ÉS DE BRAGA Empresária nas pontas dos pés By Revista Spot | Julho 26, 2021 Julho 26, 2021 Share Tweet Share Pin Email O papel químico do livro das encomendas tingia-me os dedos de azul. Com a minha caligrafa de esquerdina contrariada anotava, em bicos de pés, a designação da peça que acabara de chegar e atribuía-lhe o número que a D. Teresa se ia preparando para coser na etiqueta. Por vezes o telefone tocava e Maria Viúva atendia-o ao contrário, colando o bocal ao ouvido. Ria-me sempre, de cada vez que ela o fazia. Sentia-me importante quando o avô Cândido requisitava os meus serviços naquela mítica Lavandaria Bracarense, que era ao mesmo tempo negócio de família e a morada que sempre conheci. Soubessem as outras pessoas como era maravilhoso crescer ali. As conversas das lavadeiras deslizavam com a rapidez de um sabão, ao qual nunca percebi porque chamavam macaco. Preparavam as colchas para corar ao sol no terraço, no meu terraço. Por baixo, ao lado da sala a que os antigos chamavam sala do passamento, nasciam ninhadas de gatos ávidas do calor dos grandes ferros de passar, que desfaziam vincas ao som do terço. No grande armazém levitavam peças de roupa penduradas em cabides que, quando a noite caía, aos meus olhos ganhavam vida própria. Tinha-lhes respeito, pois nem todos acabavam nas mãos dos seus donos. Havia vestidos de noiva esquecidos para sempre e batinas de padre, outrora cobertas com o pó das hóstias, onde volta e meia gostava de entrar para deixar de ser eu. Pelos bancos da loja, por baixo do grande calendário que o Sr. Wang nos oferecia por altura do novo ano chinês, passavam as senhoras que o avô Cândido galanteava e, às vezes, o Sr. Veiga, cuja camisa coberta de nódoas denunciava a sua grande paixão por comida, tema de grande parte das conversas que encetava. Chamava Candidíssimo ao meu avô com carinho e eu percebia porquê. Houvesse alguém capaz de colocar tanto amor numa simples montra, onde uma toalha branca tinha sempre por companhia uma personagem. Farricocos, por altura da Páscoa e um árbitro de cartão vermelho em riste, sempre que o seu Braga jogava. A minha casa tinha entrada pela lavandaria, o que tornava sempre tudo muito mais interessante. Por vezes era forçada a subir os degraus a correr, para oferecer um copo de água a alguém que tivesse passado mal, outras, dava por mim a fazer de conta que a loja era minha, quando à noite aquele palco de gente ficava vazio e o reclame luminoso piscava na escuridão. Sei que, no fundo, aquele nº117 já meio esbatido da Rua de S. Marcos nunca deixou de ser meu, nem da minha família. Os que hoje passam por ela no corrupio dos dias, estão longe de imaginar a sorte que foi crescer na Lavandaria Bracarense J.M. Capa Pereira, CEO do grupo PKM Hold e Presidente do Conselho Geral da AEMinho: Uma nova energia na região MC Contabilidade: 20 anos a apoiar a gestão das empresas
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