“A dentição emocional e a microbiota oral tornaram-se temas comuns em consultas de saúde oral infantil”

A saúde oral das crianças vai além da simples escovagem dos dentes. Cada sorriso em desenvolvimento é influenciado por diversos fatores, incluindo as emoções, que impactam diretamente o bem-estar e o crescimento dos mais novos. O stress e a ansiedade podem manifestar-se através do bruxismo e de outros comportamentos que afetam a saúde oral de forma significativa, provocando desgaste dentário ou dificuldades na mastigação e fala. Uma boa notícia é que as novas tecnologias, como escovas inteligentes e aplicativos de gamificação, estão a transformar a forma como as crianças lidam com a higiene oral, tornando-a mais divertida e interativa. Além disso, o equilíbrio do microbioma oral, um conjunto de microrganismos essenciais à proteção da boca, está a ser cada vez mais estudado para prevenir cáries e outras doenças. De acordo com a Odontopediatra Fadinha Flor “adotar uma abordagem integrada que envolva cuidados preventivos é fundamental para garantir uma boa saúde oral não só na infância, mas ao longo da vida.”

Dentição emocional: O impacto das emoções na saúde oral infantil
Emoções como o stress e a ansiedade, cada vez mais comuns entre as crianças, têm um impacto significativo na saúde oral. O stress, por exemplo, pode levar ao bruxismo, uma condição em que as crianças rangem ou apertam os dentes, especialmente durante o sono. Além disso, o stress está associado ao aparecimento de aftas e a alterações na produção de saliva, deixando a boca mais vulnerável a infeções. Este estado emocional pode ainda influenciar os hábitos alimentares, resultando em escolhas menos saudáveis que afetam a saúde oral.
“Outro efeito relevante do stress infantil é o impacto na articulação temporomandibular (ATM), que pode gerar desconforto ou dores na mandíbula.”, conforme explica Flor Pereira, conhecida entre pais e crianças como Fadinha Flor.
Bruxismo Infantil: O que os pais devem saber
Embora o bruxismo possa ser fisiológico até à erupção dos dentes de leite, quando persiste após a dentição de leite estar completa, pode tornar-se patológico. Alguns sinais de alerta incluem dentes desgastados, dores de cabeça matinais, sensibilidade dentária e lesões nas bochechas causadas pelas mordidas involuntárias.
“O bruxismo pode ser influenciado por fatores emocionais, como o stress e a ansiedade, mas também por problemas ortodônticos e respiratórios. Se os pais identificarem algum desses sinais, é importante procurar um médico dentista, de preferência especializado em odontopediatria, para realizar uma avaliação detalhada. O profissional poderá, se necessário, recomendar medidas de proteção, como o uso de um aparelho miofuncional. Além disso, será feita uma avaliação dos fatores emocionais e físicos que possam estar a contribuir para o problema, como o stress ou alterações no padrão de desenvolvimento orofacial.
Na maioria dos casos, a abordagem envolve a colaboração com outros profissionais, como terapeutas da fala especializados em motricidade orofacial, osteopatas e otorrinolaringologistas. Quando o bruxismo está relacionado com questões emocionais, pode ser necessário o acompanhamento de um psicólogo infantil. A intervenção precoce é crucial para evitar tratamentos mais invasivos no futuro.”, afirma a profissional.

Escovas inteligentes e apps: A nova era dos cuidados dentários para crianças
A tecnologia está a transformar a forma como as crianças cuidam da sua saúde oral. Escovas de dentes interativas e apps de gamificação tornam a escovagem mais divertida e educativa. Estas tecnologias não só ajudam a melhorar a adesão das crianças à higiene oral, mas também permitem aos pais monitorizar o tempo e a eficácia da escovagem. “Ao escolher uma escova inteligente ou app, os pais devem considerar a idade da criança, as funcionalidades educativas e a segurança da aplicação. A consulta regular com o dentista é essencial para garantir que a tecnologia escolhida seja a mais adequada e contribua para a saúde oral.”, sublinha Fadinha Flor.

Microbioma oral infantil e o seu papel na saúde dentária
Começa agora também a falar-se mais do microbioma oral infantil, constituído por uma diversidade de microrganismos como bactérias, fungos e vírus, e que desempenha um papel essencial na saúde dentária e no equilíbrio geral da saúde oral. Este ecossistema natural funciona como uma barreira protetora contra patógenos, auxilia na digestão inicial dos alimentos e contribui para a regulação do pH da saliva, que é crucial na prevenção de inflamações e doenças gengivais. Manter o microbioma oral equilibrado na infância é particularmente importante, pois fortalece o sistema imunológico e ajuda a desenvolver defesas naturais desde cedo.

Como preservar o equilíbrio do microbioma?
A Odontopediatra refere que para preservar o equilíbrio do microbioma oral, é fundamental adotar uma alimentação saudável e uma rotina de higiene oral consistente.
“Alimentos ricos em fibras, como maçãs, cenouras e aipo, estimulam a produção de saliva, ajudando a neutralizar os ácidos e a manter um pH estável na boca. Laticínios, como iogurte e queijos, fornecem cálcio e fosfatos que reforçam os dentes, enquanto alimentos prebióticos como bananas, alho, cebola e aveia nutrem as bactérias benéficas que fazem parte da flora oral. Adicionalmente, alimentos ricos em probióticos, como iogurtes naturais e bebidas fermentadas (por exemplo, kefir), também ajudam a manter a saúde oral, promovendo uma flora microbiana equilibrada.
Paralelamente à alimentação, uma boa prática de higiene oral é essencial. Escovar os dentes pelo menos duas vezes ao dia e usar o fio dentário antes da escovagem noturna ajuda a remover a placa bacteriana e a prevenir a acumulação de microrganismos nocivos. Para uma proteção eficaz, recomenda-se o uso de uma pasta dentífrica rica em flúor, conforme orientação do dentista. Beber água regularmente também é importante, pois a saliva atua como uma defesa natural contra bactérias, ajudando a limpar resíduos alimentares e a manter o pH neutro da boca. Evitar alimentos açucarados e pegajosos na dieta diária e limitar o seu consumo a uma ocasião semanal pode reduzir o risco de cáries e doenças gengivais, criando um ambiente menos favorável ao desenvolvimento de bactérias prejudiciais.

O impacto de promover um bom microbioma para uma boa saúde oral ao longo da vida
Estudos recentes destacam a importância de manter um ecossistema oral equilibrado para prevenir não só doenças orais, como cáries e gengivite, mas também para apoiar a saúde geral. O desenvolvimento de novos cuidados dentários prioriza intervenções dietéticas, probióticos e práticas de higiene oral adequadas, indo além da remoção mecânica da placa para promover um microbioma saudável. Esta abordagem integrada beneficia as crianças, ao incentivá-las a estabelecer hábitos de saúde oral e de vida que perdurem ao longo do tempo. As visitas regulares ao dentista completam este cuidado, permitindo monitorizar a saúde oral e promover um microbioma oral saudável que favorece o bem-estar geral e previne problemas dentários a longo prazo.”, garante.

A importância dos dentes de leite
A importância dos dentes de leite é muitas vezes subestimada, pois muitos pais acreditam que, por serem temporários, estes dentes não necessitam de cuidados especiais. No entanto, a saúde dos dentes de leite tem um impacto direto e significativo tanto na saúde oral futura como no desenvolvimento geral da criança. Dentes de leite saudáveis desempenham um papel fundamental na mastigação, na articulação das palavras e na correta erupção dos dentes permanentes. A perda precoce destes dentes, causada geralmente por cáries, pode interferir no alinhamento dos dentes definitivos, dificultar a fala e afetar negativamente a autoestima da criança.

Mitos e realidades
Infelizmente, ainda existem muitos mitos em torno dos dentes de leite, como a ideia de que não precisam de atenção porque ‘vão cair’ ou que as cáries nestes dentes não devem ser tratadas. Outro engano comum é acreditar que a visita ao dentista só é necessária após o nascimento dos dentes permanentes, ou que o uso de biberão à noite não prejudica a saúde oral. São perceções incorretas que podem comprometer a saúde oral das crianças a curto e a longo prazo. Dentes de leite com cáries podem, por exemplo, causar dor e desconforto, o que prejudica a concentração e o desempenho escolar e afeta a nutrição e o bem-estar geral da criança.

A primeira visita ao dentista deve ocorrer com o surgimento do primeiro dente
“A primeira visita ao dentista deve ocorrer com o surgimento do primeiro dente ou até a criança completar um ano. Consultas regulares são essenciais para monitorizar a saúde oral e agir preventivamente. Para manter os dentes de leite saudáveis, é importante que os pais supervisionem a escovagem, pelo menos duas vezes por dia, e que utilizem fio dental até a criança adquirir destreza suficiente para o fazer de forma autónoma, por volta dos nove anos de idade. Além disso, a pasta de dentes utilizada deve ter flúor, de acordo com o risco individual da criança, e, se necessário, o dentista pode recomendar a aplicação de verniz de flúor para maior proteção.
A alimentação saudável também desempenha um papel fundamental na prevenção das cáries. Em caso de cárie nos dentes de leite, o tratamento deve ser feito o mais cedo possível, pois a progressão da cárie é rápida nestes dentes. A falta de tratamento pode causar manchas, alterações no esmalte dos dentes permanentes e um aumento no risco de cáries no futuro, além de poder comprometer a posição dos dentes definitivos, afetando o alinhamento e a mordida.
Investir na prevenção e no acompanhamento regular é essencial para evitar problemas complexos e dispendiosos no futuro. A colaboração entre pais e profissionais de saúde, focada na educação e na prevenção, é indispensável para oferecer o melhor cuidado às crianças, ajudando-as a criar hábitos saudáveis e uma boa saúde oral que perdurará ao longo da vida.”, reforça Fadinha Flor.

O impacto da saúde oral no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças
A especialista destaca que a saúde oral é essencial para o desenvolvimento geral das crianças, influenciando não apenas o sorriso, mas também o crescimento físico, cognitivo, emocional e social. Os problemas dentários não se limitam a dor e desconforto; afetam a mastigação, a fala, a qualidade do sono e o bem-estar, impactando até o desempenho escolar.
“Uma saúde oral deficiente pode comprometer a capacidade da criança de mastigar corretamente, levando muitas vezes a uma dieta restrita e pouco nutritiva, com predomínio de alimentos moles. Esta alimentação inadequada não só interfere no crescimento físico, como também no desenvolvimento orofacial, o que pode resultar em alterações no alinhamento dos maxilares e na posição da linha média.
A fala também é impactada pela falta de dentes ou por problemas dentários, uma vez que algumas letras se tornam difíceis de pronunciar, o que interfere na comunicação. Estas dificuldades podem afetar a autoestima e o desenvolvimento social da criança, que, ao sentir-se insegura, pode evitar interações sociais, o que aumenta o stress e a ansiedade, e até tornar-se alvo de bullying.”, revela.

Saúde geral e relação sono-saúde oral
Além disso, a saúde oral está intimamente ligada à saúde geral. Infeções orais, se não tratadas, podem espalhar-se pelo corpo e afetar outros órgãos, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias. Estas infeções também comprometem o sistema imunológico, tornando as crianças mais vulneráveis a outros problemas de saúde que impactam o seu desenvolvimento cognitivo e físico.
“Outro efeito importante da má saúde oral é sobre o sono e o bem-estar geral. Problemas dentários, especialmente os que causam dor, afetam a qualidade do sono, uma vez que o desconforto tende a piorar quando a criança está deitada. A dificuldade em dormir ou manter um sono reparador provoca cansaço durante o dia, maior irritabilidade, dificuldades de concentração e menor desempenho escolar. Esta interrupção do sono pode criar um ciclo de stress e ansiedade que interfere no bem-estar global da criança.”, esclarece.

Hábitos saudáveis e prevenção
Os pais têm um papel fundamental na criação de hábitos de saúde oral saudáveis desde cedo. Segundo a Fadinha Flor, manter uma rotina de escovagem adequada, usar fio dental regularmente e evitar alimentos ricos em açúcares são práticas essenciais para garantir um microbioma oral equilibrado e prevenir problemas dentários a longo prazo. Além disso, a hidratação é crucial, pois a água ajuda a neutralizar os ácidos na boca e a manter a saliva, que é uma defesa natural contra as bactérias.
“Os pais desempenham um papel essencial ao orientarem os filhos a adotar bons hábitos de higiene oral desde cedo, além de procurar orientação profissional sempre que necessário. Com a combinação de cuidados adequados é possível promover uma saúde oral duradoura e contribuir para o desenvolvimento geral das crianças, garantindo um futuro mais saudável e feliz.”, conclui.

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