A Natureza de Braga pela lente de João Ferreira

Por entre o intenso coaxar do lago do Mosteiro de Tibães esconde-se a lente camuflada e paciente, nas horas que antecedem a fotografia perfeita. Os tritões palmado e ventre laranja, a salamandra de pintas amarelas e a rã de focinho pontiagudo estão lá todos, nesse paraíso de anfíbios que ignora a presença humana. O mosquito sobrevoa finalmente a cabeça da rã esfomeada e o dedo prime o botão em dois minutos de adrenalina capazes de transpor mil emoções numa fotografia. Verdadeira, sentida e sincera como a natureza deve ser… Assim é a fotografia de João Ferreira.

Uma infância entre livros de animais e um habitat natural explorado no tanque do vizinho

Foram os animais que lhe despertaram o gosto pela fotografia e não o contrário. Em criança percorria habitats naturais em livros e na vizinhança da zona rural onde cresceu. Foi lá que se habituou ao som suave dos insetos que sobrevoavam o tanque do vizinho, verdadeiro habitat de espécies raras que aprendeu a distinguir. “Aquele tanque foi a minha escola primária, foi lá que tudo começou.”, brinca.

Colecionou livros e documentários, fez trabalho de campo, estudou, questionou e aprendeu tudo sobre o comportamento da fauna e hoje assume uma certeza: “Um bom fotógrafo de natureza parte em busca daquilo que quer fotografar, conhece o animal e procura enquadrá-lo no seu ambiente.”

Do Gerês, a uma ‘Braga Natural’ desconhecida

A fotografia chegou mais tarde, num período pós Universidade. Terminada a licenciatura em Marketing, e com algum tempo livre, João decide explorar a natureza nas suas caminhadas solitárias de mochila às costas e sentidos apurados, onde a vontade o levasse, fosse um trilho no Gerês, ou um simples percurso perto de casa. Foi assim que começou a fotografar corços, cabras e raposas de forma amadora e curiosa com a máquina fotográfica emprestada da irmã. O vício ficou e pediu-lhe mais. Investiu em equipamento e em noções de fotografia e aventurou-se de tal forma, que hoje não há quem fique indiferente aos retratos de vida animal que vai somando.

As universidades e centros de investigação vão estando atentos ao seu trabalho e os convites surgem naturalmente, como o recente desafio do Município de Braga para integrar o projeto Braga Natural, afinal de contas quem imaginaria uma raposa a atravessar a Avenida da Liberdade, guarda-rios junto ao INL, uma comunidade de lontras a habitar o rio Este, entre tantas outras espécies descobertas entre o Bom Jesus, o Mosteiro de Tibães, o Monte do Picoto e Sete Fontes?

Saber ouvir a voz da natureza

João não hesita em eleger dois dos seus lugares de eleição para fotografar: Pitões das Júnias e Castro Laboreiro, onde já teve o prazer de se cruzar com algumas das espécies mais raras da região. A fotografia de animais leva-o a pesquisar, a procurar, a embrenhar-se na natureza e a conhecê-la como ninguém. E tão depressa o encontramos carregado de lentes, sensores e flashes, a montar o seu set de fotografia de fotoarmadilhagem, que pode permanecer num determinado local até duas semanas, em função do objetivo pretendido, como o vemos debruçado na folhagem densa de uma floresta, apaixonado pelo piar de uma coruja, pelos ‘diálogos’ noturnos das raposas, ou pelo místico uivar do lobo.

Pela sua lente passaram espécies que muitos já julgavam localmente extintas e tantas outras que muitos pensavam ser impossível fotografar na região. E por isso, João Ferreira não tem dúvidas do que quer fazer no futuro: descobrir mais, contar histórias de animais em fotografia e contagiar mais pessoas com este amor e respeito infinito pela natureza…

João Ferreira

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