Aquietar a alma

Mãe Natureza é tanto fealdade como beleza. Pai Tempo é tanto eternidade de felicidade como tormento a cada momento. O meio ambiente talvez tenha coração que sente. O que segredam os ventos às asas de cada ave… quem sabe?

Tudo acontece a cada instante, importante e insignificante. Somos vidas passadas e, havendo sorte antes da morte, partilhadas por pessoas amadas. Dizemos o adeus ocasional a quem vai deixando de estar perto de nós, e é apenas natural que nos assalte o receio de ficarmos sós. Raramente essa solidão é verdade, porque guardamos memórias no coração que nos devolvem quem partiu e deixou saudade.

E a vida continua, noite e dia, quente e fria, debaixo do Sol e da Lua. As tristezas são certezas inevitáveis, tal como as felicidades são verdades inabaláveis. Somos seres de muitas metades, e não apenas duas. Somos frutos de muitos viveres e vontades que nascem de duas metades nuas. Nuas de coração, ainda que partes dos corpos estejam tapadas. Não importa a distinção, desde que sejam duas metades amadas. Depois crescemos, vivemos, e encontramos as nossas muitas metades. Deixarão e deixaremos saudades.

Não tenho palavras que curam a cicatriz de um laço desfeito. Tudo o que dizemos, e que alguém nos diz, é apenas uma mentira gentil para enganar o peito. Cada laço que se desfaz é a perda de coisas boas e más. Mas não se perde a totalidade do que vivemos. A memória de tudo o que fomos e somos é uma riqueza que sempre teremos. É verdade que nem tudo permanece em recordação, porque tentar reter uma vida inteira é ver água escoar por entre os dedos da mão. Mas há sempre mais água e, por mais que o que se perdeu deixe mágoa, a vida pede continuação.

E é este o momento para silenciar o pensamento, aquietar a alma, e flutuar em águas tranquilas onde a mais violenta tempestade acalma.