Pré - Natal/SAÚDE DA MULHER/Saúde Infantil “A culpa materna nasce muito antes do bebé – e cresce à medida que a sociedade impõe padrões inalcançáveis” By Revista Spot | Fevereiro 3, 2025 Fevereiro 5, 2025 Share Tweet Share Pin Email Médica de Medicina Geral e Familiar, Vanessa Mota sempre sonhou com a maternidade. Em 2020, esse sonho tornou-se realidade com o nascimento do seu primeiro filho, Guilherme. Mas a chegada do seu bebé trouxe desafios inesperados. A amamentação, que deveria ser natural e instintiva, tornou-se um percurso doloroso, marcado por um freio de língua curto não diagnosticado. Determinada a compreender o que estava a acontecer, mergulhou num profundo processo de aprendizagem. A dor transformou-se em propósito e, nos anos seguintes, dedicou-se a formações especializadas em amamentação, tornando-se, em 2024, IBCLC. Dessa experiência nasceu o Puericooltura, um projeto multidisciplinar que apoia famílias do útero ao colo. Hoje, lado a lado com a sua equipa de profissionais especializados nas mais diversas áreas de saúde materno-infantil, Vanessa acompanha mães e bebés nas suas jornadas únicas, oferecendo informação baseada em evidência científica e um olhar acolhedor, para que possam viver a maternidade com confiança e serenidade. O que a motivou a criar o Puericooltura? O Puericooltura surgiu de uma experiência profundamente pessoal, após o nascimento do meu primeiro filho, Guilherme. Ele nasceu numa altura de grande isolamento devido à pandemia de Covid-19, e as dificuldades na amamentação, que culminaram num desmame precoce, expuseram lacunas no apoio especializado a mães e bebés. A falta de diagnóstico de um freio lingual restritivo foi uma das causas do desmame precoce, o que me fez perceber a carência de formação e suporte qualificado, mesmo no meu campo de formação como médica. Na altura, comecei a procurar mais informações e formações em amamentação, algo que não existia de forma estruturada. Percebi que a falta de apoio e conhecimento estavam a impactar não só a minha experiência como mãe, mas também a de muitas outras famílias. A partir dessa dor, surgiu o Puericooltura, com o propósito de ajudar as famílias a evitar as mesmas dificuldades que enfrentei. A ideia foi, e é, fazer com que o que passámos tenha um propósito mais amplo, oferecendo suporte especializado para a amamentação e outros desafios da parentalidade. Esse processo de ressignificação levou-me a perceber a importância de prevenir, educar e oferecer um acompanhamento constante. Quais são as principais dificuldades que observa nas suas consultas sobre amamentação? A principal dificuldade que observo é, sem dúvida, a falta de preparação das famílias. Muitas mães não sabem como se preparar para a amamentação, e quando surgem dificuldades, muitas vezes já é tarde demais para agir com eficiência. O início da amamentação, especialmente na maternidade, é um momento especialmente sensível. A dor, a introdução precoce de suplementos e a falta de apoio especializado nas primeiras horas podem levar a um desmame precoce. Essas situações podem catapultar uma série de complicações, desde a baixa produção de leite na mãe ou a problemas de saúde do bebé, como hipoglicemia neonatal, quando a amamentação não é corretamente estabelecida. Além disso, as mães muitas vezes não recebem o apoio adequado para resolver problemas como o posicionamento do bebé, a pega ou a produção de leite. O que falta é uma abordagem preventiva e personalizada, que possa identificar riscos e dar suporte antes que os problemas se tornem mais graves. De que forma as consultas de preparação para a amamentação podem fazer a diferença? A consulta de preparação para a amamentação faz toda a diferença porque atua como um rastreio antecipado de fatores de risco. Identificar questões como histórico de freio lingual, problemas hormonais, cirurgias mamárias ou dificuldades em amamentações anteriores pode fazer toda a diferença no sucesso da amamentação. Com uma mãe bem informada, o acompanhamento durante a gravidez e o primeiro contacto com o bebé tornam-se mais eficazes. Quando temos uma preparação adequada, podemos alcançar taxas de sucesso acima de 90% na amamentação exclusiva, o que é impressionante se pensarmos que, atualmente, as taxas globais são muito mais baixas, com muitos desafios logo nos primeiros dias. O “Pack Amamentar” foi criado para combinar esses dois aspetos — a preparação antecipada e o acompanhamento contínuo — respondendo à necessidade de dar apoio antes e depois do nascimento. Por fim, a consulta no pós-parto, com acompanhamento contínuo, ajuda a garantir que as mães não se sintam sozinhas. O acompanhamento constante é fundamental para evitar a introdução precoce de suplementos e garantir que as mães se sintam apoiadas no início da amamentação, um período extremamente sensível. O suporte via WhatsApp, por exemplo, torna o atendimento mais acessível, mesmo fora do horário tradicional, permitindo que as famílias recebam ajuda sempre que necessário, independentemente da hora. E a consulta ao domicílio no pós-parto? O nosso trabalho distingue-se, especialmente, pelo apoio prestado ao domicílio. Embora tenhamos uma consulta presencial numa clínica parceira, a diferenciação que sempre procuramos oferecer é justamente esta: a proximidade no pós-parto. Quem já passou por essa experiência sabe como é difícil sair de casa com um bebé, especialmente nos primeiros dias. A consulta ao domicílio tem um valor único, sobretudo em momentos tão intensos. São consultas que podem durar entre duas a três horas, e o nosso foco é garantir que a mãe e o bebé estejam confortáveis e bem cuidados, no seu próprio espaço, com o ambiente que já conhecem, com as suas próprias ferramentas e a sua rotina. Isso faz toda a diferença na recuperação da mãe e no acompanhamento do bebé. Eu própria senti essa falta no meu pós-parto. Apesar de ter uma rede de apoio, o contexto da pandemia restringiu muito a ajuda que eu poderia ter. Naquele momento, estávamos sozinhos, e a experiência de sermos pais pela primeira vez, sem saber como responder às necessidades de um bebé que chorava sem parar, foi extremamente desafiadora. Daí surgiu a ideia dos “Packs (RE)NASCER”, como uma forma de apoiar outras famílias. Que tipo de feedback têm recebido das famílias sobre os Packs (RE)NASCER? Estes surgiram da inspiração em modelos que já existiam em países como Alemanha e Holanda, onde as mulheres têm o acompanhamento de uma “midwife” após o parto. Esses profissionais fazem visitas à casa para garantir que a mãe e o bebé estão a adaptar-se bem, para verificar a cicatrização da mãe, se o bebé está bem alimentado e também para ensinar cuidados básicos, como o banho do bebé. Percebi que aqui em Portugal havia essa lacuna e decidi implementar essa abordagem com a nossa equipa, que conta com enfermeiras e especialistas que fazem esse acompanhamento personalizado em casa. O nosso pack “RE(N)ASCER ao COLO, engloba três visitas, cada uma com cerca de duas horas. No Pack (RE)NASCER DO ÚTERO AO COLO começamos o apoio ainda na gravidez e no pós-parto para que a família se sinta apoiada em toda a jornada. Nessas visitas, focamo-nos no apoio à mãe e ao bebé, desde a alimentação à massagem infantil preventiva de cólicas, passando pelos cuidados com o coto umbilical e a higiene. O nosso objetivo é ajudar a reduzir a intensidade das cólicas do bebé antes mesmo que elas apareçam. Também verificamos a segurança do espaço onde o bebé dorme, para garantir que está tudo em ordem. E isso faz total sentido, porque muitas vezes a mãe pode não perceber que algo não está bem, como, por exemplo, a icterícia no bebé, que se for identificada precocemente pode fazer toda a diferença. O olhar atento da nossa equipa, especialmente em contextos tão sensíveis, é crucial para identificar situações que poderiam passar despercebidas. A sociedade tem uma visão idealizada da maternidade, e muitas vezes a mãe sente-se pressionada a atingir esse ideal, o que pode ser um peso. O nosso papel é estarmos presentes para apoiar, especialmente nas tarefas do dia-a-dia que parecem simples, mas que têm um impacto enorme no bem-estar da mãe e do bebé. É também muito importante dar apoio emocional à mãe, que pode sentir-se sobrecarregada, ou até mesmo desconectada de si mesma neste processo de adaptação. A transformação do corpo, a nova identidade como mãe, e até o impacto de não poder contar com a rede de apoio que normalmente existiria, são aspetos que precisamos de considerar com muito cuidado. Como tem sido a resposta das mães à laserterapia para fissuras mamilares? A laserterapia para fissuras mamilares é uma técnica inovadora que trouxe benefícios significativos para as mães que enfrentam dificuldades na amamentação. Embora seja algo relativamente novo por cá, a técnica já é bastante utilizada em países como o Brasil, e trouxe resultados positivos. O laser de baixa intensidade promove a regeneração celular, acelerando a cicatrização das fissuras mamilares, além de ajudar na redução da dor. A principal vantagem é que, em apenas 48 horas, já conseguimos ver uma melhoria significativa, muito mais rápido do que se utilizássemos tratamentos convencionais, como cremes cicatrizantes. Além disso, o laser não só ajuda na cicatrização, mas também tem uma ação analgésica, aliviando a dor associada às fissuras. Muitas mães têm dado um feedback muito positivo sobre os resultados, especialmente pela rapidez e pela eficácia do tratamento. Além disso, o laser pode ser utilizado para outras condições, como aumento da produção de leite, ingurgitamento mamário, candidíase mamilar ou cicatrizes de cesariana ou lacerações perineais, contribuindo para uma recuperação mais rápida e menos dolorosa. A introdução dessas novas terapias é uma forma de contribuir para a melhoria da experiência pós-parto, facilitando a recuperação da mãe e proporcionando-lhe mais conforto no processo de amamentação. Quais são os mitos mais comuns sobre o sono infantil que considera importante desmistificar? O sono infantil é um tema que gera muita ansiedade nas famílias, principalmente devido aos mitos e expectativas irreais que circulam na sociedade. Um dos maiores mitos é que os bebês devem dormir a noite inteira desde cedo. Isso é cultural, não biológico. O bebé humano tem necessidades fisiológicas que não se alinham com essa ideia de autonomia no sono desde os primeiros dias de vida. É natural que um bebé acorde várias vezes durante a noite, tanto para alimentação quanto para conforto emocional, algo que muitas vezes gera frustração nos pais que se sentem culpados ou incapazes quando seu bebé não segue esses padrões. Outro mito comum é o medo do contato físico excessivo, como o bebé dormir no colo. Muitas mães sentem-se pressionadas a não pegar no bebé para dormir, acreditando que isso pode gerar “mau hábito” ou dependência. No entanto, o bebé humano é, por natureza, uma cria de colo, dependente do toque e do contato físico para se sentir seguro. O contato físico promove a produção de ocitocina, que é essencial para o bem-estar tanto da mãe como do bebé. Além disso, há a ideia de que os pais precisam de estabelecer horários rígidos de sono e não podem ser flexíveis. A realidade é que o bebé tem o seu próprio ritmo, e tentar forçar uma rotina pode gerar mais stress para a família. Os ciclos de sono dos bebés são diferentes dos adultos e podem incluir várias fases de sono leve e profundo durante a noite, o que é normal. A sociedade e a cultura também desempenham um papel importante na criação de expectativas pouco realistas para as mães? Sim, exatamente. No século XXI, as mães enfrentam uma pressão ainda maior, amplificada pelas redes sociais e pela cultura da produtividade. A expectativa de que a mãe volte rapidamente ao seu estado pré-gravidez, tanto fisicamente como emocionalmente, após o nascimento do bebé, é uma pressão enorme. As redes sociais mostram frequentemente imagens de mães que parecem ter tudo sob controlo – já voltaram ao trabalho, fazem exercícios, estão sempre impecáveis. Mas o que muitas vezes não é mostrado é o suporte que essas mães têm por trás disso, como uma rede de apoio forte e ajuda prática que torna essas atividades mais viáveis. A realidade de muitas mães é completamente diferente: elas estão a aprender a ser mães, a cuidar de um recém-nascido que precisa de atenção constante, e muitas vezes sem o apoio adequado. Não há problema em precisar de tempo para se recuperar e para se adaptar ao novo ritmo de vida. Esse processo exige paciência, e é fundamental que as mães possam permitir-se cuidarem de si mesmas, sem as pressões de cumprir um padrão de produtividade que não leva em consideração a complexidade desta fase. Como podem as famílias lidar com essas expectativas e adaptar-se melhor à realidade do sono do bebé? O primeiro passo é realmente trabalhar as expectativas. Precisamos de desmistificar a ideia de que há um “bebé idealizado” e aceitar que cada bebé tem um ritmo próprio. Em vez de lutar contra o que é natural, as famílias devem tentar entender as necessidades do bebé e responder a elas de forma mais tranquila. O mais importante é que as famílias se sintam à vontade para ajustar as suas rotinas e encontrar o que funciona para elas, sem se sentirem culpadas por não corresponderem às expectativas externas. A maternidade é um processo único e individual para cada mulher e cada bebé. O desmame respeitador é um tema amplamente discutido, mas muitas vezes mal compreendido. Como orientam as mães para que este processo seja gradual e adaptado às necessidades do bebé? O desmame respeitador não é apenas sobre a alimentação, mas sobre um processo de transição que envolve a biologia, o vínculo emocional e o desenvolvimento do bebé. O nosso foco é sempre respeitar o tempo e a maturidade neurológica do bebé, sem esquecer a mãe. Muitas vezes, as famílias chegam até nós já em desespero, querendo um desmame imediato porque sentem que não aguentam mais. Mas o desmame é um processo que exige tempo, paciência e, acima de tudo, orientação adequada. A amamentação não é apenas uma fonte de nutrição, mas um dos principais reguladores emocionais do bebé. É um espaço de conforto, segurança e conexão. À medida que o bebé cresce e começa a introdução alimentar, o desmame acontece de forma natural e progressiva. No entanto, o leite materno continua a ser a principal fonte de nutrição até aos 12 meses, e é fundamental que as famílias compreendam isso para evitar uma pressão desnecessária sobre a alimentação sólida. Um desmame abrupto pode ser traumático para o bebé, pois retira-lhe uma ferramenta essencial de regulação emocional sem uma adaptação progressiva. Muitas mães utilizam a amamentação como um meio rápido de acalmar o bebé – e, de repente, retirar essa possibilidade sem oferecer alternativas pode ser muito desestabilizador. Por isso, trabalhamos para garantir que o bebé desenvolve outras formas de se autorregular antes de reduzir gradualmente as mamadas. Outro fator determinante nesta equação é a mãe. Muitas mães sentem culpa por quererem desmamar, mas o seu bem-estar também importa. Se a mãe já não está emocionalmente disponível para a amamentação, isso também impacta o bebé. Por isso, um desmame respeitador equilibra as necessidades da mãe e do bebé, garantindo que ambos possam passar por esta fase com tranquilidade. A sociedade tem um papel muito forte nesta pressão. Vivemos numa cultura acelerada, onde o regresso ao trabalho acontece muitas vezes antes de a mãe e de o bebé estarem prontos para essa separação. As licenças parentais curtas podem forçar um desmame precoce e abrupto, e é por isso que o acompanhamento especializado nesta fase pode fazer toda a diferença. Na introdução alimentar, quais são os métodos mais recomendados e como ajudam os pais a enfrentarem esta fase com confiança? A introdução alimentar é outro momento de grande ansiedade para muitas famílias. A primeira coisa a compreender é que, dos 6 aos 12 meses, o leite materno continua a ser a principal fonte de nutrição. A comida complementar serve para explorar novos sabores e texturas, não para substituir o leite imediatamente. O segredo para uma introdução alimentar bem-sucedida não é a quantidade de comida ingerida, mas sim a criação de um ambiente positivo e sem pressões. Um erro comum é medir a alimentação do bebé ao mililitro e insistir para que ele coma “a dose certa”, quando, na verdade, o apetite varia de dia para dia. O importante é confiar na intuição e no ritmo do bebé. Um truque simples, mas muito eficaz, é incluir o bebé na rotina alimentar da família desde cedo. Colocá-lo à mesa antes mesmo de começar a introdução alimentar ajuda-o a observar e mimetizar os movimentos de mastigação. Muitas vezes, por volta dos 6 meses, os bebés já mostram interesse pela comida dos pais, tentando agarrá-la – e isso é um sinal de que estão prontos para começar a experimentar novos alimentos. A alimentação não é apenas sobre nutrientes, mas também sobre socialização, prazer e descoberta. Quando respeitamos o tempo e a individualidade de cada bebé, tornamos esta fase muito mais leve para toda a família. A fisioterapia pélvica tem um papel fundamental no bem-estar da mulher durante a gravidez e no pós-parto. Que benefícios concretos traz para as mães? A fisioterapia pélvica é essencial para a saúde da mulher, tanto na gravidez como no pós-parto. Durante a gestação, o corpo da mulher passa por uma série de mudanças que podem levar a disfunções musculares e articulares, especialmente na região pélvica. O peso do útero, o líquido amniótico e as alterações hormonais criam uma sobrecarga nos músculos do pavimento pélvico, que podem resultar em dores, incontinência urinária, prolapsos e desconforto nas relações sexuais. A reabilitação do pavimento pélvico no pós-parto é igualmente essencial. Muitas mulheres acreditam que apenas o parto vaginal exige essa atenção, mas mesmo em cesarianas, os músculos estiveram sob tensão durante toda a gravidez. A fisioterapia pélvica ajuda na recuperação muscular, prevenindo disfunções a longo prazo e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Outro aspeto relevante é a preparação para o parto. Muitas vezes, fala-se apenas do treino da fase expulsiva, mas não é suficiente. Algumas mulheres precisam de aprender a relaxar, pois um parto exige tanto contração quanto relaxamento dos músculos pélvicos. Uma mãe tensa pode ter mais dificuldade no parto, pelo que a fisioterapia pélvica é fundamental para ensinar técnicas de respiração, controlo muscular e perceção corporal. O regresso ao trabalho é muitas vezes um momento de grande ansiedade para as mães. Que tipo de apoio o Puericooltura pode oferecer nesta fase de transição? O regresso ao trabalho é um dos momentos mais desafiantes para muitas mães, pois envolve uma série de mudanças tanto para elas como para os bebés. O nosso apoio baseia-se em três pilares principais: a entidade patronal, o bebé e o cuidador. Em relação à entidade patronal, é fundamental que a mãe conheça os seus direitos e garanta condições adequadas para a amamentação ou extração de leite, se necessário. Muitas vezes, ajudamos as mães a negociar espaços apropriados e horários flexíveis para que possam conciliar a vida profissional com a maternidade. O segundo pilar é o bebé. A idade da criança no momento da transição faz toda a diferença. Bebés mais novos dependem mais do leite materno, exigindo uma planificação cuidadosa da amamentação e da introdução alimentar. Já bebés mais velhos, que já consomem alimentos sólidos, têm outras necessidades nutricionais e de rotina. Por fim, o papel do cuidador é essencial. Seja uma creche, uma avó ou um outro cuidador, é importante garantir que há uma boa comunicação e alinhamento na forma de cuidar do bebé. Muitas vezes, envolvemos estes cuidadores na conversa para esclarecer dúvidas, ajudar na adaptação e criar um ambiente mais seguro e harmonioso para todos. O objetivo é sempre tornar esta transição o mais fluida possível, reduzindo o impacto emocional tanto para a mãe como para o bebé. Como aliviar o desconforto das cólicas em bebés? As cólicas são um dos maiores desafios para os pais de recém-nascidos e um tema que frequentemente abordamos nas nossas consultas. No pack (RE)NASCER, por exemplo, apostamos sempre no ensino da massagem anticólica, ajudando os pais a compreender e a gerir esta fase de forma mais tranquila. No entanto, é importante esclarecer que nem todo o choro prolongado do bebé pode ser classificado como cólica. Muitas vezes, qualquer desconforto sem uma causa aparente, como fome ou fralda suja, acaba por ser rotulado como tal, mas nem sempre corresponde a um problema gastrointestinal. Os bebés nascem com um sistema digestivo ainda imaturo, o que pode causar algum desconforto, e, em casos mais severos, a fisioterapia e a osteopatia pediátrica podem aliadas fundamentais. De forma geral, existem duas abordagens para lidar com as cólicas. A primeira é a preventiva, em que ensinamos a massagem anticólica, que deve ser realizada diariamente pelos pais. Este cuidado regular não só reduz a frequência das cólicas, como também diminui a intensidade dos episódios. A segunda abordagem é a de alívio imediato, quando a crise já está instalada. Nesses momentos, o calor pode ser um grande aliado, assim como a amamentação, que não só conforta o bebé emocionalmente, como também ajuda a regular o seu sistema digestivo. O mais importante é que os pais tenham ferramentas para lidar com essa fase, compreendendo que é passageira e que há formas de minimizar o desconforto do bebé. Qual é a importância da terapia miofuncional no diagnóstico e tratamento do freio lingual? O freio lingual, uma pequena membrana sob a língua, deveria sofrer apoptose durante a gravidez, mas em algumas pessoas isso não acontece, muitas vezes por fatores hereditários. O impacto da restrição na mobilidade da língua pode ser significativo desde os primeiros dias de vida, afetando a alimentação, a fala, a higiene oral e, mais tarde, até a respiração e a deglutição. Nos recém-nascidos, a principal preocupação está na amamentação. Bebés com um freio lingual curto ou muito restritivo podem ter dificuldades em sugar eficazmente, o que pode causar cansaço excessivo durante as mamadas, uma ingestão insuficiente de leite e, muitas vezes, dor para a mãe. Outro sinal comum é o estalido durante a mamada, que indica que o bebé está a ingerir demasiado ar ou covinhas durante a mamada que pode indicar que está a fazer movimentos compensatórios devido à falta de mobilidade da língua. O tema do freio lingual é controverso e tem sido abordado de diferentes formas ao longo dos anos. Antigamente, os freios eram cortados imediatamente após o parto pelas parteiras. Depois, veio uma fase em que a intervenção era evitada sempre que possível. Atualmente, temos mais diagnósticos, em parte porque há um maior número de mães que desejam amamentar e procuram ajuda especializada quando sentem dificuldades. As guidelines mais recentes defendem que apenas devem ser intervencionados os freios que são sintomáticos, ou seja, aqueles que realmente afetam a amamentação ou outras funções orais essenciais. O diagnóstico e o tratamento do freio lingual devem ser abordados de forma integrada. Normalmente, quem acompanha a amamentação faz uma primeira avaliação, mas é essencial a colaboração entre diferentes especialistas, como terapeutas da fala, odontopediatras ou médicos de cirurgia pediátrica. Em muitos casos, antes da intervenção cirúrgica, pode ser necessário um trabalho prévio para relaxar as tensões orofaciais e preparar o bebé para uma recuperação mais eficaz. O acompanhamento conjunto de diferentes profissionais garante que cada bebé recebe um plano de cuidados adequado à sua situação específica, evitando intervenções desnecessárias e promovendo melhores resultados a longo prazo. Como vê o futuro do Puericooltura? Há novos serviços ou projetos que gostaria de implementar? O crescimento do Puericooltura tem sido surpreendente e reflete a necessidade real de as famílias encontrarem apoio especializado. Quem me conhece sabe que estou sempre a pensar em novas formas de responder às dificuldades que surgem. Muitas vezes, as inovações surgem desse diálogo, dessa necessidade partilhada entre nós e os pais que nos procuram. Todos os serviços que implementámos nasceram dessa escuta ativa. Não foram planeados apenas com base em tendências ou previsões, mas sim a partir de pedidos reais de famílias que precisavam de algo específico que, até então, não existia. É um crescimento orgânico, quase colaborativo, onde as experiências de cada família nos ajudam a moldar o caminho que seguimos. Olhando para o futuro, vejo este projeto a expandir-se naturalmente. Gostava muito de criar um espaço físico, um local onde as famílias pudessem encontrar não só serviços especializados, mas também um ambiente de acolhimento e partilha. No entanto, este não é apenas um projeto meu, mas sim um projeto de equipa, onde todas as profissionais envolvidas trazem ideias, partilham experiências e contribuem para o nosso crescimento. O futuro do Puericooltura está na personalização do cuidado, na escuta atenta às reais necessidades das famílias e na criação de soluções que façam a diferença na vida de pais e bebés. Que mensagem gostaria de deixar aos pais que enfrentam os desafios da paternidade? Mais do que qualquer técnica ou recomendação, a minha principal missão é reforçar a ligação entre mãe e bebé. O mais importante é ajudar cada família a desligar-se do ruído exterior, das opiniões e dos palpites que, muitas vezes, só trazem ansiedade. Quando uma mãe confia na sua intuição, quando se permite observar e responder ao seu bebé sem se deixar influenciar pelo excesso de informação, ela consegue perceber quando algo não está bem e procurar ajuda quando necessário. Acredito que, durante muito tempo, fomos ensinados a duvidar dessa intuição materna. Hoje, vejo cada vez mais mães a tentarem recuperar essa conexão, e isso é fundamental. A parentalidade não precisa de fórmulas rígidas, mas sim de presença, escuta e confiança. O que desejo para cada mãe e pai é que se sintam seguros nas suas escolhas, que encontrem apoio quando precisarem e que saibam que ninguém conhece o seu bebé melhor do que eles próprios. Contacto: 912 487 649 | 914 326 982 (chamada para a rede móvel nacional) Facebook: Puericooltura Instagram: @puericooltura Site: puericooltura.com “No desfralde, no sono e na adaptação à creche, é fundamental respeitar o ritmo da criança, sem ceder a pressões externas” “Uma vida sedentária é um terreno fértil para dores crónicas”
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