“O Ecoparque da Braval tem transformado a abordagem aos resíduos, que passaram de lixo a recursos valiosos para reciclagem e valorização”

A gestão de resíduos está a viver uma revolução com o avanço da recolha seletiva e a valorização dos biorresíduos, em linha com os princípios da Bioeconomia Circular. O Ecoparque da Braval é um exemplo notável desta transformação, demonstrando que cada resíduo pode ser convertido num recurso valioso. Ao transformar resíduos orgânicos em compostos e biogás, reduz-se a quantidade de lixo enviado para aterros e obtêm-se fertilizantes naturais e energia renovável. Segundo Rui Sá Morais, presidente do Conselho de Administração da Braval, este modelo inovador de gestão de resíduos não só promove a circularidade mas abre também caminho para um futuro mais verde e sustentável.

A recolha de 18.345 toneladas de resíduos recicláveis em 2023 demonstra um progresso na eficácia da reciclagem na região?

A recolha seletiva a partir dos ecopontos em Amares, Braga, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Vila Verde registou um aumento de 95 toneladas em 2023. É importante salientar que, desde o início da recolha seletiva através dos ecopontos, em 2000, foram recolhidas um total de 1.000 toneladas. Embora este aumento ao longo de duas décadas seja significativo, ainda há muitos resíduos que poderiam ser reciclados se a população fizesse uma separação adequada.

Os projetos do Ecoparque da Braval têm melhorado a gestão de resíduos e a qualidade ambiental na região?

Desde a sua conceção em 2004, o Ecoparque da Braval tem transformado a abordagem aos resíduos, que passaram de lixo a recursos valiosos para reciclagem e valorização. O foco está na maximização da reciclagem e valorização dos resíduos, minimizando a deposição em aterro.

As iniciativas do Ecoparque incluem a gestão de diversos tipos de resíduos, como papel e cartão, vidro, embalagens, resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE), óleo alimentar usado (OAU), pneus usados, além da recolha de círios e velas em cemitérios. A instalação de compostores domésticos também faz parte do esforço para promover a compostagem e reduzir o desperdício.

Deste modo, o Ecoparque Braval tem desempenhado um papel crucial na melhoria da gestão de resíduos e na promoção de práticas ambientais mais sustentáveis na região.

O investimento contínuo em equipamentos tem sido fundamental?

Desde o início das nossas operações, o número de ecopontos instalados na via pública tem aumentado significativamente. Nos últimos anos, foram colocados mais de 350 ecopontos, no âmbito da candidatura “Otimização da Recolha Seletiva da Braval”, financiada pelo POSEUR. Este crescimento no número de ecopontos requer o aumento correspondente de viaturas de recolha, sendo que atualmente dispomos de cerca de 1430 ecopontos distribuídos pelos seis municípios que servimos.

A Braval foi criada em 1996 e iniciou as suas atividades em 1998, com a entrada em funcionamento do aterro sanitário. Assim, estamos a celebrar quase três décadas de operação contínua, ao longo das quais muitos dos nossos equipamentos necessitaram de ser modernizados e substituídos. Além disso, ao longo destes 24 anos, a quantidade de resíduos a tratar tem aumentado, não apenas devido ao crescimento da reciclagem, mas também ao aumento global de resíduos. Esta situação é uma preocupação, pois o foco deveria estar também no Reduzir, para além do Reutilizar e Reciclar.

A recolha e valorização de biorresíduos, em linha com os princípios da Bioeconomia Circular, representa um avanço significativo? 

A implementação da recolha seletiva de biorresíduos permitirá, além de uma melhoria na qualidade do composto produzido na Central de Valorização Orgânica, um aproveitamento mais eficiente dos materiais recicláveis. Estes, ao estarem isentos de contaminação, poderão ser encaminhados para reciclagem com maior eficácia. Assim, espera-se um aumento na quantidade de materiais valorizados e, consequentemente, um maior contributo para o cumprimento das metas de reciclagem.

De que forma a Unidade de Tratamento Mecânico e a Central de Valorização Orgânica contribuem para a circularidade, a sustentabilidade ambiental e a produção de energia?

A circularidade está integrada em praticamente todas as operações da Braval. A Central de Valorização Orgânica, em particular, representa um avanço significativo, já que lida com os resíduos indiferenciados que antes eram destinados diretamente ao aterro sanitário. Desde a sua inauguração em 2016, esta central realiza uma triagem da fração orgânica dos resíduos, que é então valorizada energeticamente. O biogás gerado durante este processo é utilizado para produzir energia elétrica. Adicionalmente, no final do processo, obtém-se um composto, denominado Ferti+, que pode ser utilizado como fertilizante agrícola, promovendo a sustentabilidade no setor da agricultura.

Mesmo na fração reciclável contaminada, que normalmente não seria enviada para reciclagem, conseguimos extrair alguns materiais valiosos para a valorização, aumentando assim a eficiência do ciclo de gestão de resíduos e contribuindo para uma economia circular mais eficaz.

Quais foram os principais resultados alcançados nos últimos anos em termos de quantidade de resíduos tratados e energia produzida?

Nos últimos anos, a Central de Valorização Orgânica alcançou resultados significativos no tratamento de resíduos e na produção de energia. Desde 2016, foram tratadas 576 mil toneladas de resíduos, dos quais 55% são matéria orgânica. Além disso, foram desviadas de aterro aproximadamente 17.100 toneladas de materiais recicláveis. No que diz respeito à produção de energia, incluindo o biogás extraído do aterro sanitário, foram introduzidos cerca de 75 mil MWh de eletricidade na Rede Elétrica Nacional.

Quais são os objetivos estratégicos a curto e médio prazo?

Os objetivos estratégicos a curto e médio prazo centram-se na concretização das metas estabelecidas pelo PERSU 2030 (Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos). Este plano, que é bastante ambicioso, só poderá ser atingido com o envolvimento ativo da população.

O PERSU 2030 visa a implementação de medidas e ações até 2030 que assegurem o alinhamento do país com as políticas e orientações comunitárias. O seu principal objetivo é a prevenção da produção de resíduos, bem como a sua recuperação e transformação em recursos. Além disso, o plano coloca uma ênfase especial nos biorresíduos, considerando-os uma área prioritária para o cumprimento das metas estabelecidas.

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