Psicologia “A comparação constante com padrões de beleza irreais pode distorcer a nossa autoimagem” By Revista Spot | Março 5, 2024 Março 5, 2024 Share Tweet Share Pin Email A sociedade contemporânea expõe-nos constantemente a uma miríade de padrões de beleza inatingíveis e, muitas vezes, irreais. Das capas de revistas às redes sociais, somos bombardeados com imagens de corpos e rostos ‘perfeitos’ que criam uma pressão implacável sobre ideais inalcançáveis. Neste ciclo de comparação constante, é fácil perder de vista a nossa própria autoimagem e o nosso valor intrínseco. Numa viagem pela Psicologia desde a infância, a psicóloga Sandrine Vale assegura que a construção da autoestima é um ato de amor próprio e de autenticidade e que o autoconhecimento é a chave das relações humanas. A Psicologia é um caminho para o autoconhecimento? Sem dúvida. A Psicologia pode ser considerada um poderoso caminho para o autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Desde uma idade precoce, por volta dos 10 anos, que alimentei o desejo de me tornar psicóloga, impulsionada por um episódio familiar de perda que me fez perceber a importância do suporte emocional adequado. Essa experiência despertou em mim uma profunda necessidade de ajudar os outros. O que mais me fascina nesta área é a capacidade de devolver a vida às pessoas. Muitas vezes, deparamo-nos com pessoas que se encontram num estado de letargia emocional. Através da psicologia, temos a oportunidade de auxiliar essas pessoas a renascerem, a redescobrirem o seu potencial e a encontrarem um novo propósito. Por que razão é tão importante falarmos de emoções, sobretudo na infância? Tudo o que se passa na infância terá resultados na vida adulta. A infância é o chão que pisamos a vida toda. Por isso, é essencial promover uma educação emocional desde cedo. Os pais desempenham um papel central nesse processo. Compreender e lidar com as emoções das crianças requer autoconhecimento e autorreflexão por parte dos pais. Muitas vezes, os adultos têm dificuldades em lidar com os sentimentos dos filhos porque não aprenderam a lidar com os seus próprios sentimentos na infância. É por isso que enfatizo a importância de sessões regulares com os pais, onde discutimos as suas próprias experiências de infância e a forma como essas experiências influenciam a sua abordagem atual à parentalidade. “A infância é o chão que pisamos a vida toda.”Sandrine Vale, psicóloga É importante quebrar o ‘ciclo’? É necessário encontrar um equilíbrio entre aprender com as experiências passadas e cultivar novas abordagens na educação dos filhos. Alguns pais podem desejar fazer diferente do que foi feito com eles, mas acabam por cair em padrões comportamentais antigos ou exagerar nas suas tentativas de mudança. Encontrar esse equilíbrio é desafiante, mas crucial para garantir um ambiente emocionalmente saudável para as crianças crescerem e se desenvolverem. Afinal, cada adulto terá eventualmente de revisitar a sua própria infância para melhor compreender e apoiar o percurso emocional dos seus filhos. Que estratégias podem os pais adotar no dia-a-dia para promover a saúde mental dos seus filhos? A qualidade do tempo dedicado aos filhos é fundamental. Não é a quantidade de tempo que importa, mas sim o envolvimento genuíno e a conexão emocional durante esse período. Se os pais reservarem 20 minutos diários para estarem verdadeiramente presentes com os seus filhos, garanto que podem fazer uma diferença significativa nas suas vidas. É essencial que esses momentos sejam de entrega total, onde pais e filhos se envolvam em atividades significativas e promovam uma comunicação aberta e afetuosa. Além disso, é importante que os pais cultivem um ambiente familiar que valorize as emoções e promova a expressão saudável dos sentimentos. Encorajar o diálogo aberto sobre as emoções e ensinar habilidades de regulação emocional desde tenra idade são práticas fundamentais para fortalecer a saúde mental das crianças. Quando educamos as crianças sobre como lidar com as emoções e fortalecer a sua autoestima e autoconfiança, estamos a formar jovens com uma inteligência emocional mais desenvolvida. Esta competência é crucial para o sucesso no mundo profissional, pois permite-nos gerir eficazmente os desafios que enfrentamos em todas as áreas da vida. A capacidade de ressignificar experiências e recomeçar é o segredo para superar obstáculos e alcançar o sucesso. A construção da autoestima é um processo? A construção da autoestima é, de facto, um processo complexo e contínuo. É importante compreender que a autoestima não se limita a cuidados superficiais, como ir ao cabeleireiro ou usar maquilhagem, mas sim a uma jornada interna de autodescoberta e aceitação. Aumentar a autoestima envolve explorar episódios passados, desafiar crenças limitadoras e reconstruir uma narrativa interna mais positiva. No entanto, este processo pode ser doloroso, pois, muitas vezes, confrontamos traumas e inseguranças que não sabíamos que existiam. Existe hoje uma pressão exagerada sobre a autoimagem? Observa-se hoje uma pressão adicional sobre a autoimagem, especialmente entre os jovens, devido à influência das redes sociais. A constante comparação com os padrões irreais de beleza promovidos online pode levar a uma camuflagem do corpo e a uma preocupante insatisfação com a própria aparência. É importante reconhecer o papel dos pais como modelos de comportamento. Se os pais demonstram uma atitude positiva em relação à sua própria imagem e autoestima, é mais provável que os filhos desenvolvam uma autoimagem saudável e positiva. Os pais têm um impacto significativo no desenvolvimento da autoestima dos seus filhos, e é crucial que estejam conscientes do exemplo que estão a transmitir. Os padrões ideais de magreza e a pressão social podem influenciar o desenvolvimento de perturbações alimentares? O facto de haver baixa autoestima desde cedo pode, sem dúvida, criar um cenário propício para o desenvolvimento de perturbações alimentares. Num contexto em que a magreza é frequentemente idealizada, muitos adolescentes sentem uma pressão para alterar a sua aparência corporal, recorrendo, muitas vezes, a comportamentos alimentares desordenados. Esta pressão para mudar o peso pode levar a uma preocupação excessiva com a imagem corporal e a uma busca por resultados rápidos, muitas vezes às custas da saúde física e emocional. Como resultado, vemos cada vez mais adolescentes a adotarem padrões alimentares restritivos, o que pode ter graves consequências para a saúde. Além disso, a fome emocional, desencadeada pela ansiedade e outras emoções negativas, pode levar a episódios de compulsão alimentar, onde comer se torna uma forma de lidar com o desconforto emocional. “É fundamental trabalhar no sentido de substituir essa relação disfuncional com a comida por outras fontes de prazer e conforto emocional, para evitar o ciclo de culpa e remorso que muitas vezes acompanha os distúrbios alimentares.” A fome emocional é uma forma de tentar preencher lacunas emocionais? Muitas vezes, recorremos à comida em busca de conforto e prazer para lidar com emoções difíceis ou vazios emocionais. No entanto, é importante notar que essa procura por prazer pode levar ao consumo excessivo de alimentos pouco saudáveis, criando um ciclo vicioso de dependência alimentar. À medida que nos habituamos a essa forma de lidar com as emoções, tornamo-nos menos capazes de encontrar prazer em outras atividades, aumentando, assim, a nossa dependência emocional da comida. Este padrão pode tornar-se perigoso para a nossa saúde física e emocional, pois procuramos constantemente algo cada vez mais estimulante para satisfazer essa necessidade de prazer imediato. A velha máxima “para amar o outro, é fundamental amarmo-nos primeiro” é um princípio essencial? A afirmação “para amar o outro, é fundamental amarmo-nos primeiro” é, sem dúvida, um princípio essencial. Muitas vezes, as pessoas não se conhecem verdadeiramente, o que as leva a procurar validação nos relacionamentos interpessoais. Isso pode resultar em dependências emocionais graves, onde uma pessoa se submete completamente ao outro em busca de validação e sentido de valor próprio. Quando ocorre o término do relacionamento, a pessoa dependente emocionalmente pode sentir-se perdida e incapaz de recomeçar. É importante, portanto, que nos conheçamos a nós mesmos para evitar cair nesse padrão de dependência emocional. Ao desenvolvermos uma autoconsciência saudável e uma base sólida de autoestima, podemos estabelecer relacionamentos mais equilibrados e gratificantes. Como ler os sinais de um relacionamento ‘narcisista’? Nas relações narcisistas, o parceiro com traços narcisistas exibe comportamentos manipuladores, egocêntricos e pouco empáticos, procurando constantemente admiração, validação e controlo sobre o parceiro. Esta dinâmica pode fazer com que a “vítima” se sinta dependente do narcisista, sabotando a sua autoconfiança e levando-a a acreditar que não pode viver sem ele, pois supostamente oferece algo que a vítima não possui. É importante notar que, muitas vezes, os narcisistas têm baixa autoestima, apesar da sua postura arrogante. Mesmo alguém sem histórico de dependência emocional pode cair nessa armadilha, especialmente porque os narcisistas tendem a mascarar a sua manipulação inicialmente, criando um ambiente ilusório de perfeição e bem-estar. Dessa forma, as relações narcisistas são desequilibradas, com o narcisista a exercer poder e controlo sobre o parceiro, levando a pessoa a sentir-se explorada, desvalorizada e emocionalmente exausta. Reconhecer os sinais de alerta e trabalhar nos primeiros meses “perfeitos” da relação é fundamental para evitar cair nessas armadilhas emocionais prejudiciais. Quando é que a ansiedade deixa de ser “boa” e passa a ser prejudicial? A ansiedade é uma experiência comum e natural a todos os seres humanos. No entanto, é crucial monitorizar os níveis de ansiedade, pois podemos inadvertidamente alimentá-la e permitir que ela tome conta de nós. A capacidade de utilizar a ansiedade como uma força motivadora está, muitas vezes, relacionada com as nossas caraterísticas pessoais. Podemos aprender a controlar e até mesmo a direcionar essa energia de forma construtiva. É fundamental procurar ajuda o mais cedo possível se percebermos uma tendência para ceder à ansiedade. Na infância, é relativamente fácil identificar crianças com tendências ansiosas, e é importante distinguir entre uma ansiedade saudável e uma ansiedade prejudicial. Quanto mais cedo procurarmos apoio, melhores serão os resultados a longo prazo. Infelizmente, a tendência não é que a ansiedade diminua com o passar dos anos; pelo contrário, tende a aumentar, especialmente quando alimentada por fatores externos como o stress do quotidiano. Esta tendência pode tornar-se uma bola de neve, prejudicando significativamente o nosso bem-estar. Portanto, é crucial intervir e aprender a lidar com a ansiedade desde cedo, para evitar complicações futuras. “Não podemos apagar o passado, mas podemos escrever continuamente a nossa história a lápis, sem nos preocuparmos tanto com o futuro.” A positividade tóxica pode ser perigosa? A positividade tóxica, embora possa parecer uma abordagem benigna, pode, na realidade, ser perigosa para a saúde mental. Apesar dos avanços no reconhecimento das doenças mentais, persiste ainda uma tendência para desvalorizar o sofrimento emocional. Muitas vezes, somos levados a acreditar que não devemos sentir tristeza ou angústia, especialmente quando aparentemente temos tudo para estar bem. Essa pressão para manter uma fachada de felicidade pode levar ao isolamento emocional e ao aumento do risco de depressão. Quando uma pessoa atinge um ponto de sofrimento extremo, pode tornar-se difícil pedir ajuda, pois já se habituou a esconder o seu verdadeiro estado emocional atrás de um sorriso falso. É importante reconhecer que o simples ato de sorrir não reflete necessariamente o verdadeiro bem-estar emocional de alguém. A intervenção precoce, através da procura de apoio e acompanhamento psicológico, é essencial para prevenir a escalada dos problemas de saúde mental. Existe sempre uma “nova” versão de nós mesmos que vale a pena conhecer? Sem dúvida, é essencial reconhecer que estamos em constante evolução e que cada momento da nossa vida representa uma versão única de nós mesmos. Não podemos apagar o passado, mas podemos escrever continuamente a nossa história a lápis, sem nos preocuparmos tanto com o futuro. É comum questionarmo-nos sobre como nos vemos daqui a dois anos, mas devemos aceitar que o futuro é incerto e que não podemos controlar todos os acontecimentos. Essa obsessão pelo controlo pode gerar ansiedade, sendo fundamental aprender a lidar com os imprevistos que surgem no nosso caminho. Ao permitirmo-nos ser flexíveis, abrimos espaço para explorar novas oportunidades e experiências, o que pode resultar em mudanças positivas e enriquecedoras nas nossas vidas. É importante compreender que faz parte da nossa natureza humana estarmos em constante evolução, e que teremos sempre a oportunidade de nos conhecermos melhor. Morada: Edifício Torre Santa Tecla – Rua Professor Machado Vilela, n°110, 5º andar, Braga Contacto: 917 327 376 (chamada para a rede móvel nacional) Facebook: Sandrine Vale – Psicóloga Instagram: @psi_sandrinevale O impacto da Psicologia nos tratamentos de Fertilidade O impacto das disfunções do trato urinário na saúde pélvica feminina
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