FORMAÇÃO/GO BRAGA Entrevista a Helena Pina-Vaz, diretora do Colégio Luso Internacional de Braga By Revista Spot | Julho 2, 2020 Julho 7, 2020 Share Tweet Share Pin Email Helena Pina-Vaz gosta de trabalhar em equipa, partilha o seu gabinete com quatro outras pessoas, pois sente que das ideias partilhadas surgem boas soluções. São também as pessoas que a ajudam a mudar o mundo à sua volta. Diretora do Colégio Luso Internacional de Braga há mais de 20 anos, procura cultivar nos seus alunos essa consciência humanística através de diversos projetos nos quais a instituição está envolvida. Em três meses, desde que foi decretado o período de pandemia, o CLIB confecionou e entregou em mãos mais de 38 mil refeições a famílias carenciadas. A Spot esteve à conversa com a também presidente da Habitat for Humanity Portugal… O que é que mais a desafia enquanto diretora pedagógica de uma instituição como o CLIB? É extremamente gratificante. Já tinha sido diretora de uma escola pública e gostei imenso também, mas no privado sei que consigo implementar todos os projetos que tenho em mente, não há limitações. No fundo aqui conseguimos pôr em prática qualquer ideia. Até este meu sonho de os alunos se focarem muito mais em descobrirem aquilo de que realmente gostam, desenvolvendo-se como pessoas e explorando as suas capacidades humanas. No CLIB adaptamo-nos às preferências de cada aluno, porque o nosso currículo não tem áreas rígidas definidas. O aluno verifica quais são as disciplinas exigidas pelos cursos aos quais pretende concorrer e tem obrigatoriamente de as fazer, mas depois completa com as que gosta. Essa flexibilidade é o que os faz facilmente gostar mais do que fazem, incluindo os projetos da escola, que funcionam também com uma responsabilização e uma ajuda para amadurecer e a crescer. Ainda se recorda da primeira experiência no Camboja? Recordo-me perfeitamente, foi há 9 anos, numa aldeia isolada onde faltava tudo. Deparei-me com carências extremas a todos os níveis, que me fizeram perceber, de imediato, que seria necessário voltar mais vezes, mas também me fez concluir que era o sítio ideal para desenvolver projetos com os alunos. E isso tem-se vindo a provar ano após ano. Por vezes, vou lá duas vezes por ano. Já fui lá também com um grupo constituído por mães de alunos que também queriam viver essa experiência que para os filhos tinha sido tão gratificante e enriquecedora, é um sucesso tremendo todos os anos. Todos querem ir e, invariavelmente, quando os alunos têm de fazer um discurso, por exemplo no final do aluno, a experiência do Camboja é sempre destacada. “Invariavelmente, quando os alunos têm de fazer um discurso, por exemplo no final do aluno, a experiência do Camboja é sempre destacada.” É sempre um regresso especial? Há uma ligação enorme que se cria entre todos, porque são pessoas maravilhosas a quem falta quase tudo. As crianças viviam da recolha do lixo na rua, e a escola que ajudámos a construir teve mesmo essa missão de as tirar da rua. A cada ano vamos acrescentando sempre um projeto e há três começámos a colocar alunos na universidade, temos uma jovem a frequentar Medicina e outros em diferentes áreas que decidiram escolher. As universidades no Camboja são pagas, portanto temos patrocinadores para isso, como temos também para o Ensino Secundário. Só o facto de conseguirmos que não precisem de abandonar os estudos, devido à dureza da vida e à necessidade de ajudar os pais, já é uma grande vitória. Quando retirámos as crianças das lixeiras houve todo um trabalho de negociação com os pais, que eram compensados mensalmente com arroz para deixarem os seus filhos irem para a escola e, aos poucos, estes começaram a perceber as diferenças nos seus filhos. Toda aquela comunidade está a mudar, mas foi preciso muito trabalho para que isso acontecesse, porque, se a mentalidade dos pais não mudar, não adianta dar novas oportunidades aos miúdos. O CLIB foi uma das primeiras instituições a assinar o protocolo com a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), em 2015. É enriquecedor para os alunos terem contacto com esta realidade desde muito jovens? Aconteceu-me a mim também, ainda jovem. O facto de ter contacto com jovens da minha idade que eram meus colegas de classe e que vinham das ex-colónias portuguesas em situações difíceis, e de ter podido palpar essa situação, perceber o que significa deixar tudo e todas as raízes de um momento para o outro, foi essencial para o meu crescimento. Para os nossos alunos, tudo quanto sejam situações que os possam fazer crescer humanamente, experimentando, tendo as pessoas junto de si e fazendo algo por elas, é fundamental. E quem fala dos refugiados, fala de outras situações. Uma das nossas funcionárias é surda-muda, foi uma escolha a pensar nos alunos, quando a inserimos no nosso staff, e também foi uma aventura ter uma pessoa com essa situação a trabalhar com crianças. Fomos começando com tarefas, que não requeriam tanto contacto, até ensinarmos os meninos a lerem os lábios quando a senhora falasse e ela também foi ensinando linguagem gestual. Tudo isto são experiências de crescimento. “Enquanto tiver estes jovens para educar, incluirei na vida deles este ingrediente fundamental de formação humana, trabalhando pelo bem das pessoas.” A Associação Yay é também um bom exemplo disso? Tudo começou com uma vizinha, uma criança portadora de uma doença muito rara, que eu já conhecia. Fizemos, inclusive, uma angariação de fundos para a compra de uma viatura adaptada para a cadeira de rodas da menina. Um dia a mãe manifestou preocupação porque a escola pública ia fechar e só iria reabrir dali a três meses e eu informei que a poderia trazer para o CLIB. Foi muito interessante, porque a menina tinha de passar muitas horas deitada e por isso ficou sempre com o infantário. A experiência não podia ter corrido melhor, o que nos fez pensar em apostar num modelo assim para ajudar outras crianças. Fizemos então uma parceria com a associação Pais-Em-Rede, disponibilizando as nossas instalações para a criação de um espaço inclusivo, que fosse também uma resposta para a ocupação dos tempos livres de crianças e jovens com necessidades especiais e, num futuro próximo, a formação profissional desses mesmos jovens. Em Janeiro do ano passado, resolvemos constituir esta associação para, de facto, ter mais força e poder fazer mais pela inclusão. Humanamente todos aqui no CLIB sabemos ter um importante papel a desempenhar. Nos últimos meses, e apesar das adversidades, o trabalho na Habitat for Humanity Portugal não parou, aproveitaram, inclusive, para reabilitar totalmente o vosso armazém. Foi essencial não parar? Sim, reabilitámos o nosso armazém, pois não tinha já condições de armazenamento, devido à infiltração de chuva. Continuámos também as construções de casas com o mesmo ritmo, ninguém esteve confinado devido à pandemia. Fomos desafiados pela Habitat Internacional a parar o trabalho, inclusive porque as outras filiais pelo mundo tinham decidido fechar e parar. Tínhamos também uma pressão enorme para despedimentos e nós queríamos, e conseguimos, não o fazer. Reconvertemos as funções de dois funcionários, que aceitaram fazê-lo, e continuámos a nossa atividade. Perante a ausência de voluntários internacionais, devido ao encerramento das fronteiras, vimo-nos sem os importantes donativos destes e a sua mão-de-obra. O que fizemos foi dispensar, sempre que possível, o nosso pessoal para colmatar a falta de voluntários. Correu maravilhosamente e temos três casas para entregar. Recorda com especial carinho alguns episódios ligados à Habitat for Humanity Portugal? A Habitat for Humanity Portugal existe em Braga desde 1996 e desde essa altura defende um mundo onde todos têm uma casa decente, segura e acessível onde viver. Cada caso vem para apreciação e nós queremos agir de imediato. O nosso objetivo era fazê-lo no país inteiro, mas não temos os recursos, nem os apoios necessários. Estamos a tentar parceiras com outras organizações que fazem trabalho de reabilitação de habitações, mas não é fácil. Sempre que nos surgem pedidos de outras zonas do país, tentamos ver se há uma parceria local. No Norte conseguimos dar sempre uma resposta mais rápida e eficaz. Recebemos, por exemplo, recentemente um pedido em Braga, de uma família com cinco filhos, três deles portadores de deficiência, no qual vamos começar a intervir ainda este ano em pareceria com o município. “Humanamente todos aqui no CLIB sabemos ter um importante papel a desempenhar.” Em três meses, desde que foi decretado o período de pandemia, o CLIB confecionou e entregou em mãos milhares de refeições a famílias carenciadas. Foi um verdadeiro desafio? Esta resposta surgiu de um dia para outro, no dia 13 de março, porque tivemos conhecimento de associações que deixaram de funcionar. Contactei de imediato essas associações para saber se havia alguma forma de as podermos ajudar, uma vez que a nossa cantina estava disponível para confecionar as refeições. Foi assim que resolvi lançar o desafio publicamente e as reações foram muito boas. Havia, inclusive, três mil partilhas no Facebook e pessoas a oferecerem ajuda. Neste momento, já ultrapassámos as 38 mil refeições e percebemos que isto tem de continuar. Fala de um conceito de cantina social em articulação com outras instituições. É preciso que as pessoas aprendam, efetivamente, a trabalhar em conjunto? Sem dúvida, temos de aprender a trabalhar juntos. Uma resposta adequada e a rentabilização de recursos poderá fazer muita diferença e conseguir que se chegue com muito mais eficácia a mais pessoas. A organização pode ser difícil, mas tem de haver uma solução. Se já conseguimos funcionar, servindo mais refeições, durante todos os dias da semana, do que as cinco cantinas sociais que funcionam em Braga, financiadas e protocoladas com a Segurança Social, então estas estruturas também têm de conseguir. O facto de andarmos no meio também nos ajuda a descobrir como é que as coisas funcionam e a saber o que é preciso fazer para mudar o estado das coisas. “A Habitat for Humanity Portugal existe em Braga desde 1996 e desde essa altura defende um mundo onde todos têm uma casa decente, segura e acessível onde viver.” Esta cantina ‘esconde’ várias lições de humildade? Sim, como um exemplo do que é a realidade do ser humano. O problema de um, amanhã é o problema de outro. É essencial haver essa consciência comum de que, se o meu vizinho não estiver bem, eu não posso estar. Nesta cantina cabem todos, entre alunos, funcionários do colégio, pais, empresas e parceiros e, inclusive, famílias de refugiados. Temos, por exemplo, voluntários que são também beneficiários das refeições, quiseram contribuir de algum modo. Portanto quando todos se unem as coisas resultam sempre melhor. E com humildade, sim, pois cada um faz o que pode e o que sabe. Acredito que, no caso dos alunos, quanto mais cedo começarem a crescer com a consciência da realidade à sua volta, quanto mais perceberem que os problemas são de todos, mais felizes serão, pois poderão fazer imenso pela comunidade em que se inserem. “Neste momento, já ultrapassámos as 38 mil refeições e percebemos que isto tem de continuar.” A pandemia veio também piorar a situação de alguns refugiados no nosso país? Alguns refugiados já tinham empregos, mas eram empregos recentes e portanto foram os primeiros a ser dispensados, sem direito a subsídio de desemprego pelo escasso período de tempo que trabalharam. Foi uma catadupa de situações. A situação ficou difícil para toda a gente que precisa e que quer trabalhar, portugueses e refugiados. A sua família apoia-a em cada novo passo que dá? Eles dizem que eu os obrigo, mas eu não obrigo, só proponho (risos). A primeira vez que propus aos meus filhos ajudarem-me numa casa, disse: “Amanhã, vou mudar um telhado em Barcelos’. O meu filho respondeu: “Mudar telhados? Mas o que sabes tu sobre isso”. Ao que eu ripostei: “Não sei nada, mas vou ficar a saber e tu também se vieres comigo”. E a verdade é que eles gostaram imenso da experiência, inclusive eu não podia ir durante a semana seguinte, porque tinha de trabalhar, e eles continuaram a ir sozinhos. No próprio projeto do Camboja, a minha filha foi uma vez comigo e o meu marido também. Por vezes, dizem ao meu marido “Não sei como é que aturas esta doida desta mulher sempre metida em diferentes coisas.” E ele responde serenamente: “isto são projetos da família, portanto deixa a maluca ir, que nós vamos com ela”. “É essencial haver essa consciência comum de que, se o meu vizinho não estiver bem, eu não posso estar.” Enquanto houver preconceito e necessidades há ainda muito por fazer? Preconceitos e necessidades vão existir sempre, mas enquanto eu tiver energia e saúde, tenciono continuar e, sobretudo, enquanto tiver estes jovens para educar, incluirei na vida deles este ingrediente fundamental de formação humana, trabalhando pelo bem das pessoas. E as crianças que passam por si? Serão para sempre ‘os seus alunos’? Muitos deles são nossos voluntários depois de terem saído do colégio, ou muito deles quando fazem alguma formação, ou trabalho, na área dos Direitos Humanos mandam-me uma mensagem para me porem a par de tudo. Partilham aquelas coisas que acham que, para eles nasceram quando estavam no CLIB. Fica uma ligação muito forte entre todos para a vida. Outro dia tive contacto também com antigos alunos da escola pública, onde trabalhei há mais de vinte anos, enviaram-me mensagens, porque me viram apresentar publicamente o projeto das refeições solidárias. Com os nossos alunos do Camboja vou mantendo contacto frequente, quase diário, sabendo como estão, como evolui a escola, os projetos que têm em mente e aconselhando sempre que possível. Esta proximidade com todos é essencial, é dessas relações que o meu mundo é feito. “Quando todos se unem as coisas resultam sempre melhor.” Morada: Rua da Igreja Velha, Gualtar, Braga Contacto: 253 679 860 Email: r.publicas@clib.pt Facebook: CLIB | Colégio Luso-Internacional de Braga (The Braga International School) Instagram: @clib_bragainternationalschool Site: clib.pt Acaba de chegar a Braga uma escola especializada em exames de Cambridge: a Colchester Language School! Entrevista a Rita Geraldes de Macedo, administradora do Centro Médico Cirúrgico de Braga
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