CASA & DESIGN/PRONUNCIA DO NORTE “O arquiteto do futuro será cada vez mais um agente estratégico, alguém que pensa em ecossistemas, que cruza economia, ambiente, cultura e tecnologia” By Revista Spot | Agosto 5, 2025 Agosto 5, 2025 Share Tweet Share Pin Email O arquiteto do futuro não se limita a desenhar espaços, é um agente estratégico que cruza economia, ambiente, cultura e tecnologia para criar ecossistemas urbanos vivos. Marco Ivan, arquiteto responsável pelo MIStudio, percebeu cedo que a arquitetura é também liderança, gestão e empreendedorismo. O MIStudio é por isso hoje um laboratório criativo que integra inovação tecnológica como BIM, realidade aumentada e inteligência artificial para entregar projetos rigorosos, impactantes e com significado. “Crescer não é multiplicar obras, mas aprofundar relevância, mantendo escuta ativa, empatia e autenticidade”, garante. Em Braga, cidade em transformação, o atelier encontra o palco ideal para contribuir para um desenvolvimento urbano sustentável e inclusivo. O desafio? Equilibrar a paixão criativa com a sustentabilidade financeira numa profissão cada vez mais complexa. Para quem está a começar, a mensagem é clara: dominar a técnica é fundamental, mas saber liderar, negociar e comunicar é o verdadeiro motor para transformar cidades e gerações. Marco, o MIStudio nasce numa nova morada e num momento de afirmação. Hoje, mais do que desenhar espaços, lidera uma empresa criativa. Quando percebeu que o papel do arquiteto exigia também visão empresarial? Desde cedo, quando ainda desempenhava funções enquanto colaborador de outro escritório de arquitetura, percebi que a arquitetura vai muito além do desenho e da criação de espaços. Cada projeto envolve pessoas, recursos, prazos e, acima de tudo, uma visão clara de futuro. O momento em que realmente entendi que o arquiteto também precisa de ser um gestor, um líder e até um empreendedor foi quando me vi a ter de tomar decisões que iam muito além da estética ou da técnica. Eram decisões estratégicas, que moldavam o rumo do estúdio, que tinham impacto em quem comigo colaborava e criavam oportunidades de negócio. Foi aí que o Marco Ivan Architects Studio começou a transformar-se: de um atelier de arquitetura para uma empresa criativa, com identidade própria, valores sólidos e uma ambição que se reflete em cada projeto que entregamos. Num setor competitivo, em que a estética muitas vezes se sobrepõe ao conteúdo, como construiu uma marca com identidade própria, que comunica com clareza e se posiciona com propósito no panorama nacional? Construir uma marca com identidade própria exige tempo, consistência e, acima de tudo, autenticidade. Desde o início, no Marco Ivan Architects Studio sabíamos que não queríamos apenas seguir as tendências da moda ou apenas criar imagens bonitas. Sempre quisemos contar histórias verdadeiras, criar espaços com significado e responder com integridade aos desafios de cada cliente. Num setor onde a estética, muitas das vezes, se impõe ao conteúdo, optámos por criar uma regra e por fazer o caminho inverso: começámos pelo conteúdo. Pela escuta ativa, pela empatia, pelo entendimento profundo das necessidades dos nossos clientes. A estética vem depois, como consequência natural de um processo sólido. A nossa comunicação reflete isso, é clara, honesta e com um propósito bem definido. Não procuramos ser líderes de mercado, mas queremos estar no grupo da frente, sabemos bem a nossa escala, até onde podemos e queremos ir e qual o caminho que temos de trilhar para lá chegar. Procuramos também ser reconhecíveis. É motivo de orgulho quando nos dizem: “Não preciso de ver o teu logótipo para saber que se trata de um projeto teu, reconheci-o pelo traço!”. E isso só acontece quando o que dizemos está em sintonia com o que fazemos. É assim que, passo a passo, vamos construindo uma presença forte no mercado. O MIStudio é mais do que um atelier, é um laboratório de ideias e um player urbano. Qual tem sido a vossa estratégia de crescimento? E como equilibra criatividade com sustentabilidade financeira? A nossa estratégia de crescimento tem sido muito orgânica, mas sempre com visão. No Marco Ivan Architects Studio nunca quisemos crescer apenas em volume, quisemos crescer em relevância e em reconhecimento. Desde sempre, apostámos na multidisciplinaridade, no diálogo entre áreas e em projetos que nos desafiem a pensar além da arquitetura tradicional. Essa abertura a novas ideias e formatos posicionou-nos como um laboratório criativo, capaz de pensar a cidade, a cultura e o território com uma abordagem ampla. O equilíbrio entre criatividade e sustentabilidade financeira vem da estrutura que fomos montando ao longo do tempo. Temos processos internos bem definidos, uma gestão rigorosa e uma equipa apoiada nas parcerias externas que temos que compreende que liberdade criativa só é possível quando há responsabilidade. Não acreditamos na dicotomia entre o criativo e o financeiro, para nós, caminham juntos. Ser sustentáveis é o que nos permite arriscar com mais segurança e inovar com mais coragem. Ser arquiteto é, muitas vezes, ser líder de pessoas. Como é que gere talento, estimula pensamento crítico e cria um ambiente onde os jovens profissionais podem crescer e contribuir para uma visão coletiva? Ser arquiteto é, sim, e sem sombra de dúvidas, liderar equipas. E isso implica saber ouvir, confiar e criar espaço para que cada pessoa possa dar o melhor de si. No Marco Ivan Architects Studio acreditamos que boas ideias não têm hierarquia. Valorizamos o pensamento crítico, a curiosidade e a autonomia, e por isso fazemos questão de envolver todos desde cedo nos processos criativos, nas decisões e nas conversas com o cliente. A gestão de talento passa por reconhecer que cada profissional tem o seu ritmo, as suas forças e as suas ambições. O meu papel enquanto líder é criar condições para que esse potencial se revele, com desafios, sim, mas também com apoio. Procuramos manter uma cultura horizontal, onde há espaço para errar, para debater e para crescer em conjunto. A visão coletiva nasce daí: de um ambiente onde cada um se sente parte e responsável pelo todo. Que papel têm tecnologias como BIM, realidade aumentada ou IA na produtividade, orçamentação e tomada de decisão? As tecnologias como o BIM, a realidade aumentada ou, mais recentemente, a inteligência artificial, são hoje extensões naturais do processo criativo. No Marco Ivan Architects Studio não as vemos como meras ferramentas técnicas, mas como catalisadores de inovação. O BIM, por exemplo, tem um papel central: permite-nos uma abordagem colaborativa e integrada, com maior rigor nos processos, desde a conceção até à execução. A previsibilidade que oferece tem impacto direto na orçamentação, na gestão de obra e, claro, na relação de confiança com o cliente. A realidade virtual tem-nos permitido explorar novas formas de apresentar projetos, aproximando as pessoas daquilo que idealizamos e proporcionando ao cliente um primeiro contacto com o resultado final antes de começar a construção. E a inteligência artificial começa agora a integrar-se de forma subtil, mas poderosa. Estas ferramentas influenciam o nosso modelo de negócio porque nos permitem entregar mais valor, com mais eficiência e menos margem de erro. E isso traduz-se em competitividade, sustentabilidade e, acima de tudo, tempo: tempo para pensar melhor, para criar com mais liberdade e para tomar decisões com mais segurança. Os vossos projetos não são apenas respostas funcionais ou formais. São ativos urbanos que valorizam territórios. Como dialogam com investidores, promotores ou autarquias para posicionar a arquitetura como instrumento económico e social? No Marco Ivan Architects Studio acreditamos que a arquitetura tem um papel económico e social real. Não se trata apenas da forma ou da função. Trata-se de visão e consequência. Cada projeto que desenhamos, quer se queira quer não, tem impacto no território, nas dinâmicas locais, nas pessoas que o vão habitar ou atravessar. Por isso, quando dialogamos com clientes, investidores, promotores ou autarquias, procuramos falar uma linguagem comum: a do valor. E quando nos referimos a valor não nos referimos apenas ao lado financeiro, mas também ao territorial, ao cultural e ao humano. Tentamos mostrar como uma boa arquitetura pode potenciar um ativo, atrair talento, reforçar a identidade do local e gerar retorno, não só em euros, mas em qualidade de vida, em pertença e em reputação. Esse é o verdadeiro investimento. Esse diálogo exige escuta, mas também firmeza na decisão, quer da nossa proposta, quer do decisor final em a executar. Procuramos assumir um papel ativo, propondo soluções que vão além do briefing inicial e que consideram o contexto mais amplo: o urbano, o social e o ambiental. É assim que posicionamos a arquitetura não como um custo, mas como uma alavanca de desenvolvimento. Gerir um atelier é gerir complexidade: prazos, clientes, equipas, legislação, obra. Que desafios enfrenta hoje como empresário no setor da arquitetura em Portugal? E que conselhos daria a quem está a começar? Gerir um atelier é, de facto, gerir complexidade e, muitas das vezes, lidar com o imprevisto. Em Portugal, o setor da arquitetura enfrenta desafios estruturais: prazos administrativos longos, processos de licenciamento morosos, margens reduzidas e uma desvalorização persistente do trabalho intelectual. A exigência técnica e legal é cada vez maior, mas nem sempre acompanhada por uma valorização proporcional. Como empresário, o maior desafio é manter o equilíbrio entre a entrega criativa e a saúde financeira da empresa. É garantir que a paixão pelo projeto não comprometa a sustentabilidade do negócio. E, acima de tudo, é cuidar das pessoas, da equipa que connosco trabalha diariamente, dos nossos parceiros, e também dos clientes e das suas expectativas, sempre numa lógica de confiança e compromisso a longo prazo. A quem está a começar, diria o seguinte: a arquitetura é uma maratona, não é de todo um sprint! É fundamental ter vocação e dominar a técnica, mas também é muito importante saber comunicar, negociar, liderar. Não tenham medo de aprender sobre gestão, sobre números e sobre estratégia empresarial. Rodeiem-se de pessoas que desafiem o vosso pensamento. E, acima de tudo, mantenham o propósito claro mesmo em momentos de maior desânimo, porque é isso que vos vai orientar nesses momentos mais difíceis. Têm uma relação próxima com Braga, uma cidade em expansão. Que potencial vê em Braga para atrair talento, investimento e inovação urbana? Sim, a relação com Braga, para além de ser emocional, pois é a nossa cidade, é também profissionalmente profunda e intencional. Empresarialmente, não a vemos apenas como localização, mas sim como laboratório vivo. É uma cidade em crescimento, em constante transformação, com energia própria e onde ainda é possível experimentar, propor e construir com sentido de futuro. Braga tem uma escala humana, mas ambição global. Essa combinação é rara e poderosa! Para nós, tem sido uma base de posicionamento, permite-nos estar próximos de uma rede crescente de talento, manter uma relação direta com decisores e trabalhar com uma malha urbana em evolução constante. É uma cidade onde a arquitetura pode ter impacto real. Onde as decisões de hoje moldam o território de amanhã. Vejo em Braga um enorme potencial para atrair talento jovem, especialmente nas áreas criativas e tecnológicas. A proximidade com universidades, o dinamismo empresarial e o investimento público criam um ecossistema propício à inovação urbana. O desafio agora é garantir que esse crescimento seja planeado com visão e sensibilidade e entendo que é aí que a arquitetura pode ser um instrumento fundamental. Há ambição de escalar o estúdio? Expandir nacional ou internacionalmente? Como garantir que, ao crescer, o MIStudio não perde o seu ADN, aquilo que o distingue num mar de propostas semelhantes? Sim, há ambição de crescer, mas não a qualquer custo. Como disse anteriormente, não procuramos ser líderes de mercado, mas queremos estar no grupo da frente. O crescimento do Marco Ivan Architects Studio tem de ser coerente com a nossa identidade, com a forma como trabalhamos e com os valores que nos trouxeram até aqui. Expandir, para nós, não é apenas abrir mais frentes ou geografias, é aprofundar o impacto, reforçar o nosso posicionamento e chegar a contextos onde possamos acrescentar valor de forma autêntica. Estamos atentos a oportunidades de crescimento nacional e internacional, sobretudo em mercados que valorizem uma abordagem integrada, onde o pensamento estratégico e o compromisso com o território possam fazer a diferença. Mas o maior desafio, e também a nossa prioridade, é garantir que, ao escalar, não perdemos o nosso ADN: a proximidade com os clientes, a escuta ativa, a cultura de estúdio, a atenção ao detalhe. Isso só se garante com pessoas. Com uma equipa alinhada, com processos claros e com uma liderança que não abdica da qualidade em troca de quantidade. O segredo não está em crescer rápido, está em crescer certo! Como imagina o papel do arquiteto nos próximos 10 ou 20 anos? Continuaremos a formar desenhadores de edifícios ou teremos, cada vez mais, líderes urbanos, empreendedores e agentes estratégicos de mudança? Acredito que o papel do arquiteto nos próximos 10 ou 20 anos terá de ser muito mais amplo do que apenas o de desenhador de edifícios. Vamos continuar a projetar espaços, óbvio, mas o nosso verdadeiro valor estará na capacidade de interpretar o território, de antecipar tendências, de liderar equipas multidisciplinares e de tomar decisões que têm impacto real nas cidades e na vida das pessoas. O arquiteto do futuro será cada vez mais um agente estratégico, alguém que pensa em ecossistemas, que cruza economia, ambiente, cultura e tecnologia. Um líder urbano, sim, mas também um empreendedor, capaz de criar valor fora dos limites tradicionais da profissão. E isso começa já: nas escolas, nos ateliers e até na forma como trabalhamos e colaboramos. Se continuarmos a formar apenas bons desenhadores, estaremos a preparar profissionais para um mundo que já está a mudar. Mas se formarmos pensadores críticos, estrategas urbanos, comunicadores eficazes, então estaremos a preparar arquitetos com um verdadeiro papel transformador. E é nesse caminho que acredito! Contacto: 917 005 424 Facebook: Marco Ivan Architects Studio Instagram: @marco.ivan.architects.studio www.mistudio.pt Mariana Faria, especialista em Medicina Capilar, viveu na pele os efeitos da alopecia androgenética. Hoje, ajuda centenas de pacientes a reencontrar a autoestima Muito antes da cárie, há uma história para ouvir. No consultório da Dra. Didi fala-se de parentalidade consciente, vínculo familiar e desenvolvimento infantil
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