Design de Interiores Maria de La Salete Rodrigues: “A tecnologia tem influenciado de forma significativa o design de interiores, permitindo espaços mais eficientes, confortáveis e personalizados” By Revista Spot | Novembro 3, 2023 Novembro 4, 2023 Share Tweet Share Pin Email O design de interiores é um universo em constante evolução, adaptável às transformações sociais, tecnológicas e ambientais da sociedade. Maria de La Salete Rodrigues, CEO e designer de interiores da Global Interior Design, explora as mudanças notáveis do setor numa entrevista sobre as tendências que estão a moldar os espaços de hoje e do futuro. O design de interiores passou por uma transformação notável nos últimos anos. Considera que o interesse e conhecimento das pessoas por esta área tem vindo a crescer? O design de interiores sempre teve um papel importante na sociedade. Esta recente transformação e crescimento deve-se ao fato de as pessoas procurarem cada vez mais o bem-estar, o equilíbrio entre o físico e o espiritual e a necessidade de estar com pessoas e recebê-las em casa. A pandemia também despertou para novas reflexões e mostrou-nos como a ‘nossa casa’ nos poderá dar o equilíbrio, sendo o nosso porto de abrigo. Se o design de interiores vem para ajudar a reconfigurar e dar sentido aos espaços, atualmente tem exercido um papel de atividade transformadora e geradora de benefícios palpáveis e abrangentes. As pessoas estão cada vez mais interessadas e procuram estar informadas, o que é muito positivo. Que vertentes valorizam as pessoas hoje em dia? As pessoas valorizam cada vez mais espaços funcionais, práticos e que traduzam, acima de tudo, a sua identidade. As salas são muito importantes, bem como os escritórios, mas ultimamente as pessoas privilegiam cada vez mais o conceito ‘open kitchen’, que torna o ambiente mais generoso e promove a comunicação entre a família. Questões como o conforto e o bem-estar potenciados por soluções tecnológicas tornaram-se fundamentais? Sim. As soluções tecnológicas têm influenciado o design de interiores de maneira significativa e positiva, permitindo espaços mais eficientes, confortáveis e personalizados. É uma intersecção espetacular que continuará a evoluir, pois vão surgindo sempre inovações. Nos dias de hoje temos a possibilidade de otimizar consumos de energia, podemos ter sistemas de segurança bastante eficientes com fechaduras eletrónicas e sensores integrados, podemos adaptar no mobiliário carregadores sem fios, portas USB, sistemas de som. São inúmeras as possibilidades que podemos e devemos considerar. Assim como a sustentabilidade? Completamente. À medida que a consciência ambiental cresce de forma global, cresce também o nosso foco nessa área. Integrar práticas sustentáveis no design de ambientes não só melhora a qualidade de vida das pessoas, como beneficia o meio ambiente levando também à redução de custos a longo prazo. Existem algumas medidas que podemos adotar na concretização do projeto e que estão facilmente ao nosso alcance, como o uso de materiais sustentáveis e o fabrico em empresas nacionais. Além disso, é importante promover a ventilação adequada para melhorar a qualidade do ar interior e integrar tecnologias solares passivas para reduzir a necessidade de ar condicionado. A inclusão de plantas naturais nos ambientes é outro elemento positivo, não apenas do ponto de vista estético, mas também para a melhoria da qualidade do ar. O uso de tintas e vernizes ecológicos, com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, é igualmente uma opção a considerar, entre outras medidas. Qual deve ser, no seu entender, a principal missão do design de interiores? O design de interiores potencia e valoriza os espaços sendo multidisciplinar e abrangente. Foca-se não apenas na estética, mas também na experiência humana, na funcionalidade e na sustentabilidade dos espaços criados. Mais do que criar espaços agradáveis, é sobre compreender e responder às necessidades e aspirações das pessoas, melhorando as suas vidas quer ao nível do conforto, promovendo o bem-estar físico e emocional, quer ao nível da segurança, ergonomia e acessibilidade. Um projeto deve ser a materialização dessa tríade completa entre idealizar, criar e acrescentar para lá do óbvio? Esta tríade faz parte da concretização de todos os processos criativos e descreve o processo de trabalho. Em primeiro lugar, numa reunião com o cliente, concebemos uma ideia que parte sempre de algo que nos desperta o caminho, nomeadamente experiências pessoais, necessidades específicas, preferências de cores, ou mesmo a atividade profissional. Esta fase inicial é fundamental para traçar o caminho a ser seguido. De seguida, a fase de criação, envolve a transformação da ideia em realidade. Há sempre um trabalho de pesquisa, vários esquissos, entre outras atividades, que garantem que o espaço que estamos a criar se adapta às necessidades particulares daquela família. Depois de a criação estar pronta, acrescentamos. Neste ponto, é possível aprimorar a funcionalidade e a estética do projeto, incorporando elementos que assegurem um output tecnológico de forma a que um projeto seja também inovador e ‘fora da caixa’. Estas três etapas formam um ciclo contínuo, e à medida que adicionamos valor, estamos a aperfeiçoar o projeto. Por vezes, novas ideias emergem, levando a novas criações e melhorias. O bom design reside na capacidade de instigar um sentido de familiaridade instantânea? Para mim, reconhecer que cada cliente é único e que os espaços devem refletir essa individualidade é muito importante. Nos meus trabalhos procuro que haja uma conexão significativa entre o projeto e o cliente, trazendo por vezes objetos com significado para quem lá vai habitar, que se traduzem em memórias, experiências e momentos especiais. É muito importante que a nossa casa conte a nossa história. Desafiam-na a folha em branco e a psicologia de entrar no mundo de alguém, auscultando-lhe os gostos, vivências e projeções pessoais? A folha em branco não é, na minha opinião, o ponto de partida ideal para o trabalho de design de interiores, porque a vida não é interrompida para se começar do zero quando se muda de casa. As pessoas trazem com elas uma história e o meu trabalho é ajudar a que a história continue. Quando inicio um processo de decoração de interiores com uma família, é inevitável que eu entre no mundo dessa família para que o trabalho reflita as personalidades de cada um. Há um trabalho de psicologia intrínseco ao meu trabalho para que consiga entender quais os objetivos, gostos, vivências anteriores e futuras. No fundo, é essencial que haja uma comunicação transparente entre todas as partes envolvidas para que todos esses elementos se traduzam num projeto bem-sucedido. Neste acompanhamento de A a Z de um projeto, que etapas considera fundamentais? A primeira, e mais importante etapa, é ouvir e perceber o cliente. Depois de entendermos bem a intenção do cliente, usamos o nosso know-how para interpretar e criar um projeto capaz de o surpreender. Uma vez definido o conceito, passamos ao desenvolvimento do projeto onde transpomos para o papel toda a estrutura, a forma, os materiais, e os detalhes que fazem parte do projeto. É uma fase onde existe muita ponderação porque destes dependem as mais valias que podemos criar para o cliente, garantindo uma boa relação qualidade/preço nas fases seguintes. Segue-se a apresentação ao cliente, do projeto idealizado e feito à medida, com todas as peças desenhadas, o estudo cromático, todos os tecidos, texturas e orçamento detalhado. Após aprovação, afinamos os últimos detalhes e damos início ao planeamento do trabalho que garante a coordenação das equipas para a materialização do projeto e toda a montagem. Esta é a etapa mais emocionante, onde várias equipas trabalham numa casa para dar cor e forma ao projeto idealizado. A cocriação de valor continua a ser um importante caminho? É o mais importante caminho, esta sinergia entre as várias equipas onde cada pessoa pode contribuir com o conhecimento especializado numa determinada área. Para além de acrescentar valor ao projeto, evitando erros e atrasos na sua concretização, leva a inovações mais significativas e relevantes. Oferece benefícios, mas também desafios e com isso conseguimos acrescentar muito ao projeto e ter um bom compromisso por parte dos parceiros, pois ao fazerem parte do processo estão mais envolvidos no resultado. Como descreveria o ‘seu design de interiores’ e principais influências? Cada projeto que crio é único e personalizado e reflete uma fusão de influências, desde o estilo pessoal do cliente até a arquitetura do espaço em questão. Contudo, aproveito bastante as viagens que faço, sendo elas de lazer ou trabalho, para trazer influências para os meus projetos. Considero que tudo o que nos rodeia nos inspira. Tenho sempre uma preocupação acrescida com a funcionalidade do espaço, com os materiais e texturas escolhidas e com as cores, pois são as cores que criam as atmosferas e os estados de espírito. Gosto sempre de personalizar os projetos com objetos de valor sentimental para o cliente, como fotografias e obras de arte, sempre que o orçamento assim o permite. Que tendências atuais do design de interiores considera mais interessantes e porquê? A tendência de utilizar materiais naturais no design e na arquitetura vai além de uma simples questão de estética ou estilo, pois incorpora uma sensação orgânica nos espaços, resultando em ambientes que são simultaneamente confortáveis, acolhedores e intemporais. Reflete também valores sobre a saúde, sustentabilidade e conexão com o ambiente natural. A tendência tecnológica representa um avanço significativo que agrega valor às habitações, tanto no processo de construção quanto no design de interiores. A rapidez com que a tecnologia evolui significa que novas tendências podem surgir a qualquer momento, exigindo que estejamos constantemente atualizados e informados. A tecnologia e a realidade virtual influenciam a forma como hoje são planeados e apresentados os projetos? Não influenciam a forma como é planeado o projeto, simplesmente são uma ferramenta que permite ao cliente uma visualização mais aproximada do resultado final, garantindo expectativas mais aproximadas da realidade. A tecnologia trouxe um avanço gigante para que os processos sejam realmente mais rápidos e assertivos. Além de proporcionar uma compreensão mais clara do que é proposto, ela permite realizar alterações em tempo real, experimentando diferentes layouts, configurações e cores, reduzindo assim consideravelmente o risco de insatisfação após a execução do projeto. Que tipo de projetos estão a desenvolver atualmente? Temos muitos projetos residenciais em andamento, andares modelo e assessoria em algumas obras em início de construção. Estamos a trabalhar em projetos empresariais e serviços de grande área que exigem um estudo e dedicação superiores. Estes trabalhos são particularmente desafiantes, uma vez que são direcionados ao grande público, e exigem uma responsabilidade significativa devido à sua abrangência. Como vê o futuro do design de interiores e que tendências antecipa para os próximos anos? Como muitas profissões, o design e a arquitetura continuarão a evoluir em resposta às mudanças tecnológicas, sociais e ambientais. Seremos sempre desafiados a criar espaços que atendam, não apenas às necessidades funcionais, mas também ao bem-estar, sustentabilidade e conexão humana. Serão projetados espaços cada vez mais flexíveis e multifuncionais de forma a otimizar as áreas cada vez mais reduzidas na construção que estamos a verificar em muitas cidades. Além disso, os projetos de design de interiores estarão cada vez mais sintonizados com a cultura, história e identidade local, e haverá uma ênfase crescente na integração com a natureza, seja por meio de elementos interiores naturais ou vistas panorâmicas para o exterior. Os escritórios e espaços de trabalho nas casas continuarão a ser uma necessidade e querem-se mais ergonómicos e otimizados, uma vez que o trabalho remoto se tornou uma realidade para muitas pessoas. Morada: Rua Barão de Trovisqueira 56, 4760-126 Vila Nova de Famalicão Contacto: 252 317 561 Facebook: Global Interior Design Instagram: @global_interior_design_ www.global.com.pt “A Epigenética e a inteligência artificial estão a revolucionar o antienvelhecimento” Pedro Claro, consultor da Loja da Energia: “A literacia energética é essencial para cumprir metas ambientais e economizar de forma informada”
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