A minha casa és tu

Lembro-me de achar que quando as tuas mãos fechavam o círculo do nosso abraço, barravam também a entrada a todos os medos encolhidos num qualquer alçapão da memória.

Nessas horas o nosso poder secreto eram as gargalhadas, abafadas por uma madrugada que queria ser tudo, menos antídoto de um sono que não chegava.

Acontecesse o que acontecesse, sabia que as escadas de madeira me levariam até ti, a única luz acesa na escuridão da casa. Talvez por isso, com o passar do tempo tenha estranhado a existência de um mundo com outras regras. Não somos nós afinal que criamos as nossas? As que quisermos?

Continuámos a fazê-lo em segredo. A inventar ao sabor da vida, nesse verbo que descia livre, a alta velocidade, agarrado a um corrimão imaginário só nosso, que nos levava onde quiséssemos.

Hoje tenho essa confiança e essa certeza. A de que o mundo e aquilo que nos rodeia depende única e exclusivamente de nós e da forma como o vemos.

Um mês depois de voltar a descer as escadas, desta vez para me despedir de ti, continuo a ver-te nas nuvens, na escuridão da estrada vazia de sempre, em qualquer lugar. Onde eu quiser.

A luz ficou acesa, no quarto que nunca adormece, como uma regra sem regras. Como o amor teimoso que te tenho.