Arquitetura “A arquitetura desafia a emocionalidade do ambiente urbano” By Revista Spot | Outubro 6, 2024 Outubro 10, 2024 Share Tweet Share Pin Email Encontramo-nos com Carvalho Araújo na “Sala”. O lugar que é livre como a Arte e onde tudo pode acontecer, mas já lá vamos. Antes disso, percorremos Portugal e Espanha, país onde acabou de ganhar o concurso para o design das sedes do EDA Drinks & Wine Campus, em Laguardia e Vitoria-Gasteiz, ao lado de ateliers de referência internacional no âmbito da arquitetura mundial. Mas em dois passos voltamos a Braga e a uma nova polaridade urbana. “Já não é só arquitetura”, diz. “É uma contribuição ativa para a cidade e a sua identidade”. Continua a apaixonar-se pela sedução na arquitetura e confessa que gosta de pensar nos seus projetos em estado de ruína. “A ruína, com seu silêncio eloquente, ensina-nos sobre a passagem do tempo, sobre a beleza das cicatrizes e sobre a inevitável dança entre a criação e a destruição. Nela, encontramos não apenas o que foi, mas também o que pode ainda ser…” Na ‘Sala’ “Vamos jantar? Não, vamos à ‘Sala’!”. O simples ato de nomear aquele espaço indica algo mais profundo. A sala não é apenas um local, mas um conceito, uma intenção de criar um ambiente aberto onde o diálogo e a partilha de experiências voem livremente, sem imposições. “A ‘Sala’ tanto pode ser lugar de exposições e performances, como reunião de trabalho ou convívio informal. Um ponto de confluência, onde discussões e debates surgem espontaneamente, como se o espaço tivesse uma voz própria.”, reflete Carvalho Araújo. A componente criativa está presente em todas as fases, desde o design de um puxador até a forma como as conversas fluem e a ‘Sala’ é isso. “A ‘Sala’ permite que todos se sintam parte do processo criativo.”, explica. E assim, os encontros tornam-se uma experiência coletiva, onde a simplicidade das conversas informais se mistura com a profundidade das ideias que surgem. “Estar aqui é um convite à liberdade de pensamento. A verdadeira magia acontece quando as pessoas se sentem à vontade para expressar as suas opiniões, sem limitações. Por vezes, a arquitetura das nossas ideias é construída sobre os alicerces das conversas quotidianas e dos prazeres simples da vida, como beber um copo de vinho na ‘Sala’ ao final da tarde.”, garante. Arquitetar a espuma dos dias É fascinante a simplicidade com que descreve os projetos de um atelier que já ultrapassou as fronteiras de Braga e do país e que em breve vai mudar-se para um novo espaço, onde a arquitetura se deixa influenciar por práticas como o design, a comunicação, a escrita e a fotografia. Percorremos Braga em projetos e redescobrimo-la pelo olhar de Carvalho Araújo. “Braga está à beira de uma nova era, onde a memória e a modernidade podem coexistir e interagir de forma sinérgica, dando vida a novas narrativas. O que realmente dá vida a um espaço ou a um lugar não são apenas as linhas que o definem, mas as emoções e interações que nele acontecem. Não se trata apenas de criar algo bonito ou feio, correto ou incorreto; é sobre sustentar uma visão que possa enriquecer a experiência do outro. Criar novas experiências, acrescentar.”, assume. Museu de Arte Contemporânea de Braga E isso vê-se em projetos como o futuro Museu de Arte Contemporânea de Braga. “A cidade aguarda ansiosamente por uma revolução cultural que promete dar nova vida às dinâmicas urbanas. O compromisso de preservar as fachadas e muralhas existentes é uma escolha consciente, garantindo que a arquitetura exterior dialogue harmoniosamente com o passado da cidade, enquanto o piso térreo será um elo de ligação entre praças, criando uma nova praça cultural. O museu não se apresentará como uma entidade estanque, mas sim como um organismo em constante evolução, um verdadeiro camaleão cultural que se adapta e transforma, refletindo a vitalidade da cidade. Braga, que sempre teve um papel significativo no cenário nacional, está prestes a ganhar um novo músculo. O novo museu não só contribuirá para a afirmação da cidade a nível nacional, mas também a nível internacional, trazendo uma lufada de ar fresco e promovendo um intercâmbio cultural enriquecedor.”, revela. Carvalhal, Braga Um pouco mais acima, o antigo quartel dos Bombeiros vai renascer num hotel. O GNRation, o Edifício Lusitana, o Conjunto Carvalhal (entre a Rua do Carvalhal e a Rua do Carmo), formam uma nova “escultura urbana” que nos oferece uma nova perspetiva sobre a cidade. “Temos uma preocupação muito grande em pensar a cidade. A arquitetura deve participar ativamente na transformação do ambiente urbano e a experiência humana dentro dele, tornando-se num lugar onde todos podem encontrar um pedaço de si. São as emoções, as experiências e histórias de quem a habita que dão cor à cidade.” EDA Drinks & Wine Campus, Laguardia, Espanha EDA Drinks & Wine Campus, Vitoria-Gasteiz, Espanha Aqui e ali São Paulo, Fortaleza, Los Angeles, Paris, Moçambique, (Angola) e Portugal de lés a lés. Um dos últimos projetos do atelier é o desenho das sedes do EDA Drinks & Wine Campus, localizadas em Laguardia e Vitoria-Gasteiz. Estes edifícios de investigação e produção de vinhos não são apenas centros de estudo, mas símbolos de inovação e sustentabilidade. O projeto, intitulado ‘Mugarik Gabe’ (Sem Limites, em basco) reforça um ponto de vista de Carvalho Araújo, que defende uma arquitetura de escalas e abordagens diversas, sempre com uma postura estratégica, racional e simultaneamente poética. Os dois edifícios apresentam-se intrinsecamente relacionados, prolongando-se no espaço que ocupam, sem estabelecer limites. Independentemente dos diferentes contextos onde se encontram localizados, tornam-se autónomos na medida em que respondem aos seus próprios contextos e necessidades, existe uma estratégia comum: gerar espaços para atrair talento, oferecer formação especializada e desenvolver linhas de investigação centradas na transferência de conhecimentos para o sector com uma projeção internacional e uma visão integral. Arquivo Nacional do Som, Mafra Arquivo Nacional do Som, Mafra Carvalho Araújo está ciente de que “o edifício é um elemento fundamental na construção das cidades”. Este princípio guiou o projeto do Arquivo Nacional do Som, em Mafra. O edifício, em pedra pintada de branco, descrito como uma caixa-forte de um património imensurável, será uma peça única em Portugal e trará à memória a ligação visual com o imponente Palácio de Mafra. “É a partir desta narrativa que o atelier se preocupa em integrar os projetos na paisagem, tornando-os relevantes não apenas pela sua função, mas pela forma como dialogam com a história e o futuro dos locais.” Estação de Artes, Fortaleza Estação de Artes, Fortaleza Processo criativo “Por vezes, o que falta num projeto é a atmosfera, a sensação que se experimenta ao entrar naquele lugar. É a capacidade de capturar e expressar o intangível que realmente define uma obra. Para alguns, as palavras podem fazer isso de forma mais rica e variada do que qualquer esboço, permitindo que o imaginário do outro ganhe vida. O desafio é “escrever” de maneira a fazer o outro imaginar, a provocar sentimentos e interpretações que vão além do que um desenho pode oferecer. O arquiteto é um intérprete.”, brinca. No entanto o desejo criativo não pode ser solto à mercê da emoção. “Para um arquiteto, a razão é uma companheira necessária; é a que lhe garante que, na execução, o sonho não se desvirtue em caos.” MIS – Museu da Imagem e do Som, Fortaleza MIS – Museu da Imagem e do Som, Fortaleza Carvalho Araújo define a arquitetura como um relacionamento: começa com a sedução e a paixão, evolui para a fase do compromisso e, por fim, enfrenta os desafios da racionalidade. Mas mesmo nos momentos de tensão, o arquiteto acredita que a essência de cada obra nunca se deve perder. Fala sobre a dor que vem de ser um ator nesse processo criativo. A busca pela abstração das leis e normas muitas vezes cede lugar à realidade, mas a paixão nunca se esgota. Em cada projeto, vê-se na posição do cliente, desafiando-se a criar algo que se ligue ao que este deseje, mantendo-se simultaneamente fiel ao seu próprio propósito artístico. “É um convite à criatividade coletiva, onde cada voz, cada ideia, adiciona uma nova camada de significado ao espaço que habitamos. Assim, a arquitetura transforma-se, deixando de ser um ato isolado para se tornar um verdadeiro diálogo sobre a vida, a cultura e a comunidade.”, diz. No final, a ruína No emaranhado da arquitetura, há uma poesia que se revela nas fissuras do tempo e na beleza das ruínas. “Os projetos em ruína não são apenas vestígios do que foi, mas sim testemunhos de uma luta pela regeneração. Cada estrutura que se deteriora carrega uma história, um eco das vozes que um dia habitou os seus espaços. Gosto de pensar nos projetos num estado de ruína. As janelas partidas, as portas que rangem ao vento, e a natureza que se impõe lentamente são as marcas de um processo natural e necessário. A decadência transforma-se em beleza. Cada pedaço da estrutura em ruína pode ser uma obra de arte por si só. A natureza toma posse, trazendo vida onde antes havia apenas um espaço esquecido. Moca, Christian Rosa, Paris As obras contemporâneas, por mais ousadas que sejam, estão destinadas ao desgaste do tempo. A ruína, com seu silêncio eloquente, ensina-nos sobre a passagem do tempo, sobre a beleza das cicatrizes e sobre a inevitável dança entre a criação e a destruição. Nela, encontramos não apenas o que foi, mas também o que pode ainda ser. São essas as várias fases da minha relação com a arquitetura.”, termina. “A ansiedade é uma batalha silenciosa que muitos enfrentam todos os dias” “No livro ‘Mamíferos: Ato de Amamentar’ a amamentação é apresentada às crianças de forma lúdica e cativante”
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