SAÚDE/Saúde Infantil “As mudanças hormonais durante a gravidez podem aumentar o risco de problemas dentários” By Revista Spot | Março 13, 2024 Março 16, 2024 Share Tweet Share Pin Email A importância da literacia em saúde oral durante a gravidez é indiscutível. Neste período crucial, a atenção à saúde oral não apenas beneficia a mãe, mas também o bebé em desenvolvimento. Carla Lavado, médica dentista especialista em Odontopediatria, na Clínica de Medicina e Reabilitação Dento-Facial Prof. Francisco do Vale, explica que durante a gravidez, as flutuações hormonais podem aumentar o risco de problemas dentários, como gengivite e periodontite, tornando os cuidados dentários uma prioridade ainda maior. Durante a gravidez, as mulheres enfrentam mudanças hormonais que podem aumentar o risco de problemas dentários, como gengivite e periodontite? Durante a gravidez, as mulheres vivenciam várias flutuações hormonais, nomeadamente um aumento dos níveis de estrogénios e progesterona que podem aumentar a resposta inflamatória à presença de placa bacteriana. Aumentando, por isso, a suscetibilidade para inflamações gengivais. Dentro das alterações periodontais mais frequentes estão o granuloma piogénico, gengivite e periodontite. Existe também uma diminuição do pH salivar, que pode contribuir para uma maior incidência de cárie nesta fase. O aumento da suscetibilidade a infeções na cavidade oral também é uma consequência da diminuição do pH salivar e da redução da sua capacidade tampão que, associado a uma mudança na dieta e nos hábitos orais, pode contribuir para o crescimento bacteriano e aumento do risco de cárie dentária. Há evidências de que problemas dentários não tratados durante a gravidez aumentam o risco de complicações graves, como parto prematuro e baixo peso ao nascer? Há evidências que sugerem uma associação entre periodontite não tratada e complicações graves como parto prematuro, baixo peso do recém-nascido e até pré-eclâmpsia. Estas associações podem ser explicadas por um mecanismo direto, pela passagem de microrganismos periodontais para a circulação sanguínea resultando numa resposta inflamatória no complexo feto-placenta, ou ainda por um mecanismo indireto, via mediadores inflamatórios. No entanto, o consenso da Academia Americana de Periodontologia e da Federação Europeia de Periodontologia aponta para uma associação modesta entre estas condições, com grande variabilidade. Ainda que seja uma associação ligeira, entendemos que os cuidados médico-dentários durante a gravidez devem ser priorizados. Quais são os sinais de alerta de problemas de saúde oral durante a gravidez a que as mulheres devem estar atentas? Durante a gravidez, as mulheres devem estar atentas a sinais e sintomas que podem indicar alguma patologia do foro estomatognático. Podemos nomear alguns como: gengivas inchadas, vermelhas ou sangrantes, sensibilidade aumentada, mau hálito persistente, dor, dificuldade em mastigar. “Qualquer dor persistente deve ser avaliada pelo médico dentista, seja em que fase da gravidez for, uma vez que pode ser um sintoma indicativo de infeção, condição que deve ser tratada com a maior brevidade.” A náusea matinal, associada à acidez estomacal, pode corroer o esmalte dos dentes, aumentando o risco de cáries e sensibilidade dentária? Náuseas e vómitos são comuns e ocorrem em 70 a 80% das mulheres, mas geralmente são autolimitados após o primeiro trimestre. Podem contribuir para o desgaste dentário erosivo causado pela exposição aos ácidos do estômago. Além disso, os vómitos reduzem o pH da saliva pelo ácido clorídrico do estômago, o que pode contribuir diretamente com perda de estrutura dentária por um processo de erosão ácida. Existe, portanto, um risco aumentado para cárie e sensibilidade dentária, que deve ser evitado através da visita ao médico-dentista numa fase inicial da gravidez. Mulheres com náusea matinal podem evitar escovar os dentes devido à sensibilidade ou reflexo nauseante, levando a uma higiene oral menos frequente ou eficaz, aumentando o risco de problemas dentários? As náuseas e vómitos podem levar à redução de práticas de higiene oral adotadas pela grávida, provocando aumento da placa bacteriana, contribuindo para aumento de cárie e doenças periodontais. Portanto, é importante que as mulheres encontrem estratégias, junto do seu médico dentista, para reduzir o desconforto durante a escovagem, como, por exemplo, a escolha de escovas de dentes mais macias e a utilização de um dentífrico mais suave. É, por isso, seguro e importante visitar o médico dentista durante a gravidez para exames de rotina e limpezas? É seguro e essencial que as grávidas façam o normal acompanhamento no seu médico dentista, seja para uma simples consulta de rotina ou para a realização de algum tratamento. Embora existam muitos mitos, crenças e resistência em relação aos tratamentos médico-dentários durante a gravidez, sabemos atualmente que é seguro, se forem respeitados todos os cuidados adicionais que uma paciente grávida exige. Idealmente, no caso de ser uma gravidez programada, a futura mãe deve fazer todos os tratamentos médico-dentários necessários previamente. No entanto, se já estiver grávida, não deve deixar de proceder aos tratamentos necessários. A altura preferencial para a realização de tratamentos é o segundo trimestre, no entanto, há situações urgentes (por exemplo infeções) que devem ser tratadas logo que surjam, independentemente da fase da gravidez, uma vez que podem ter consequências negativas para a grávida e para o bebé. Não nos podemos esquecer que a saúde oral é um parâmetro muito importante na qualidade de vida da grávida. Após o nascimento, os cuidados com a saúde oral do bebé começam desde cedo? No passado, acreditava-se que a limpeza da boca do bebé sem dentes poderia prevenir a colonização por microrganismos cariogénicos. Hoje sabemos que estes microrganismos colonizam naturalmente a cavidade oral e não representam, necessariamente, uma ameaça à saúde oral. Portanto, atualmente sabemos que não existe necessidade de higienizar a boca do bebé sem dentes, seja ele amamentado exclusivamente ou com uso de leite adaptado. Ao higienizar a boca do bebé sem dentes existe a possibilidade de remover células T maternas que se encontram na boca do bebé após a amamentação, cuja função é compensar o sistema imunitário adaptativo imaturo do recém-nascido, de forma protegê-lo contra microrganismos oportunistas. O melhor momento para iniciar a higiene oral do bebé é a partir da erupção do primeiro dente. A escovagem é uma das estratégias mais eficazes para prevenção da cárie, principalmente na população infantil, que é mais vulnerável. Os benefícios são preventivos e terapêuticos, desde que sejam utilizados dentífricos adequados com flúor e técnicas de escovagem eficazes. A amamentação desempenha um papel na saúde oral do bebé? A amamentação é considerada um dos pilares de um crescimento crânio-facial harmonioso pois promove o selamento labial correto, uma função mandibular ideal e uma posição adequada da língua no palato em repouso. Para além disto, as crianças que são amamentadas têm um risco diminuído de fluorose, menor possibilidade de uso de chupeta e existem evidências que estas crianças apresentam menos incidência de cárie dentária. “A amamentação é considerada um dos pilares de um crescimento crânio-facial harmonioso…” No pós-parto é fundamental que a mulher mantenha todos estes cuidados de saúde oral? Ao tratar da sua saúde oral, a mulher está a promover a saúde do seu filho. É essencial que os bons hábitos e cuidados de saúde oral se mantenham nos pós-parto, para o bem-estar da mulher e para a manutenção da boa saúde oral da criança. Nesta fase, ainda existem alterações hormonais significativas, principalmente se a mulher amamentar, existindo a mesma predisposição para alguns problemas de saúde oral. É nesta importante fase que a literacia em saúde oral começa? Começa precisamente no momento da conceção. Ainda antes de o bebé nascer, as consultas de vigilância da gravidez, são uma boa oportunidade para sensibilizar os pais para a importância da saúde oral no contexto de uma saúde global. A mensagem passada dá destaque aos cuidados a ter com a alimentação e a higienização da boca da criança, especialmente após a erupção do primeiro dente. Cada vez mais se reconhece a importância que os primeiros 1000 dias da vida de um bebé podem ter na vida da criança e mesmo já na idade adulta. Durante este período, que vai desde a conceção aos dois anos de idade da criança, o bem-estar da mãe e do bebé estão fortemente interligados e ocorre um desenvolvimento muito significativo de vários órgãos – especialmente do cérebro – e sistemas, como o imunitário. É durante os primeiros 1000 dias de vida que as principais bases da nossa vida adulta são construídas e este é um período com grande potencial, mas também vulnerabilidade. É fundamental o acompanhamento e aconselhamento desde a gravidez para que a criança possa desenvolver-se de forma saudável, harmoniosa, criando bons hábitos que perduram toda a vida. Morada: Av. Dom Nuno Álvares Pereira 25, 4750-324 Barcelos Contacto: 253 812 083 | 912 493 099 Facebook: Clínica Prof. Francisco do Vale www.clinicafranciscovale.pt Duas gerações de causas no feminino “O amor e a prevenção são a essência da saúde materno-infantil”
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