SAÚDE/Saúde Infantil Laura Feio, Médica Dentista: “Não podemos continuar na cauda da Europa nos índices de saúde oral” By Revista Spot | Maio 26, 2023 Maio 26, 2023 Share Tweet Share Pin Email Quatro em cada dez portugueses não consultam o médico dentista ou o estomatologista há mais de um ano. Portugal é o segundo país da UE com mais pessoas com idades superiores a 16 anos com necessidades não satisfeitas a nível da saúde oral, que muitas vezes se repercutem em absentismo escolar e laboral. Além disso, estudos recentes revelam uma correlação entre uma má saúde oral e doenças como diabetes e doenças cardiovasculares. A médica dentista Laura Feio fala da importância da prevenção ao longo da vida e da necessidade de reverter esta posição que nos deixa na cauda da Europa nos índices de saúde oral… Portugal deve começar a colocar a saúde oral na ordem do dia? Em Portugal, quatro em cada dez residentes não consultam o médico dentista ou o estomatologista há mais de um ano, revela o Barómetro da Saúde em 2021 Oral realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), segundo o qual 9% de todos os portugueses adultos não têm dentes, especialmente as mulheres, cuja maior longevidade explica parcialmente este fenómeno. Num ano marcado pela pandemia de covid-19, a percentagem de portugueses que não foram a consultas nos últimos 12 meses subiu quase cinco pontos percentuais, face aos valores de 2019. Os dados do Barómetro de Saúde Oral, mostram também, que 17% dos portugueses diminuíram o número de idas a consultas de saúde oral, sendo que destes, 56,5% justificam a redução com a pandemia e 9,8% com questões monetárias. Relativamente às crianças, ainda é mais preocupante, com a percentagem de 73,4 % de menores de 6 anos que nunca visitaram um profissional de saúde oral. São várias as repercussões que estes problemas podem acarretar, fazendo consumir recursos que deveriam com vantagem estar incluídos num programa abrangente de saúde oral. Rastreios periódicos identificariam atempadamente lesões orais malignas que acabam sempre em intenso sofrimento, tratamentos extremamente onerosos e perda de vidas. Os problemas psicológicos relacionados com a aparência da própria pessoa quando tem falta de dentes anteriores, interferindo com a sua autoestima e motivando a procura de apoio psiquiátrico e de medicação auxiliar, são outro fator a ter em conta. Apesar da saúde oral em Portugal estar inserida em insuficientes e escassos programas de cuidados de saúde primários, a maioria desses serviços de estomatologia ou medicina dentária continuam a ser prestados pelo setor privado, o que constitui, por si só, uma barreira na acessibilidade aos cuidados de saúde oral. Em simultâneo, temos um excesso de médicos dentistas, que estão a ser formados (mais de 600 por ano!) para o desemprego, subemprego e trabalho precário. Entretanto, nos 28 hospitais do SNS com Serviços de Estomatologia, local por excelência para cuidados diferenciados, e onde os médicos estão integrados na tão desvalorizada carreira médica do SNS, existe uma esforçada população de cerca de 150 especialistas em estomatologia e cerca de 60 médicos internos da especialidade, que têm feito o “milagre” de, além de tratar os doentes internados e os doentes que apresentam problemas orais em contexto de multipatologia, polimedicação e “necessidades especiais”, ainda dar a cobertura (im)possível aos doentes que os cuidados primários não conseguem tratar, por manifesta falta de profissionais de saúde oral. Em Portugal este problema já deveria estar ultrapassado há muito, mas as políticas escolhidas tardam a acabar com este paradigma. A prevenção é a melhor solução para evitar problemas? O segredo de uma boa saúde oral reside na prevenção. Esta máxima está para a saúde oral como está para a saúde geral de qualquer pessoa. Portanto, a prevenção só é possível com visitas regulares ao médico dentista. Detetado algum problema, e por conta de se fazerem visitas regulares, esse problema é resolvido sempre de forma mais fácil, mais conservadora e menos invasiva. Com que periodicidade deverão acontecer as consultas de rotina? Recomenda-se a visita regular ao médico dentista, pelo menos de 6 em 6 meses. Procura-se, com esta regularidade, atuar de forma preventiva com relação ao aparecimento da cárie dentária e outras possíveis patologias. Quão importantes se revelam? Esta visita representa o momento de fazer uma higiene oral em consultório dentário (destartarização). Simultaneamente, o médico dentista faz uma avaliação geral do estado de saúde oral, deixando as recomendações mais indicadas a cada pessoa. Uma investigação recente revela que uma má saúde oral está diretamente relacionada com doenças sistémicas, entre as quais a diabetes, a obesidade e a asma, e cinco tipos de cancro. Que hábitos diários devemos ter para prevenir problemas? As bactérias da placa bacteriana são as causadoras das doenças das gengivas: as doenças periodontais. A inflamação das gengivas pode começar por ser um fenómeno local, na cavidade oral, mas a ligação das gengivas ao resto do organismo é evidente para todos e acontece através da corrente sanguínea. As bactérias causadoras destas doenças e as substâncias que elas produzem podem ter acesso ao sangue, até porque as doenças periodontais estão associadas a sangramento gengival. Assim se explica como se pode passar da inflamação local à inflamação em partes do corpo humano distantes da boca. Além disso, se as doenças das gengivas não forem tratadas, este fenómeno torna-se crónico e poderá relacionar-se com outras doenças crónicas graves. A associação entre as doenças periodontais e as doenças sistémicas designa-se de “medicina periodontal” e é uma área que se começou a desenvolver no início da década de 1990 e, desde essa altura, tem sido sempre foco de estudo. Neste momento, existem 57 patologias gerais que de alguma forma se relacionam com as doenças periodontais. As mais estudadas são: doenças cardiovasculares, diabetes, partos prematuros, certas demências, doença renal crónica, artrite reumatoide, infeções pulmonares e alguns tipos de cancro. Está provado que o tratamento das doenças periodontais se associa à melhoria dos parâmetros de várias doenças, nomeadamente cardiovasculares. A consciencialização para uma boa saúde oral deve começar logo na infância? Sem dúvida alguma que a higiene oral começa na infância. Ter este cuidado é meio caminho andado para um adulto feliz e saudável. Os pais e cuidadores devem, por isso, ter conhecimento e consciência da necessidade de cuidados preventivos adequados. Infelizmente algumas crianças que procuram atendimento pela primeira vez na Clínica têm já cáries graves na primeira infância. Atualmente, a forma como os pais encaram a saúde oral dos filhos é ainda variável. A maioria dos pais classifica a saúde oral das crianças como sendo boa, dizendo que efetuam a sua higiene oral todos os dias. Mas será que isso chega? Claramente não, até porque muitas vezes temos crianças com várias cáries e os pais consideram que todos os hábitos alimentares e de higiene oral estão a ser cumpridos. Há uma grande necessidade de consciencializar a população mais jovem para a urgência de implementar cuidados de forma a que um dia sejam adultos com uma dentição saudável. Para ajudar a conseguir este objetivo, pais e cuidadores devem assegurar a correta higienização oral, enquanto as crianças “não são capazes de o fazer”. Por outro lado, é importante que os responsáveis adotem uma atitude positiva na higiene oral e na forma como esta deve ser executada, bem como com os hábitos alimentares. 70% das crianças com menos de 6 anos nunca foram ao médico dentista. Com que idade devem acontecer as primeiras visitas ao dentista? A primeira consulta deve ser realizada quando os primeiros dentes temporários, ou “de leite”, erupcionam ou, no máximo, até à criança completar o primeiro ano de vida, de modo a estabelecer um programa preventivo de saúde oral e intercetar hábitos que possam ser prejudiciais. Idealmente, quando existe uma boa saúde oral, a criança deve ser observada a cada seis meses. Em situações de elevado risco de cárie, esta periodicidade deve ser reduzida para intervalos de três meses. Em média, a erupção da primeira dentição tem início entre os 6 e os 8 meses de idade, sendo as meninas geralmente mais precoces; entre os 2 anos e meio e os 3 anos de idade os 20 dentes temporários já estarão presentes na cavidade oral. A dentição permanente ou definitiva inicia-se entre os 5 e os 7 anos e poderá constituir-se de 32 dentes, caso erupcionem os terceiros molares (sisos), o que nem sempre ocorre. A erupção mais precoce ou tardia não está necessariamente relacionada com patologia; no entanto, caso a criança não apresente qualquer dente após completar um ano de vida, deverá ser observada na consulta de medicina dentária. “A primeira consulta deve ser realizada quando os primeiros dentes temporários, ou ‘de leite’, erupcionam ou, no máximo, até à criança completar o primeiro ano de vida” Grávidas e bebés são um público que deve estar especialmente atento a estes cuidados de saúde oral? A gravidez é um período de grande alegria e emoção. No entanto, sabemos que é também uma fase que traz consigo muitas dúvidas e preocupações que tomam conta dos pensamentos de qualquer casal. O resultado é o expectável: algumas questões são relegadas para segundo plano, como pode ser o caso da saúde oral. Contudo, a grávida não deve cometer este erro. A sua saúde é tão importante quanto a do seu bebé, especialmente porque ele depende da mãe para um desenvolvimento saudável. E a saúde oral não é exceção: Uma infeção oral pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebé. A higiene oral na gravidez é a mais eficaz medida preventiva para evitar infeções da cavidade oral. A mãe pode infetar o bebé por meio de microrganismos provenientes de doenças infeciosas como a cárie dentária e doenças periodontais. Devem iniciar-se com conselhos pré-natais aos futuros pais sobre a importância de manter uma boa saúde oral. Os cuidados de saúde oral infantil devem ser vistos como a base para uma educação preventiva que proporcione as condições normais para um ótimo crescimento, desenvolvimento e funcionamento. Mesmo antes da erupção dos dentes, devem limpar-se as gengivas do bebé com uma gaze humedecida com água, pelo menos uma vez ao dia, preferencialmente à noite, bem como estabelecer hábitos corretos de alimentação. Integrar atividades de promoção da saúde, e designadamente da saúde oral, na vida escolar permitirá induzir comportamentos mais saudáveis? Em Portugal, as preocupações centram-se nas populações jovens. Pretende-se que aumentem as suas defesas contra a cárie dentária, através do reforço dos fatores de proteção dos dentes e que adquiram comportamentos, a partir dos saberes e das motivações que lhes são proporcionados. Os cuidados de saúde oral infantil devem ser vistos como a base para uma educação preventiva que proporcione as condições normais para um ótimo crescimento, desenvolvimento e funcionamento. É importante sensibilizar desde cedo as crianças para a prática da higiene oral e para os problemas que afetam a saúde oral, a fim de tentar evitá-los ou minimizá-los. Assim a intervenção de promoção da saúde oral seria importante se fosse consolidada em ambiente escolar. A Escola, constituindo-se como um espaço seguro e saudável, facilita a adoção de comportamentos mais saudáveis, encontrando-se por isso numa posição ideal para promover e manter a saúde da comunidade educativa e da comunidade envolvente. O tártaro acontece quando a escovação diária é mal feita? O tártaro pode ser prevenido através da adoção de bons hábitos de higiene oral e de visitas regulares ao higienista oral ou ao médico dentista. O tártaro, também conhecido por cálculo dentário, é um depósito duro, de cor amarela ou castanha, que resulta da acumulação e calcificação da placa bacteriana. Instala-se na linha entre o dente e a gengiva, podendo também formar-se sob a gengiva, irritando os tecidos gengivais. Forma-se quando a placa bacteriana, uma película pegajosa, fina e incolor composta por bactérias, saliva e restos alimentares, que adere à superfície dos dentes — não é corretamente removida através de hábitos eficazes de higiene oral. Além de se tratar de um problema estético, por ser mais poroso e reter a pigmentação com maior facilidade, o tártaro tem consequências para a saúde dos dentes e gengivas. O tártaro pode causar múltiplos problemas, como mau hálito e patologias orais como a gengivite e a periodontite, que se traduzem no sangramento e inflamação dos tecidos gengivais e até na perda dos tecidos que suportam os dentes. Contrariamente à placa bacteriana, que não tem cor, o tártaro é visível acima da linha das gengivas. Por isso, o sinal mais evidente de tártaro nos dentes é a presença de uma coloração amarelada ou acastanhada na zona dos dentes e gengivas. Ainda assim, a forma mais indicada para detetá-lo com certeza e removê-lo será através de uma visita ao médico dentista. Apesar de todos os problemas que pode causar, a formação de tártaro pode ser prevenida ou limitada, adotando corretos hábitos de higiene oral diária, recorrendo a uma boa técnica de escovagem e de limpeza interdentária, seja através do uso de fio dentário e/ou de escovilhão, com vista a reduzir a acumulação de placa bacteriana e, consequentemente, de tártaro. Na realidade, tratam-se de hábitos que se devem adquirir e manter ao longo da vida, de forma a evitar a formação do tártaro e de outros problemas. Há, por isso, que: Escovar os dentes, duas a três vezes por dia, durante pelo menos dois minutos, trocar de escova de três em três meses, utilizar fio dentário ou escovilhão todos os dias. Uma vez formado, não há quaisquer produtos de higiene oral que possam eliminá-lo. A única forma de o remover é através de tratamentos que só podem ser realizados pelo higienista oral e/ou médico dentista, como a destartarização. No caso de tártaro que se aloje de forma mais profunda na gengiva, recorre-se a alisamentos radiculares, que, como o nome indica, removem os depósitos da área abaixo da linha gengival, na zona das raízes. Por isso, é aconselhável uma visita, de seis em seis meses, ao médico dentista para um check-up e para remoção de todo o tártaro, garantindo, assim, a saúde dos dentes e gengivas. Há um tratamento diferente para cada fase da cárie? O tratamento da cárie vai estar diretamente relacionado com a extensão da lesão. O tratamento inicial passa pela remoção dos tecidos cariados e afetados pelas bactérias, recorrendo-se a uma restauração direta com resinas compostas. Se a área afetada ocupar uma grande parte do dente, é provável recorrer à reconstrução do mesmo, através de uma restauração indireta, feita em laboratório de prótese dentária, que posteriormente é aderida ao dente. Em casos mais avançados, quando existe comprometimento da polpa (zona onde se encontram a parte nervosa do dente), o tratamento passará por um tratamento endodôntico (desvitalização) e posterior reconstrução com uma restauração direta ou indireta. A desvitalização (tratamento endodôntico) ocorre por comprometimento da zona central e profunda do dente, a polpa dentária. Este comprometimento ocorre por cárie ou trauma (que pode ter diferentes origens). Sempre que a polpa dentária se encontra afetada, o tratamento endodôntico (desvitalização) está indicado, e consiste na remoção do tecido afetado (por trauma, por exemplo) ou infetado por cárie, substituindo-o e preenchendo os canais radiculares com um material específico e biocompatível, que suportará a estrutura dentária. O que acontece, por exemplo, quando a periodontite não é tratada? As doenças periodontais são geralmente silenciosas, não estando associadas a dor, mesmo em fases avançadas. No entanto, há sinais e sintomas típicos destas doenças, que, muitas vezes, são desvalorizados pela ausência de dor. Na periodontite, dependendo da severidade da doença, os sinais e sintomas podem ser: gengivas avermelhadas, inchadas, que sangram durante a escovagem, a mastigação ou espontaneamente, sabor desagradável e mau hálito persistente, gengivas separadas dos dentes ou retraídas, com exposição da raiz e aparente, aumento do tamanho do dente, supuração (pus) entre o dente e as gengivas, aumento da sensibilidade ao frio, abcessos na gengiva, dentes a abanar, alteração da posição dos dentes, alterações na oclusão dentária (encaixe dos dentes superiores e inferiores), aumento de espaço entre os dentes com acumulação de alimentos e perda de dentes. “A periodontite caracteriza-se pela destruição progressiva do osso que suporta os dentes. Se não for tratada, os dentes podem começar a abanar e podem mesmo cair sozinhos.” Portanto, o diagnóstico precoce e tratamento da doença é fundamental. Controlar os fatores de risco também ajuda a prevenir o aparecimento da periodontite. Deixar de fumar, evitar ou reduzir o stress, ter uma alimentação saudável e praticar exercício físico podem desempenhar um papel importante. Aliás, parar de fumar é talvez a medida mais decisiva para prevenir o aparecimento da gengivite e da periodontite. A avaliação regular, por parte do médico dentista, das gengivas e dentes, da eficácia da higiene oral, da quantidade de osso à volta dos dentes (avaliada através de radiografias) e de outros fatores de risco é essencial. Se houver sinais de gengivite, o médico dentista pode iniciar o tratamento imediatamente. Se o tratamento for iniciado precocemente e a manutenção de uma correta higiene oral em casa for assegurada, a gengivite desaparece e não evolui para periodontite. Por outro lado, se já houver sinais de periodontite, o diagnóstico precoce faz toda a diferença. Infelizmente, o tratamento da periodontite não consegue restituir as estruturas que já foram destruídas pela doença, mas consegue parar a destruição. Por isso, quanto mais cedo for detetada a periodontite, melhor. As sequelas serão menores. Controlar os fatores de risco também pode ajudar a prevenir o aparecimento e o desenvolvimento da periodontite. Deixar de fumar, evitar ou reduzir o stress, ter uma alimentação saudável e praticar exercício físico podem desempenhar um papel importante. A ortodontia deu passos de gigante nos últimos anos, nomeadamente com soluções inovadoras como o tratamento Invisalign? A evolução na Ortodontia Digital está ao rubro. Começando no diagnóstico, chegando ao planeamento e até no próprio ato médico já é possível uma abordagem digital. Associando a inteligência artificial (AI) é hoje possível, por exemplo, realizar análises cefalométricas fidedignas sem intervenção humana. Programas evoluídos de AI conseguem a partir de uma simples radiografia realizar análises cefalométricas de forma automatizada. Também com um ficheiro dicom de CBCT é hoje possível diagnósticos básicos de estado de saúde oral realizados por inteligência artificial. Para o ortodontista podemos destacar dois benefícios imediatos: Menos tempo despendido no estudo ortodôntico e mais eficiência. A combinação de meios de diagnóstico digitais, tais como modelos virtuais, CBCT e as análises realizadas por IA permitem mais eficiência, exatidão e previsibilidade. Entendo toda esta evolução como uma grande ajuda no papel principal do ortodontista, mantendo este obviamente o papel principal no diagnóstico e tratamento de cada paciente. Atualmente, e muitas vezes motivados pelas redes sociais, os pacientes tendem a chegar às clínicas já com alguma informação e ideias pré-concebidas, alguns deles com informação menos correta ou científica. Cabe a cada um de nós valorizar a profissão, o ato médico e demonstrar que, apoiados na tecnologia atual, podemos atuar de forma segura e com resultados previsíveis. A ortodontia não mudou, continua a ser ortodontia onde 80% do sucesso é diagnóstico médico. O que evoluíram foram por um lado as “armas de diagnóstico”, com uma panóplia de exames que passaram a ser rotina e nos garantem maior segurança; e no âmbito dos tratamentos, os plásticos que estão a revolucionar as técnicas ortodônticas e a permitir um maior controlo nos movimentos ortodônticos. Posso destacar três vantagens dos alinhadores em relação aos brackets: melhor controlo de higiene e, consecutivamente, menos dano periodontal durante o tratamento ortodôntico; maior previsibilidade e possibilidade de sequenciar movimentos de uma forma mais simples; menos desconforto para o paciente com forças leves e intermitentes. Falando de pontos fracos: maior necessidade de colaboração do paciente e risco de baixa utilização; custo para o médico da aparatologia. A digitalização das clínicas está em franco crescimento. O número de scanners intraorais e CBCT está em crescimento exponencial. E muito mais do que a ortodontia, a digitalização abrange atualmente todas as especialidades da medicina dentária. A ortodontia direct to consumer veio para ficar e continuam a chegar ao mercado mundial diariamente marcas de novos conceitos deste tipo de tratamentos. Cabe às autoridades de cada país regular o mercado, definir o ato médico e proteger a população de danos graves, causados por prática de terapias médicas sem supervisão. Aos médicos dentistas e ortodontistas cabe o papel de esclarecer os pacientes, alertar para os riscos destes tratamentos desprotegidos. A abordagem em saúde oral é cada vez mais pluridisciplinar? Falo, por exemplo, da disfunção da articulação temporomandibular causada por problemáticas como o bruxismo… Os maxilares têm uma grande influência não só ao nível da estética da face ou da aparência do sorriso, mas também em funções como a mastigação, a fala e, até, a respiração. Neste sentido, o desequilíbrio destes ossos pode dar origem a complicações que, ainda que possam parecer comuns, afetam fortemente a qualidade de vida. Muitas pessoas habituaram-se a viver com queixas ou sintomas que desvalorizaram com o tempo ou que associaram a outras condições. Ainda assim, o que não se sabe é que vários problemas aparentemente comuns, como as dores de cabeça ou problemas no sono, podem estar relacionados com desequilíbrios nos maxilares. A solução pode passar, então, pela Ortopedia Funcional dos Maxilares, uma especialidade da medicina dentária que soluciona desequilíbrios ósseos, musculares e de funcionamento dos maxilares. Tendo isto em conta, existem três condições que podem estar relacionadas com problemas nos maxilares: Apneia do sono – Esta é uma perturbação respiratória que ocorre durante o sono e consiste na cessação do fluxo respiratório, durante mais de 10 segundos e mais de cinco vezes por hora. A sua principal consequência é a alteração do padrão do sono, uma vez que incapacita que se atinja um sono profundo e, assim, um bom repouso. A apneia pode estar diretamente relacionada com a incorreta posição dos maxilares que, desta forma, dificulta a circulação do ar sem interrupções e a postura durante o sono. Dores de cabeça e de face – Os desequilíbrios nos maxilares dão, muitas vezes, origem a dores de face, nomeadamente na zona entre as maçãs do rosto e a orelha. Além disto, estas podem vir acompanhadas de outros sintomas, como febre, dificuldade em mastigar, aumento da sensibilidade dos dentes e, eventualmente, vermelhidão e inchaço no local. Na maioria dos casos surgem também dores de cabeça. Problemas na fala – Alguns problemas relacionados com a fala podem surgir devido a má oclusão, isto é, devido a um desalinhamento ou falha no encaixe entre o maxilar superior e inferior. Assim, podem, por exemplo, manifestar-se dificuldades de dicção devido ao incorreto posicionamento da língua ou dificuldades em abrir a boca que afetam, naturalmente, o processo da fala. Em muitos casos, há a necessidade de contarmos com uma equipa multidisciplinar constituída por profissionais de medicina dentária, cirurgia Maxilo-facial, otorrinolaringologista, Terapia da Fala, Fisioterapia, entre outros. Desta forma, podemos assegurar que os nossos pacientes são tratados com as sinergias interespecialidades fundamentais para fornecermos a intervenção terapêutica mais eficaz. Saúde oral é também, muitas vezes, sinónimo de recuperação de autoestima? Uma boa saúde oral e um sorriso saudável e brilhante são o verdadeiro cartão de visita de uma pessoa. A autoestima resulta de um bem-estar físico e emocional provenientes da imagem, da aparência e da apresentação pessoal. Por isso, cuidar não só do corpo e da mente, mas também dar atenção especial aos dentes e ao sorriso, é imprescindível – além de que, a boca pode ser a porta de entrada para outras doenças que afetam o nosso corpo. Mais de 68% da população portuguesa sofre de problemas dentários. É um número bastante considerável e que se não forem tomadas medidas simples em relação aos cuidados básicos de higiene oral e ajuda profissional, podem causar perda dentária e provocar o desaparecimento do sorriso. Há imensas pessoas que adquirem o hábito de levar a mão à frente da boca quando falam ou sorriem, para esconder os seus problemas dentários ou até mesmo o mau hálito, mas que muitas vezes por falta de informação, não recorrem a nenhum tratamento. Convivem por anos e anos com essa situação de insegurança e mal-estar e não procuram ajuda para melhorar a sua saúde oral. É triste que uma população que está a aumentar a expectativa de vida não tenha cuidado com a sua boca e o seu sorriso, que além da estética, são tão importantes nas funções mastigatória e da fala. A saúde oral influência diretamente a fala e também a capacidade mastigatória. Problemas de dicção, mastigação comprometida, e consequentemente nutrição debilitada pelo evitar de certos alimentos difíceis de mastigar são, infelizmente, problemas bastante comuns. É um ciclo vicioso, por um lado a autoestima baixa leva à falta de cuidados com a saúde oral e o inverso. O facto de a idade chegar para todos não deve, de facto, ser motivo para não cuidar da aparência e da estética. Todos gostamos de olhar-nos no espelho e apreciar o que vemos – a nossa história está escrita em cada linha do nosso rosto, em cada mancha na pele, em cada ruga. E é essa história bonita que também é valorizada quando nos cuidamos, já que o nosso bem-estar se reflete na autoestima e também coloca um sorriso bonito no nosso rosto. Um sorriso bonito e saudável exige cuidados, como a correta higiene oral diária e as visitas regulares ao dentista. Sorriso bonito e bem cuidado, saúde oral em dia e autoestima para viver a melhor idade com toda a felicidade. Os dentistas estão a evoluir em tecnologia, técnicas e ferramentas? A próxima década verá a chegada dos diagnósticos tridimensionais, ter-se-á a oportunidade de localizar especificamente a doença e examinar o estado de saúde geral do paciente utilizando modelagem 3D. Ao invés de uma superposição tridimensional num filme de duas dimensões, exigindo uma enorme experiência para identificar a posição exata da enfermidade, a tomografia irá permitir um tratamento mais conservador e o mais direto possível. O aumento do cancro oral em grupos que previamente não eram considerados de risco (pessoas mais jovens, não fumadores, não bebedores, e as mulheres) é bastante alarmante. Uma observação rápida da cavidade oral durante o exame de rotina pode revelar alterações de tecidos suspeitos que tenham progredido. Infelizmente, muitas lesões epiteliais pré-cancerosas podem ocorrer sub superficialmente, ainda invisíveis a olho nu até que se desenvolvam e, nessa fase, a oportunidade da deteção precoce e uma intervenção menos invasiva já foram perdidas. A recente combinação de luzes LED de alta potência e filtração inovadora que utiliza a visualização de fluorescência natural já permite identificar anomalias clinicamente invisíveis. A técnica é não invasiva e não é desconfortável e, como tal, é bem tolerada pelos pacientes e ajuda a definir o padrão para técnicas de diagnóstico do futuro. Na cárie, a deteção precoce é a pedra angular da prática da medicina dentária. Quanto mais cedo se identificarem, mais cedo e de forma mais conservadora se podem tratar. Os métodos tradicionais para examinar as superfícies dentárias e cáries dentárias não se têm demonstrado como suficientes. Enquanto a luz do equipamento ilumina a dentição, o médico dentista tem duas opções básicas: ou as superfícies são brancas e é saudável, ou se a superfície é escura encontra-se cariado. A introdução de detetores de fluorescência alterou substancialmente os parâmetros de rastreio da cárie. Hoje em dia, utilizam-se técnicas não invasivas para visualizar totalmente a superfície do dente, localizar áreas problemáticas e identificar a gravidade da lesão. Esta modalidade de diagnóstico foca o médico dentista para áreas que necessitam de tratamento e quantifica o estado da doença. As interfaces de dente-restauração são normalmente muito difíceis de avaliar porque as amálgamas e resinas compostas podem confundir a interpretação visual. Num futuro próximo, a combinação de detetores de cárie inovadores e tomografia de campo reduzido vai proporcionar capacidades de diagnóstico que hoje não são imagináveis. Os lasers dentários renovaram a pequena cirurgia na prática da medicina dentária. Os benefícios desta tecnologia eram evidentes há muitos anos, mas os lasers eram pesados, difíceis de usar e muito dispendiosos. A revolução do díodo transformou a sua utilização. Modelos enormes e pesados tornaram-se unidades de bancada leves e de utilização prática, os protocolos complexos foram simplificados e os preços desceram substancialmente, passando a ser uma ferramenta comum a milhares de médicos dentistas. As vantagens dos procedimentos a laser aplicam-se a todas as áreas da medicina dentária. E o impacto pró-ativo dessas tecnologias minimamente invasivas está apenas a começar a ser explorado na medicina dentária preventiva. Já se veem lasers a serem utilizados para tratar tecidos duros como esmalte, dentina e osso. No futuro, estas indicações são suscetíveis de serem expandidas para que grande parte da energia utilizada no tratamento oral seja o feixe de luz em vez da rotação mecânica. Pode-se prever que a combinação de diagnósticos com tomografia, orientados para a intervenção de lasers com alta precisão, venham a ser “comandados” por médico dentistas através de unidades robotizadas. A tecnologia de foto-ativação pode estar a dar os primeiros passos, mas a pesquisa aponta para grandes benefícios quer para os pacientes quer para os médicos dentistas. Normalmente, estas técnicas são altamente pró-ativas e minimamente invasivas dos tecidos, tanto duros como moles. O conceito geral é que alguns comprimentos de onda de luz podem estimular e produzir respostas desejadas em determinados tecidos. Comprimentos de onda específicos podem ser aplicados na superfície do tecido (ou abaixo da superfície) para incentivar a cura ao estimular respostas benéficas e que conduzam à resolução de situações inflamatórias. Nas impressões dentárias, houve uma grande progressão com os polivinilsiloxanos, poliéteres e derivados de alginato. Tornaram-se agradáveis para o paciente e previsíveis para o médico. Durante a última década, os médicos dentistas começaram a digitalizar dentes preparados opticamente, em vez de os imprimirem fisicamente. Inicialmente, estas tecnologias eram muito dispendiosas, mas atualmente são mais acessíveis. A sua precisão e facilidade de uso estão a melhorar a prática clínica no dia a dia. A tendência previsível é que as impressões digitais, facilmente obtidas e transmitidas ao laboratório on-line, venham a substituir totalmente num futuro próximo as impressões tradicionais. Torna-se importante perceber que ter uma idade avançada não significa necessariamente ter problemas de dentes, muito menos não ter dentes e usar prótese? À medida que a idade avança ficamos mais predispostos ao desenvolvimento de determinados problemas orais. As pessoas idosas têm um risco acrescido de perder os dentes, de ter doenças das gengivas, cancro oral, problemas relacionados com as próteses dentárias e desnutrição. A boca seca também constitui um problema que pode ser causado pelo consumo de tabaco, álcool, bem como por alguns medicamentos. O efeito provocado pela boca seca pode ter um impacto significativo na qualidade de vida, afetando a forma como se pode comer, falar, engolir, mastigar e sorrir. Esta situação deve-se à diminuição da quantidade de saliva produzida pelas glândulas salivares. A saliva tem várias funções, entre elas, a autolimpeza e a diminuição do efeito dos ácidos que provocam cárie dentária. Uma boca saudável é crucial para a saúde geral. A chave para dentes e gengivas saudáveis aos 85 anos é a mesma que a chave para os 65, 45 ou 25 anos: Ter uma boa higiene oral, evitar fatores de risco, visitar regularmente o profissional de saúde oral. Compreendendo os fatores de risco associados ao envelhecimento e tendo uma atitude preventiva, incluindo uma alimentação saudável, não fumar e limitar o consumo de álcool e de açúcar, é possível proteger os dentes e a boca durante toda a vida. Com o tempo e a experiência, entendemos que aquele velho ditado “prevenir é melhor do que remediar” faz todo o sentido. E com a saúde oral não é diferente. Os motivos são vários: a prevenção é mais barata, mais simples e indolor do que qualquer tratamento. São necessárias novas perspetivas sobre a saúde oral em Portugal? Que passos devem ser dados? A saúde oral é um aspeto fundamental da saúde geral do indivíduo. Sempre que relegam para segundo plano a sua importância facilmente percecionamos uma série de problemas, como cáries, gengivite, periodontite e perda de dentes. Estudos recentes revelam que a saúde oral está diretamente relacionada com outras doenças sistémicas como doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras. É essencial que as organizações intervenientes no setor, promovam a consciencialização sobre a importância dos cuidados com a cavidade oral. Será importante destacar os cuidados preventivos que devem ser realizados. É preciso ter a noção de que os gastos em medicina dentária têm reflexo no próprio indivíduo e em toda a população. Estudos norte-americanos expõem que os problemas na cavidade oral são uma causa de absentismo laboral e escolar. Não podemos continuar na cauda da Europa nos índices de saúde oral, sobretudo quando temos excesso de profissionais médico-dentistas (dados da Organização Mundial da Saúde). Por exemplo, Portugal é o segundo país da UE com mais pessoas com idades superiores a 16 anos com necessidades não satisfeitas a nível da saúde oral. Esta realidade não é compreensível num país com excesso de médicos dentistas. Urge inverter esta realidade. Então o que fazer para melhorar a saúde oral dos portugueses, o acesso a cuidados de saúde e indiretamente melhorar a qualidade de vida dos médicos dentistas? Aumentar o acesso dos doentes aos médicos dentistas através de parcerias, aproveitando toda a capacidade instalada em Portugal (IPSS, clínicas privadas que queiram participar em programas de parcerias). Provavelmente investir em mais gabinetes nos centros de saúde não é a melhor solução e acabamos por desperdiçar recursos, tendo em conta que um gabinete de médico dentista obriga a investimentos avultados e a cobertura de clínicas em Portugal é excelente. Porque não usar modelos mistos parcerias público privadas? Desta forma reduzimos o investimento público, só paga o que é realizado, rentabilizamos as clínicas que estão instaladas que ao terem maior fluxo de doentes aumentariam o seu quadro clínico, implicando mais emprego para médicos dentistas. O facto de existir uma maior oferta de locais implicava que os doentes pudessem ter uma maior diversidade de escolha; Deveria existir um maior controlo do programa cheque dentista para que não exista um desperdício de recursos como o que foi assinalado em 2022; estamos a falar em mais de 210 mil cheques dentistas não usados. Poderia ajudar a aumentar a oferta de locais onde este programa pode ser realizado. Importante seria também a promoção de campanhas informativas e motivacionais, com informação da relação de patologias orais e patologias sistémicas. A cavidade oral não está isolada dos restantes sistemas orgânicos. Transmitindo a necessidade de visitas regulares aos dentistas; E é urgente apostar fortemente na prevenção, não descurando qualquer faixa populacional, dando ênfase especial aos mais novos a pensar no futuro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu um Plano de Ação Universal para a Saúde Oral 2023-2030 visa a promoção de uma saúde oral de qualidade para todos os cidadãos e a redução de desigualdades de acesso com o intuito de baixar drasticamente a prevalência de doenças orais, bem como os custos que lhes estão associados. Um dos grandes objetivos deste Plano é assegurar que 80% da população mundial tem acesso a cuidados primários de saúde oral. A meta maior é chegar a 2030 com uma cobertura universal nos cuidados de saúde oral para toda a população “esteja onde estiver”, segundo a OMS. “Não podemos continuar na cauda da Europa nos índices de saúde oral” Laura Feio, Médica Dentista no Hospital Lusíadas Braga, Topclinic e Clínica Paixão Clínica da Botica: Problemas do sono são fator de risco para diversas doenças Novo Golden Slim by Joana Pereira traz a Braga estética avançada de última geração
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