ÉS DE BRAGA NUNO GAMA EM ENTREVISTA À SPOT By revistaspot | Dezembro 22, 2016 Abril 17, 2020 Share Tweet Share Pin Email “Aquilo que eu apresento é um mundo que existe dentro de mim. Um mundo visto pelos meus olhos.” 50 coleções. 50 anos. 30 de carreira. 25 de ModaLisboa. Nuno Gama cativa-nos com aquela presença forte e decidida de quem sabe aquilo que quer. No olhar, traz a mesma rebeldia do ‘miúdo’ que um dia adaptou as roupas que já não lhe serviam. Não se sabe se foi a moda que o escolheu, ou o contrário. Mas isso não interessa. São 50 anos. De criações, de inspiração, de tendências. 50 anos de história, que o conceituado estilista português partilhou em entrevista à Spot… Celebrou recentemente a sua 50º coleção, e os seus 50 anos, com o ‘Baile Nuno Gama’, que homenageou o seu agradecimento à vida. Parte dela dedicada à moda. Que momentos mais o marcaram nestes 30 anos de carreira? Todos os anos são especiais para mim. A única diferença é que, com o passar dos anos, a experiência e a maturidade tornam-nos cada vez mais objetivos, exigentes e rigorosos. Ensinam-nos a ganhar algum espírito de missão e partilha com os outros, que, na minha opinião, são essenciais. Faz-me alguma confusão ver tanto egoísmo e individualismo. Tudo podia ser bem melhor se as pessoas tivessem uma atitude diferente perante a vida. Fale-me dos “Heterónimos” desta 50ª coleção que revisita a alfaiataria de luxo… Os heterónimos traduzem uma evolução. O regresso do charme. Do pormenor. O saber apreciar uma boa garrafa de vinho tinto, o gosto por um bom carro, o regresso da alfaiataria, do fato feito por medida. Todas estas coisas estão a voltar com muita força, depois de anos em que se perdeu um pouco o rigor da elegância. Cada vez mais existe um público que procura essa elegância, pessoas que querem os códigos do formal, porque querem vestir um bom fato, com bons acabamentos e esta coleção passa muito por essa análise. Quando comecei a pensar de que forma é que poderíamos trabalhar esta tendência, acabei por bater em Fernando Pessoa, porque é uma das imagens mais fortes de um dos nossos maiores embaixadores de todos os tempos. Na construção da coleção, reconheci alguns heterónimos meus. O revisitar de coleções anteriores, olhar para trás e perceber o que é a marca Nuno Gama, e uma consequente evolução com propostas atuais e contemporâneas, a partir de coisas que já tinha feito anteriormente. Fernando Pessoa tem esta dualidade entre o orgulho e o gosto por Portugal, e, ao mesmo tempo, o lado sarcástico e crítico que eu acho que se encontra também no meu trabalho. No fundo foi da construção deste paralelismo que nasceu esta coleção. Nesta equação falta ainda um número: 25 anos…de ModaLisboa. No passado dia 8 encheu a Praça do Império de cacos contra os estereótipos e a favor da igualdade. Mas não é este mundo (da moda) feito de estereótipos? Os estereótipos existem nas pessoas que os constroem. E há uma coisa que me continua a fazer muita confusão, e que eu nunca percebi: o facto de uma simples diferença de pele causar tanta diferença entre as pessoas. Quando por trás dessa diferença de pele existe uma pessoa exatamente igual a nós. Que veio a este mundo da mesma forma que nós. Nenhum de nós pede para nascer, nenhum de nós faz uma lista de pedidos antes de vir a este mundo. O facto de percebermos isto, e de conseguirmos ultrapassar as diferenças, e crescermos com elas, torna-nos mais ricos. Há pessoas que não vestem vermelho porque não são Benfiquistas. Ainda vejo, inclusive, muitos clubes que não gostam que os jogadores vistam vermelho ou azul porque essa é a cor do ‘adversário’. Isto não faz sentido nenhum. Não faz de nós sociedades mais evoluídas, e não causa bem-estar a nenhuma das partes. Não posso ficar indiferente e acho que, aos 50 anos de idade, com 30 anos de carreira, já ganhei alguma autoridade para poder falar destas coisas. Para tentar transmitir o meu ponto de vista sobre isto. A marca Nuno Gama não é ‘apenas’ roupa. É um conceito. Uma forma de estar. No segundo dia da 47ª edição da ModaLisboa inspirou-se na realidade virtual, surpreendendo uma vez mais tudo e todos. Quão importante é este lado de “sonho” na sua vida? Esta realidade paralela? Aquilo que eu apresento é um mundo que existe dentro de mim, um mundo visto pelos meus olhos. Portanto esta realidade parte de factos da nossa vivência e experiência do dia-a-dia, mas é sempre um conceito criado por mim, dentro de mim, à minha imagem. Alguém uma vez escreveu que ‘o futuro é passado no presente’, e eu acho que faz sentido inspirar-me no mundo virtual de forma a criar a futuro. Onde busca inspiração? Na vida. Não é em bibliotecas, em revistas, não é em nenhum local específico. É em tudo. Eu tento receber a informação toda que me rodeia de livre arbítrio, tento fazer com que as coisas que me apresentam façam sentido de alguma forma. O resultado de tudo isso é uma montagem, de peças que acabam por encaixar umas nas outras e que se tornam na minha fonte de inspiração. Lembra-se do dia em que se apaixonou pela moda? Não. Eu acho que não houve o dia D. Houve um ‘miúdo’ que de repente cresceu demais para a roupa que tinha, e teve que se preocupar com isso. Um ‘miúdo’ com uma visão diferente que começou a ganhar gosto por isso e que foi evoluindo. Um ‘miúdo’ que continua em evolução. Não é uma missão completa, de forma alguma. O que significou para si a criação da Maison Nuno Gama? Uma viragem no tempo. Uma tentativa de fazer algo diferente, e, sobretudo, de ir ao encontro dos nossos clientes. Uma forma de lhes prestar um melhor serviço. O que podemos encontrar por lá? A ‘Maison’ está dividida em diferentes partes. Tem uma barbearia, com todos os cuidados masculinos ligados à beleza, uma área destinada a todas as coleções que apresentamos na ModaLisboa, e a parte de alfaiataria onde temos algumas propostas daquilo que vamos fazendo. Alfaiataria pura e dura, onde podemos fazer tudo aquilo que os clientes quiserem, por encomenda, e por medida. Já lhe apeteceu vestir um desconhecido na rua? Sim é frequente. Acontece-me frequentemente até com os manequins que trabalham comigo. Por vezes, com um pequeno toque de mudança, ficam com um aspeto completamente diferente. Mais jovem, mais contemporâneo. Acho que ainda existe muita gente que se esquece de si própria, que não se cuida. Portugal veste-se bem? Em Portugal, como em todos os outros países, acabamos por ter um pouco de tudo. Temos uma faixa social bem vestida, bem informada, mas, infelizmente, não somos propriamente um país rico. A grande maioria das pessoas acaba por prescindir do vestuário, e da sua elegância, em prol de outras coisas mais importantes. E braga? Confesso que não tenho um convívio recente com a cidade de Braga. Mas a imagem que tenho é a de uma cidade evoluída, com sofisticação, nomeadamente a nível de moda e tendências. Na sua opinião, qual é o verdadeiro poder da moda? Sem dúvida o poder de comunicar com as pessoas. Quem são as suas grandes referências pessoais e profissionais? O meu pai e a minha mãe. Que outros mundos existem dentro do seu “mundo”? O meu mundo acaba por ser muito focado na minha vida profissional. Porque isto é a minha vida. Paralelamente, existe um Nuno cozinheiro, que relaxa quando cozinha. Cresci na cozinha, com a tradição culinária que tive através da herança culinária da minha avó. Cozinhar para mim é um ato de amor. Depois existe o mergulho, outra das minhas grandes paixões. E o resto é a vida toda à minha volta, que é o meu grande mundo. Um mundo de inspiração. Continuar a sentir-me um ‘turista acidental’ nesta vida, e descobrir todos os dias coisas diferentes é extremamente gratificante. Tem muitos sonhos por cumprir? Claro que sim. Eu nunca escondi a minha maior missão e o meu maior sonho, que é conquistar o mundo com a marca Nuno Gama. O meu sonho é um dia poder fazer parte da evangelização do ‘Portugal contemporâneo’ no mundo. Há um charme lusitano que me fascina. Tenho um enorme orgulho em ser português. destaque entrevista grande entrevista Moda Nuno Gama Tendências top JOANA VASCONCELOS FALA-NOS DO POP GALO CARLOS SÁ – UM ULTRAMARATONISTA DE ALMA BARCELENSE You Might Also Like... EMPRESAS & EMPRESÁRIOS / Moda/Beleza Fuse Valley: Castro Group e Farfetch apresentam vale tecnológico assinado por Bjarke Ingels Fuse Valley é o nome do futuro vale tecnológico que se prepara para nascer em Matosinhos, nos próximos quatro anos,… Arquitetura AZO Arquitetos: Para lá do tempo e da matéria… O tempo multiplica-se em formas poéticas ao longo de uma materialidade estrategicamente vulnerável à sua passagem. É a madeira oxidada… EMPRESAS & EMPRESÁRIOS Entrevista a António Cunha, presidente da CCDR-N: Um ‘taylor made’ regional na aplicação dos fundos comunitários A taxa de desemprego do Norte baixou de 7,4% para 6,3% no segundo trimestre de 2021, “um resultado histórico relativamente…
EMPRESAS & EMPRESÁRIOS / Moda/Beleza Fuse Valley: Castro Group e Farfetch apresentam vale tecnológico assinado por Bjarke Ingels Fuse Valley é o nome do futuro vale tecnológico que se prepara para nascer em Matosinhos, nos próximos quatro anos,…
Arquitetura AZO Arquitetos: Para lá do tempo e da matéria… O tempo multiplica-se em formas poéticas ao longo de uma materialidade estrategicamente vulnerável à sua passagem. É a madeira oxidada…
EMPRESAS & EMPRESÁRIOS Entrevista a António Cunha, presidente da CCDR-N: Um ‘taylor made’ regional na aplicação dos fundos comunitários A taxa de desemprego do Norte baixou de 7,4% para 6,3% no segundo trimestre de 2021, “um resultado histórico relativamente…
ÉS DE BRAGA Refúgio do Jugo: Um pôr-do-sol mágico sobre a Barragem da Caniçada Há algo de mágico no momento em que o sol se despede de mais um dia nesta encosta dourada. O…
ÉS DE BRAGA Júlia Fernandes: Um percurso de mais de 30 anos na Política… Numa edição que destaca a liderança feminina, contamos o percurso de Júlia Fernandes, que aos 20 anos se embrenhava no…
ÉS DE BRAGA Empresária nas pontas dos pés O papel químico do livro das encomendas tingia-me os dedos de azul. Com a minha caligrafa de esquerdina contrariada anotava,…