“A arquitetura assume a responsabilidade de antecipar as transformações da sociedade”

De uma arquitetura pragmática e cada vez mais multidisciplinar, ao desenho das cidades, passando pelo design de produto como ferramenta das necessidades tailor-made dos novos tempos, o arquiteto Sérgio Vieira Barbosa reflete sobre a capacidade de o arquiteto contemporâneo pensar diferente. “No contexto atual, onde o mundo enfrenta desafios cada vez mais complexos, como mudanças climáticas, urbanização acelerada, e uma crescente necessidade de sustentabilidade, a capacidade de pensar diferente tornou-se essencial para os profissionais da arquitetura.”, partilha.

Arquitetar soluções
De acordo com Sérgio Vieira Barbosa, o arquiteto moderno não é apenas um criador de formas estéticas, mas um solucionador de problemas, alguém que precisa de antecipar as necessidades de um mundo em constante transformação. “A arquitetura contemporânea desafia a linearidade do passado, propondo soluções que consideram o impacto ambiental, a inclusão social, a flexibilidade dos espaços e a experiência de quem vive os lugares.”, destaca.

Para o arquiteto esse pensar diferente também envolve uma capacidade de integrar múltiplas disciplinas. “Hoje em dia o nosso atelier trabalha com arquitetos, engenheiros, designers, topógrafos. Não podemos pensar uma solução se não avaliarmos o seu grau de exequibilidade. A missão hoje passa por criar edifícios que sejam eficientes e bonitos, mas também inteligentes e humanizados. O uso de novas tecnologias, como a impressão 3D, a realidade aumentada e o design paramétrico, permite um grau de personalização e precisão que antes parecia impossível. Ao mesmo tempo, a arquitetura passa a incorporar materiais sustentáveis, a promover a eficiência energética e a criar espaços que se adaptam às necessidades dos indivíduos e das comunidades.”, partilha

Um arquiteto é, acima de tudo, um gestor
Quando falamos dos diferentes desafios do SVBARQ um pouco por todo o país, Sérgio Vieira Barbosa destaca a importância da figura do arquiteto como gestor, especialmente no que diz respeito à adaptação e navegação nos processos burocráticos, legislações e nas diferentes exigências e modus operandi de instituições e autarquias locais.

“O trabalho do arquiteto envolve uma série de etapas que exigem um bom conhecimento da legislação urbanística, normas de construção, regras de licenciamento e regulamentações locais. Precisamos de interagir com diferentes entidades, como câmaras municipais, autoridades de licenciamento e órgãos reguladores, para garantir que o projeto seja aprovado, esteja em conformidade e seja executado sem contratempos legais. Isso torna-se particularmente relevante perante a heterogeneidade de projetos que temos em curso, que vão desde reabilitações particulares a edifícios públicos, como cemitérios, ou transformações inovadoras de espaços, como a conversão de uma cobertura de edifício num apartamento de luxo. Este tipo de projetos, que exigem não apenas habilidade técnica, mas também visão criativa e sensibilidade ao contexto, refletem uma tendência crescente na arquitetura contemporânea, onde a reinterpretação de espaços urbanos é cada vez mais necessária.”, refere.

A ascensão do Design de Produto
O Design de Produto tem sido uma solicitação crescente dos clientes do SVBARQ. “Num contexto em que as habitações têm dimensões cada vez menores e as necessidades dos clientes são mais específicas, a personalização surge como solução essencial, permitindo que cada detalhe seja pensado de forma única e funcional. Em vez de recorrer a soluções de ‘fast furniture’, muitos optam por criar móveis e objetos sob medida, otimizando ao máximo o espaço disponível.
A personalização não se limita apenas à estética, mas também à adaptação do ambiente às necessidades concretas dos utilizadores. Esta abordagem permite que cada peça, em vez de ser apenas decorativa, cumpra múltiplas funções e se encaixe perfeitamente no espaço, tornando-o mais aproveitável.”, sublinha.

Respeito pelos lugares
Em pleno centro histórico de Guimarães, Sérgio Vieira Barbosa fala sobre o respeito da arquitetura pelos lugares. A integração no lugar, seja numa cidade vibrante ou numa paisagem mais isolada, é, para o arquiteto, um princípio inegociável. Com uma profunda sensibilidade pela história e pelo ambiente que o rodeia, acredita que a arquitetura deve sempre respeitar a memória do local, sem nunca esquecer que, por vezes, é preciso destacar-se. “A arquitetura deve honrar o passado, mas também ter a coragem de afirmar-se quando necessário”, defende, revelando a sua visão de um espaço que não apenas se adapta, mas que também conversa com o tempo e a história.

E o futuro?
A crescente popularidade de conceitos como o modelo das ‘cidades de 15 minutos’ reflete uma mudança significativa na forma como pensamos a urbanização. Sérgio reconhece a importância do urbanismo, da mobilidade e de uma infraestrutura de transportes eficientes para tornar esses modelos viáveis. “A arquitetura pode sim estimular esse tipo de conceito, mas é a atuação das câmaras municipais e a integração de serviços essenciais em bairros residenciais que torna possível a implementação real do bairro funcional.”, partilha. Para Sérgio, a verdadeira transformação das cidades passa por repensar a forma como nos movemos e interagimos com os espaços urbanos.
“A arquitetura é um reflexo das evoluções da sociedade, e o papel do arquiteto é, muitas vezes, o de antecipar essas mudanças. O arquiteto contemporâneo entende que os espaços de convívio são fundamentais para o bem-estar social e psicológico das pessoas, especialmente em ambientes urbanos densos, onde a solidão e o isolamento são desafios crescentes. E porque não repensarmos os nossos espaços tendo em conta essa realidade, mesmo em zonas urbanas? Tradicionalmente, os rés-do-chão são vistos apenas como áreas funcionais para comércio ou estacionamento, mas existem inúmeros bons exemplos internacionais que transformam esses espaços em zonas de convívio e interação social. Este espaço, muitas vezes subutilizado, pode ser repensado para criar ambientes que promovam o encontro, a troca de ideias e o fortalecimento dos laços comunitários. Afinal de contas essa é a verdadeira beleza da arquitetura: a sua capacidade de moldar a experiência humana.”, conclui.

Braga . Porto. Lisboa

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