“A beleza está na autenticidade, naquilo que é único em cada mulher”

A sociedade atual exige multitarefas, rapidez e perfeição, mas oferece pouco espaço para pausa, escuta e autenticidade. Ainda assim, muitas mulheres reinventam-se todos os dias, recusando-se a desaparecer nos papéis que ocupam. Raquel Loureiro é uma dessas mulheres. Mãe, hairstylist e empreendedora, equilibra diariamente os desafios da maternidade com as exigências de um negócio em crescimento, sem nunca abdicar de si. No seu RL Studio Concept, o toque é mais do que técnica: é escuta, cuidado e presença. Raquel acredita que a beleza é um espaço de reencontro, onde cada mulher se pode ver e sentir, para além dos papéis, das pressas e dos filtros. Nesta entrevista, fala-nos com verdade sobre os bastidores do equilíbrio imperfeito, as escolhas conscientes que fez para cuidar da sua liberdade, e o impacto transformador que um gesto simples, como cortar ou cuidar do cabelo, pode ter na autoestima e na saúde emocional de uma mulher. Um testemunho inspirador sobre beleza com propósito, autenticidade e espaço para respirar. Porque a beleza também pode ser um ato de amor.

A Raquel concilia três papéis exigentes: é mãe, hairstylist e empreendedora. Como consegue equilibrar todas essas dimensões e ainda reservar espaço para cuidar de si? 

Há dias em que sinto que estou inteira, centrada, alinhada, presente. E noutros, parece que deixei partes de mim em pausa, à espera de reencontro. É um malabarismo constante. Aprendi que o equilíbrio não está em dar 100% em tudo, todos os dias, isso seria exaustivo e irreal. O verdadeiro segredo, se é que há um, está em aceitar essa imperfeição com leveza. Cuidar de mim é uma prioridade, não um luxo. Só quando estou bem comigo mesma é que consigo estar verdadeiramente disponível para os outros. E sim, há momentos em que preciso reencontrar a minha essência feminina, aquela que existe para além da mãe e da profissional. A beleza, para mim, é um dos espaços onde esse reencontro acontece: é ritual, autocuidado e presença.

Que decisões teve de tomar, enquanto empreendedora, para fazer o negócio crescer sem abdicar da sua presença enquanto mãe?

No início, tinha a ilusão de que podia fazer tudo sozinha, uma armadilha comum a muitas mulheres empreendedoras. Mas a verdade é que isso não é sustentável. Hoje, sou muito mais estratégica com o meu tempo. Aprendi a investir em processos que me libertam, numa equipa em quem confio e, sobretudo, em atrair clientes que respeitam o meu ritmo e os meus limites. Crescer, para mim, deixou de significar apenas mais volume ou mais movimento. Crescer é também ganhar qualidade de vida, trabalhar com mais propósito e com mais liberdade. Porque o tempo passa e não volta. E a vida precisa de espaço para ser vivida, com os filhos, com os nossos, connosco.

O que mudou na sua forma de olhar para a beleza depois de ser mãe? Sente que hoje há mais empatia, mais consciência da importância do toque, do tempo e do acolhimento?

Sem dúvida. A maternidade refinou a minha sensibilidade. Fez-me compreender que o toque vai muito além da técnica, é uma forma de afeto, de escuta silenciosa, de presença. Muitas das mulheres que me procuram vêm em busca de muito mais do que um corte ou uma coloração. Precisam de cuidado, de acolhimento, de se sentirem vistas. E isso transformou também a forma como me posiciono: hoje, entendo que trabalhar com beleza é, muitas vezes, trabalhar com emoções. O Studio pode ser um espaço de transformação, sim, mas também de cura, de reencontro, de pausa no meio da correria do mundo.

Ao longo da sua carreira, já acompanhou muitas mulheres em momentos decisivos. Que papel acredita que uma mudança de visual pode ter num recomeço, seja no pós-parto, numa nova etapa profissional ou após um momento emocionalmente desafiante?

Quando uma mulher decide mudar o visual, raramente se trata apenas da aparência. Muitas vezes, é um gesto simbólico de reencontro consigo mesma ou de reinvenção. Um sinal de que algo dentro dela está a pedir renovação, liberdade ou simplesmente um novo começo. Já vi mulheres entrarem no Studio visivelmente em baixo e saírem com uma energia completamente diferente, mais confiantes, mais erguidas, mais presentes. A transformação exterior é apenas a ponta do iceberg; o que acontece internamente é ainda mais poderoso. Um novo visual pode ser um grito de liberdade, um ato de coragem e de afirmação. É dizer: “estou pronta para recomeçar”.

Vivemos numa sociedade que ainda impõe muitas exigências às mulheres: que sejam produtivas, impecáveis, disponíveis em todas as frentes. Como é que lida com essa pressão e, através do seu trabalho, ajuda outras mulheres a libertarem-se dela?

Essa pressão existe e é real. E, durante muito tempo, tentei corresponder a tudo, até perceber que isso é insustentável. O primeiro passo foi desconstruir essa exigência dentro de mim. Hoje, no Studio, procuro criar um espaço onde cada mulher se sinta acolhida, sem pressas nem julgamentos. Um lugar onde possa simplesmente ser, sem ter de desempenhar nenhum papel. Muitas vezes, essa libertação começa com uma conversa durante a lavagem do cabelo ou enquanto aplicamos a cor. São momentos íntimos e sinceros, em que pequenos gestos dizem: “aqui, pode respirar”. A beleza pode, e deve, ser vivida com leveza, como uma pausa no meio do caos.

Hoje fala-se cada vez mais da relação entre beleza e saúde mental. Na sua experiência, que tipo de transformações emocionais observa quando uma cliente se sente bem com a sua imagem?

É impressionante o que muda. Quando uma mulher se sente bem com a sua imagem, a autoestima transforma-se: muda a forma como caminha, como se expressa, como se posiciona no mundo. Há uma nova postura, mais segura, mais firme, mais amorosa consigo mesma. Ao reconhecer-se no espelho e gostar do que vê, ela reencontra também o respeito e a valorização pessoal. A beleza, por si só, não resolve tudo, mas pode ser uma poderosa porta de entrada para um processo de cura e fortalecimento emocional. Cuidar da imagem é, muitas vezes, cuidar da alma.

Num tempo dominado pelas redes sociais e pelos filtros digitais, muitas mulheres sentem-se pressionadas a corresponder a padrões irreais de beleza. Como é que trabalha para resgatar a beleza real e autêntica de cada mulher que passa pelas suas mãos?

Não existe uma fórmula única, nem deve existir. A beleza está na autenticidade, naquilo que é único em cada mulher. Por isso, antes de qualquer transformação, escuto com atenção e empatia. Quero perceber quem é aquela mulher, como se sente, o que vive, o que deseja comunicar ao mundo com a sua imagem. O meu trabalho não é seguir tendências cegamente, mas sim traduzir a essência de cada pessoa. A beleza, para mim, é uma expressão de identidade, não um molde a ser preenchido.

Quais são as tendências que estão a marcar o hairstyling em 2025?

Em 2025, a palavra de ordem continua a ser naturalidade. Tons mais quentes, como os dourados suaves e castanhos luminosos, estão a ganhar espaço, enquanto os platinados frios e os cinzentos perdem protagonismo. O estilo “effortless”, aquele visual aparentemente simples, mas cuidadosamente tratado, mantém-se em alta. Mais do que cortes ousados ou mudanças radicais, há uma aposta clara em cabelos saudáveis, com brilho, textura natural e movimento. Assistimos também a um crescimento do interesse por rotinas de autocuidado capilar: máscaras nutritivas, massagens no couro cabeludo, e produtos com ativos naturais. A tendência é tratar antes de transformar.

Para terminar: que mensagem deixaria às mulheres que ainda se sentem culpadas por se colocarem em primeiro lugar? E que papel acredita que a beleza pode desempenhar na reconstrução da autoestima e do amor-próprio?

Colocar-se em primeiro lugar não é egoísmo, é autoconsciência, cuidado e sobrevivência emocional. Quando uma mulher se cuida, torna-se mais inteira, mais presente e disponível para tudo e para todos. A beleza pode, e deve, ser um canal de reconexão com o amor-próprio. Não falo de uma estética vazia, mas de pequenos gestos diários que nos recordam: “mereces ser vista, tocada, escutada, amada, mesmo nos dias difíceis”. Cuidar da imagem é também cuidar do interior, porque corpo e mente estão profundamente ligados. A autoestima constrói-se assim: em silêncio, com consistência, e com respeito por quem somos.

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