Ent’Artes leva a dança portuguesa ao Brasil

Há convites que chegam como um reconhecimento silencioso de um caminho feito com alma. No passado dia 17 de setembro, a diretora da Ent’Artes – Escola de Dança, Diana Sá Carneiro, recebeu uma chamada inesperada. Do outro lado do mundo, Ana Ventura Miranda, diretora do Arte Institute (Nova Iorque) e do RHI Portugal, trazia uma notícia que mudaria o rumo dos próximos meses: a Ent’Artes tinha sido convidada, em conjunto com a Companhia de Ballet de Niterói, para integrar a Mostra de Portugal Contemporâneo no Brasil. “Foi uma surpresa boa, daquelas que fazem o coração bater mais depressa. Um convite espontâneo vindo de pessoas que consideramos uma referência na área da dança, que acompanham o nosso trabalho, e isso, para nós, é um enorme motivo de orgulho”, partilha Diana Sá Carneiro. O evento, que decorrerá em seis cidades brasileiras, representa uma vitrina do talento português contemporâneo nas mais diversas áreas artísticas. A Ent’Artes será a única escola de dança convidada, um feito inédito que reflete o reconhecimento internacional do seu percurso artístico e pedagógico.

Um marco na história da Ent’Artes

Com 15 anos de existência, a Ent’Artes tem vindo a afirmar-se como uma das mais consistentes escolas de formação em dança em Portugal, com projeção muito além das suas paredes. Ao longo dos anos, construiu um modelo de ensino onde cada aluno é acompanhado não apenas como bailarino, mas como pessoa.

“Todas as conquistas, cada prémio, cada coreografia apresentada em palco, contribuíram para que este convite fosse possível. Foi a nossa história que nos trouxe até aqui”, afirma Diana.

A viagem ao Brasil, marcada para novembro, contará com uma equipa de 11 elementos, oito bailarinos e três professores, que representarão Portugal em palcos de prestígio. Mas, para além da emoção, há também o peso da responsabilidade. “Vamos dançar ao lado de profissionais. Quem nos convidou tem a certeza de que o nosso trabalho tem qualidade. E isso enche-nos de orgulho, mas também de compromisso”, acrescenta.

“É um orgulho saber que a Ent’Artes foi convidada, em parceria com a Companhia de Ballet de Niterói, para integrar a Mostra de Portugal Contemporâneo no Brasil”

ITER — o caminho que une gerações

A peça escolhida para esta digressão chama-se “ITER” — palavra latina que significa “caminho”. Criada pelo coreógrafo Filipe Narciso, a obra reflete, de forma poética e intensa, as jornadas interiores que definem o ser humano: o caminho de cada bailarino, o do coreógrafo e o da própria escola.

“‘ITER’ fala sobre o percurso de cada um, o meu como criador, o deles como intérpretes. É sobre o crescimento, a busca e a partilha. Levar esta peça ao Brasil faz todo o sentido, porque é o prolongamento natural do nosso caminho”, explica Filipe.

Esta será também a primeira vez que uma criação de Filipe Narciso ultrapassa fronteiras europeias, e a emoção é palpável: “Dancei em muitos países, mas nunca no Brasil. É a primeira vez que tenho uma peça fora da Europa, e quero que os alunos percebam o quanto isto representa. Este convite é um símbolo de confiança no que somos e no que construímos.”

“O evento, que percorrerá seis cidades brasileiras, é uma celebração da criação portuguesa nas suas formas mais contemporâneas”

Uma responsabilidade que inspira

Para os jovens bailarinos, ainda em formação, a viagem representa mais do que uma atuação, é a materialização de anos de dedicação, de horas infinitas em estúdios, de suor, lágrimas e aplausos. É também o início de um novo capítulo.

“Queremos que percebam que estão a viver algo maior do que eles próprios. Estão a representar Portugal, estão a representar a dança portuguesa. E isso exige humildade, responsabilidade e entrega”, sublinha Diana Sá Carneiro.

A diretora recorda que o desafio financeiro foi grande, especialmente no que toca às viagens de avião, o maior encargo logístico do projeto. “Aceitámos o convite sem hesitar. Recusar seria impensável. E depois, claro, veio a realidade: como é que vamos garantir que todos possam ir? Foi aí que começámos a pedir apoio, a apresentar o projeto, e felizmente, a generosidade foi enorme.”

Empresas e entidades, maioritariamente do norte de Portugal, responderam ao apelo, reconhecendo o valor cultural e simbólico desta deslocação. “Cada apoio conta. E cada pessoa ou empresa que se juntou a nós faz agora parte desta história. São parte desta viagem”, conta Diana.

A escola que é mais do que uma escola

A Ent’Artes há muito que ultrapassou o conceito de escola de dança. É uma plataforma de criação, formação e intercâmbio artístico. Projetos como o Motus Dance Project, o braço semiprofissional da escola, e a Plataforma Ent’Artes, que promove masterclasses e residências com coreógrafos nacionais e internacionais, tornaram o espaço num polo de experimentação e crescimento artístico.

“Não somos uma companhia, somos uma escola. Mas é precisamente isso que torna este convite tão especial. É a prova de que o trabalho feito com consistência e amor tem eco para lá das fronteiras”, sublinha Diana.

Além da participação no Brasil, a Ent’Artes prepara dentro de portas a participação em vários eventos. “Vivemos um momento muito intenso, mas também muito bonito. É uma fase de colheita e de partilha.”

“ITER fala sobre o nosso caminho, o dos bailarinos, o do coreógrafo e o da escola. É sobre seguir em frente, juntos”  

Vozes que dançam, a emoção dos professores e alunos

Para a professora Maria Borges, esta viagem tem um significado muito especial: “Este convite foi totalmente inesperado. É uma oportunidade de dimensão enorme e perceber que conseguimos garantir os apoios necessários para levar estes alunos deixa-me profundamente feliz. Eles estão em formação, ainda não são bailarinos profissionais, mas vão viver uma experiência que ficará para sempre. Um dia, poderão dizer: ‘A minha escola levou-me a um festival internacional no Brasil’.”

Entre os jovens bailarinos, as emoções são partilhadas em gestos e palavras. Falam com brilho nos olhos e uma serenidade que apenas a paixão pela arte pode trazer.

“Estamos muito ansiosos, mas felizes. Sabemos que é uma responsabilidade representar Portugal, mas também queremos aproveitar cada segundo desta experiência”, dizem.

Outro aluno acrescenta: “A peça ‘ITER’ fala sobre o caminho de cada um, e esta viagem é parte do nosso. Vamos levar connosco tudo o que aprendemos e dançar com o coração.”

Uma viagem com alma

A Mostra de Portugal Contemporâneo no Brasil não será apenas uma oportunidade de mostrar o talento português — será um encontro de culturas, uma celebração da arte que atravessa fronteiras. “Vamos com o coração cheio. Sabemos que o palco é longe, mas a arte aproxima”, resume Diana Sá Carneiro.

E talvez seja essa a maior mensagem da Ent’Artes: a de que a dança é, acima de tudo, um caminho partilhado, feito de fé, de entrega e de sonho. “Acredito que este seja apenas o início de algo maior. Que este ITER continue, e que nos leve ainda mais longe.”

Agradecimentos: Argumenturbano, Braga Eventos, Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Clibioestética, dstgroup, ELP, Fisiminho, Farmácia de Gualtar, Marco António Cabeleireiro, Mercearia da Joana, Offside, Procabelo, Quinta das Escomoeiras, Repeat Audiovisuais, Ricardo Martins Construção, SeguroBraga, Soleo, Vidraria Condão Verde, Vieira e Freitas, Vilaminho e Violette Flores e Eventos.

Morada: Rua Dr. Manuel de Oliveira 23 R/C, Dume 4700-056 Braga

Contacto: 964 693 247

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