Arquitetura Entrevista a Vítor Vitorino VVARQ: Viver a Arquitetura By Revista Spot | Agosto 16, 2023 Novembro 8, 2023 Share Tweet Share Pin Email Le Corbusier dizia que a Arquitetura é um estado de espírito e não uma profissão. Conversar com Vítor Vitorino é perceber o significado dessa frase. Os seus projetos estendem-se para lá dos limites que alguma vez imaginou. Pelo traço passam-lhe rostos, pessoas, perspetivas e culturas, numa Arquitetura que sabe o que quer ser, regressando sempre que possível a essa essência original, que interseta todas as realidades paralelas, para deixar a sua marca no tempo… Porquê Arquitetura e não outra área? É uma paixão que me acompanha desde pequeno. Desde os tempos de escola que as Artes sempre tiveram tudo a ver comigo, talvez por influência dos meus tios, que eram pintores e, sem dúvida, do meu pai, desenhador projetista na área da Construção Civil. É um mundo que me fascina desde sempre. Recorda-se do primeiro projeto? Tinha 13 anos e transformei o estilo de uma casa por completo. Claro que não me esqueço do meu primeiro projeto ‘a sério’, que me levou a trocar Vila do Conde por Lisboa. Acho que a Arquitetura sempre teve esse dom de me arrancar da minha zona de conforto. E o mais recente? O projeto mais recente é também o mais mediático, a casa do Cristiano Ronaldo na Quinta da Marinha. Um passo que me levou a abraçar uma sucessão de desafios arquitetónicos. Normalmente um projeto é essa sucessão de histórias encadeadas? Na grande maioria das vezes. No ano passado tivemos dois desafios incríveis de luta contra o tempo. Inicialmente o projeto do apartamento do Cristiano, no edifício Castilho 203, em Lisboa e a remodelação da sua casa em Turim, este último extremamente desafiante, pela logística de transportar tudo para Itália, numa altura de neve e com todos os constrangimentos que a Covid-19 trouxe. Trabalhámos durante 24 horas por dia, ao longo de três dias para que tudo corresse de acordo com o planeado. Ele tem-me desafiado a fazer coisas muito interessante. O que tem acontecido no universo VVARQ em Portugal e no mundo nos últimos tempos? Tenho desenvolvido alguns projetos de relevo na Quinta da Marinha, em Cascais. A geração brasileira que está a vir para Portugal é o melhor que pode acontecer a um arquiteto. É outra forma de estar na criação da Arquitetura, em que as pessoas parecem estar à procura de um tema, de uma modificação, para mais um momento de conversa e uma tarde bem passada. Para eles um projeto é um momento de descontração, ao contrário do que acontece com outras culturas. Tenho trabalhado com clientes de diversas nacionalidades, desde israelitas, judeus, argelinos, o que se torna realmente enriquecedor e motivo de aprendizagem constante. Estou também com projetos na Quinta da Lago, no Algarve e a nível internacional na Córsega e nas Caraíbas, para um cliente argelino que vive nos Estados Unidos. O percurso de um arquiteto é esse acumular de vivências? Sem dúvida. Das exposições que visitamos, das viagens que fazemos e sobretudo das diferentes pessoas que conhecemos. Estou a desenvolver projetos para diversas figuras mediáticas do panorama futebolístico português e internacional e recentemente aceitei um dos desafios mais difíceis em termos emocionais, mas uma enorme honra, que foi desenvolver o Jazigo de homenagem à Sara Carreira. É um privilégio acompanhar de perto uma família tão bonita e tão unida como a família Carreira. Esta mescla de pessoas, realidades e culturas faz com a sua arquitetura seja feita de combinações improváveis? Sempre e é isso que é fascinante. Não faço as casas para mim. Gosto que as pessoas se envolvam e que desenvolvam o projeto em coautoria comigo e com a minha equipa. Dou-lhe um exemplo muito concreto disso, tenho uma casa de uns clientes que viveram muitos anos no Dubai que é a verdadeira materialização da extravagância. A casa até pode não ter nada a ver comigo e com o meu estilo, mas no final o design e a técnica estão todos lá. O maior desafio da minha vida foi fazer três casas em simultâneo, para três amigos, com gostos completamente distintos. O resultado final? Três casas diferentes entre si, que nem parecem do mesmo arquiteto. Foi necessário compreender a personalidade, a essência, o estilo de vida e as rotinas de cada um, só assim o resultado flui, fruto de muitas conversas e trocas de ideias. A Arquitetura nunca pode ser um exercício solitário de puro exibicionismo artístico. Ainda assim existe uma marca pessoal… Sim. Há uma assinatura que, contudo, vai mudando ao longo do tempo. Fascina-me descobrir novas abordagens, explorar diferentes materiais, cruzar-me com pessoas inspiradoras que podem trazer valor acrescentado ao meu trabalho, tal como um artista, ou um artesão. “O projeto mais recente é também o mais mediático, a casa do Cristiano Ronaldo na Quinta da Marinha. Um passo que me levou a abraçar uma sucessão de desafios arquitetónicos.” Quais são as suas influências? É o cliente e aquilo que vou vendo e absorvendo. Há muita pesquisa também. Ainda há pouco tempo me cruzei com uma entrevista do Souto de Moura em que ele dizia que copiar bem é uma sabedoria. Ou seja, quando não sei, inspiro-me em coisas que já existem, acrescentando sempre a minha perspetiva e o meu cunho pessoal. Há sempre uma missão intrínseca? Privilegiar sempre a envolvente natural de um determinado projeto. O paisagismo transforma qualquer projeto, para além de contribuir para o bem-estar de quem o vai habitar no futuro. É um exercício interessante perceber a forma como a própria natureza se vai comportando em relação ao projeto ao longo do tempo. Imagina-se a fazer algo que nunca tenha feito? Na verdade, cada novo projeto é uma oportunidade de fazer algo que nunca foi feito e os locais têm sempre essa capacidade de me desafiar. Envolvo-me sempre muito. Mas o que ainda não fiz, e adorava, era criar um atelier onde a minha mulher Tânia pudesse desenvolver a componente da decoração, – ela tem sido essencial e um apoio incrível no meu trabalho nessa área – e onde pudesse inspirar o meu filho para que, quem sabe, no futuro, ele possa dar continuidade a este caminho. Um lugar dedicado à Arquitetura e à Arte, mas onde paralelamente tivesse essa liberdade de juntar amigos, com o meu irmão João Vitorino, o melhor sushiman que conheço, a orquestrar a mesa. “A Arquitetura sempre teve esse dom de me arrancar da minha zona de conforto.” Agora, mais do que nunca, a casa é a grande protagonista? Completamente. A pandemia levou as pessoas a repensarem o seu modo de vida. Tenho imensos clientes que trocaram as grandes cidades europeias pela calma portuguesa. Vêm maioritariamente em busca de desporto e natureza. Como é gerir a VVARQ como empresa e ao mesmo tempo manter-se consistente com a qualidade e o tipo de arquitetura que oferece às pessoas? Não paro. São muitos quilómetros. Neste momento eu e a minha equipa estamos de forma permanente na Quinta da Marinha e cada segundo conta. Depois de um dia inteiro na obra, à noite é altura de criar e, no dia seguinte, o telemóvel desperta às 8h00 da manhã. É dizer não aos jantares e apoiar-me também muito no desporto como forma de escape. Estamos numa alta competição da Arquitetura. Ou temos capacidade de acompanhar esse ritmo, ou perdemo-nos. Se entrássemos na sua mente em pleno processo criativo, o que encontraríamos? Seria tridimensional. É gerir 50 projetos ao mesmo tempo, dormir com a Arquitetura, acordar com obras, falar de noite sozinho (risos). Neste percurso é importante não perder a ‘essência’? Muito importante. Fazermos sempre aquilo em que acreditamos e nunca perdermos os nossos valores. Que marca gostaria de deixar para o futuro? A marca da continuidade. Estou ansioso pelos próximos quatro anos, que vão deixar uma marca importante nessa zona premium de Portugal que é a Quinta da Marinha. São oito casas que vão nascer e que vão mudar um pouco a arquitetura daquele lugar. Embora tenha diversos projetos no Norte, o Sul continua a ser o mercado com mais solicitações. Arquitetar é assinar esse pacto com o tempo? Sim e quanto maior for o projeto, mais isso se sente. O desenrolar de um projeto requer paciência, adaptação, até ao dia final. Um projeto nunca é estático e pode sofrer inúmeras alterações. Por vezes um cliente chega de uma viagem cheio de ideias e inspirações, há que ter capacidade de assimilar, interpretar e gerir muito bem tudo isso. “Fascina-me descobrir novas abordagens, explorar diferentes materiais…tal como um artista, ou um artesão. ” Este é e será sempre um caminho feito de relações? Sempre. Ganhar a confiança e a amizade das pessoas é, sem dúvida, uma das grandes recompensas deste trabalho. Chegar a um ponto em que os nossos amigos são nossos clientes. Há sempre essa envolvência do trabalho com o convívio e a amizade. Um vai trazendo outro e as coisas vão acontecendo naturalmente. Na verdade, acredito que os projetos vão narrando a minha história, num caminho feito de pessoas e de relações duradouras, como uma boa Arquitetura deve ser. top Fisiocompostura: A importância da Reeducação Postural ao longo da vida Jorge Castro, CEO da Ambinigma: “A automação e a conetividade estão a tornar-se caraterísticas essenciais nas soluções de aquecimento” You Might Also Like... Materiais Cubroo: Arquitetura têxtil e proteção solar personalizada à distância de um clique Os espaços exteriores assumiram o protagonismo na habitação, contribuindo significativamente para a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas…. Design de Interiores Antarte: O futuro do design de interiores O design de interiores está a atravessar uma transformação significativa, com tendências que apontam para um futuro mais consciente e… Engenharia Novos desafios urbanos requerem soluções integradas A abordagem interdisciplinar ao planeamento urbano e à construção é um catalisador para o desenvolvimento de ambientes mais humanos e…
Materiais Cubroo: Arquitetura têxtil e proteção solar personalizada à distância de um clique Os espaços exteriores assumiram o protagonismo na habitação, contribuindo significativamente para a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas….
Design de Interiores Antarte: O futuro do design de interiores O design de interiores está a atravessar uma transformação significativa, com tendências que apontam para um futuro mais consciente e…
Engenharia Novos desafios urbanos requerem soluções integradas A abordagem interdisciplinar ao planeamento urbano e à construção é um catalisador para o desenvolvimento de ambientes mais humanos e…
Arquitetura “A arquitetura assume a responsabilidade de antecipar as transformações da sociedade” De uma arquitetura pragmática e cada vez mais multidisciplinar, ao desenho das cidades, passando pelo design de produto como ferramenta…
Arquitetura Dupla de arquitetos com projetos premiados a nível mundial abre atelier em Braga Desafiam convenções e reinventam o ambiente urbano com uma linguagem visual que subverte a perceção comum de espaço e forma….
Arquitetura RSO Architecture: O atelier onde se projeta em várias línguas e que colocou Braga no radar da arquitetura mundial Das grandes janelas do bonito atelier da RSO Architecture, virado para a Avenida da Liberdade, em Braga, vemos o mundo….