Pré - Natal/SAÚDE “A criopreservação de óvulos é um procedimento que permite às mulheres preservar a sua fertilidade para o futuro” By Revista Spot | Setembro 27, 2024 Setembro 27, 2024 Share Tweet Share Pin Email A criopreservação de óvulos permite uma reserva de células reprodutoras à qual se pode recorrer no futuro para obter uma eventual gravidez, mas as taxas de sucesso aumentam quando a congelação é efetuada antes dos 35 anos. Isabel Reis, Especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Medicina da Reprodução e Diretora da Ferticare, e Sandra Carvalho, Embriologista e Diretora de Laboratório nesta clínica de Braga, explicam que após essa idade, a qualidade e o número de óvulos tendem a diminuir, o que pode reduzir as probabilidades de uma fertilização bem-sucedida. “É importante realçar que, embora a criopreservação ofereça a possibilidade de preservar óvulos de boa qualidade, não garante, por si só, a gravidez. Assim, a decisão de congelar óvulos deve ser feita de forma informada e, de preferência, em idade mais jovem.”, salientam. Pode explicar o que é a criopreservação de ovócitos e como funciona o processo? Sandra Carvalho: A criopreservação é uma técnica que permite conservar células por tempo indeterminado, de modo que a que possam ser posteriormente utilizadas. O procedimento de congelação, com recurso a azoto líquido à temperatura na ordem dos -196°C e, simultaneamente, a utilização de soluções crioprotetoras, que protegem as células contra possíveis danos causados pelo procedimento, permite preservar as células vivas com o seu metabolismo totalmente suspenso, por longos períodos de tempo. Nos Laboratórios dos Centros de Procriação Medicamente Assistida (PMA) recorre-se, de modo frequente, a esta técnica permitindo a criopreservação de gâmetas (ovócitos e espermatozoides), assim como de embriões. Desta forma, torna-se possível a sua utilização futura, através de técnicas de PMA, para a tentativa de obtenção de uma gravidez. Quais são os principais motivos pelos quais uma mulher pode optar por congelar os seus ovócitos? Isabel Reis: A indicação médica constitui uma das principais razões para uma mulher congelar os seus ovócitos, destacando-se a preservação da fertilidade por motivos oncológicos; tanto a quimioterapia como a radioterapia, revelam-se muito tóxicas para os ovários, provocando uma diminuição acentuada da reserva ovárica, o que pode tornar uma futura gravidez praticamente impossível. Ainda dentro da indicação médica, outras situações como antecedentes de anexotomia unilateral, endometriose, baixa reserva ovárica, ou seja, situações diagnosticadas em idades jovens, que fazem prever uma baixa taxa de fertilidade, constituem indicação para optar pela preservação da fertilidade. A criopreservação de ovócitos pode também ocorrer por motivação pessoal, também designada social freezing, que consiste na congelação de ovócitos por razões não médicas, com o objetivo de serem utilizados no futuro. A maternidade tardia tornou-se uma das principais razões? Isabel Reis: O adiamento da maternidade é o principal fator para a preservação da fertilidade por razões não médicas. É cada vez mais frequente chegarem-nos mulheres que pretendem preservar a fertilidade por motivos pessoais ou profissionais. No entanto, na maioria das vezes, chegam já tarde. Quando se trata de preservar a fertilidade, a mulher deve fazê-lo antes dos 35 anos, de forma a obter o número e a qualidade de ovócitos adequados. Sabemos que depois dos 35 anos, a resposta à estimulação ovárica e a qualidade dos ovócitos poderá estar comprometida e podemos não conseguir corresponder às expectativas da mulher. O objetivo é conseguir congelar entre 10 a 15 óvulos, número que representa uma possibilidade razoável para a ajudar a conseguir um filho. O grande problema é que, na maioria dos casos, as mulheres aparecem já depois dos 35 anos, por vezes até com mais de 40 anos, e o número de ovócitos, que eventualmente se consiga criopreservar, pode não ser suficiente para concretizarem o objetivo. Existe a falsa noção que um óvulo mais um espermatozoide é igual a um embrião, a uma gravidez, a um parto e a um filho saudável em casa. Está redondamente errado! A literacia para a saúde sexual e reprodutiva é praticamente inexistente; há ainda um longo caminho a percorrer, é preciso fazer mais, desde os bancos da escola, nas consultas de Planeamento Familiar, nos Cuidados de Saúde Primários e nas Consultas de Ginecologia. Qual é então a faixa etária ideal para congelar óvulos e porquê? Isabel Reis: Quanto mais jovem for, melhor, mas diria, pelos motivos já descritos, que o ideal é até aos 35 anos, por ser possível obter um maior número de ovócitos de qualidade. A idade faz aumentar as aneuplodias (alterações cromossómicas); no entanto, também não podemos esquecer que, paralelamente à idade, existem outros fatores como a obesidade, o tabagismo, o sedentarismo, que fazem com que a resposta à estimulação ovárica não seja a mais adequada Quais são os riscos e benefícios associados ao congelamento de óvulos? Isabel Reis: O principal risco da preservação da fertilidade feminina é não conseguirmos obter o número de ovócitos suficiente, de forma a existir uma probabilidade aceitável de conseguir um filho; é por isso que a preservação da fertilidade deve ser considerada uma alternativa e não uma garantia. Existe também o risco do processo da congelação/ descongelação não correr bem e ocorrer uma destruição do ovócito impedindo a sua utilização O principal benefício é a possibilidade do adiamento da maternidade por motivos sociais e profissionais e a preservação da fertilidade em caso de doença oncológica ou outra indicação médica, conforme já foi referido anteriormente Criopreservação de óvulos pode não ser ‘garantia absoluta’ de gravidez? Sandra Carvalho: A criopreservação de ovócitos permite a preservação do potencial reprodutivo que, por diversos fatores, possa estar comprometido. Tal como já referido, é recomendável e está indicado em determinadas circunstâncias clínicas, como a de jovens com indicação para tratamentos de quimio/radioterapia ou com doenças ou necessidades cirúrgicas que levem ao comprometimento da função ovárica. É, também, aplicável a mulheres sem projeto reprodutivo imediato e que apenas consideram concretizar esse projeto em idade reprodutiva mais avançada. O recurso à criopreservação de ovócitos, apesar de por si só não garantir a obtenção de uma gravidez, permite uma reserva de células reprodutoras à qual se poderá recorrer no futuro através de técnicas de PMA. Pode descrever o processo de recolha de óvulos e a taxa de sucesso das fertilizações subsequentes? Isabel Reis: Para realizarmos a preservação de ovócitos é necessário proceder a uma estimulação ovárica controlada com gonadotrofinas, ou seja, é necessário estimular os ovários de forma a produzirem o máximo de óvulos possível, e não apenas um ou dois, tal como acontece num ciclo menstrual natural. A estimulação tem uma duração média de 10 a 14 dias. A sua evolução é avaliada através da realização de ecografias, normalmente com 2- 3 dias de intervalo, até que seja determinado o momento ideal para efetuar a colheita dos ovócitos, designada por punção folicular. A punção folicular é efetuada por via vaginal e é uma intervenção simples que dura cerca de 20 minutos, realizada com sedação. Segue-se, depois, o procedimento laboratorial. A taxa de sucesso vai depender do número de ovócitos criopreservados, da idade da mulher à data da colheita e da existência, ou não, de outros fatores como por exemplo, fator uterino, fator masculino, aquando a fertilização futura desses ovócitos. É difícil estarmos a falar de taxas de uma forma genérica. Só a título de exemplo, vem referido na literatura a taxa cumulativa de gravidez após preservação da fertilidade, em mulheres com <35 anos e com 5 ovócitos de 15%, mas com 8 ovócitos já passa para 41% e com 10 ovócitos para 61%; se forem mulheres com 35 anos, as taxas passam para 5%, 20% e 30% respetivamente, ou seja, metade das taxas correspondentes a mulheres com menos de 35 anos. As taxas de sucesso têm sempre que ser explicadas face a cada situação clínica específica. Quais são os fatores que podem afetar a qualidade e a viabilidade dos óvulos congelados? Sandra Carvalho: Apesar de se tratarem de técnicas muito avançadas na conservação de materiais biológicos e das taxas de sobrevivência obtidas serem bastante satisfatórias não é de excluir a possibilidade que possa ocorrer uma redução da qualidade do material criopreservado durante o processo de criopreservação. A título de exemplo, pode ser considerada a ocorrência de lesões nas estruturas celulares dos ovócitos, tornando-os inviáveis. Até à data, a criopreservação não revelou constituir um risco acrescido de anomalias fetais, porém essa possibilidade não poderá ser totalmente excluída. Existem considerações éticas envolvidas no congelamento de óvulos? Isabel Reis: Perante uma situação de doença oncológica, quer a doente, quer a família, quer os prestadores de cuidados de saúde, devem estar completamente informados sobre a possibilidade de preservação da fertilidade. É um imperativo ético prestar esta informação, cabendo ao doente decidir e aos prestadores de cuidados de saúde agilizar o procedimento para que seja rápido e que ocorra antes da administração do tratamento gonadotóxico. Em todas as situações de preservação de fertilidade, por razões médicas ou não médicas, é obrigatório a assinatura de um consentimento informado, no qual consta uma manifestação de vontade por parte da paciente sobre o que fazer na situação dos prazos da criopreservação material previstos na lei serem ultrapassados e em caso de morte. Trata-se de património genético que deve ser acautelado. Durante quanto tempo é possível manter os ovócitos criopreservados? Sandra Carvalho: De acordo com a lei atualmente em vigor, os ovócitos congelados são conservados por um período máximo de 5 anos; no final desse período, o prazo de criopreservação pode ser sucessivamente renovado por igual período. No momento da criopreservação é assinado o consentimento, no qual consta a informação sobre o destino a dar aos ovócitos; findo os respetivos prazos de criopreservação, serão descongelados e eliminados, a menos que tenha sido expressa autorização para a sua doação a outras pessoas que deles necessitem para a realização de tratamentos de PMA e/ou a projetos de investigação científica. É também possível, durante o prazo de criopreservação, revogar a autorização concedida no momento inicial, desde que essa seja a pretensão expressa da titular do material biológico. Como é tratada a questão da preservação e utilização dos óvulos em casos de separação ou falecimento da mulher? Sandra Carvalho: Apenas é reconhecido o direito de utilizar o material biológico criopreservado aos titulares do mesmo, pelo que no caso dos ovócitos, o direito à sua utilização é exclusivo da mulher. Em caso de morte, o destino a dar aos ovócitos criopreservados será o que estiver estipulado no consentimento informado, assinado aquando a criopreservação. De que forma a educação e a sensibilização sobre o congelamento de óvulos estão a evoluir e qual é o impacto na decisão das mulheres? Isabel Reis: Penso que a educação e sensibilização devem incidir no conhecimento do ciclo menstrual, do período fértil e na ideia de que a mulher é um ser muito pouco fértil. Uma mulher, no auge da sua fertilidade, antes dos 30 anos, só tem 25% de possibilidade de engravidar por mês, quando tem relações sexuais regulares e desprotegidas e quando não existem fatores de infertilidade. A literacia para a saúde e as políticas de saúde têm de incidir mais em criar condições para que a maternidade surja em idades em que é mais fácil conseguir a gravidez e não a adiar para depois dos 35 anos. Conforme já referi, a criopreservação será uma possibilidade de manter a fertilidade nas doentes oncológicas e é um imperativo ético dar a possibilidade da sua realização. Nas situações de adiamento da fertilidade por motivos sociais e profissionais será sempre uma alternativa e deve ser vista como uma possibilidade, mas não uma certeza. Segundo os últimos dados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, referentes ao ano de 2022, foram realizadas 864 criopreservações de ovócitos, quer no setor público quer no setor privado, sendo 165 por doença oncológica, 67 por doença não oncológica e as restantes na ausência de doença. Estas últimas foram realizadas apenas pelo setor privado, sendo metade em mulheres entre os 35 e os 39 anos. Morada: Rua José António Cruz nº 235, 2º Fração B, S.Vítor 4715-343 Braga – Portugal Contacto: 253 004 474/927 469 137 Email: geral@ferticare.pt Facebook: Ferticare Centro Medicina Reprodução www.ferticare.pt A Colmol chegou a Braga e ensina-nos que existe um colchão certo para cada pessoa “O espírito de comunidade que se vive nos pequenos ginásios é um bálsamo para a saúde mental”
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