Saúde Infantil Equipamento inovador em Portugal permite avaliar risco de progressão da miopia nos primeiros anos de vida By Revista Spot | Junho 7, 2022 Outubro 12, 2022 Share Tweet Share Pin Email Estima-se que cerca de metade da população mundial seja míope em 2050, uma situação agravada pelo contexto pandémico, nomeadamente nas crianças. Dedicada à investigação em Oftalmologia Pediátrica há vários anos, Sandra Guimarães, Especialista e consultora em Oftalmologia, Doutorada em Medicina, fez chegar a Braga um equipamento inovador que permite avaliar o risco de progressão da miopia nos primeiros anos de vida. A Spot esteve na Clínica Prof.ª Doutora Sandra Guimarães à conversa com a especialista… Por que razão se fala tanto de miopia nos últimos tempos? É verdade. De facto, qualquer pessoa que esteja atenta às redes sociais e aos media, repara que, cada vez mais, se fala de miopia. Isso acontece porque houve duas grandes novidades nesta doença. Por um lado, felizmente, passou a ser possível evitar a progressão rápida da miopia nas crianças, ou seja, ser alto míope já não é uma fatalidade. Por outro lado, infelizmente, sabemos que a prevalência de miopia tem aumentado muito, a ponto de ser considerada a nova epidemia deste século. Estima-se que cerca de metade da população mundial seja míope em 2050. Há uma correlação entre este aumento crescente da miopia e os sucessivos confinamentos provocados pela pandemia? A miopia nas crianças tem várias causas, tanto genéticas como ambientais. O que os estudos demonstram é que este aumento crescente do número de crianças com miopia nos últimos anos é mais atribuído a comportamentos de risco. Menos tempo ao ar livre é o fator mais provado e estudado. No entanto, há alguma evidência, embora ainda controversa, que revela que mais tempo passado no tablet e no telemóvel podem, também, desempenhar um papel no desenvolvimento da miopia. Nestes períodos de pandemia, por todo o mundo, tudo isso se exacerbou, os confinamentos em casa diminuíram a exposição das crianças ao ar livre, as aulas online e a socialização entre crianças através dos telemóveis e tablets foi a regra. A verdade é que a nível mundial, neste período, houve um aumento da miopia superior ao previsto, principalmente nas crianças dos 6 aos 8 anos. Felizmente acabaram os confinamentos e as crianças voltaram ao seu estado natural de liberdade, o que é benéfico para tudo, mas para os olhos também. “O controlo da progressão da miopia é fundamental para darmos qualidade de vida futura às nossas crianças” Mas afinal o que é a miopia? O uso de óculos não resolve o problema? Se ser míope fosse apenas uma questão de usar ou não óculos, o assunto não seria tão sério como na realidade é. Felizmente, para a maioria das pessoas com miopia leve ou moderada, a sua miopia será apenas uma questão de óculos, ou lentes de contacto. Mas conforme a miopia aumenta, o risco de outras doenças graves que podem levar à cegueira, como o descolamento de retina, a degeneração macular miópica e o glaucoma também aumenta. Por isso, é nossa obrigação alertar os pais para o controlo da progressão da miopia. Crianças com risco de serem míopes têm de adotar estratégias no dia a dia para prevenir o aparecimento ou atrasar a progressão, intervindo o mais cedo possível. Está provado que duas horas por dia ao ar livre, à luz natural, ajudam a prevenir a miopia. Por isso eu digo aos pais ‘coloquem os vossos filhos lá fora, ao ar livre, ou, se isso não for possível, sentem-nos perto de uma janela, ou varanda, para receberem luz natural nos olhos e na pele.’ Existe uma cura para a miopia? A miopia, por norma, progride, não regride. Não há cura para a miopia, infelizmente. Mesmo quando, na idade adulta, se faz uma cirurgia refrativa (por exemplo através de laser), a pessoa deixa de necessitar de usar óculos e fica, muitas vezes, com a ideia errada que deixou de ter miopia, não é verdade. Deixou apenas de necessitar de usar óculos porque o laser alterou as dioptrias de uma lente do olho (a córnea) e a pessoa já consegue ver bem sem óculos. Mas o olho continua míope. Sim, é difícil perceber este conceito. Mas pensemos assim: um olho míope é maior do que o normal. Por ser maior, tem risco acrescido das doenças graves que lhe falei. E quanto maior o olho é, maior é a miopia, mais frágil é a retina, maior o risco dessas doenças. Quando fazemos uma cirurgia para deixar de usar óculos, estamos a mudar as dioptrias da nossa córnea, mas o olho continua maior. Nenhuma cirurgia diminui o tamanho do olho! E é o facto de o olho ser maior que traz consigo todos os riscos de doença grave associada à cegueira, o mais conhecido talvez seja mesmo o descolamento de retina que é grave e evolui em horas/dias para a cegueira. Referiu, no entanto, que é possível evitar a sua progressão? Até há uns anos atrás, quando uma criança começava com miopia com progressão rápida era desanimador dizer à criança e aos pais que, mais uma vez, a miopia progrediu, o olho cresceu, e que eram necessários óculos com mais dioptrias. Era algo inevitável. Mais tarde, na idade adulta, surgiriam as complicações, tanto mais frequentes, quanto maior a miopia final. Hoje, felizmente, há tratamentos que diminuem a progressão da miopia, especialmente se forem implementados em idades precoces. A partir de que idade é mais comum a incidência da miopia? Antes dos 6 anos de idade, a incidência de miopia é baixa, mas a partir dessa idade a incidência aumenta, principalmente nas crianças de risco. Um dos principais desafios médicos é identificarmos as crianças em risco de se tornarem altos míopes ou, pelo menos, aquelas que estão a progredir a um ritmo inaceitavelmente rápido. A miopia é uma doença cada vez mais comum e é urgente a consciencialização de que existem formas de travar o seu crescimento. E como se trava o crescimento do olho? Há vários tratamentos para tentar evitar que a miopia progrida. Na minha prática clínica, utilizo os dois tratamentos que se têm demonstrado mais eficazes nos estudos internacionais. Há a opção mais prática, mais fácil, mas um pouco mais dispendiosa que é a aquisição de umas lentes especiais nos óculos. É verdade, a criança usa óculos, aparentemente normais, mas as lentes têm um efeito especial de travar a rápida progressão da miopia. São lentes novas em Portugal, apenas disponíveis há uns meses no nosso país, embora a investigação já tenha mais de 5-6 anos. Na outra opção de tratamento, igualmente eficaz, a criança coloca uma gota por dia de um fármaco, numa dose específica, e monitorizo a progressão da miopia para perceber a necessidade de ajustar a dose ou, caso não esteja a ser eficaz, ponderar mudar de tratamento. Hoje, as consultas de seguimento de miopia deixaram de ser anuais e passaram a ser semestrais, o que, também, corresponde a um maior encargo para os pais. Mas isso é importante para podermos perceber, no tempo certo, se a miopia daquela criança está a ser travada como pretendido. “Estima-se que cerca de metade da população mundial seja míope em 2050.” É possível prever a sua evolução? Até há pouco tempo mediamos a evolução da miopia apenas pelo aumento de dioptrias. “Este ano o seu filho aumentou x dioptrias”, era a nossa forma de medir a evolução e a comunicarmos aos pais. Recentemente o paradigma mudou. Como sabemos que a maioria dos olhos míopes progride principalmente porque o tamanho do olho aumenta, passamos a monitorizar o comprimento do olho. É uma medida mais rigorosa. Começamos agora a ter ferramentas que facilitem a recolha de dados precisos para chegar a uma gestão mais direcionada e bem informada. Adquiriu recentemente um equipamento que permite avaliar a progressão da miopia. Este investimento vem marcar uma evolução no tratamento da miopia? Sim, é verdade, de facto decidi investir no Myah há 6 meses. O Myah é um equipamento com tecnologia japonesa direcionado para o controlo da miopia em crianças. Pelo que sei, fui a segunda pessoa em Portugal a adquiri-lo e, no Norte, o meu ainda é o único, embora em Espanha já haja mais de 80 equipamentos a funcionar. Não tenho qualquer relação comercial com o Myah, mas é sempre um entusiasmo para mim investir na vanguarda da tecnologia dirigida especificamente para as crianças. É profissionalmente recompensador conseguir oferecer um atendimento especializado. Este equipamento incorpora dados da Universidade Erasmus em Roterdão, na Holanda, e permite-nos fazer uma avaliação do risco de progressão da miopia e do percentil em que a criança se encontra. Os pais já estão muito familiarizados com as curvas de percentis desde o nascimento dos filhos, usadas para o peso, altura, etc. Agora disponho desta informação para o tamanho do olho. Estando a controlar a miopia através do comprimento do olho, tenho de ser capaz de ter medidas de alta precisão, senão não posso avaliar, compreender e otimizar o que se está a acontecer àquela criança. Até agora, medir o comprimento do olho com dispositivos de biometria era possível, mas apenas em aparelhos dedicados ao cálculo de lentes intraoculares para cirurgias de catarata e não dirigidos para as crianças. “há alguma evidência, embora ainda controversa, que revela que mais tempo passado no tablet e no telemóvel pode, também, desempenhar um papel no desenvolvimento da miopia.” A monitorização da miopia continua a ser o caminho para travar aquilo que já é apelidado de ‘Epidemia do século XXI’? Sabemos que se reduzirmos a progressão da miopia em 1 dioptria, reduzimos em 20% o risco de aquela criança, quando adulta, vir a ter deficiência visual (i.e., ver mal, mesmo com os óculos, não podendo, por exemplo, conduzir), reduzimos em 40% a maculopatia miópica, podendo mesmo poupar um ano de vida sem deficiência visual. Isto tem muito impacto na vida futura daquela criança, por isso, é necessário que os pais saibam que já é possível não ter miopia a aumentar todos os anos, da mesma forma que era há uma década atrás. O controlo da progressão da miopia é fundamental para darmos qualidade de vida futura às nossas crianças míopes. Para que, quando forem adultos, a sua miopia seja apenas uma questão de óculos (e que com óculos vejam bem) e não uma questão de deficiência visual que os torne incapazes de ler ou conduzir (apesar dos óculos ou tratamentos cirúrgicos). No dia mundial da criança, não nos podemos esquecer que as crianças de hoje são o futuro de amanhã. MeetingSpa: Chegaram a Braga os tratamentos de dermocosmética e estética avançada do futuro Colégio Alfacoop: Educação 5.0 – Excelência e inovação para preparar o Futuro
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