia e o tempo dedicado à consulta são fundamentais, quando o paciente sente que existe interesse genuíno e compreensão, o medo e a insegurança dão lugar à confiança e tranquilidade. Apesar de afetar milhões de mulheres, o lipedema continua a ser uma condição subdiagnosticada. Que sinais clínicos devem despertar suspeita e que impacto tem o diagnóstico precoce na qualidade de vida das pacientes? O lipedema é uma patologia reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, crónica e progressiva, que afeta quase exclusivamente mulheres. Estima-se que afete pelo menos 11% da população feminina mundial. Carateriza-se pela acumulação desproporcional de gordura ao nível dos membros inferiores, mas também pode ocorrer nos membros superiores (ainda que com menor frequência). Associa-se a dor ou hipersensibilidade ao toque, dificuldade em perder volume nos membros, pele com aspeto de “casca de laranja” e, por vezes, perceção de nódulos de gordura. Com o tempo, o peso e o desconforto podem provocar limitação funcional com impacto na qualidade de vida, na autoestima e na sensação de bem-estar. A avaliação especializada por um Cirurgião Vascular especializado é essencial para realizar o diagnóstico e excluir outras patologias. Quanto mais precoce for o diagnóstico de lipedema, mais cedo se pode iniciar o tratamento adequado, prevenindo a progressão da doença, aliviando os sintomas e alcançando resultados potencialmente melhores e mais sustentáveis a longo prazo. O lipedema não tem cura definitiva, mas tem tratamento. Quais considera serem, neste momento, os componentes mais importantes do tratamento, e que mensagem deixaria a quem vive com esta condição? Embora ainda não se conheça a fisiopatologia exata do lipedema e não haja cura definitiva, os avanços no diagnóstico e no tratamento têm permitido um controlo cada vez mais eficaz da doença. O aumento da consciencialização e reconhecimento da doença e a especialização de certos médicos nesta área nos últimos anos foram também muito importantes. O tratamento conservador (não cirúrgico), pelo qual se inicia sempre o tratamento, combina sessões de fisioterapia, exercício físico orientado e alimentação anti-inflamatória, podendo associadamente também realizar tratamento farmacológico dirigido, resultando em redução da dor, redução do volume e melhoria da mobilidade. Em casos específicos em que os resultados obtidos não são satisfatórios, o tratamento cirúrgico com lipoaspiração específica para lipedema tem mostrado ótimos resultados, contribuindo para a melhoria de sinais e sintomas. No entanto, deve ser sempre considerada como complemento e não substituindo o tratamento conservador. A minha mensagem para os pacientes com lipedema seria que o lipedema é uma doença, e não alterações que surgem por falta de esforço ou de autocuidado. Portanto, deve ser encarada sem culpa ou complexo e com o foco na melhoria da saúde e autoestima. Com acompanhamento especializado e personalizado, é possível controlar os sintomas e melhorar muito a qualidade de vida. O mais importante é não desistir de se cuidar e procurar apoio especializado. “O lipedema não é sinónimo de falta de esforço ou de autocuidado” A transpiração excessiva é muitas vezes subvalorizada, mas tem impacto real na autoestima e na vida social. De que forma é possível devolver conforto e segurança a quem vive com hiperidrose? A transpiração excessiva ou hiperidrose é uma condição em que as glândulas sudoríparas produzem suor em excesso. Pode afetar várias áreas do corpo, mas mais frequentemente mãos, pés e axilas e tem um enorme impacto na vida social e profissional, muitas vezes causando baixa autoestima, ansiedade e isolamento. No entanto, a medicina atual oferece soluções minimamente invasivas e altamente eficazes que tratar a hiperidrose de forma duradoura e segura. Uma das tecnologias mais relevantes é o MiraDry®, um procedimento que utiliza energia de micro-ondas para eliminar de forma permanente as glândulas sudoríparas das axilas. O tratamento é realizado em consultório, com anestesia local e oferece resultados definitivos, podendo o paciente retomar de imediato a vida normal. Relativamente à hiperidrose palmar (mãos) e plantar (pés) existe atualmente o Palmadry®, que utiliza iontoforese para reduzir a atividade das glândulas sudoríparas. É um tratamento não invasivo, indolor e com resultados progressivos e duradouros. Estas opções vêm juntar-se a outros tratamentos já bem estabelecidos, como a toxina botulínica e a simpatectomia torácica, permitindo uma abordagem personalizada para cada tipo de hiperidrose. Que mensagem gostaria de deixar a quem sofre de excesso de suor, mas sente vergonha ou receio de procurar ajuda? A hiperidrose continua a ser uma condição pouco falada, mas pode ter um grande impacto na autoestima, nas relações pessoais e até no desempenho profissional. Muitos pacientes evitam apertos de mão, evitam o contacto físico, trocam constantemente de roupa ou sentem medo de aparentar “nervosismo”. Assim, é importante realçar que hoje existem soluções seguras e eficazes, que podem mudar completamente a vida destes pacientes. Por isso, o primeiro passo é procurar um especialista em Cirurgia Vascular com experiência na área, para avaliar o caso e definir a melhor abordagem. Após tratarem varizes, derrames ou lipedema, muitas mulheres referem sentir-se “mais leves”, física e emocionalmente. Cuidar do corpo é também uma forma de reequilibrar a relação com a própria imagem e identidade? Muitas das pacientes que me procuram já convivem há anos com sintomas de varizes, derrames ou lipedema. No entanto, não são apenas os sintomas físicos que as levam a agendar consulta, é também o impacto emocional que estas alterações causam na sua vida diária e na forma como se vêm. Quando tratamos eficazmente estas patologias, não estamos apenas a aliviar desconforto e dor, estamos também a devolver conforto, confiança, autoestima e liberdade. Voltar a vestir uma saia sem complexos, ou chegar ao fim do dia sem dor ou edema, tem um valor imenso, é uma transformação não só física, mas também emocional. Acompanhar e contribuir para esse processo é, sem dúvida, uma das partes mais gratificantes da minha profissão. “A transpiração excessiva pode ter um grande impacto na autoestima, nas relações pessoais e até no desempenho profissional” A Cirurgia Vascular está em constante evolução. Que tendências acredita que irão marcar o futuro da especialidade? Acredito que o futuro da Cirurgia Vascular passará pelo desenvolvimento de técnicas cada vez menos invasivas, mais personalizadas, com melhores resultados e mais duradouros. Adicionalmente, penso que a inteligência artificial terá um papel cada vez mais relevante no apoio ao diagnóstico, na análise de imagens médicas e no planeamento cirúrgico, permitindo decisões mais precisas e seguras. A formação contínua através da realização de cursos, participação em congressos, formações com outros profissionais de saúde, bem como a participação em trabalhos de investigação são fundamentais para evoluir, adquirir novas competências e oferecer os tratamentos mais atuais. É assim que sinto que posso contribuir de forma crescente para oferecer os melhores cuidados a quem me procura. Instagram: @drafilipajacome.vascular Allure Clinic Av. da Boavista, nº 117, Piso 4, sala 406, Piso 6, sala 605, 4050-115, Porto Contactos: +351 227 664 982 | +351 227 662 751 (chamada para a rede fixa nacional) + 351 964 282 606 (chamada para a rede móvel nacional) PDauto: 20 anos a conduzir o futuro do aftermarket automóvel Entre a alma da arquitetura e a tecnologia que humaniza, a Clínica Nery do Vale é o rosto da medicina dentária do futuro
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