Osteopatia “A osteopatia acompanha fases determinantes da vida: do bebé que se adapta após o parto, ao adulto marcado pelo sedentarismo e pelo stress” By Revista Spot | Novembro 3, 2025 Novembro 11, 2025 Share Tweet Share Pin Email Falar com José Pedro Pereira é perceber que a osteopatia é muito mais do que alinhar estruturas: é apoiar a saúde em todas as idades. Licenciado em osteopatia e especializado em osteopatia pediátrica, acredita que compreender o adulto ajuda a entender a criança e vice-versa. “Cada corpo traz a sua história: o recém-nascido que procura conforto depois do parto, o jovem com assimetrias posturais, o adulto que vive em tensão permanente”, refere. Na sua visão, a osteopatia é uma linguagem comum entre gerações, uma forma de devolver mobilidade, presença e harmonia ao corpo. Fala de ciência e de toque com o mesmo respeito, lembrando que o movimento é a primeira e a última expressão de vida. Para José Pedro, tratar não é corrigir: é facilitar o caminho natural da adaptação. Entre a fisiologia e a emoção, o seu trabalho é um convite a uma saúde mais humana, integrada e consciente. Ao longo da sua prática tem conciliado a osteopatia no adulto e na criança. O que é que o levou a apostar nesta dupla vertente e de que forma cada área enriquece a sua visão clínica? Ao longo da minha prática, percebi que compreender o adulto ajuda-me a compreender melhor a criança e vice-versa. Embora uma criança não seja um adulto em miniatura, é um ser humano em desenvolvimento, e muitas das disfunções que observo nos adultos têm origem em fases muito precoces da vida. Durante a formação em osteopatia, a ênfase recai sobretudo sobre a anatomia e fisiologia do adulto. Só mais tarde mergulhamos no universo pediátrico, onde percebemos o verdadeiro significado da frase: “uma criança não é um adulto pequeno”. O corpo infantil obedece a princípios próprios de crescimento, mobilidade e neurodesenvolvimento. Trabalhar nas duas vertentes permite-me uma visão global: o adulto mostra-me as consequências das compensações estruturais, a criança revela-me a origem de muitos desequilíbrios. Quando observo uma assimetria craniana num bebé, compreendo como esse padrão, se não for acompanhado, poderá condicionar a postura e o equilíbrio do adulto no futuro. A osteopatia familiar, como gosto de lhe chamar, permite precisamente isso: acompanhar o ser humano desde os primeiros dias até às fases mais avançadas da vida, promovendo uma adaptação mais harmoniosa e prevenindo disfunções antes de se tornarem crónicas. Diferentes tipos de parto expõem o bebé a forças distintas. Na sua experiência, que padrões de disfunção encontra mais frequentemente e que impacto podem ter se não forem acompanhados? O parto, por si só, não deve ser visto como o “culpado” das tensões ou disfunções que observamos no bebé. O essencial é garantir que mãe e bebé estão bem, o resto ajusta-se com acompanhamento adequado. É verdade que cada tipo de parto impõe forças diferentes sobre o corpo do bebé. Num parto vaginal, há uma compressão e torção fisiológicas que estimulam sistemas essenciais, como os diafragmas craniano, torácico e pélvico, promovendo a adaptação e o primeiro “acordar” do sistema nervoso autónomo. Na cesariana, essa passagem não acontece da mesma forma, o que pode traduzir-se numa menor estimulação inicial, mas não é, de todo, determinante para o desenvolvimento. Mais do que o tipo de parto, interessa-me compreender o que aconteceu antes: como foi a gravidez, se houve dores pélvicas precoces, tensão lombar, posição fetal mantida, ou sinais de compressão intrauterina. Tudo isso influencia a mobilidade e o conforto do bebé. Em partos instrumentalizados (com ventosa ou fórceps), podem surgir pequenas tensões ou microlesões musculares, mas isso não significa obrigatoriamente um problema. O corpo do bebé é altamente adaptável. A osteopatia pode atuar como facilitadora dessa adaptação, ajudando o sistema nervoso e músculo-esquelético a reencontrar o equilíbrio natural e a prevenir compensações futuras. Alguns estudos sugerem que a osteopatia pode ajudar na regulação do sistema nervoso autónomo, nomeadamente através da influência no nervo vago. Como interpreta estes resultados na prática clínica, sobretudo em bebés com cólicas ou refluxo? Nas primeiras semanas de vida, o sistema nervoso autónomo do bebé está em plena maturação e é aí que a osteopatia pode ter um papel relevante. Estudos recentes têm mostrado que determinadas técnicas osteopáticas podem modular a resposta vagal, promovendo a regulação do eixo cérebro-intestino e melhorando sintomas como cólicas ou refluxo. Comecemos pelas cólicas: nem sempre estão relacionadas com o “ar” no intestino, como muitas vezes se pensa. São, na verdade, contrações intensas do tubo digestivo, uma reação a um desconforto interno, seja ele mecânico, digestivo ou neurológico. Antes de atribuir o choro a cólicas, é importante compreender se existe refluxo (mesmo oculto), dificuldades na eliminação ou simplesmente uma necessidade de segurança e contacto. Nenhum bebé dorme bem se sentir dor, desconforto ou ameaça, seja física ou emocional. O nervo vago, que emerge entre o osso temporal e o occipital, é uma das principais vias de comunicação entre o cérebro e os órgãos internos. Ele regula o ritmo cardíaco, a respiração e o funcionamento do estômago e intestinos. Qualquer alteração nas estruturas cranianas, por exemplo, tensões no occipital resultantes do parto, pode influenciar o seu trajeto e afetar o equilíbrio autonómico. Ao libertar restrições nessa região, a osteopatia ajuda a restaurar o fluxo neurológico e a comunicação entre o sistema nervoso central e o corpo. O intestino, muitas vezes chamado de “segundo cérebro”, é um dos primeiros órgãos a formar-se no embrião, e a sua ligação com o sistema nervoso é profunda. Num bebé, essa relação é ainda mais evidente: se o ato de mamar não ocorre de forma eficiente, o processo digestivo pode ficar comprometido. Por isso, não se trata apenas de aliviar o sintoma, mas de compreender todo o circuito funcional e devolver ao corpo a capacidade natural de autorregulação. A função orofacial é central nos primeiros meses de vida, seja na amamentação, ou na transição alimentar. Em que situações considera que a osteopatia pode ser útil no apoio à amamentação e à função oromotora? A amamentação é muito mais do que nutrição, é também movimento, respiração e desenvolvimento craniofacial. Nos primeiros meses, a função orofacial é determinante para o crescimento equilibrado do bebé: o ato de sugar, deglutir e respirar cria estímulos mecânicos que moldam a mandíbula, o palato e todo o sistema músculo-esquelético da face. A osteopatia pode intervir quando há dificuldades na pega, dor mamilar persistente, estalinhos durante a mamada ou preferência por uma das mamas. Estes sinais sugerem alterações na mobilidade da língua, tensão sublingual ou assimetrias cervicais que limitam o movimento da cabeça e da mandíbula. Por exemplo, um freio lingual pode não ser “curto” em termos anatómicos, mas estar funcionalmente tenso devido à rigidez dos músculos sublinguais e isso basta para perturbar o vácuo da sucção. Nestes casos, o trabalho multidisciplinar é essencial. O terapeuta da fala, sobretudo quando especializado em motricidade orofacial, é um aliado fundamental na reeducação da sucção e da deglutição. A osteopatia, por sua vez, atua de forma complementar, libertando restrições cranianas, cervicais e orofaciais que interferem com a função. Vale lembrar que a amamentação, para além do seu valor biológico, tem um profundo impacto emocional. O objetivo nunca deve ser o perfeccionismo, mas o bem-estar da díade mãe-bebé. Forçar uma mãe a amamentar em sofrimento físico ou emocional pode gerar frustração e afastamento. Uma abordagem sensata, que una osteopatia, terapia da fala e apoio especializado em amamentação, permite resolver a maior parte das disfunções precocemente, garantindo conforto, vínculo e um desenvolvimento harmonioso. “O stress, a ansiedade e as emoções intensas alteram profundamente o nosso padrão respiratório” O corpo da criança tem uma capacidade de adaptação única. Quais considera serem as “janelas de oportunidade” mais importantes para intervir osteopaticamente, e que condições podem ser prevenidas se houver uma abordagem precoce? Prefiro não falar de prevenção como sinónimo de evitar o aparecimento de algo, mas antes de criar as condições certas para que o corpo da criança se adapte e evolua da melhor forma possível. Em osteopatia, o objetivo não é “impedir” que surjam disfunções, mas atuar antes que piorem e é aí que as chamadas “janelas de oportunidade” se tornam essenciais. O corpo da criança tem uma capacidade de adaptação extraordinária, mas também memoriza padrões. Quando há uma tensão ou uma preferência postural, por exemplo, essa informação fica gravada na sua “memória muscular”. Sempre que ocorre um pico de crescimento, o corpo tende a recuperar aquilo que já conhece e, por isso, pode voltar a apresentar uma assimetria ou um padrão que parecia resolvido. É por isso que o primeiro mês de vida é um momento-chave. Mesmo na ausência de queixas, é importante observar o bebé, avaliar se há algum desconforto na amamentação, se prefere olhar para um lado, se dorme sempre na mesma posição, se o crânio está a crescer de forma harmoniosa e se há sinais de refluxo oculto ou de tensão cervical. A consulta inicial permite, sobretudo, capacitar os pais para reconhecer sinais precoces, distinguir o que é um sinal (aquilo que se vê) de um sintoma (aquilo que se sente) e perceber quando é necessário intervir. Depois, há outros momentos particularmente relevantes, como o período entre os quatro e os seis meses, quando o bebé começa a sustentar a cabeça, explorar o movimento e enfrentar um grande pico de crescimento. Nessa fase, vale a pena rever o equilíbrio conquistado, porque o corpo pode regredir ligeiramente para padrões antigos. O mesmo acontece mais tarde, quando a criança começa a sentar-se, a gatinhar, a pôr-se de pé, e a testar o equilíbrio com o início da marcha. Estas consultas de acompanhamento não servem para “prevenir por prevenir”, mas para garantir que o corpo continua a crescer de forma funcional e simétrica. O papel do osteopata é observar, orientar e, acima de tudo, transmitir conhecimento aos pais, porque são eles que estão com o bebé vinte e quatro horas por dia. O verdadeiro poder da consulta está na consciência que os pais adquirem sobre o desenvolvimento dos seus filhos. A intervenção precoce não é, portanto, um ato de correção, mas um gesto de atenção: é dar ao corpo da criança o que ele precisa para continuar a fazer aquilo que já sabe fazer melhor, adaptar-se. Hoje sabe-se que a dor crónica envolve não só fatores locais, mas também alterações no processamento central da dor. De que forma a osteopatia pode contribuir para modular estes mecanismos? A dor crónica é, em essência, uma dor que persiste no tempo. Não é apenas um sintoma localizado; é uma experiência complexa que envolve alterações na forma como o sistema nervoso processa os estímulos. A osteopatia pode ter um papel importante na modulação dessa resposta, ajudando o corpo a recuperar mobilidade, circulação e, com isso, qualidade de vida. Do ponto de vista fisiológico, a dor é sempre um sinal de que algo não está a funcionar em equilíbrio. Uma das premissas da osteopatia é que, onde o sangue circula livremente, dificilmente a patologia se instala. Isto não significa que o toque osteopático cure doenças crónicas, mas sim que, ao melhorar o fluxo sanguíneo e linfático, o corpo tem melhores condições para se autorregular. A circulação é o veículo de tudo o que nutre e repara, quando há estagnação, há inflamação; quando há movimento, há regeneração. A osteopatia atua, portanto, ao restaurar essa mobilidade: ao libertar restrições articulares, fasciais ou viscerais, promove-se uma melhor oxigenação e drenagem dos tecidos. Além disso, o estímulo manual envia sinais de segurança ao sistema nervoso, diminuindo a sensibilidade central e modulando o limiar de dor. É um processo neurofisiológico, mas também profundamente humano: quando o corpo é tocado com precisão, o cérebro deixa de interpretar o movimento como ameaça e volta a permitir o fluxo natural. A abordagem é sempre realista. Em doenças estruturais, como uma artrite reumatóide, a osteopatia não substitui a medicina convencional, mas pode ajudar a reduzir a intensidade da dor, a rigidez e o cansaço. Já em quadros funcionais – lombalgias, cervicalgias, dores miofasciais ou cefaleias tensionais -, pode ser determinante para restaurar a função e devolver bem-estar. O princípio é simples e antigo: dar ao corpo condições para se curar a si próprio. O objetivo não é eliminar a dor a qualquer custo, mas criar espaço para que o corpo volte a funcionar de forma eficiente. Quando a dor perde força, o movimento volta a ser possível, o sono melhora e a pessoa volta a sentir-se presente no seu corpo. No fundo, é isso que procuramos: menos dor, mais vida. O stress crónico e as emoções intensas refletem-se no corpo através de dores musculoesqueléticas, distúrbios do sono ou problemas digestivos. Como é que a osteopatia pode ajudar a modular essa relação entre mente e corpo e que lugar dá à somatização? O corpo e a mente são dois lados da mesma moeda. Quando a mente vive em sobressalto, o corpo acaba por traduzir esse estado em tensão, dor ou disfunção. É aqui que entra a somatização, o processo através do qual o sofrimento emocional se manifesta fisicamente. A osteopatia não substitui a psicologia, mas pode ser uma aliada poderosa na modulação dessa relação. O stress, a ansiedade e as emoções intensas podem alterar profundamente o nosso padrão respiratório. Uma pessoa ansiosa respira de forma curta e alta, utilizando pouco o diafragma, que é o principal músculo respiratório e um verdadeiro “centro” entre a mente e o corpo. Este músculo liga-se à coluna lombar (L1, L2 e, do lado esquerdo, até L3), às costelas e a várias estruturas viscerais. Quando o diafragma se encontra em tensão permanente, transmite essa rigidez à coluna, ao psoas e a toda a cadeia muscular posterior, daí surgirem muitas das dores lombares e torácicas associadas ao stress crónico. Além disso, o diafragma recebe uma importante inervação do nervo frénico e é também influenciado pelo nervo vago, através das suas ligações ao sistema nervoso autónomo. O nervo vago regula o batimento cardíaco, a digestão, a respiração e até a libertação de neurotransmissores relacionados com o bem-estar. Quando estamos em stress constante, este circuito fica em desequilíbrio, o que explica porque é que tantas pessoas ansiosas sofrem simultaneamente de dores musculares, distúrbios do sono e problemas digestivos. A osteopatia atua precisamente aqui: ao restaurar a mobilidade do diafragma, ao trabalhar as cadeias miofasciais e ao libertar restrições na base do crânio e na coluna, cria condições para que o corpo volte a respirar em harmonia. O simples facto de regular o ritmo respiratório tem impacto direto na oxigenação, na produção de melatonina e na qualidade do sono. Recomendo frequentemente aos pacientes que pratiquem respiração diafragmática antes de dormir, uma ferramenta simples que melhora a oxigenação e ajuda o sistema nervoso a “baixar o volume”. É claro que nem tudo é biomecânico. Quando alguém escolhe determinado profissional para se tratar, grande parte do processo terapêutico já começou: o corpo sente-se em segurança, a mente começa a ceder e o diálogo interno torna-se possível. A somatização, nestes casos, não é um obstáculo, é uma linguagem que o corpo encontrou para pedir atenção. E o trabalho do osteopata é ajudar esse corpo a recuperar o movimento, a respiração e, com eles, a paz. São cada vez mais comuns disfunções da articulação temporomandibular, muitas vezes associadas a bruxismo, dor orofacial e cefaleias. Que contributo pode a osteopatia oferecer no tratamento destas disfunções? As disfunções da articulação temporomandibular (ATM) tornaram-se cada vez mais frequentes e estão intimamente ligadas ao modo como vivemos. O stress, o bruxismo e as tensões emocionais levam-nos, muitas vezes de forma inconsciente, a apertar o maxilar e a sobrecarregar toda a musculatura orofacial. É aqui que a osteopatia pode ter um papel relevante, complementando o trabalho de outras especialidades, como a medicina dentária, a fisioterapia e a terapia da fala. Na prática, o contributo osteopático é sobretudo biomecânico, mas com impacto sistémico. O osteopata avalia não apenas a articulação da mandíbula, mas também os músculos que a envolvem: masséter, temporal, pterigóides, hióide e toda a cadeia cervical e suboccipital. Pequenas restrições nestas zonas podem provocar cefaleias de tensão, dores cervicais, zumbidos ou sensação de pressão craniana. Ao restabelecer o equilíbrio destas estruturas, é possível aliviar a dor, melhorar a mobilidade mandibular e reduzir a sobrecarga dos músculos mastigatórios. Contudo, é essencial compreender que o bruxismo não é apenas uma questão de músculos ou dentes. Está frequentemente ligado ao sistema nervoso autónomo e ao padrão respiratório. Pessoas sob stress constante tendem a manter uma tensão basal elevada, mesmo durante o sono. O osteopata trabalha assim não só a mecânica da articulação, mas também o padrão postural e respiratório global, ajudando a quebrar o ciclo tensão–dor–tensão. A articulação com outras áreas da saúde é indispensável. O dentista tem um papel fundamental na avaliação do desgaste dentário e na prescrição de goteiras oclusais. Já o fisioterapeuta ou o terapeuta da fala pode atuar na reeducação funcional dos músculos da mastigação, deglutição e fala. O trabalho conjunto é o que realmente faz a diferença, porque, no fundo, a dor na mandíbula raramente é apenas da mandíbula. É a expressão periférica de um corpo que está em esforço, de um sistema nervoso que vive em alerta e de um padrão de vida que pede pausa. “Acredito profundamente que a osteopatia faz falta dentro do contexto hospitalar em Portugal” Apesar de menos conhecida pelo público, a osteopatia visceral é aplicada em queixas digestivas, respiratórias e até ginecológicas. Em que situações considera mais relevante integrá-la? O termo “osteopatia visceral” pode dar a entender que o terapeuta manipula diretamente os órgãos, mas isso não é o que acontece. Na verdade, o foco está nas estruturas que os envolvem e sustentam, as fáscias, os ligamentos, o diafragma e toda a rede de tensões que conecta o sistema músculo-esquelético ao visceral. A fáscia é uma estrutura contínua e interligada que percorre o corpo inteiro, desde a superfície até às camadas mais profundas. Não existem “fáscias separadas” para cada região; é uma teia única e tridimensional que integra músculos, ossos, vísceras e nervos. Por exemplo, o ligamento suspensor do pulmão, uma condensação da pleura, é uma ligação direta entre o sistema respiratório e a parede torácica. Assim, ao melhorar a mobilidade da região cervical e torácica, é possível influenciar positivamente a função respiratória e até aliviar desconfortos associados a restrições nessa zona. Da mesma forma, o estômago, o fígado ou os intestinos estão ligados a estruturas músculo-esqueléticas por meio de fáscias e ligamentos. Trabalhar essas áreas não significa “mexer nos órgãos”, mas sim libertar tensões externas que interferem na sua mobilidade natural. A osteopatia visceral atua, portanto, através da harmonização do movimento global, porque o funcionamento saudável de um órgão depende também do espaço e da liberdade de movimento das estruturas que o rodeiam. Esta abordagem é particularmente útil em queixas digestivas (como refluxo, obstipação ou sensação de “peso abdominal”), respiratórias (dificuldade em expandir a caixa torácica, tosse persistente, tensão diafragmática) e até ginecológicas, quando existem restrições pós-cirúrgicas, dores pélvicas ou alterações na mobilidade do útero e da bacia. É um trabalho subtil, mas com uma base anatómica sólida. O objetivo não é substituir o papel do gastroenterologista, do pneumologista ou do ginecologista, mas complementar, devolver mobilidade aos tecidos, melhorar a circulação e ajudar o corpo a reencontrar equilíbrio. Hoje fala-se muito de medicina regenerativa, exercício terapêutico e fisioterapia ativa. Como vê a complementaridade entre a osteopatia e estas abordagens no tratamento musculoesquelético do adulto? Na minha prática, não existe consulta de osteopatia sem uma componente de movimento. O trabalho manual é apenas o ponto de partida, o verdadeiro progresso acontece quando o corpo integra o que foi libertado através do exercício funcional e da mobilidade articular. Muitas pessoas associam exercício apenas a força ou resistência, mas esquecem-se de que a mobilidade é a base da função. Uma articulação só pode ser saudável se se mover com amplitude e liberdade, porque é o movimento que mantém o tecido vivo, irrigado e responsivo. Por isso, costumo prescrever exercícios simples, não de ginásio, mas de mobilização consciente das articulações envolvidas, seja no ombro, anca, joelho, tornozelo ou coluna. São gestos básicos que o paciente pode realizar em casa, e que prolongam o efeito terapêutico da consulta. Esta é também uma ponte natural com a fisioterapia ativa, o exercício terapêutico e até a medicina regenerativa, que hoje reconhecem o papel do movimento na regeneração tecidular. A osteopatia, ao devolver mobilidade e reduzir tensão, cria as condições ideais para que o exercício atue de forma mais eficiente e vice-versa. Com base na minha formação inicial em Educação Física, acredito profundamente que o corpo precisa de movimento global. Não se trata apenas de reforçar músculos isolados, mas de integrar força, mobilidade e capacidade cardiovascular. É por isso que vejo práticas como o CrossFit, quando bem orientadas, como exemplos interessantes de equilíbrio: combinam trabalho de força, flexibilidade, coordenação, resistência e retorno à calma, cinco pilares que raramente coexistem num único treino. Não existem “maus exercícios”, mas sim más execuções. O movimento certo, feito de forma consciente e ajustada à pessoa, é sempre terapêutico. Por isso, a complementaridade entre osteopatia e exercício é, no fundo, um ciclo virtuoso: a primeira devolve movimento ao corpo; o segundo ensina o corpo a mantê-lo. Se pudesse definir uma área em que a osteopatia terá maior impacto nos próximos anos, seja na pediatria, na dor crónica do adulto ou na integração hospitalar, qual escolheria e porquê? Se me perguntasse qual a área onde a osteopatia terá maior impacto nos próximos anos, talvez não soubesse responder com certeza. Mas sei qual gostaria que tivesse: a integração hospitalar. Acredito profundamente que a osteopatia faz falta dentro do contexto hospitalar em Portugal e não apenas na vertente musculoesquelética clássica, mas como parte de uma abordagem mais ampla e interdisciplinar à saúde. A osteopatia pediátrica tem crescido muito, a osteopatia do adulto também tem vindo a consolidar-se, mas é nos ambientes hospitalares que sinto que há um espaço ainda por ocupar. A presença de osteopatas em equipas multidisciplinares, ao lado de fisioterapeutas, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, médicos e enfermeiros, poderia acrescentar valor em muitas situações clínicas, desde o alívio da dor e da rigidez após cirurgias até ao apoio funcional e respiratório em fases de reabilitação. É claro que para isso é necessário ultrapassar o estigma que ainda existe em torno das terapias complementares. O preconceito muitas vezes vem do desconhecimento ou da falta de integração académica. O caminho passa por educação, diálogo e investigação, não por oposição. A evidência científica na osteopatia ainda é escassa em algumas áreas, mas o corpo de experiência clínica, a chamada evidência empírica, mostra resultados consistentes quando a intervenção é feita de forma responsável, baseada em conhecimento anatómico e fisiológico sólido. Na prática, é isso que tento aplicar: partir do que está comprovado, mesmo que a origem não seja estritamente osteopática. Se uma técnica utilizada na área respiratória, por exemplo, tem validação científica e pode beneficiar o paciente, porque não integrá-la dentro de uma abordagem manual mais abrangente? O importante é que o tratamento faça sentido para aquela pessoa concreta, porque nenhuma dor lombar é igual a outra, tal como nenhum paciente é igual a outro. Por isso, mais do que prever onde a osteopatia terá maior impacto, prefiro desejar que o futuro passe pela colaboração e integração hospitalar. Que possa deixar de ser vista como alternativa e passar a ser entendida como complementaridade clínica, um recurso ao serviço da saúde global do paciente, lado a lado com as restantes especialidades médicas. Facebook: José Pedro Pereira Osteopata Instagram: @dr.josepereira.osteopata Morada: Endereço: Av. Mouzinho de Albuquerque 59, 4490-409 Póvoa de Varzim Contacto: 910 521 395 (chamada para a rede móvel nacional) Manuela Janela devolve cor, forma e esperança às cicatrizes e histórias que o cancro escreveu, transformando a vida de centenas de mulheres “O cérebro digital vive de swipes e dopamina, mas o corpo pede pausa”
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