EMPRESAS & EMPRESÁRIOS Entrevista a António Cunha, presidente da CCDR-N: Um ‘taylor made’ regional na aplicação dos fundos comunitários By Revista Spot | Novembro 3, 2021 Março 24, 2022 Share Tweet Share Pin Email A taxa de desemprego do Norte baixou de 7,4% para 6,3% no segundo trimestre de 2021, “um resultado histórico relativamente à média nacional, que se encontra nos 6,7%. Mas as empresas deparam-se agora com grandes desafios, como a retenção de talento e a adaptação a novos vetores como a transição digital e energética e a economia circular. A Spot esteve à conversa com António Cunha, presidente da CCDR-N sobre as profundas mudanças a acontecerem no tecido empresarial da região e a necessidade de criação de um ‘taylor made regional’ na aplicação dos fundos comunitários… Considera que o desenvolvimento económico e empresarial do Minho tem contribuído cada vez mais para colocar a região no topo da dinâmica económica nacional? O Minho passou de uma realidade mono industrial, para um tecido industrial diverso e muito relevante em termos de exportações. Hoje temos vários concelhos do Minho entre os principais concelhos exportadores a nível nacional, o que tem contribuído para a afirmação da região. Nos últimos anos assistimos a uma mudança muito significativa de perfil de dinâmica económica motivado, quer pelas indústrias de cariz tecnológico, com excelentes exemplos como a Primavera, quer pelas indústrias ligadas ao setor automóvel, como a Continental, a Aptiv, a ZF e a Bosch, entre tantas outras. Vetores como a resiliência, a transição digital e energética, a economia circular e a sustentabilidade têm-se revelado essenciais nesse caminho? Esta evolução que eu referi tem muito a ver com capacidade tecnológica. Estamos a atravessar uma enorme mudança tecnológica na indústria automóvel e a indústria automóvel do Minho é uma indústria baseada nesse automóvel do futuro. O desenvolvimento de setores como o das energias renováveis bebe também desta aposta tecnológica. Reunimos os melhores exemplos de produção eólica e hidráulica no Minho, o que faz com que a região possa ambicionar estar baseada em energia sustentável e em linha com as metas europeias. A economia circular, por sua vez, é um desafio para todos os setores da economia. Todos os setores terão que ter essa preocupação, de, por um lado, utilizar as menores quantidades de materiais possíveis e recorrer a materiais e soluções que sejam mais facilmente recicláveis, ou reutilizáveis, procurando, com isso, assegurar essa circularidade da economia. Isto é especialmente importante na indústria têxtil, que é um dos setores que vai estar sob grande pressão no sentido de encontrar soluções adequadas para inverter a situação atual. Temos já também alguns exemplos de sucesso na região neste setor. A transferência de conhecimento entre as empresas, instituições de ensino superior e centros de investigação é fundamental? Eu diria que é felizmente uma marca de evolução positiva que Portugal está a fazer. A região Norte é uma das regiões do continente onde isso é conseguido de um modo mais efetivo e, de facto, temos alguns excelentes exemplos no Minho. O exemplo Bosch é um exemplo incontornável de cooperação universidade/indústria e um dos maiores projetos na União Europeia a esse nível. Há imensos exemplos a este nível no setor tecnológico, no setor têxtil, no setor da biotecnologia, entre outros. A relação que as universidades, politécnicos e centros de Conhecimento e Inovação do Cávado e do Ave têm com diversas empresas é muito interessante e estou certo que em Viana do Castelo também vamos ter boas novidades, nomeadamente no setor ligado às energias oceânicas. Podemos então falar de um sistema regional de inovação em correlação com as empresas? Atualmente a par das universidades e dos institutos politécnicos, temos estruturas independentes, como o CITEVE, o DTx, o INL, uma estrutura incontornável do Minho, mas também várias empresas consumidoras de inovação com estruturas de inovação interna, empresas de vários setores, as estrangeiras já referi, mas empresas como o dstgroup, o grupo Casais, dando aqui um exemplo muito concreto de empresas ligadas a setores tradicionais, que hoje trabalham noutros domínios. São evidências de que temos um sistema de inovação no Minho. Por isso, acredito que somos capazes de dar o passo seguinte e criar um sistema regional de inovação com capacidade de decisão autónoma, de articulação entre aquilo que são as nossas apostas estratégicas e as decisões de financiamento. Estamos neste momento a negociar com o Governo um aumento da decisão regional, para que isto possa acontecer. Isto de modo nenhum significa, ou contraria, que a investigação, a inovação e o desenvolvimento não possam contar com parcerias mais alargadas no país, ou no mundo, a dimensão de cooperação continua a ser essencial, mas não impede que haja uma maior capacidade de decisão a nível regional. Há uma necessidade de alinhamento cada vez maior entre a oferta, a formação e a educação com aquilo que são as necessidades do mercado de trabalho no presente e no futuro? Temos de encontrar formas de nos diferenciarmos, uma diferenciação que passa pela existência de um sistema de ensino que, para além da transmissão de conhecimento, desperte a curiosidade e a criatividade e seja um meio de ligação dos estudantes com todo um contexto cultural. À medida que evoluímos para níveis de ensino pré-universitários essa preocupação com o ajuste entre as necessidades do mercado de trabalho e a formação tem de ser mais imediata e evidente. Como região Norte fizemos um percurso notável nos últimos onze anos em termos de formação, nomeadamente formação superior. Atingimos a meta europeia de 50% de frequência do ensino superior no escalão etário dos 18 aos 24 anos e isso é absolutamente notável, mas por outro lado temos muito maus indicadores no regresso ao ensino superior no escalão dos 30 anos. Tem de haver uma maior aposta a esse nível. Devemos criar condições e incentivar a formação nesse e noutros escalões etários. “…acredito que somos capazes de dar o passo seguinte e criar um sistema regional de inovação com capacidade de decisão autónoma, de articulação entre aquilo que são as nossas apostas estratégicas as decisões de financiamento.” Enquanto voz do território a CCDR-N pretende articular e coordenar os interesses da região, nomeadamente na aplicação dos fundos comunitários? É isso que a CCDR-N está a fazer neste momento. Desde a minha tomada de posse, há cerca de um ano, a nossa primeira aposta foi a elaboração preparação do programa Norte 2030 ancorada nas apostas e investimentos prioritários da região. Mas a região não se desenvolve só com programas europeus, desenvolve-se nomeadamente com a nossa capacidade de atrair o investimento estrangeiro. Hoje é muito claro que as empresas estrangeiras fixadas na região são muito importantes para aquilo que é o nosso desenvolvimento e por isso, sim, estamos muito empenhados nessa articulação. É evidente que essa articulação tem como referência o pilar da digitalização, mas também a dimensão energético-ambiental, que faz com que o nosso compromisso com a sustentabilidade seja total. Tudo isto tem de ser feito tendo em conta as pessoas e o território e, portanto, as dimensões da coesão territorial e da centralidade das pessoas nas suas diferentes dimensões revelam-se também essenciais. Dizer-lhe também dentro desta dimensão da coesão social estamos numa grande transformação do tecido económico. Por um lado, há empresas que não estão a ter capacidade de adaptação a estas mudanças relacionadas a acontecerem na sua dinâmica interna, por outro temos muitas outras empresas a nascerem nestes novos processos. Há uma discussão muito grande se o emprego que é criado pela nova economia absorve, ou não, aquele que é destruído. Queremos estar atentos e procurar formas de adaptação a esta nova realidade. Dizia que os fundos europeus não devem ser um pronto-a-vestir indiferenciado, mas um ‘taylor made regional’. Continua a defender a adoção de um real modelo multinível de governação dos fundos europeus, que reconheça autonomia de decisão às regiões e aos municípios? “Reunimos os melhores exemplos de produção eólica e hidráulica no Minho, o que faz com que a região possa ambicionar estar baseada em energia sustentável e em linha com as metas europeias. “ O próprio facto de eu ter sido o primeiro presidente da Comissão de Coordenação eleito pelos membros das 86 assembleias municipais dos municípios da região Norte marcou uma nova etapa no desenvolvimento mais participado e democrático, mais ambicioso e sustentável da região e na afirmação da sua consciência coletiva e da sua voz no país e no espaço inter-regional ibérico. Portanto este processo de legitimação democrática da capacidade de decisão regional vai ser aprofundado e há toda uma expectativa face ao que têm sido declarações de membros do Governo nesse sentido. Há evidência, mais do que clara, que vários dos desafios que aqui referenciei, têm de ser decididos num contexto de proximidade e de melhor conhecimento da realidade da região. Alguma decisão que seja tomada hoje na CCDR-N será certamente tomada por pessoas mais inteiradas sobre todos os assuntos que dizem respeito à região, portanto, essa capacidade de decisão autónoma pode ser muito mais criteriosa e célere. Quais são as grandes prioridades da CCDR-N para o próximo ano? A grande prioridade da CCDR-N para o próximo ano é dar início ao programa regional Norte 2030. Associado a esse programa temos a grande espectativa de termos um novo modelo de gestão do programa regional. A CCDR-N firmou o seu posicionamento e sua relação com todos os agentes regionais e é hoje uma voz ativa e importante, uma voz convergente e plural que pretende potenciar o desenvolvimento e o crescimento da região. top AZO Arquitetos: Para lá do tempo e da matéria… Entrevista a Graça Cunha Coelho, vice-presidente para a Captação e Retenção de Talento da AEMinho: Humanizar o mercado de trabalho do futuro You Might Also Like... EMPRESAS & EMPRESÁRIOS / Moda/Beleza Fuse Valley: Castro Group e Farfetch apresentam vale tecnológico assinado por Bjarke Ingels Fuse Valley é o nome do futuro vale tecnológico que se prepara para nascer em Matosinhos, nos próximos quatro anos,… Arquitetura AZO Arquitetos: Para lá do tempo e da matéria… O tempo multiplica-se em formas poéticas ao longo de uma materialidade estrategicamente vulnerável à sua passagem. 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