Entrevista a Jorge Alves, Neuropsicólogo, Investigador e Diretor do Centro CEREBRO

Doutorado em Psicologia Clínica pela Escola de Psicologia da Universidade do Minho, Jorge Alves tem vindo a construir um percurso de relevo nacional e internacional na área da Saúde Mental e Reabilitação Neurológica. É diretor do Centro CEREBRO, Especialista Avançado em Neuropsicologia (OPP), Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde (OPP), Investigador, Revisor Científico, Membro Afiliado Internacional da Associação Americana de Psicologia (APA), Membro da Federação Mundial de Neurorreabilitação e Formador na área da Saúde Cerebral.

É autor do primeiro ensaio clínico aleatorizado de estimulação cognitiva para idosos com comprometimento cognitivo (com e sem demência) em Portugal. Que caminho tem trilhado o Centro CEREBRO nesta área?

O Centro CEREBRO disponibiliza um programa clínico avançado, com um forte suporte técnico-científico, que pretende contribuir para o diagnóstico preciso, rápido e em tempo útil, assim como para o tratamento em todas as fases da doença de Alzheimer. O nosso programa de estimulação cognitiva oferece um plano especializado e detalhado de avaliação, de acordo com as práticas internacionais de última geração, que inclui as componentes adequadas a cada caso, nomeadamente Avaliação da Cognição, Motora e da Funcionalidade, assim como Avaliação Neuropsicológica tradicional e computorizada.

De notar que, estas patologias são as doenças do presente e do futuro. No início de 2022, a publicação científica The Lancet Public Health divulgou um estudo no qual se estima que, em 2050, cerca de 153 milhões de pessoas terão demência. Em Portugal, prevê-se um aumento de 75% da prevalência desta patologia, pelo que, em 2050, poderemos atingir 351 mil casos.

Quais são as principais áreas de atuação da clínica? Quais são os tratamentos que vos diferenciam?

O Centro CEREBRO assenta a sua atividade em três pilares principais: a prática clínica, a investigação e a formação. No que diz respeito à prática clínica, trabalhamos em três grandes áreas: Reabilitação Neurológica, Desenvolvimento Infantojuvenil e Psicologia/Neuropsicologia.

Desde a nossa fundação, em 2015, temos vindo a obter excelentes resultados clínicos em todas as áreas mencionadas, no entanto, e a título de exemplo, os nossos programas de estimulação e reabilitação neurológica direcionados ao Acidente Vascular Cerebral, Cancro Neurológico, Coma e Síndrome de Locked-in, Demências, Lesão Medular, Traumatismo Cranioencefálico, bem como o nosso programa para o tratamento de Medos, Fobias e Ansiedade são aqueles que nos trazem uma maior diferenciação e reconhecimento.

“A terapia recoveriX é um tratamento para a reabilitação de pacientes com AVC e pacientes com outros défices neurológicos, altamente eficaz mesmo 10, 20 ou 30 anos após a doença neurológica.”

Assinam terapias exclusivas e únicas no país, como a terapia recoveriX para o AVC. Em que consiste esta terapia e quais os principais benefícios para os pacientes?

A terapia recoveriX é um tratamento para a reabilitação de pacientes com AVC e pacientes com outros défices neurológicos, altamente eficaz mesmo 10, 20 ou 30 anos após a doença neurológica. Tem como principal objetivo ajudar o paciente a recuperar as funções das extremidades superiores (braços e mãos) e inferiores (pernas e pés) e adicionalmente, potencia a fisioterapia convencional, possibilitando uma recuperação mais rápida e bem-sucedida. De referir que, durante a 25 sessões terapêuticas, os pacientes imaginam movimentos das mãos ou das pernas um total de 6.000 vezes. Esta terapia altamente tecnológica permite reativar e/ou reorganizar as funções cerebrais envolvidas no movimento. Simplificando, podemos dizer que, durante a terapia, são criadas ligações novas no cérebro, através das quais os pacientes relembram a capacidade de se movimentarem.

Como mantêm o equilíbrio entre inovação tecnológica e o contacto direto com os pacientes?

A tecnologia permite-nos otimizar todo o nosso trabalho, no entanto, não substitui em nenhum momento os nossos profissionais. As máquinas só geram resultados porque os nossos terapeutas estão 100% comprometidos com as necessidades clínicas dos nossos pacientes e têm o conhecimento e experiência que lhes permite aplicar as tecnologias nas patologias adequadas e personalizá-las tendo em conta as idiossincrasias de cada paciente. 

Que case studies de sucesso poderíamos enumerar que demonstrem a diversidade e complexidade de casos clínicos em que diariamente intervêm?

Recentemente, recebemos um paciente que tinha deixado de andar há sete meses. Ao longo do nosso programa intensivo de reabilitação, o paciente foi conquistando, de forma gradual, os movimentos. Após a 8ª semana de tratamento, o paciente já consegue realizar quatro voltas ao ginásio, percorrendo mais de 80 metros, com supervisão e apoio dos nossos terapeutas. O nosso programa de Medos, Fobias e Ansiedade apresenta também elevadas taxas de sucesso. Passo a citar o testemunho mais recente de um paciente que ultrapassou uma Fobia Social “comecei a ganhar coragem para enfrentar o que tanto temia. E fiz! (…) e correu tudo bem. (…) Estou eternamente grato por, com duas sessões, eu ter conseguido fazer aquilo que julgava impossível, no início”.

O Centro CEREBRO disponibiliza formações especializadas dirigidas a estudantes e profissionais que lidam com questões de saúde cerebral. É importante capacitar os nossos jovens e profissionais numa área tão crucial para o futuro da Saúde?

Na minha opinião, a formação, a par da atividade clínica e da investigação, deve fazer parte do currículo de qualquer profissional da área. Apenas conseguimos proporcionar o melhor cuidado, a cada paciente, quando temos em consideração as melhores práticas disponíveis e uma base de experiência e conhecimento que nos permita gerar alternativas terapêuticas, em particular nos casos mais exigentes.

O que sente quando olha para o início da sua carreira e para esta longa história chamada Centro CEREBRO? Porquê a Neuropsicologia e não outra área?

Tem sido um percurso marcado por diversos desafios, mas muito enriquecedor. Escolhi a Neuropsicologia Clínica porque a área exige, em tempo real, perceber as interligações entre as funções cognitivas, emocionais e sociais e a expressão das mesmas através do comportamento e contextos específicos, com o objetivo clínico último de aplicar esta compreensão para intervir e melhorar a vida das pessoas.

Quais os grandes objetivos a médio/longo prazo?

O principal objetivo continua a estar espelhado na missão do Centro CEREBRO: “promover, manter e recuperar a saúde mental e neurológica em todas as etapas do desenvolvimento humano”. Vamos continuar a trabalhar diariamente com os melhores profissionais e parceiros em diversas frentes – prática clínica, formação e investigação científica –, pois este é o modelo que considero que gera os melhores resultados para os pacientes e, por consequência, dá resposta à nossa missão e propósito. 

www.centrocerebro.pt